Alvor-Silves

sábado, 19 de outubro de 2019

Ser humano. Ser o mano.

Horror
O grito. Edvard Munch (1893)
Se há coisa a que os seres humanos nunca foram poupados, foi à presença real ou imaginada do pior dos horrores. Diria mais, a literatura, a arte em geral, encheu-se de tragédias, e de descrições, numa perspectiva de "tanto quanto pior melhor". 

Um quadro simples, como o grito de Munch, conseguiu um efeito icónico, perturbador para a maioria dos espectadores. Podemos ir mais atrás, aos quadros de Hieronymus Bosch, que são também suficientemente desconcertantes e complexos, mas que estão fora da realidade do observador. Normalmente a situação mais perturbadora leva o espectador para uma realidade que não o coloca apenas no campo da ficção.

A principal questão é a de perceber a "convocatória de horror", com que somos confrontados, convidados a assistir, a sofrer, em primeira pessoa ou em pessoa alheia, trazendo para nós sentimentos de que poderíamos bem prescindir.

Ser humano
O ser humano apareceu num contexto extremamente violento, onde a natureza já exercia toda a espécie de experiências nefastas aos animais que tinha criado. Não foi o homem que criou o horror. Nasceu dele e cresceu convivendo diariamente com ele.
Não poderia ser doutra forma, sejamos claros. Se a matéria era aglomerada, praticamente do nada, de um ovo, para se constituir como ser vivo, enquanto aglomerado natural, não faria sentido uma lei natural que inviabilizasse a sua destruição, a sua remissão às partes que formavam o todo.
Em muitos casos isso era e é literalmente assim, a presa entra dentro do sistema digestivo do predador, e sai já reduzida a estrume, matéria pronta a entrar noutro ciclo de vida. A natureza não esteve preocupada em anular a dor da presa, assim como forçava o predador a esse jogo, sob pena da lancinante dor da fome, antevisão do seu próprio desfalecimento.

Energia
A lógica algo sinistra da vida está relacionada com esse imposto pago a cada instante de tempo.
As partículas não podem decidir mover-se de um lado para o outro, sem pagar o imposto energético.
No caso de serem partículas inanimadas, qualquer movimento seu resulta de energia transmitida por outra fonte. As partículas animadas, por moto próprio, são animais (aliás, como o nome indica).
Um grão de areia pode voar levado pelo vento, pode ser arrastado pela água, mas todos esses movimentos não têm origem em si, são resultado da dinâmica de fluidos, na maior parte das vezes definida pela energia do Sol, ou pela conversão da energia da Terra (por exemplo, a energia potencial gravítica). Quando pequenas partículas tentam rumar contra essa corrente, por iniciativa própria, são animais, desde as mais pequenas amebas, até às maiores baleias.
Cada vez que manifestam a sua vida, pagam esse seu movimento em energia.

Como a lei universal é de conservação de energia, se algum animal quer gastar energia, tem que ir tirá-la algures... Ora, praticamente a única fonte gratuita de energia é o Sol, e o aproveitamento directo dessa energia é feito pelas plantas na fotossíntese. Animais movidos por fotossíntese foi coisa que não vingou, provavelmente por insuficiência energética, e assim os primeiros animais foram herbívoros, retirando energia das plantas. Até aqui a coisa não era muito atroz, porque as plantas eram desprovidas de sistema nervoso... o problema começou quando a natureza decidiu avançar para a crueldade seguinte, permitindo que uns animais fossem predadores de outros, especialmente dos herbívoros. A natureza já tinha exercido a sua crueldade com as plantas, através de secas e outros mimos, mas passa a outro nível com os herbívoros, chegando ao nível do sarcasmo quando condena uma tartaruga à morte por impossibilidade de se virar sobre si mesma.

Propósito
Isto tudo poderia ocorrer sem qualquer propósito, e essa é a versão oficializada da ciência maçónica, mas nos bastidores vai correndo outra ciência, sem pecadilhos religiosos, de uma religião que é anti-religiosa. Já aqui falámos do Princípio Antrópico, e essa é praticamente a única resposta a esta questão. Mais concretamente, quando a natureza introduz os seres vivos e os animais vai cumprir os passos necessários para o "conheça-se a si mesmo" universal. Desde a primeira existência de olhos, ou melhor, desde o primeiro instante em que os animais tiveram sentidos, assimilaram dentro de si uma parte exterior. Com os primeiros animais, o universo ganhava pela primeira vez seres que interpretavam uma parte do universo onde estavam. Admitindo que esses animais eram herbívoros, o seu conjunto iria interpretar ou codificar o mundo exterior. Com o cérebro herbívoro, o mundo terrestre poderia ser todo visto e previsto, nas suas leis mais básicas. Os herbívoros, sujeitos às maiores atrocidades, poderiam ir sobrevivendo num mundo quase caótico, restando os que melhor o entendessem. No entanto, sem inimigos acima de si, não teriam que se entender a si mesmos.

