sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ré vista (1)

A primeira parte dos textos era focada na questão dos descobrimentos, do final da Idade Média ao final do Renascimento e início da Idade Moderna. Há pouco mais que um ano, recuperei os textos iniciais(*), e não há propriamente muito mais a dizer. Ou, o que há a dizer pode ser mencionado acerca doutros textos.

(001) Por isso, começo pelo texto Dom Fuas, que é basicamente o fiel de todo o balanço seguinte.
Podemos perseguir um objectivo, mas não ao ponto de pensar que a gravidade não afecta a montada. Se o corcel ganha asas, avança para terrenos draconianos.
Porquê? Porque há sempre uma fronteira que define os limites. Podemos ultrapassar uma limitação, para nos depararmos de seguida com outra, porque há sempre limites. A ideia de ilimitação é uma simples negação de um limite que conhecemos. Como qualquer negação, nada acrescenta ao conhecido.
Num comentário, Calisto definiu bem outro ponto de Dom Fuas... a fuga não é caminho e o recolhimento é apenas solução temporária.

A mentira precisa de propaganda e divulgação, porque precisa de inventar mundos.
Sem constantes cuidados de manter o fabrico da mentira, o mundo que emerge é o da verdade.
A verdade subsiste por si, não precisa de paladinos que a protejam.
A única coisa a reconhecer é a verdade que podemos retirar da informação que temos, ou melhor, é reconhecer a falsidade pelas suas contradições. Tudo o resto é temporário e serve de paisagem.
Só as crianças se podem sentir enganadas na Disneylândia, os adultos sabem onde estão, e sabem conviver com a fantasia.
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(002) De seguida, o texto Boeta de D. João II é dispensável, e ilustra apenas o simbolismo da morte do rei, do secretismo e mistério que o rodeou, e rodeou os descobrimentos. Se o Infante D. Henrique escolheu Lagos, para local fúnebre, D. João II escolheu Alvor, no outro lado da Meia-Praia.
Garcia Resende assinala que tinha sido o único rei a morrer fora de Portugal, porque escolhera os Algarves... o outro rei será D. Sebastião. O pedido de ficar na Sé de Silves, longe do repouso da Batalha, para onde depois será trasladado, adensa essa parte trágica do isolamento final. Quando escrevi o texto estava convencido do simbolismo nas longitudes: 
Silves está à longitude de Coimbra, e Alvor à longitude de Aveiro.
Por um ponto ligava-se ao avô (Infante) Pedro, e pelo outro à irmã (Santa) Joana. Com o filho D. Jorge reeditava o Ducado de Coimbra, que passou a Ducado de Aveiro, até à sua extinção no Processo dos Távoras. Os Lancastre e Távora obtiveram os condados de Alvor e Portimão, ligando-se ao local do óbito.

Sendo normalmente secundarizado, convém notar que há na prática uma mudança de Dinastia pela morte de D. João II. Houve uma guerra política pela sucessão, entre D. Manuel e D. Jorge, e a opção de D. João II não vingou. D. Manuel vai trasladar D. João II para o Mosteiro da Batalha, onde será o último rei. O novo panteão da Dinastia Avis-Beja será o Mosteiro dos Jerónimos, afinal D. Manuel não seguia a linha directa dos reis anteriores, D. Afonso V e D. João II. Sob certa forma é uma mudança maior do que a passagem de D. Fernando para D. João I, que é uma passagem de dinastia entre irmãos - aqui a passagem é entre primos. Afinal também D. Sebastião era primo de D. Filipe II...
Se não existiu uma guerra na altura, estavam ali os fantasmas de Alfarrobeira. 
Se o romance de D. Pedro I e Inês de Castro tinha abalado a corte, o romance do filho, D. João I, com outra Inês, Inês Pires, levaria à maior cisão na corte nacional. Afonso e sucessores, nunca aceitaram o papel secundário, algo bastardo, a que tinham sido relegados os Bragança pelo casamento Lancastre. Essa insatisfação trouxe a Dinastia Filipina, e também acabou com ela. Mesmo já reis, a sombra dos Lancastre permanecia e só foi afastada com a morte e extinção da Casa de Aveiro, pelo Processo dos Távoras.

Portanto, ainda que se façam todas as teorias sociopolíticas acerca do curso da História, uma simples "escapadinha" do Mestre de Avis teve consequências durante 400 anos, ou mais... e assim nunca é de negligenciar o problema da efectiva beleza de Helena numa Guerra de Tróia, ou o efeito das velhas invejas familiares. Se a racionalidade controla uma parte da acção, a irracionalidade controla a outra parte.
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(003) A Passagem Noroeste é um pequeno texto numa altura em que ainda procurava perceber uma codificação nos mapas. Uma tentativa mais complicada está no texto Carta do Atlântico Norte. Se a rotação do mapa africano de Reinel permitira ver o contorno do Golfo do México, pensei ser possível encontrar outras relações, nomeadamente pela posição das rosas dos ventos. No entanto, nunca fiquei satisfeito com o resultado - que não vai além de curiosidade.
No entanto, esclareça-se, é objectiva a informação seguinte:
a) A presença de bandeiras portuguesas na zona Inca, indicando ali presença anterior à espanhola.
b) A propositada distorção e alteração dos mapas incluindo menção a ilhas fictícias.
c) As ilhas fictícias foram marcas nos mapas indicando outras terras - p.ex. a Ilha Brasil. 
d) A rotação de alguns mapas indicia contornos americanos.
e) A degradação da informação objectiva dos mapas, durante 200 anos a Califórnia passou por ser ilha!
f) A existência de um mapa com contornos exactos do globo à época de D. Sebastião - o mapa do Museu da Marinha. A afirmação disso é escrita por Pedro Nunes em 1536 - não restavam ilhas, penedos ou baixios por cartografar.

