segunda-feira, 19 de maio de 2014

Santelmo (2) - a nossa Malta

Este texto resulta muito do elmo neste retrato de Manuel Pinto da Fonseca:

O elmo é aqui colocado em comparação com o Elmo atribuído a D. Sebastião, que foi objecto de um outro texto Santelmo... até em sinalização de um forte de Santo Elmo em La Valleta, Malta, e seguia-se a um outro texto sobre Valetas e Gozo de Malta.

Lendo esse texto, a relação que coloquei do Elmo a Santelmo... foi, no mínimo, um bocadinho forçada pelo nome e pelo facto dos Hospitalários se terem refugiado em Malta após a conquista otomana de Rodes. A oferta tinha sido de Carlos V, e um Elmo de D. Sebastião era também de Carlos V.
Havia alguma relação, mas seria mais uma relação discursiva, que permitia ligar temas.

Ora, entretanto, Manuel Pinto da Fonseca, o 68º Grande Mestre da Ordem de Malta, entre 1741 e 1773, fez o favor de se fazer pintar em trajos anacrónicos, com armadura e elmo próprios do Séc. XVI.
É fácil ver que o elmo apresentado sobre o seu estandarte é quase idêntico ao que Rainer Dahenhardt afirma ser o elmo usado por D. Sebastião em Alcácer Quibir.
O elmo repousa sobre crescentes lunares mouros, em número de cinco no estandarte, correspondentes a 5 turcos que Manuel Pinto da Fonseca teria quinado sozinho... 
A cidade maltesa de Qormi, que usa o nome Città Pinto, por referência ao português, tem como símbolo esse brasão pessoal - a quina de crescentes.

Como sabemos nestas coisas, Pinto ter-se feito pintar assim é só mais uma de muitas "coincidências", mas dá algum jeito à relação entre Malta e o Elmo, que é colocado no meio dos crescentes quinados.

Albergue Espanhol
Com o lançamento das Cruzadas em 1095, as ordenações monásticas passaram ao seu aspecto militar, tendo-se destacado a Ordem dos Hospitalários e a Ordem dos Templários nas proezas militares na Palestina. Se a Ordem dos Templários foi extinta, tendo tido a evolução para Ordem de Cristo em Portugal, e outras possíveis evoluções maçónicas... a Ordem dos Hospitalários foi evoluindo basicamente pela posição da sua sede. 
A sucessiva expulsão dos Reinos de Jerusalém na Palestina, começada por Saladino, levou a Ordem em 1284 para Chipre, depois em 1305 para Rodes, e finalmente em 1521 para Malta, pela concessão de Carlos V, que mencionámos. Deixou de ter solo próprio quando Napoleão aí desembarca em 1798.
Apesar da Ordem ainda existir formalmente num edifício do Vaticano, e ser bem distintiva a Cruz de Malta, podemos dizer que o motto hospitalar inicial acabou por ser congregado na Cruz Vermelha Internacional, fundada por Dunant, em Genebra, 1863, e que no ano seguinte aí definiu a primeira Convenção de Genebra de 1864.

Como a Ordem congregava cavaleiros de diferentes nacionalidades, tinha uma divisão linguística... por "Langues", e havia diversos albergues - uma denominação apropriada ao motto assistencial. 
Em Malta, o Albergue de Castela incluía Castela, Leão e Portugal... mas não Aragão, que tinha outro edifício. Portanto, a aplicar-se o termo Albergue Espanhol, vemos que houve uma pequena troca prática sobre independências de Aragão e Portugal no contexto Espanhol da Malta.
Albergue de Castela - reedificado por Pinto da Fonseca
era albergue castelhano e português e é actual Residência do Primeiro Ministro Maltês.