Quando a natureza define predadores e presas, não está apenas a ser cruel... ou a arranjar alternativas para o sucesso energético. Nessa altura, as presas têm que prever os predadores, e vice-versa. O cérebro de um herbívoro deixa de estar apenas preocupado com os seus locais de pasto, uma tarefa simples, quando comparada com o prever da acção dos predadores que lhe ameaçam a vida.
Desenvolvendo-se essa capacidade de previsão dos outros, isso tanto ocorre para a presa, no sentido de escapar ao predador, como para este, no sentido de apanhar a presa.
Em breve, o conjunto dos animais tanto conseguem entender minimamente os fenómenos físicos, como conseguem prever-se uns aos outros, entre os pares presa-predador. Mas como estas entidades são diferentes, ou seja, as espécies predadoras não caçam animais da mesma espécie, estes animais não estavam pressionados para se entenderem a si mesmos.

É com os primatas, e especialmente com os humanos, que o sucesso da espécie torna os humanos como potenciais predadores de humanos. Não se tratou apenas do canibalismo, que também ocorreu, os homens passaram à função de predadores de si mesmos, quando levaram as disputas territoriais e sexuais ao nível letal, o que raramente acontecia com os restantes animais.

Ser o mano
Nessa altura, quando o maior inimigo do homem é o próprio homem, a espécie tem que se conhecer a si mesmo. O maior propósito universal estava quase alcançado... não era apenas importante ao universo entender o funcionamento de uma parte, era especialmente importante entender-se a si mesmo. Se a espécie era resultado da natureza, para além de entender a outra natureza, teria que se entender a si mesma. Poderia dispensar isso, se não houvesse uma pressão, e essa pressão foi o horror, na nova forma que os humanos o trouxeram. Nas dilacerações que os humanos foram fazendo uns aos outros, foram sempre juntando novas ideias de horror, como forma de temor, como forma de se impor como potência perante os outros.
Os humanos criaram novos animais, muito mais temíveis, que tudo o existente anteriormente.
Esses novos animais eram as sociedades, que de famílias passaram a tribos, e de tribos a nações.
Se os homens eram mortais, essas sociedades poderiam não o ser, enquanto o legado cultural fosse preservado.
Até aqui funcionaria a lógica dos grupos, dos manos, mas não dos humanos.
Um homem teria que entender outro homem, mais do que isso teria que entender os grupos humanos, as sociedades aí desenvolvidas, etc. Ainda assim, cada homem estava dispensado de se entender a si mesmo. Entendia o outro como inimigo, poderia entendê-lo como mano, como companheiro, mas não surgia nenhuma pressão para se conhecer a si mesmo.

Creio que a pressão para se conhecer a si mesmo só resultou quando se percebeu que o problema não estava nos outros, estava no próprio. Para esse efeito, vejo um chefe tenebroso, que depois de se ver livre de todos os inimigos, começou a inventar novos inimigos, nos mais próximos, ao ponto de tendo o controlo sobre todos, seria forçado a perceber que os novos inimigos resultavam da sua paranóia. Esta reflexão pode nem ter partido de si, pode ter partido de algum conselheiro, que arriscaria ser o próximo na lista.
Esta constatação será motivo pelo qual a inscrição "conhece-te a ti mesmo" aparecia em destaque no Templo de Delfos, mas já resultaria de tempos mais remotos, muito anteriores a Zaratustra. Basicamente seria com esse início da verdadeira consciência do eu que a filosofia teria despontado para começar a abordar o problema fulcral.

