sexta-feira, 10 de junho de 2016

A teia global

A designação Dios ao invés de Zeus é frequente quando olhamos para transcrições dos textos gregos, e não para as suas traduções. A wikipedia espanhola fala numa excepção gramatical, de declinação para o genitivo.
En griego el nombre del dios es Ζεύς Zeús en el caso nominativo y Διός Diós en el genitivo. Las formas más antiguas del nombre son las micénicas di-we y di-wo, escritas en lineal B.
Interessa que, aprendida essa justificação, os tradutores invariavelmente omitem qualquer menção a Dios como nome alternativo a Zeus, nem para dizer que seria um equivalente de escrever "de Zeus". Acresce que aparecem outras declinações (como Diés), pelo que a excepção terá como causa muito provável evitar confundir o nome Deus com o nome Zeus, ainda que em português é preciso ser um pouco surdo para não notar uma semelhança. Isso resultará ainda da outra variante Θεός, transcrita como Theos, associada à divindade.
Como já referimos há bastante tempo, consta ter havido uma introdução de novas letras gregas após a Guerra de Tróia, e aí se incluem o zeta e o theta, sendo assim natural suspeitar que o original fosse o mesmo e escrito como Dio, conforme sugere a mais antiga escrita Linear B.

É ainda natural que a divindade correspondesse ao Dia, não no aspecto de Hemera, mas sim na suas vertente de tempo, unidade de contagem... e no seu aspecto de luz, associada ao Sol. Enquanto unidade de tempo, o Dia-Zeus seria naturalmente visto como o filho do Tempo-Cronos, assim como pela sua ligação ao Sol, estaria colocado no topo das divindades, como os egípcios faziam com  (também lido em copta como "Rei"). O que mais ensombraria os dias seriam as suas manifestações com tempestades, trovões e relâmpagos, entendidas como armas de Zeus. Qualquer uma destas divindades esteve associada ao "touro".

Curiosamente acresce que a habitual transcrição deturpada do upsilon em ypsilon, ou seja de ύ em y, não é feita neste caso... se fosse feita, de Ζεύς falaríamos em Zeys e não em Zeus (e talvez fosse apropriado ser conotado com o número 6, pelo menos em português, e triplamente sendo a terceira divindade na teogonia, após Úrano e Cronos).

Também Úrano é escrito como Οὐρανός ... devendo ler-se Ouranos, ou usando o y seria Oyranos, e não deixa de ser significativo que tanto temos "ouro" como "oiro", ou ainda "touro" e "toiro", provavelmente relevando dessa variação propositada de transcrições.

Nada tem de especial este assunto, apenas reitera a desconfiança em todo o legado antigo que se arrasta como uma permanente codificação desde a Antiguidade, destinada a baralhar as fontes, separando coisas iguais, ou juntando coisas diferentes.

Afinal, quando falamos em filosofia ateia vamos ao grego para explicar para explicar filo como amiga do saber sofia, e em que o prefixo a nega a religião teia, numa variante no feminino do theos divino (ou di vino, de vinho, como sangue presente na Eucaristia).
Porém parece naturalmente vedado associar a teia à religião.
Também se fala mais facilmente em rede global do que em teia global, sendo que a palavra web se usa mais para a teia da aranha.

El ... "eles"... "seus"
Uma divindade do panteão antigo judaico é El, nome da divindade suprema dos Cananeus, também usado em hebreu, que na sua vertente plural é Elohim.
El (divindade)
El seria depois considerado pelos judeus como Deus único, na forma de Jeová, numa vocalização próxima à do romano Jove, o correspondente a Zeus, também escrito como Jupiter.
Na sua forma plural, seria natural nós declinarmos El como Eles.

"Eles"... é ainda o nome culpado numa boa parte de "teorias de conspiração" que vemos circular. Mesmo que se evidencie um nexo de culpabilidade de "alguém", é depois muito mais difícil de concretizar e apontar culpados, surgindo assim facilmente "eles" como uma entidade impessoal, culpada naturalmente. Depois é frequente ouvir perguntar:
- Mas quem são "eles"?
Ora, e "aí é que são elas", porque a menos que o sujeito invoque os culpados de serviço (maçons, judeus, etc...), dificilmente consegue apontar alguém em concreto.

É pois interessante que, ao fim de tantos milénios, se use quase o mesmo nome para agentes não identificados que condicionavam o bom desenrolar dos acontecimentos. Antes seriam divindades, hoje serão "eles"... mas estes "eles", ainda que humanos, parecem estar numa esfera igualmente inatingível ou imprescrutável.

Acresce que os motivos, igualmente não declarados, são "seus", tais como seriam os de Zeus ou de Deus... e mais uma vez se mantém a forma não prescrutável das suas intenções finais.
Só que aí o problema é bem mais vasto, e, se podemos vislumbrar nexos fáceis, tipicamente animais, em acções de favorecimento, para benefício competitivo, num padrão evolutivo darwiniano, parece também claro que isso só explicaria a faceta pouco profunda do problema. Ou seja, ainda que "eles" julguem que sabem, que têm um nexo e orientação na sua acção, é inevitável que não façam a mais pálida ideia, e assim, os nossos "eles" têm outros "eles" que os condicionam a "eles". Reduzir "eles" a um único senhor, a um único "el", não adianta rigorosamente nada. Mas, mesmo chegados ao topo da pirâmide de poder, restará toda a impotência... faceta clara de uma realidade que não é sonho individual.

E há uma coisa completamente clara...
Quem se tiver em pouca conta, pode considerar que o seu destino está condicionado pelo exterior, estará sempre sujeito a uma potência externa, mais humana e previsível, ou menos humana e imprevisível, pode considerar que está a ser avaliado superiormente, pelas suas acções.
No entanto, quem não reduzir o seu papel a coisa nenhuma, deve ter em atenção que o nosso papel não é somente de ser condicionados e avaliados.
O papel principal de cada um é o de ser, ele mesmo, avaliador de tudo o presencia. A avaliação do próprio pouco conta para o conjunto se for pessoal e subjectiva, mas será incomensuravelmente devastadora se, elevando-se acima das suas aspirações mundanas, for objectivo e compreensivo.
Porquê? Porque podemos aceitar uma provação sendo prova de ser são, mas devemos rejeitar todas as que não são. Aceitar insanidades é um caminho que leva apenas a um universo insano, que não tem sustentação na realidade. E a realidade será o único sonho onde até as insanidades terão a sua justificação, com a devida compreensão... será o único sonho para o qual não é possível deixar de acordar, porque não resta outra realidade que o sustente enquanto tal.

Sem comentários:

Enviar um comentário