Em 1768, tal como o Marquês de Pombal expulsara os Jesuítas, também Pinto da Fonseca expulsava os Jesuítas de Malta. A ordem era papal, e a coordenação da execução era sincronizada. 
Tem o pormenor curioso de envolver a dissolução dos Jesuítas em França por imputação de dividas do jesuíta Antoine La Vallette. Assim, se um hospitalário Valette dava nome à maltesa La Valeta, outro Valette tirava de Malta e de França os jesuítas. Portanto, é caso para dizer que os Valetes deram cartas à Malta.

Finalmente, Pinto da Fonseca acolhe Cagliostro na Ordem de Malta, e, após a sua expulsão, Cagliostro irá encontrar-se numa série de iniciativas místicas, terá fundado várias lojas maçónicas (segundo Camilo Castelo Branco), e participa no caso do colar de diamantes que abalará Maria Antonieta, e na sequência de 1789, determinará o fim da Monarquia Francesa. 

Outros portugueses na Ordem de Malta
A lista dos Grão-Mestres da Ordem dos Hospitalários e depois de Malta, pode ser vista aqui.
Tem como portugueses: 
Fernando Afonso (1202-06), filho bastardo de Afonso Henriques.
- Luis Mendes de Vasconcelos (1622-23), anterior governador de Angola, ao tempo filipino.
- Antonio Manuel de Vilhena (1722-36), que funda Floriana em Malta.
- Manuel Pinto da Fonseca (1741-73), de que aqui falámos.

Vilhena também terá deixado uma marca importante em Malta (não em Gozo), criando uma cidade com o nome Floriana, também conhecida como Borgo Vilhena. 
Ora é interessante haver duas versões consistentes sobre a origem do nome Floriana... uma diz que o nome vem do arquitecto italiano Floriani, a outra remete para o pai de Vilhena ser o Conde de Vila Flor. Provavelmente os dois acontecimentos coincidem bem, admitindo que Vilhena pretendesse imortalizar o nome do arquitecto que escolhera... e que o nome Borgo Vilhena seja então homenagem do arquitecto ao patrono!

Do ponto de vista português interessa notar principalmente os 50 anos com Grão-Mestre luso, de 1722 a 1773, com uma interrupção de 5 anos. Atendendo à importância que esta Ordem Hospitalária sempre teve no seio da cúria do Vaticano, e ao período em questão - que vai da ascensão e declínio de D. João V, ao desastre de D. José I, não é de negligenciar este "reinado" em paralelo, do Marquês de Pombal e de Pinto da Fonseca, com algumas afinidades políticas, nomeadamente na expulsão jesuíta e simpatia com a maçonaria. 
E se sobre a expulsão jesuíta poderíamos remeter a ordem papal, nunca é muito claro nestas relações de poder quem o exerce de facto, basta afinal remeter para uma "teoria de conspiração" que circulou sobre a "demissão" de Bento XVI:
Cavaleiros da Ordem Malta despedem Bento XVI,  hipótese deste artigo:

Esta "teoria da conspiração" tem apenas o "problema seguinte" - da eleição seguinte sairia Francisco, um jesuíta, e portanto parece pouco consistente com outros passados da Malta. De qualquer forma, fica o registo.

2 comentários:

  1. "Casa Mourisca - Albino d'Obidos"

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1134062899992819&set=p.1134062899992819&type=3&theater
    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1134065146659261&set=p.1134065146659261&type=3&theater

    Cpts

    José Manuel CH-GE

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    1. Caro José Manuel,
      vi esta página da Casa Memória Albino d'Óbidos, conforme se lê na sua segunda foto

      https://www.facebook.com/Vila-de-Arte-loja-olaria-e-ateli%C3%AA-casa-mem%C3%B3ria-Albino-de-%C3%93bidos-116325261766243/

      e a habitação pode ter sido apenas feita recentemente pelo tal artista "Albino d'Óbidos", que foi ainda presidente da câmara da vila, pelos anos 1980.
      Ou seja, essas duas pedras da entrada, podem ter sido apanhadas das redondezas.

      Abraço!

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