O problema fulcral é simples, ainda que esteja enredado numa teia de preconceitos.
Como poderia o universo existir, se não desenvolvesse em si uma consciência autónoma, capaz de o observar e entender? - Conforme já disse aqui múltiplas vezes, não seriam os calhaus, as árvores, os burros ou os ursos, a entenderem a sua existência. Só os homens têm essa capacidade, a capacidade de reflexão e auto-reflexão, de definir mini-universos em si mesmos. O universo precisou de uma inteligência autónoma para se reflectir em si mesmo.
Tudo o que existe, existe por uma razão. A razão de tudo não pode ser exterior ao universo, sob pena de o universo não incluir tudo o que existe, e contrariar a sua própria definição. Também não será nenhuma parte do universo a conter essa razão, sob pena de se identificar com ele. Mas ainda que a razão completa esteja fora de alcance, podemos saber o suficiente para compreender o assunto na sua generalidade, e mais do que isso, não nos interessarmos pelos detalhes, e sabendo porquê.

Concluindo, o horror foi uma prenda do processo, e tendo existido antes, não tem razão para agora desaparecer por si. Pode deixar de ter utilidade prática, como teve antes, e levar para caminhos que já trilhámos. Interessa saber que a existência teórica do horror não é apagável, mas será opção própria entender onde isso leva - normalmente a lado nenhum..

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

De Re Militari (1/3)

Pareceu-me interessante considerar aqui a simples tradução do livro De Re Militari, de Flavius Vegetius, ou Vegécio, contemporâneo do Imperador Graciano (fim do séc. IV). É apenas a tradução do 1º livro, baseada numa outra tradução para o inglês de 1767, constante em Digital Attic, podendo encontrar-se uma versão em latim em The Latin Library para confrontação, o que raramente fiz.

Faço ainda referência às iconografias constantes na tradução alemã da obra (feita em 1529):
Vier Bücher der Ritterschafft de Heinrich Steyner
Não se referindo necessariamente ao texto, ou pelo menos não a partes conhecidas dele, é constatado que também outros tradutores do Renascimento, quando faziam a tradução do texto de Vegécio, colocavam a presença de armas e tecnologias que seriam mais contemporâneas.

São vários os casos, mas talvez destacando dois, escolha o colchão de ar, e fatos submarinos.
 
O colchão de ar é uma invenção de origem pouco conhecida, mas representa uma solução simples que poderia ser efectivamente usada desde a remota antiguidade, e também permitiria um simples dispositivo para flutuar na água.
No que diz respeito ao uso material submarino, encontram-se referências em diversos textos medievais, ainda mais antigos, que remetem até para uma história do interesse de Alexandre Magno na exploração submarina, revelando que muitos dos interesses ou invenções, pensadas modernas, tinham já origem em tempos remotos.

Segue a tradução do texto, fazendo notar logo a parte inicial, em que o Vegécio questiona como tinham sido os romanos capazes de suplantar os restantes povos, nomeadamente, o número de gauleses, a estatura dos alemães e a força física dos hispânicos, etc... concluindo ele ter sido a disciplina do exército. Isto não deixa de ser expectável e curioso.
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Prefácio ao Livro 1

Ao Imperador Valentiniano


É costume dos autores oferecer aos seus príncipes os frutos de seus estudos em belas cartas, a partir de uma convicção de que nenhum trabalho pode ser publicado com propriedade, se não tive os auspícios do imperador, e que o conhecimento de um príncipe deve ser mais geral e mais importante, pois sua influência é sentida com tanta intensidade por todos os seus súbditos. 
Temos muitos exemplos da recepção favorável que Augusto e seus ilustres sucessores conferiram sobre os trabalhos que lhes foram apresentados; e esse encorajamento do Soberano fez as ciências florescerem. A consideração da indulgência superior de Vossa Majestade por tentativas desse tipo me levou a seguir esse exemplo e quase me esqueci da minha própria incapacidade quando comparado com os escritores antigos. 
Uma vantagem, no entanto, deduzo da natureza deste trabalho, pois ele não requer elegância de expressão ou extraordinária parcela de génio, mas apenas grande cuidado e fidelidade em colectar e explicar, para uso público, as instruções e observações de nossos antigos historiadores de assuntos militares, ou aqueles que escreveram expressamente a respeito deles.
Meu objectivo neste tratado é exibir nalguma ordem os costumes e usos peculiares dos antigos na escolha e disciplina dos seus novos recrutas. Também não pretendo oferecer este trabalho a Sua Majestade, partindo da suposição de que não conhece todas as partes de seu conteúdo; mas sim que pode ver que as mesmas disposições e regulamentos salutares que sua própria sabedoria solicita que estabeleça para a felicidade do Império, foram anteriormente observados pelos seus fundadores; e que Vossa Majestade possa encontrar com facilidade nesta descrição o que for mais útil num assunto tão necessário e importante.
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Livro 1: A selecção e o treino de novos recrutas


