quarta-feira, 1 de maio de 2013

A pomba de Árquitas

Lendo o Padre José Agostinho de Macedo na sua "Viagem Extática ao Templo da Sabedoria", ou ainda indo ao poema "Newton" (o nome do original anterior), podemos retirar muitos nomes de individualidades. 
Alguns a deusa da Fama guardou com mais carinho que outros...

Falemos hoje das referências a Árquitas de Tarento e a Pilâtre de Rozier:
Do antigo Architas se escureça a Pomba; 
Maior prodigio guarda a idade nossa.
Eu vejo pelo ar volantes carros,
Quaes vão nas ondas os baixeis arfando;
(...) Eu vejo o golpe, e a victima primeira
Em Rosier intrepido, que sobe; 
Elle o primeiro foi, mas prestes passa,
Do regaço da gloria ás mãos da morte.
 
Era já opinião de Macedo que se iria "escurecer" a invenção de Árquitas de Tarento, que foi passando nos registos da antiguidade como sendo a primeira máquina voadora... a chamada Pomba de Árquitas
 
Árquitas de Tarento e uma ilustração da "Pomba de Árquitas"

Pomba de Árquitas. Segundo os registos antigos, o engenho da "pomba" terá voado 200 metros, por um sistema auto-propulsor de reacção... conjectura-se que seria de ar comprimido.
Convém notar que voar com aparelhos de reacção acabou por ser o último passo da aviação. Os reactores superaram as hélices, assim como as hélices tinham suplantado o voo pelos mais leves, dirigíveis ou balões.

Pelo menos, o princípio do voo por reacção seria conhecido desde há praticamente 2400 anos.
Se o nome de Árquitas foi popular, sendo político e regente de Tarento, também o foi como um dos primeiros a aplicar princípios de matemática à mecânica. 
Porém, há sempre trabalhos, registos que se perdem... as noções aparecem depois, passados milhares de anos, com o nome de outros, e não nos referimos apenas a Arquimedes, que terá sido um dos seguidores. A deusa da Fama escolhe os nomes que acarinha, por várias conveniências ilusionistas...

No registo mítico, temos Dédalo que constrói asas de cera para o seu filho Ícaro voar... e é claro que tal coisa só pode ser vista como mítica pelo peso educacional que nos amarra ao chão. 
Afinal, que sentido faz conceber voo com asas? 
Que sentido faz conceber voo com asa-delta?
Que parte tecnológica é que não estava ao dispor na Antiguidade, para conceber tal sistema? Certamente que não era falta de tecido leve, nem de estrutura sólida.
Quando o vento sopra forte, o que é difícil é mantermo-nos no chão, mas certamente que durante milénios ninguém terá pensado tampouco em levantar um papagaio. Só recentemente se libertou algum do génio preso na garrafa, e já se tenta enfiá-lo lá dentro de novo... sobre o voo do Daedalus-88 já se passaram 25 anos, e mais nenhuma bicicleta parece ter ganho asas para superar aquela proeza de ligação aérea entre Creta e Santorini - a publicidade que nos dá asas, serve o propósito de as tirar.

Balão de Rosier. Se Ícaro caiu por querer voar mais alto, também o mesmo ocorreu com Pilatre de Rozier. Esquecendo o gás na Passarola de Gusmão, que estranhamente Macedo nem menciona, em 1783, ao mesmo tempo que os irmãos Montgolfier faziam um balão de ar quente, Rozier usava também o princípio dos gases mais leves para o seu balão.
Ah! Coincidências incríveis... após milénios agarrado ao chão, no dia 15 de Outubro de 1783, o Homem erguia-se no ar de duas formas distintas. Primeiro, Etienne de Montgolfier com um balão de ar quente, e depois Pilatre de Rozier com um balão misto de gás e ar quente. No mesmo dia, no mesmo local, organizado por Revéillon... 
Após autorização real, foi mesmo a Rozier que coube o primeiro voo, com o balão desprendido do chão, a 21 de Novembro, e com a companhia do Marquês d'Arlandes. 
Demorou mais de um mês a descoberta de que se podia soltar a corda...
Rozier... e o "primeiro" voo de balão

Rozier terminou mal, procurou evidenciar-se pela travessia do canal da Mancha, mas foi de novo suplantado, e acabou mesmo por perecer na queda, na sua tentativa.

Com a autorização real de Luis XVI, os franceses soltavam o seu génio, exibindo proezas nunca antes vistas (vamos esquecer, é claro, Zhuge Liang, Bartolomeu Gusmão, e outros... que não eram franceses). 
Acordaram, com as feiras de Jean Baptiste Revéillon, e libertavam o génio soltando a rolha numa propulsão do champagne... e pareceria que a cabeça girava com tanta súbita descoberta.

Passados poucos anos, em 1789, muitos deles vieram mesmo a perder a cabeça - nas guilhotinas da Revolução Francesa. 
Luis XVI acabou por ser uma impensável vítima desse (mau) génio dos seus compatriotas...

2 comentários:

  1. Boa noite, Caro Alvor-Silves

    Porque será, que subitamente os franceses, "descobrem" as fabulosas "Máquinas Voadoras"?
    Génio subitamente revelado?
    Ou a Dinastia de Luís XVI, tem uma ligação ancestral aos detentores dos "Segredos do Passado Remoto"?
    Ana Maurícia, mais conhecida por Ana de Áustria, terá sido mesmo a filha de Filipe III de Espanha?
    Ou será que a sua filiação oculta, valeu mais tarde a morte de toda a Família, ás mãos da Maçonaria?

    Melhores Cuprimentos

    Maria da Fonte

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    1. Cara Maria da Fonte,
      é com agrado que registo os seus novos comentários aqui, que lhe agradeço.
      Creio que é claro que, pelo menos desde os Balões de S. João, de Zhuge Liang,
      alvor-silves.blogspot.pt/2011/06/polvora-lanternas-e-penhascos-vermelhos.html
      ou seja, desde a China no Séc. II a.C., que o princípio dos balões usados pelos Montgolfier seria conhecido.

      Por outro lado, pelo menos desde Bartolomeu de Gusmão,
      alvor-silves.blogspot.pt/2012/03/gas-na-passarola.html
      que o princípio da impulsão pelos gases seria conhecido.

      Ambos estavam selados e proibidos de divulgação.
      Aquilo que me parece é que houve imprudência de Luís XVI ao ceder às pressões de divulgação, sem o acordo de quem guardava os segredos. Pode ter sida instigada a revolução como contraponto a essa vontade de colocar tudo cá fora, creditando-o ainda por cima a outros autores. Não quer dizer que Montgolfier e Rozier não o tivessem inventado... Luís XVI é que teria obrigação de saber que eles não eram os primeiros inventores.

      Não há nada de especial nestas invenções!!
      Tem-se difundido essa ideia de "grandes proezas", por deturpação educacional.
      Há muita coisa que deveria ser conhecida na Antiguidade, simples resultado da curiosidade e empenho humano.
      Se não se soube, foi porque houve sempre conveniência elitista em restringir o conhecimento disponível à população.
      Repare que mesmo a "roda" foi uma invenção semi-proibida durante a Idade Média.
      Houve uma autêntica "reinvenção da roda" quando foi reautorizado o uso de carruagens, após o Renascimento.
      Não é de excluir que a "roda de St. Catarina" como instrumento de tortura, que apareceu no Séc. XVI, estivesse relacionada como uma punição relativa a comprometer a caixa de segredos que tinha sido confiada...

      Obrigado pelo comentário, e cumprimentos.

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