sábado, 18 de junho de 2016

Arrisca, seguir à risca

A observação seguinte não é minha, mas fui dar com ela "naturalmente".
Trata-se da semelhança entre as velas representadas em barcos vikings e barcos fenícios:

in http://redqueenwhitequeen.com/wordpress/?page_id=36

Bom, e já aqui tínhamos falado da bandeira da Companhia das Índias inglesa:
Bandeira da Companhia das Indias (B. Lens, em 1700)
onde as riscas vermelhas e brancas, sugerem na forma a bandeira dos Estados Unidos da América, mas sendo igualmente semelhante na disposição à bandeira grega (com a diferença de aí as riscas serem azuis e brancas). O autor do site refere ainda o caso japonês (Rising Sun Flag), mas que é substancialmente diferente na orientação.
Ainda que possam haver cores das velas dos barcos normandos na Tapeçaria de Bayeux, não temos propriamente uma representação colorida do passado fenício, e desconheço se algum historiador refere a forma das velas fenícias, para co-substanciar esta relação vermelho-branca entre velas normandas/vikings e as velas fenícias. Certo parece ser que o vermelho e branco foi ainda seguido nas velas com a Cruz de Cristo. Não é ainda de excluir que parte do legado fenício tenha sido assente na região veneziana, e como o próprio nome indica, a região Venécia e a Fenícia partilharam ligações que Júlio César ligava ainda aos Venetos gauleses, da região da Normandia. (Notar ainda na bandeira de Aragão, que será meia bandeira espanhola com a união dos reis católicos).
Galleaza veneziana  (reconstrução EPFL)

Outra questão é... para onde foi o legado Fenício, da Fénix que renasce das cinzas?
Ou, de que forma o símbolo do pelicano de D. João II, se assemelharia a essa Fénix? 

Como há a suspeita, mais que natural, de navegações fenícias que teriam atingido as paragens americanas, ter riscas fenícias no símbolo da bandeira americana, seria até bastante adequado.
Mas, não é apenas isso.
Com efeito, a maçonaria insiste bastante na história de Hirão Abi, o arquitecto fenício que teria dado a vida para proteger o segredo do Templo de Salomão.

Com a queda de Cartago em 146 a.C., a herança dos navegadores fenícios e cartagineses aparentemente perdeu-se, mas não é de excluir que os judeus tenham tomado para si esse legado, relembrando a velha associação de exploração naval entre o rei hebreu Salomão e o rei fenício Hirão, em direcção às paragens míticas de Ofir.

O poder comercial e o poder militar
A característica principal do poder fenício e cartaginês era a sua faceta comercial, e se houve algo que caracterizou a transformação de Roma, que na sua queda passou a ser o centro de decisão medieval foi o fecho do comércio, que permitiu consolidar o poder militar feudal.

Há uma substancial diferença entre a queda de Cartago às mãos romanas, que é basicamente terraplanada, e a queda de Roma às mãos das invasões bárbaras, já que renasceu imediatamente como único centro de decisão de todas as disputas medievais, através da figura papal que se colocava acima dos reis bárbaros.

Conforme referimos no texto Sete Monarquias, pretendeu-se haver uma continuidade numa certa "Monarquia Universal", que desde o tempo dos Assírios foi passando por diversas mãos, mas só chegou às mãos dos gregos com a investida de Alexandre Magno, e depois passou para os seus generais - Ptolomeu e Seleuco.
Os seleucidas ficaram com o legado fenício, e tal como os cartagineses foram hostis aos romanos até à conquista romana em 60 a.C. Apesar de estar no território seleucida, terá sido mais Alexandria do que Antioquia, a tomar o estatuto de mega-cidade da Antiguidade, após a conquista da Babilónia. 
Na rivalidade natural entre os Seleucidas e o Egipto dos Ptolomeus, levaria uns a apoiar Cartago, pela ligação natural à Fenícia, e os outros a favorecer Roma. 
Assim, a continuidade da monarquia na Antiguidade ficará no Egipto ptolomaico, até ser passada a Júlio César por Cleópatra. É aí que começa a monarquia romana, especialmente com a morte de Cleópatra à chegada de Octávio Augusto, o primeiro imperador.

Mas onde fica mais clara esta circunstância é com o que se irá seguir.
Não é difícil seguir um percurso dos dois lados em confronto.