I - A DISCIPLINA ROMANA - A CAUSA DA SUA GRANDEZA
A vitória na guerra não depende inteiramente de números ou mera coragem; só a habilidade e a disciplina garantirão isso. Descobrimos que os romanos não deveram a conquista do mundo a outra causa senão ao treino militar contínuo, observância exacta da disciplina em seus campos e cultivo atento das outras artes da guerra. 
- Sem isto, que chance teria o número de exércitos romanos contra as multidões dos gauleses?
- Ou com que sucesso seu tamanho pequeno teria se oposto à estatura prodigiosa dos alemães?
- Os hispânicos superaram-nos não apenas em números, mas em força física.
- Sempre fomos inferiores aos africanos em riqueza e desiguais a eles em engano e estratagema.
- E os gregos, indiscutivelmente, eram muito superiores a nós em habilidade em artes e em todos os tipos de conhecimento.

Mas, a todas essas vantagens, os romanos opunham o cuidado incomum na escolha dos seus recrutas e no seu treino militar. Eles entenderam completamente a importância de fortalecê-los pela prática contínua e de treiná-los para todas as manobras que possam acontecer na linha e na acção. 
Nem eram menos rigorosos em punir a ociosidade e a preguiça. 
A coragem de um soldado é aumentada pelo conhecimento de sua profissão, e ele só quer uma oportunidade de executar o que está convencido de que lhe foi ensinado perfeitamente. Um punhado de homens, empenhados na guerra, persegue a vitória certa, enquanto pelo contrário numerosos exércitos de tropas rudes e indisciplinadas são apenas multidões de homens arrastadas para o matadouro.

II - A SELECÇÃO DE RECRUTAS
Para tratar este assunto com algum método, primeiro examinaremos quais províncias ou nações que devem ser preferidas para suprir os exércitos com recrutas. É certo que todo país produz homens corajosos e homens cobardes; mas é igualmente certo que algumas nações são naturalmente mais guerreiras do que outras, e que a coragem, assim como a força do corpo, depende muito da influência dos diferentes climas.

A seguir, examinaremos se a cidade ou o país produz os melhores e mais capazes soldados. 
Imagino que ninguém possa duvidar que os camponeses sejam os mais aptos a portar armas, pois desde a infância foram expostos a todos os tipos de clima e foram submetidos ao trabalho mais árduo.   Eles são capazes de suportar maior calor do sol, não estão familiarizados com o uso de banhos e são estranhos a outros luxos da vida. São simples, satisfeitos com pouco, apegados a todos os tipos de fadiga, e preparados de alguma forma para uma vida militar pelo emprego contínuo em seu trabalho no país, no manuseio da pá, cavando trincheiras e carregando fardos. 

Em casos de necessidade, no entanto, às vezes somos obrigados a recrutar nas cidades. 
E esses homens, assim que se alistavam, deveriam ser ensinados a trabalhar em trincheiras, a marchar em fileiras, a carregar cargas pesadas e a suportar o sol e a poeira. Suas refeições devem ser grosseiras e moderadas; eles devem estar acostumados a dormir algumas vezes ao ar livre e outras vezes em tendas. Depois disso, eles devem ser instruídos no uso das suas armas. E se alguma longa expedição estiver planeada, elas devem acampar o mais longe possível das tentações da cidade. 
Com estas precauções, as suas mentes e corpos estarão adequadamente preparados para o serviço.

Percebo que, nas primeiras eras da República, os romanos sempre erguiam seus exércitos na própria cidade, mas isso foi numa época em que não havia prazeres nem luxos para seduzi-los. O Tibre era então o único banho, e nadando refrescavam-se após exercícios e fadigas no campo. Naqueles dias, o mesmo homem era soldado e camponês, mas um camponês que, quando surgia a ocasião, deixava de lado as suas ferramentas e empunhava a espada. 
A verdade disso é confirmada pelo exemplo de Quintius Cincinnatus, que estava atrás do arado quando lhe foram oferecer o cargo de ditador. A força principal de nossos exércitos, então, deve ser recrutada no campo. Pois é certo que quanto menos estiver um homem familiarizado com os doces da vida, menos razões ele tem para ter medo da morte.


