Há uma obra que já fiz aqui referência:
Jornada de África, de Jerónimo de Mendonça (1607)
e talvez mereça uma menção (que nem sei bem como adjectivar) haver uma obra homónima, de Manuel Alegre, o nosso contemporâneo poeta, político e assumido maçon. Apesar de mencionar a obra original, a usurpação do mesmo título "Jornada de África", por Manuel Alegre, pouco mais parece servir do que contribuir para uma conveniente confusão.
A obra de Jerónimo de Mendonça relata a expedição de D. Sebastião a Alcácer-Quibir, e surge em pleno domínio de Filipe II de Espanha. Portanto todo o enquadramento é condicionado por uma escrita aparentemente subserviente a esse domínio filipino, tendo a necessária consciência de qualquer outra abordagem não seria autorizada.
Tornou-se comum usar a expressão "Larachas" para designar palavras sem sentido, mas ao que pude constatar esta expressão só se tornou habitual em textos já na segunda metade do Séc. XIX.
Diz Jerónimo de Mendonça:
"porque de uma maneira ou doutra melhorava no partido; pois tomando el Rey Dom Sebastião Larache segurava os Reynos de Espanha, e morrendo na demanda ficava seu herdeiro"
... é claro que esta confortável posição de Filipe II não é denunciada por Mendonça, mas sim repudiada por ele, tentando defender acusações que circulavam. Uma maneira sagaz de dizer o que não podia ser dito...
Larache, ou Laracha (também aparece assim designada), aparecia como o destino estratégico de conquista na jornada de África de D. Sebastião.
O nome Quibir associado à batalha acaba por substituir um verdadeiro objectivo anunciado - Laracha!
Larache - gravura de J. Ogilvy (1670)
Será elucidativo associar-se depois à palavra Laracha um significado distinto, de índole jocosa.
Esta suposta coincidência... ou que quer que seja, não está isolada.
Já mencionámos várias vezes o problema Maluco... das ilhas Malucas, depois designadas Molucas.
Para além de serem um problema no anti-meridiano (prometidas como dote a Sebastião, tivesse ele querido o casamento espanhol), as Malucas eram a essência da especiaria!
Acresce que, como sabemos, o Mulei inimigo de Sebastião era também designado Mulei Moluco...
Podemos ignorar isto, evitar a expressão "Malucos" e passar a "Loucos"...
... curiosamente isto não resolve bem o problema porque a batalha dá-se ao pé do Rio Loukos.
Às margens deste Rio Loukos, encontravam-se as ruínas de Lixo (cidade antiga que antecedeu Laracha):
Lixo - ruínas, Loucos - rio
Para dia 1 de Abril, parece-me bem maluca esta Laracha, que veio de Lixo, e é claro - rio de Loucos.
Não rio da laracha, mas rio de loucos fazendo lixo.
De origem latina, o Lixo tem mais raiz no lixar, traduzido directamente de Queimar... é lixado, mas já a palavra Lixo enquanto "depósito de desperdício" parece-me ter entrado apenas nos nossos textos posteriormente.
Ainda indo aos tempos em que o "calendário de Rómulo" começava em Abril, sendo depois substituído pelo "calendário de César" que passou a começar em Janeiro, honrando Janos das duas faces, parece que esta cidade de Lixo era a última cidade habitável admitida, a partir dali o resto seria... lixo, ou talvez ficassem lixados... queimados!
Minas no Séc. XVI
O texto de Jerónimo de Mendonça fala de minas...
Que o texto de Manuel Alegre pudesse falar das minas na guerra de África... é algo normal e trivial.
Porém, de que minas fala Mendonça?... Não é certamente das Fortalezas das Minas.
Vejamos o texto, logo no final do prólogo "ao leitor":
E quando trata del Rey Phelippe nosso senhor segundo deste nome, na Cidade de Lisboa diz, que correu nela dois grandes perigos de vida, porque duas vezes foram descobertas minas que os portugueses fizeram nos paços Reais, e na igreja onde costumava ouvir Missa, e se isto senão descobrira, fora el Rey arruinado, ou nos paços, ou na igreja, e que os Autores desta maldade foram gravemente castigados (...)
Se isto não é uma descrição de uma tentativa de atentado, com minas explosivas, colocadas para serem detonadas na presença de Filipe II, não sei que outra laracha pode ser inventada para justificar este texto.
Portanto trata-se de um relato de minas explosivas, com detonamento programado, e seja de que forma fosse, é um claro sinal de que a tecnologia era suficientemente sofisticada para ser dissimulada e usada num atentado. Para além de raras experiências e relatos chineses, até ao Séc. XIX não há propriamente registo da utilização de minas explosivas, especialmente com o intuito de atentado.
Se esta iniciativa portuguesa tinha origem numa ideia chinesa, ou não, pouco importa, pois este é um dos raros casos em que compreendemos que houvesse alguma necessidade prática em evitar a divulgação destas ideias literalmente explosivas.
Não deixa de ser curioso que a palavra Mina, originalmente ligada ao minério, tanto se vai associar depois à riqueza do minério como ao explosivo... no fundo, a uma riqueza explosiva.
O texto de Jerónimo de Mendonça fala de minas...
Que o texto de Manuel Alegre pudesse falar das minas na guerra de África... é algo normal e trivial.
Porém, de que minas fala Mendonça?... Não é certamente das Fortalezas das Minas.
Vejamos o texto, logo no final do prólogo "ao leitor":
E quando trata del Rey Phelippe nosso senhor segundo deste nome, na Cidade de Lisboa diz, que correu nela dois grandes perigos de vida, porque duas vezes foram descobertas minas que os portugueses fizeram nos paços Reais, e na igreja onde costumava ouvir Missa, e se isto senão descobrira, fora el Rey arruinado, ou nos paços, ou na igreja, e que os Autores desta maldade foram gravemente castigados (...)
Se isto não é uma descrição de uma tentativa de atentado, com minas explosivas, colocadas para serem detonadas na presença de Filipe II, não sei que outra laracha pode ser inventada para justificar este texto.
Portanto trata-se de um relato de minas explosivas, com detonamento programado, e seja de que forma fosse, é um claro sinal de que a tecnologia era suficientemente sofisticada para ser dissimulada e usada num atentado. Para além de raras experiências e relatos chineses, até ao Séc. XIX não há propriamente registo da utilização de minas explosivas, especialmente com o intuito de atentado.
Se esta iniciativa portuguesa tinha origem numa ideia chinesa, ou não, pouco importa, pois este é um dos raros casos em que compreendemos que houvesse alguma necessidade prática em evitar a divulgação destas ideias literalmente explosivas.
Não deixa de ser curioso que a palavra Mina, originalmente ligada ao minério, tanto se vai associar depois à riqueza do minério como ao explosivo... no fundo, a uma riqueza explosiva.
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