1) Poder comercial, naval 
Celtas, Fenícia, Grécia, Cartago, Judeus, Árabes, Normandos, Templários, Veneza, Portugal, Holanda, Inglaterra

2) Poder militar, territorial 
Mesopotâmia, Ptolomeus, Roma, Sacro Império Germânico, Espanha, Áustria, Alemanha

Será extenso entrar com cada uma das explicações particulares, mas podemos dizer que a primeira linha terá levado à formação da Maçonaria, enquanto a segunda linha seguiu durante bastante tempo o domínio que a Igreja Romana teve na Europa.

Segue-se uma tentativa de resumo explicativa:

_________ 19/06/2016

(i) Em breves linhas, seguindo o registo de Júlio César sobre os Venetos, a tradição de navegação marítima no Oceano, estaria consolidada, provavelmente em tempos anteriores aos dos Fenícios. A extensão da cultura megalítica celta (ou mesmo Bell Beaker) sugere o mesmo, uma ligação antiga ao longo da costa atlântica, que se manifestou nas diversas ilhas. Fala-se ainda nos Pelasgos ou nos Povos do Mar, a este respeito, após a Guerra de Tróia. Mais consolidada, será uma herança de navegação nos Fenícios, a par com os Gregos, sucessores territoriais dos Aqueus. Nos gregos manter-se-à uma oposição entre um poder naval de Atenas, e um poder territorial de Esparta.
(ii) A longa disputa entre Gregos e Persas será uma faceta dos primeiros embates. Se os Gregos eram por excelência uma civilização naval, o lado Persa era herdeiro da tradição mesopotâmica, da monarquia assíria. O papel do Egipto era suficientemente ambíguo, mas ao tempo do embate grego com persas, seria natural ver os egípcios como aliados dos gregos. Antes disso, foi marcante a divisão política entre os monoteístas de Aquenaton, e a tradicional religião politeísta egípcia.
(iii) Cartago (814 a.C.) e Roma (753 a.C.) são fundadas com 60 anos de intervalo, e serão focos do embate seguinte. Esse embate ocorre após a conquista da Babilónia por Alexandre Magno, que terminará com o ascendente mesopotâmico na Antiguidade. Tanto os seleucidas fenícios, como os macedónios de Pirro, iriam opor-se a Roma, mas o mesmo não se passaria com os ptolomeus do Egipto, com capital em Alexandria que se tornaria na grande metrópole da Antiguidade, depois da Babilónia, e antes de Roma.
(iv) Após a invasão gaulesa de Breno, as vitórias romanas sobre Pirro e sobre Cartago no controlo da Sicília, trouxeram o ascendente que tornaria Roma candidata ao ceptro imperial. Não acontece logo aquando da queda de Cartago. A herança do trono egípcio é oferecida por Cleópatra a Júlio César após a completa submissão dos celtas gauleses. Na Hispânia, o calendário é fixado com o poder de Octávio, após a submissão dos últimos resistentes celtas cantábricos.
(v) Durante a Pax Romana, uma principal oposição será mantida pela resistência dos povos germânicos, que irão servir a invasão do Império Romano. Mas essa incursão será absorvida por Roma como uma esponja. Após saqueada diversas vezes, Roma manter-se-à como capital do antigo mundo romano a Ocidente, pelo ascendente do Bispo de Roma - o Papa.
A principal característica da ascendência da Roma, durante o milénio medieval, será o fecho das fronteiras europeias ao comércio. No mundo medieval o comércio global terminava, e apenas era tolerado algum comércio local. Neste período a roda foi praticamente banida, ou digamos, ainda que houvessem carroças, as carruagens nas estradas só voltaram a aparecer como meio de transporte depois da Idade Média.
(vi) Grande parte da herança comercial foi mantida pelos judeus, e pelos árabes, na manutenção da rota da seda para Oriente, algo especialmente explorado pela República de Veneza. Se os árabes fizeram a primeira incursão significativa contra o Império Romano, o Califado de Damasco teve a máxima extensão, mas durou pouco tempo, pois os Omíadas foram derrotados pelos Abassidas de Bagdad em 750, e refugiaram-se em Córdova.
(vii) A longa linha da aristocracia europeia foi definida a partir do Império de Carlos Magno, incluindo a Germânia, nunca subjugada por Roma. Mas, assim que foi definido esse Sacro Império Germânico, com sede em Roma, também começaram quase simultaneamente as incursões vikings na Europa. Essas incursões navais só pararam com a definição dos reinos Normandos. Por um lado na Normandia, por outro lado na Sicília e Nápoles (que fará parte do domínio de Aragão).
A invasão da Inglaterra sairá da Normandia, e também é daí que sairá o governo da 1ª Cruzada que definirá o Reino de Jerusalém, com Godofredo e Balduíno do Bulhão, da Bolonha normanda.
(viii) É no quadro das Cruzadas que surge a definição do poder dos Templários. Será através dos Templários, e da sua herança na Ordem de Cristo, que se irá definir o poder naval e comercial português durante o Séc. XV. Esse poder comercial será depois assumido pelas diversas Companhias das Índias, e aqui estará grande parte da origem que irá definir a ascensão do poder comercial sobre o poder militar, que permitirá a pequenos estados, como Portugal e Holanda, dominarem grandes impérios territoriais. A influência judaica é aqui clara, tal como estará aqui a definição da maçonaria enquanto poder de bastidores, para controlo desse poder global.
(ix) O Sacro-Império Germânico sente a ofensiva tarde demais, que se manifesta ainda no aparecimento dos movimentos protestantes, que atacam directamente o poder de Roma, tal como antes já a Igreja Anglicana o havia feito. A Contra-Reforma católica será parada na Guerra dos Trinta Anos, basicamente o momento em que Roma perderá a sua influência global sobre os destinos europeus.