III - A IDADE ADEQUADA PARA RECRUTAS
Se seguirmos a prática antiga, o momento adequado para alistar jovens no exército é a sua entrada na era da puberdade. Nesse momento, instruções de todos os tipos são absorvidas mais rapidamente e imprimem mais duradoura na mente. Além disso, os indispensáveis ​​exercícios militares de corrida e salto devem ser adquiridos antes que os membros sejam muito rígidos pela idade. Pois é a actividade, aprimorada pela prática contínua, que forma o soldado útil e bom.
Antigamente, dizia Sallustius, os jovens romanos logo que tinham idade para portar armas, eram treinados da maneira mais rigorosa em seus campos para todas as fatigas e exercícios de guerra. Pois é certamente melhor que um soldado, perfeitamente disciplinado, repita através da emulação, que ainda não tenha chegado a uma idade adequada para a acção, do que ter a mortificação de saber que é passado.
Também é necessário um tempo suficiente para sua instrução nos diferentes ramos do serviço. Não é fácil treinar um arqueiro a cavalo ou a pé, ou formar o soldado legionário em todas as partes da arte, ensiná-lo a não deixar o seu posto, a manter fileiras, apontar apropriadamente e lançar os seus mísseis  com força, cavar trincheiras, plantar paliçadas, como administrar o seu escudo, olhar os golpes do inimigo e como desviar um golpe com destreza. Um soldado, perfeito na sua profissão, longe de mostrar qualquer temor em se envolver, estará ansioso por uma oportunidade de se evidenciar.


IV - O SEU TAMANHO
Achámos os antigos muito afeiçoados a conseguir os homens mais altos que podiam para o serviço, uma vez que o padrão para a cavalaria das alas e para a infantaria das primeiras coortes legionárias era fixado em seis pés, ou pelo menos cinco pés e dez polegadas. Estes requisitos poderiam ser facilmente mantidos naqueles tempos em que esses números seguiam a profissão das armas e antes de ser moda para a flor da juventude romana se dedicar aos assuntos civis do estado. 
Mas quando a necessidade exige, a altura de um homem não deve ser considerada tanto quanto sua força; e por isso temos a autoridade de Homero, que nos diz que a deficiência de estatura em Tideu foi amplamente compensada por seu vigor e coragem.


V - SINAIS DE QUALIDADES DESEJÁVEIS
Quem supervisionar os novos recrutas deve ser particularmente cuidadoso ao examinar as características de seus rostos, olhos e aparência de seus membros, para permitir que formem um julgamento verdadeiro e escolham os que têm maior probabilidade de serem bons soldados. 
Pois a experiência nos garante que há nos homens, bem como nos cavalos e nos cães, certos sinais pelos quais suas virtudes podem ser descobertas. O jovem soldado, portanto, deve ter um olho vivo, deve manter a cabeça erecta, o peito largo, os ombros musculosos, os dedos longos, os braços fortes, a cintura pequena, a forma fácil, as pernas e os pés mais nervosos que carnudos. Quando todas essas marcas são encontradas num recruta, um pouco de altura pode ser dispensado, uma vez que é muito mais importante que um soldado seja forte do que alto.


sábado, 12 de outubro de 2019

dos Comentários (56) continente americano

Houve antes outros comentários sobre a presença portuguesa no Canadá, de DJorge, nomeadamente:

e para além das referências abordadas noutros postais, começando com o Tratado das Ilhas Novas de Francisco de Souza (1570), fica aqui nova contribuição de IRF, com 4 comentários encadeados, e um subsequente comentário-resposta de José Manuel Oliveira.

Acerca da efectiva descoberta do continente americano por Colombo - é certo que nas duas primeiras viagens apenas visitou as Antilhas, e seria apenas em 1498 que visitou a Venezuela, mais propriamente o continente americano. 

Conforme já aqui referi, se chegar a Timor (ou chegar à Papua - Nova Guiné) não deu crédito de chegar à Austrália, muito menos dariam as Antilhas para o continente americano.

Acontece que para além da chegada à Índia, 1498 é ainda o ano em que Duarte Pacheco Pereira afirma ter estado na América a mando de D. Manuel. Fica assim em dúvida saber se essa viagem foi anterior ou posterior à chegada de Colombo à Venezuela em 1 de Agosto de 1498, mas parece que a viagem de Pacheco Pereira poderá ter ido muito mais além, de 70ºN a 28ºS (ou seja, do Canadá à Argentina), conforme as latitudes por si reportadas.

