Hoje é Embaixada de França o que antes foi o Palácio de Santos.
Para mostrar como o edifício foi querido de D. Sebastião, temos esta descrição na página da Embaixada:
D. Sebastião (rei de 1557 a 1578), sucessor de D. João III, considera, pelo contrário, o Palácio de Santos como uma das suas residências preferidas. Em 1576, o monarca escapou a uma violenta explosão dos armazéns de pólvora que se situavam nas margens do Tejo, do lado da actual Rua das Janelas Verdes. O sinistro danificou muitíssimo o Palácio. Em 1577, o Palácio de Santos é o teatro de uma cena histórica: o rei recebe a notificação do seu ministro contra a campanha, na África do Norte, que ele estava a preparar. A 25 de Junho de 1578, o rei D. Sebastião parte de Lisboa para Marrocos. Na véspera, assiste à Missa na Igreja de Santos-o-Velho e diz-se ter tomado a sua última refeição no Palácio, na mesa de mármore que se encontra no actual jardim. Esta cruzada contra os Mouros termina com a catástrofe de Alcácer Quibir (4 de Agosto) onde morre uma grande parte da nobreza portuguesa próxima do rei (um filho, Afonso, e dois netos de Jorge de Lancastre são mortos; um outro neto, Luís, é feito prisioneiro).
Depois desta perda, os Lancastre instalaram-se novamente no Palácio de Santos que se encontrava num estado lastimável, devido à explosão dos armazéns de pólvora e da sua ocupação pelo exército de Filipe I que veio, em 1580, afirmar as pretensões do seu monarca ao trono português, depois de extinta a dinastia de Aviz. Luís de Lancastre (1540-1613), regressado de Marrocos, depois de ter sido pago um grande resgate, compra o Palácio às Comendadeiras, mas esta aquisição foi contestada pelo poder real. Só em 1629, o seu filho, Francisco Luís (1580-1667), consegue finalmente comprar o Palácio definitivamente às Comendadeiras com a autorização real. O Palácio fica na posse dos Lancastre até 1909.
É sobre o episódio da Explosão dos Armazéns de Pólvora, que destaquei, que encontrei esta transcrição.numa compilação de manuscritos constante na Biblioteca Nacional
Documentos de várias tipologias, relativos à história portuguesa,
sobretudo do reinado de D. Sebastião
(pag.121-123)
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Del Rey D. Sebastião de mão própria
ao Magnífico Embaixador D. Juan da Silva
Magnífico Embaixador,
história desde o acontecimento com interpretação .
Ao Duque d'Alva lede esta carta e ao Prior D. António e lede-a com D. Cristovão e avisai-me como leu o Duque a minha carta, e se viu o que sobre ele e o Prior escrevi ao Senhor Rei meu tio
Ao Duque d'Alva lede esta carta e ao Prior D. António e lede-a com D. Cristovão e avisai-me como leu o Duque a minha carta, e se viu o que sobre ele e o Prior escrevi ao Senhor Rei meu tio
Diz que quer vir agora cá, um homem que está em Évora vestido de vermelho a falar em coisas que lhe importam, e não advirte que sendo vista, queixa geralmente dizer o homem que o não ouviram, quanto maior deve ele ter de si e de quem o ouvir, podendo dizer com o mesmo encarecimento, que o ouviram.
Dizei a D. Diogo de Cordova que os porcos de Salvaterra e de Almeirim o desafiam, e o esperam para entrar com ele em mato e não em campo e que eu serei seu padrinho no mato e no campo;
Escrevei-me de como fica o Duque de Alva, e se achou estes dias, dizei-lhe que espera cedo pelo homem que me escreveu me mandaria, e pelas mais coisas que com ele haviam de vir, e que neste intento e para este efeito se procede cá nas coisas, e que das que se oferecem de novo o avisarei, e assim tenho por mui certo se procederá lá em tudo.
de Lisboa 26 de Janeiro de 1577
Rey
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Portanto, esta explosão dos Armazéns da Pólvora não foi vista como um mero acidente por D. Sebastião, e noutros documentos podemos ver como o Embaixador de Espanha se queixa de que ele, por mais explicações que lhe sejam dadas por si ou pelo Rei de Espanha, não acredita em nenhuma.
D. Sebastião é irónico, e aproveita a questão dos "porcos" para desafiar directamente D. Diogo de Cordova, e o Duque de Alba. Inclui ainda na "lista", Cristovão de Moura, e também o Prior do Crato.
Portanto, de certa forma esta carta mostra que D. Sebastião não estava completamente desavisado de eventuais vontades externas contra a sua vida, e facilmente apontava isso a Filipe II de Espanha, seu tio, ou aos seus associados mais directos.
Prezado,
ResponderEliminarEntão o Duque de Alba, D. Cristóvão de Moura e o Prior do Crato parecem ter tido envolvimento no atentado? É difícil compreender tudo na linguagem antiga. Que foi essa questão dos porcos? E o homem de vermelho? E o homem que o Duque de Alba mandaria?
Grato
Também não tenho mais informações sobre o assunto, e de facto a historieta está encriptada, o que sem informação de detalhe do contexto, não permite perceber muito mais.
ResponderEliminarParece claro que D. Sebastião viu o incidente como um atentado à sua vida, e daí falar de forma sinistra, e com algum medo latente.
Cumprimentos.