O mundo moderno é praticamente definido pela saída da Guerra dos Trinta Anos.
O conflito entre uma maçonaria de herança de poder comercial, vinda da Fenícia e Cartago, mantida por judeus ao longo de milénios, e um poder real, sancionado por Roma, ao longo dos mesmos milénios, irá levar ao mundo de interacções globais a nível comercial. Note-se que apesar do poder naval espanhol, a sua prevalência era de conquista territorial, e transporte de riquezas, dos metais preciosos americanos para a Europa. Não tinha sido essa a filosofia inicial portuguesa de criação de entrepostos comerciais, nem seria essa a filosofia holandesa, que privilegiavam o aspecto comercial.
A imposição de uma filosofia colonial inglesa na Índia, iniciada com os domínios da Companhia das Índias a partir de 1757, teve quase como imediato contraponto a definição da primeira colónia independente - os Estados Unidos, a que se seguiram movimentos libertadores do jugo colonial em toda a América, todos patrocinados pela maçonaria.
Assim, praticamente 2000 anos depois, o domínio global assente no controlo comercial dos mares, será herdado pela Inglaterra e EUA, quase num renascimento da Fénix... da antiga Fenícia, e da sua colónia Cartago.

Ainda haverá um espasmo de poder liderado por França, na versão napoleónica. No entanto, se Napoleão se viu inicialmente como herdeiro da maçónica Revolução Francesa, ao pretender coroar-se como Sacro-Imperador com a presença papal, inverteu por completo a sua posição histórica, e foi rapidamente destronado.

Depois, o desafio ao poder naval inglês surgiu pelo lado dos impérios europeus germânicos - a Prússia e o Austro-Húngaro, que foram liminarmente derrotados no curso da 1ª Guerra Mundial.
Mais iconicamente clara foi uma reedição do Sacro-Império Germânico no curso da 2ª Guerra Mundial, com a aliança entre Alemanha nazi de Hitler e a Itália fascista de Mussolini, colocando como alvo preferencial de ataque o poder comercial e financeiro dos Judeus.

Finalmente, o último capítulo desta "estória" de conflito entre duas filosofias ancestrais, será de certa forma colocado no confronto entre EUA e URSS no decurso da Guerra Fria, onde os EUA defensores do capitalismo, seriam os campeões do lado do poder comercial e financeiro, contra um sistema estatal centralizado, que rapidamente degenerou em "monarquia comunista".

Ainda que, com diversas simplificações, tenha tentado expor aqui uma certa correlação que se verificou numa permanente confrontação ao longo de milénios, entre um poder real, aristocrático, centrado, e um outro poder mais difuso, naval, burguês, menos centrado; parece-me claro que estes dois poderes colaboraram contra o principal factor caótico - a ira descontrolada do demo, do povo.
De certa forma, foi ponto assente comum que a ignorância da população era essencial para manter uma estabilidade do poder existente... e se dúvidas houve, com o Reino de Terror na Revolução Francesa, terá sido considerado demasiado perigoso falhar uma referência de poder, para definir uma verdade... mesmo que fosse mera falsidade.

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