segunda-feira, 11 de abril de 2011

Vista de Alcântara

Na Batalha de Alcântara em 1580, D. António não consegue evitar a progressão das forças do Duque de Alba, desembarcadas no Cabo de Cascais, em direcção a Lisboa. A designação à época - Cabo de Cascais é diferente da chamada Roca de Sintra.
Um excelente documento sobre a Batalha de Alcântara está disponível no site areamilitar.
A mais conhecida imagem da época mostra detalhes da paisagem, vista de Alcântara, que são interessantes por si só.

Podemos ver nesta imagem que a Torre de Belém está situada bem no meio do estuário, completamente rodeada por água, longe de terra. Há um braço de praia em frente a Belém, que estende até uma baía formada pela foz da ribeira de Alcântara. Vê-se ainda a antiga ponte de Alcântara. Toda esta paisagem foi mudada, a água desceu e Lisboa ganhou terra ao Tejo e a praia desapareceu, colando a linha de água pela posição da Torre de Belém (na altura também chamada Torre de S. Vicente).

Mais interessante é o pormenor que nos mostra Almada, com Palmela ao fundo, quase à beira-mar, ou melhor, à beira-rio:
A linha de água submergia grande parte da margem sul, na zona do Seixal, e estava quase encostada à zona do Castelo de Palmela, onde se lê "Palmela a 9 léguas de Lisboa".
Isto concorre com a hipótese de um nível da água do mar superior, como já abordámos.

Lavanha aproveita a descrição da viagem de Filipe II para ainda nos dar conta de factos acessórios.
Perto, entre Azeitão e Coina (ou rio Couna) estavam as matas e jardins do novo Duque de Aveiro (que acolheu Filipe II, no final da sua visita a Portugal, conforme diz Lavanha). O anterior Duque de Aveiro tinha morrido ao lado de D. Sebastião, em Alcácer Quibir.

Ao descrever a visita a Sintra, Lavanha revela que a sua ponta mais ocidental seria o Promontório Magno, ou Olisiponense, que era modernamente denominado Roca de Sintra... ou seja o Cabo da Roca. Fala ainda do convento de N. Sra. da Pena, da Ordem de S. Jerónimo, fundado por D. João II, que oficialmente ruiu pelo terramoto, e onde depois Fernando II, consorte de Maria II, edificou o Palácio da Pena sobre as ruínas, perdendo-se o vestígio da construção original. Essa construção teria "a Igreja e Oficinas, necessárias para um inteiro Mosteiro lavradas na mesma rocha".
Finalmente revela que, à época, num promontório da serra, existiriam ainda vestígios e inscrições de um antigo Templo dedicado ao Sol e à Lua.
No regresso de Sintra, Filipe II teria passado pela vila de Cascaes e pela fortaleza de S. Gião (depois S. Julião da Barra). Já mencionámos o Cabo de Cascais, que seria provavelmente a denominação junto ao Guincho-Cascais, onde foram encontrados vestígios arqueológicos de pesca.

É interessante a propósito do nome Cascais referir a menção do historiador árabe Al Masudi (-956 d.C.) sobre as explorações atlânticas de um jovem navegador de Córdoba, cujo nome seria KhashKhash, sendo talvez KhashKhash al Bahri ("o navegador") que morreu em 859 d.C. combatendo os normandos, justamente próximo de Cascais. Foneticamente, parece haver uma clara semelhança entre o nome da vila e o nome do navegador. Informações sobre as viagens árabes podem ser encontradas num interessante artigo de Abbas Hamdani (Handbuch der Orientalistik, S. Kahdra Jayyusi, M. Marin, pag. 275).

(12/04/2011)

2 comentários:

  1. Porque está escrito "Italianos" no mapa?

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    1. Muito boa questão!
      De facto, clicando no primeiro mapa, até ao maior aumento, é possível ver a identificação de "Italianos" e também de "Tudescos".

      Tudescos... eram alemães, e agora que falo desta designação, creio que nunca escrevi que este nome pode ser uma tradução de "Allemão" - no sentido em que a palavra "Alle" significa "Tudo" em alemão.
      Ainda hoje é estranho ouvir o hino alemão com um "Deutschland über alles", que é traduzido como "Alemanha em toda a parte", mas que literalmente significa "Alemanha acima de todos"... o que nem é muito diferente!

      Voltando à questão, será interessante ver também a Batalha de Alcácer-Quibir, dois anos antes:
      https://alvor-silves.blogspot.pt/2015/08/pela-mao-de-sebastiao-2.html

      ... já que igualmente encontramos Tudescos e Italianos, nas tropas de D. Sebastião!
      Só que neste caso, não é difícil concluir pela disposição e orientação das armas, que na Batalha de Alcântara, estavam a combater pelo lado dos Espanhóis.
      Provavelmente, para quem quiser entender que a Batalha de Alcácer Quibir nada teve de "normal", poderá concluir que sempre estiveram a combater do mesmo lado - ou seja, contra o lado de D. Sebastião, e em última análise contra os portugueses que não se viam metidos no longo abraço espanhol.

      Esta observação que aqui traz é assim muito pertinente, por tornar isso ainda mais evidente! Obrigado.

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