domingo, 20 de dezembro de 2015

Outros Quinhentos - Afonso de Albuquerque

Os protagonistas da expansão portuguesa no Índico tiveram o arrojo de transformar o Índico num enorme lago dominado pelas naus portuguesas, conquistando ou colocando sob vassalagem diversos portos africanos, árabes, persas, indianos, e uma quantidade dificilmente mensurável de ilhas, que iam de Malaca até à Nova Guiné. 
Tudo isto não foi obra de Afonso de Albuquerque, mas ocorreu, ou consolidou-se, durante o curto período em que foi Vice-Rei da Índia, ou seja entre 1509 e 1515.
Afonso de Albuquerque
Vice-Rei da Índia, Duque de Goa
Panorama das possessões portuguesas em 1515, à data da morte de Albuquerque,
e comparação com as possessões espanholas à mesma data.

Nesta semana, a 16 de Dezembro, passaram 500 anos sobre a sua morte, ou seja, foram outros quinhentos, que mereceram um pequeno espaço em jornais, mas onde se nota de sobremaneira o esforço existente em esquecer os feitos do "César do Oriente".

A chegada a Timor, ocorrida durante este período, será até invocada pelos timorenses, mas sem qualquer presença assinalável da parte de representantes nacionais.
Estas comemorações ocorreram, sem praticamente serem notadas na imprensa jornalística nacional, um bichinho sempre muito bem amestrado, às ordens de quem manda.
Os petizes são obrigados a ler os Lusíadas, mas a esquecer a ausência oficial de memória nacional, no que diz respeito à passagem de meio milénio sobre as glórias e heróis aí mencionados.
Essas proezas já só têm espaço no contexto da poesia, e nunca esta nação se amesquinhou tanto para se identificar a tão pouco, independentemente do lacaio partidário que ocupe o palácio de S. Bento, ou da fraude que vegete em Belém, ou até de qualquer pretenso candidato ao cargo.

Se este país ainda lembra o seu passado, não é certamente nas suas instituições oficiais de governo ou militares, que não são mais do que uma anedota presente, vista a sua grandeza passada. E todos os rostos que ocupam cargos de destaque neste país, sejam eles cargos de governo, de presidência, ou militares, deveriam cobrir-se de vergonha por com isto pactuarem, sem uma frase pronunciarem, sem um movimento terem no sentido de relembrar a história da nação que representam. Se em 1998 foi diferente, se em 1999 ainda havia força para falar em nome de Timor, pois parece que alguns anos de integração europeia nos condenaram depois a uma auto-censura comemorativa. 
Quantos de nós suspeitariam que após a Expo 98, o país se anularia em comemorações de posteriores datas, igualmente importantes?

A hegemonia de Albuquerque não será consensual, nem o foi à época. Não tanto por via do pequeno conflito que teve na substituição de D. Francisco de Almeida, tendo acedido a que este vingasse o filho, Lourenço de Almeida, morto em Chaúl, na Batalha de Diu. 
Afonso de Albuquerque afastou-se, para que na Batalha de Diu, Francisco de Almeida fosse o único comandante vitorioso de uma coligação que envolvia não apenas os mamelucos árabes, mas também turcos e até as repúblicas cristãs de Veneza e Ragusa (Dubrovnik). 
Esse afastamento consentido, contribuiu para que acabasse preso, tendo sido só libertado quando o marechal do reino, forçou D. Francisco de Almeida a libertá-lo.

Se a sua chegada foi atribulada na substituição do vice-rei, também o foi pouco menos a sua própria substituição, algo inesperada, na chegada de Lopo Soares de Albergaria. Ainda em 1515 escrevera ao rei no sentido de tomar Meca, quando já tinha todo o Mar Vermelho sob seu poder, após ter conquistado a cidade do Suez. A sua morte no navio, quando acabava de ser substituído, e regressava a Lisboa, fez com que ainda fosse enterrado em Goa, só mais tarde sendo transladado para a Igreja de Nª Srª da Graça, onde estava sua mulher.

Após Albuquerque, só é digno de registo especial a chegada portuguesa ao Japão, pelo que é com Albuquerque que praticamente começa e acaba a grande extensão do império português no Oriente. 

Após 1511, a conquista de Malaca, permitiu passagem à navegação portuguesa, e o que não foi logo descoberto, foi simplesmente porque foi encoberto em Lisboa. Com a mesma facilidade que as naus chegaram às minúsculas ilhas de especiarias das Molucas, e até à Papua-Nova Guiné, também traçaram pelo menos os grandes contornos orientais. Albuquerque tanto saberia de Timor em 1512-1514, como saberia da Austrália, ainda antes disso. Tanto saberia da China em 1513, como saberia da Coreia e do Japão nos anos seguintes. Aqueles que pensarem doutra forma, limitam-se a papaguear as estórias de carochinha que lhes dão jeito.


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