domingo, 29 de janeiro de 2017

Fort (1883) Cracatoa, chuvas, e eventos interplanetários

Um assunto que toma a atenção de Charles Fort é a erupção do vulcão Krakatoa em 26 de Agosto de 1883. Não tanto pelo fenómeno em si, mas por tudo o que foi atribuído à erupção do vulcão... depois desta ocorrer, e especialmente antes - ou como diz Fort:
  • Annual Register, 1883-105: That the atmospheric effects that have been attributed to Krakatoa were seen in Trinidad before the eruption occurred
  • Knowledge, 5-418: That they were seen in Natal, South Africa, six months before the eruption.
Portanto, a comissão científica (inglesa) que cuidadosamente elaborou um relatório, tanto atribuiu efeitos posteriores, passados 7 anos à erupção do Krakatoa, como ainda lhe atribuiu efeitos anteriores, que teriam sido relatados 6 meses antes da erupção (na província do Natal, na África do Sul).

Esporos da chuva vermelha em Kerala
Porém Charles Fort, reúne mais relatos estranhos.
Nomeadamente da existência de chuvas de sangue, ou chuvas vermelhas (red rain), como a que acontece na Índia, em Kerala desde 1892, sendo a última em 2012 (com uma ocorrência intensa entre Julho e Setembro de 2001):

A este propósito houve quem sugerisse que estes esporos não seriam terrestres (até porque cresciam a 300º C), indo no sentido de uma teoria da Panspérmia (ver ainda o caso do Tardigrade).

Essa hipótese foi avançada recentemente, mas fazia já parte das ideias pioneiras de Charles Fort que, ao contrário do que era hábito no seu tempo, admitia naves interplanetárias, que poderiam deixar resíduos de matéria no espaço (inclusivé), para depois caírem na Terra!

Mas, Charles Fort não usa explicações extraterrestres para tudo e para nada... como passou a ser hábito fazê-lo desde a segunda metade do Séc. XX. 
Reporta, tal como nós já o fizemos, o caso das luzes na Lua, mas junta mais testemunhos:
In Philosophical Transactions, 82-27, is Herschel's report upon many luminous points, which he saw upon—or near?—the moon, during an eclipse. Why they should be luminous, whereas the moon itself was dark, would get us into a lot of trouble—except that later we shall, or we sha'n't, accept that many times have luminous objects been seen close to this earth—at night.
But numerousness is a new factor, or new disturbance, to our explorations—
A new aspect of inter-planetary inhabitancy or occupancy—
Worlds in hordes—or beings—winged beings perhaps—wouldn't astonish me if we should end up by discovering angels—or beings in machines—argosies of celestial voyagers—
In 1783 and 1787, Herschel reported more lights on or near the moon, which he supposed were volcanic.
The word of a Herschel has had no more weight, in divergences from the orthodox, than has had the word of a Lescarbault. These observations are of the disregarded.
Bright spots seen on the moon, November, 1821 (Proc. London Roy. Soc., 2-167).
For four other instances, see Loomis (Treatise on Astronomy, p. 174).
A Lua não seria caso único... a observação chegou ao ponto de ser avistado um "mundo" (ou uma grande estação espacial) em Vénus, a que foi dado o nome de Neith:
Visitors to Venus:
Evans, Ways of the Planets, p. 140:
That, in 1645, a body large enough to look like a satellite was seen near Venus. Four times in the first half of the 18th century, a similar observation was reported. The last report occurred in 1767.
A large body has been seen—seven times, according to Science Gossip, 1886-178—near Venus. At least one astronomer, Houzeau, accepted these observations and named the—world, planet, super-construction—"Neith." His views are mentioned "in passing, but without endorsement," in the Trans. N.Y. Acad., 5-249.
O que preocupava Charles Fort era o desprezo destas ocorrências pela Ciência, mesmo que se tratassem de observações de cientistas reconhecidos. Sarcasticamente disse: 
"a satellite to Venus might be a little disturbing, but would be explained—but a large body approaching a planet—staying awhile—going away—coming back some other time (...)"

... ou seja, um grande corpo aproximando-se de Vénus, e ficando em órbita durante algum tempo, até que depois decidia "ir-se embora", para depois voltar - tudo isso levantaria a suspeita de que se poderiam tratar de grandes naves espaciais - visíveis da Terra.
Menciona ainda um outro caso semelhante em Marte :
A light-reflecting body, or a bright spot near Mars: seen Nov. 25, 1894, by Prof. Pickering and others, at the Lowell Observatory, above an unilluminated part of Mars—self-luminous, it would seem—thought to have been a cloud—but estimated to have been about twenty miles away from the planet.
Especialmente porque nos diz respeito, é interessante a observação de Charles Fort sobre um terramoto em Lisboa (tudo indica ser o de 1755):
The quay of Lisbon.
We are told that it went down.
A vast throng of persons ran to the quay for refuge. The city of Lisbon was in profound darkness. The quay and all the people on it disappeared. If it and they went down—not a single corpse, not a shred of clothing, not a plank of the quay, nor so much as a splinter of it ever floated to the surface.
Há quem pretende ver nesta (e noutras descrições) como os primeiros relatos de desaparecimentos por abdução extraterrestre... no entanto no Terramoto de 1755, estando perante uma das maiores aldrabices históricas, os responsáveis não seriam marcianos, seriam mais diabretes infernais, como o Marquês de Pombal e associados, com o propósito de inventar um maremoto consumidor de vítimas.

Ainda que os casos que Charles Fort mencione sejam dignos de atenção, não podemos descartar a hipótese de simples invenção do relato ocasional, porque diversos interesses se podem juntar para elaborar uma mentira útil, e duradoura. Se essa suspeita é verosímil em incidentes pontuais, quando se acumulam e persistem à observação de pessoas distintas e não relacionadas, então já deveriam merecer uma outra atenção.

A questão final a considerar, mesmo dando crédito às observações "interplanetárias", é muito simples.... 
- qual é a diferença entre admitir que fomos visitados por extraterrestres, munidos de tecnologia superior, ou simplesmente admitir que sempre houve um grupo terrestre com capacidade tecnológica muito superior ao que era conhecido pelo resto da população?






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