Que os portugueses teriam navegado a Passagem Noroeste e Nordeste, disso não tenho grandes dúvidas, e basta olhar para os mapas de Ortelius, Lavanha, ou ainda mais, para o mapa do Museu da Marinha. 
O que não consegui provar é que essa informação estivesse encriptada noutros mapas... mas isso é um detalhe, interessante, mas entretanto irrelevante.
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(004) Algumas bandeiras, p.ex. triangulares vermelhas, indiciavam uma Presença Islâmica na América, tese que tinha sido já avançada pela Duquesa de Medina-Sidónia, que encontrou também um paralelismo entre as referências a África e correspondentes referências americanas.
Por um lado, se essa presença, vinda dos reinos marroquinos ou granadinos, seria mais que natural, também é verdade que não conheço relatos de registos físicos que atestem isso. Não restou uma lamparina ou faiança árabe esquecida em solo americano? Um indício mais suspeito seria o nome Nova Granada dado à zona colombiana... local onde se vêem as bandeiras no mapa de João de Lisboa. 
Colômbia-Perú : castelos portugueses (e islâmicos?)

Porém, os espanhóis usaram também Nova Galiza e Nova Castela, referindo-se às suas províncias americanas. O assunto não é conclusivo, mas o importante do mapa do Almirante Piri Reis é evidenciar que nunca deixou de haver navegações islâmicas no Atlântico concorrentes às cristãs. 
O mapa de Piri Reis é praticamente idêntico a parte do mapa do globo de Lopo Homem que ilustra o Atlas Miller:
... se o de Piri Reis faz parte do folclore nos sites de "mistérios", os de Lopo Homem e Reinéis são convenientemente ignorados... apesar de Piri Reis mencionar a cartografia portuguesa como fonte.

Convém não esquecer que se os navios turcos rivalizavam com os espanhóis em Lepanto, a única força que os impedia de avançar pelos mares ocidentais era a passagem entre Gibraltar e Ceuta. Por isso a conquista de Ceuta marca o domínio para a expansão europeia... e é o verdadeiro início da Idade Moderna, já que a queda de Constantinopla não anuncia nenhum futuro domínio global turco. Ao contrário, as quedas de Ceuta e Granada, mostram o domínio ibérico que se seguiria, e que só foi perdido na Guerra dos 30 anos, mantendo-se ainda assim em centro europeu.
A Idade Moderna deveria começar com avanço pelo Bojador, para além dos limites antigos, e que coincide "enigmaticamente" com o fim de aventura semelhante chinesa. Este "enigmaticamente" denota ou uma coincidência pretendida, ou um controlo mundial escondido... escolha-se!
Essa Idade Moderna é caracterizada pela ocultação de boa parte do Pacífico, desde a costa oriental Australiana à costa ocidental norte-americana. Termina simbolicamente com a viagem de Cook, logo seguida da independência dos EUA. A Idade Contemporânea começa assim antes da Revolução Francesa, quando houve autorização para descobrir o que restava da Terra... e terminará quando houver verdadeira permissão para explorar o espaço para além da Terra. A encenada "ida à Lua" está ao nível das referências confusas sobre a Austrália antes de Cook, ou sobre a Guiné antes do Infante D. Henrique.

Foi neste texto que José Manuel lançou a questão sobre as motivações das viagens nacionais:
Mas o que continua encoberto é o que motivou as viagens marítimas e expedições terrestres dos portugueses? Uns dizem que foi para expandir a cristandade, outros que foi por os lucros comerciais das especiarias, outros dizem que foi para encontrarem um Reino perdido, e aí aflora-se o encoberto que é a "Rota Marítima do Megalítico pelos portugueses nos Re descobrimentos".

Concorreram diversos factores, para além da necessidade de abrir a porta a uma Europa fechada sobre si mesma. Os portugueses tomaram as chaves do Vaticano e foram abrindo a descoberta. A ideia da "táctica da cunha", ou seja, o ataque ao Islão através do Oceano Índico, era outra motivação clara, nunca escondida pelo Infante D. Henrique, nem pelo sucessor da Casa de Viseu, D. Manuel.
Porém, o mais importante era a abertura ao desconhecido, simbolizado pelas riquezas materiais do ouro, e pela diversidade de novos produtos, as especiarias, fossem elas culinária ou drogaria... e ainda por toda a recuperação de informação de um passado perdido. Desde as pirâmides comuns ao México e Egipto, a tantos outros monumentos, certamente que esses dados não passaram despercebidos - foram colhidos, e depois recolhidos - ficaram no segredo das novas organizações que se substituíam ao Vaticano no secretismo, nomeadamente, a Maçonaria.

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(*) Os seis textos iniciais estão aqui:

Uma versão PDF então compilada, e cujo link desapareceu 
pelas restrições dos GoogleGroups pode ser reencontrada aqui:


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