Este confronto levou à pretensa nomeação da América por via de Vespúcio, que afirmou ter chegado ao continente numa viagem de 1497-98 que não lhe é reconhecida, mas que foi suficiente para Waldseemuller lhe creditar a nomeação.

Para o que interessa, Colombo afirmou fazer a viagem à Venezuela para verificar se D. João II tinha razão e se existia ali mesmo uma parte continental. Claro que o rei português não teria outros navegadores para fazê-lo e morreu à espera que Colombo tomasse a iniciativa. Enfim, isto é tudo tão absurdo que nem percebo como os historiadores podem contar esta história sem corar de vergonha pelo ridículo do disparate.

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Quatro comentários de IRF:

Portanto, isto é referente à presença Portuguesa no Canadá, na zona do "Canadá Atlântico", Terra Nova, Nova Escócia, quiçá Nova Brunswick e no impossívelmente frio Labrador:

Encontrei isto numa das minhas pesquisas nas internetes:
De certo conhece melhor que eu as viagens de Álvares Fagundes, aparentemente datadas do primeiro quartel do século XVI, que tem sido mais ou menos homenageado pelo governo da província Canadiana de Nova Escócia como "mais ou menos o descobridor":

Enfim... conhece também que os Vikings lá estiveram por essas bandas, embora não tão a Sul.
Conhece o "reconhecimento" feito por Giovanni Caboto para os Ingleses em 1497 e as intromissões dos Franceses por Cartier (*) à volta de 1530...

Mas mais importante: Conhece o facto que os Portugueses já tinham descoberto essa zona antes de Colombo chegar às Bahamas em 1492, ter descoberto um bocadinho continental da Venezuela em 1498, que tendo em conta as dimensões das ilhas de Cuba e Hispaníola, certamente não lhe permitia saber com certeza que era "a Terra Firme" do continente Americano, e que finalmente encontrou a América Central em 1502 quando foi ordenado a passar daquilo que pensava ser o Japão para a tão almejada Índia.

Ora aqui ficam os mapas da wikipedia que parecem ser muito bons a explicar o percurso de Colombo, tendo em conta tudo o que até aqui tenho lido, que admito não ter sido assim tanto... aqui vai:
1492

1493 

1498

1502

Pelo que se levanta em mim esta interrogação que gostaria realmente de ver respondida:

Quando é que os Espanhóis descobriram realmente a América?

Outra pergunta que se levanta é... dada a presença Portuguesa na América desde meados do século XV, que nos parece ser clara, terão os Portugueses mesmo reivindicado os seus territórios? Terão povoado com Portugueses esse território? 
Terão deixado sinais e deixado a marcas na sua toponomia local? 
A resposta varia entre o sim e o mais ou menos sim ou parece que sim ou provávelmente sim. 
Mas isso não basta.

Ao ler o "Descoberta do Brasil" - e de certeza sabe a que me refiro apesar de não me lembrar do nome do autor agora - parece-me claro que o Rei D. João II, o Príncipe Perfeito, em 1480 e tal ofereceu em mercê ou feudo ou o que o valha, parte do que hoje é o Canadá a D. Fernão Ulmo, "governador" da Ilha Terceira (ou Madeira?). Seria interessante encontrar o documento em questão. Mais "emocionante" foi ler que tal documento afirmava que o Rei de Portugal estava disposto a ir para a guerra com Fernão Ulmo caso pusessem em questão a autoridade deste, e portanto da coroa Portuguesa.

Também nesse livro encontrei vários escritos, desde Colombo a Las Casas, que afirmavam já ter estado os Portugueses na América. Bem como indícios de que Colombo vai para a América - ou as Bahamas de hoje - seguindo exactamente relatos e rotas Portuguesas...

O mais chocante é contar, parece-me, nos registos históricos, por intermédio de Colombo e Las Casas, a brutal e clara asserção de que quando chegaram a Cuba, os nativos afirmaram-lhes que já tinham tido contacto com outros "Homens brancos e barbudos como nós"... e não há muitos anos!

Acresce também aquilo que é sabido por todos nós, que apesar das viagenzinhas de Caboto pelos Ingleses e Cartier (*) pelos Franceses nunca a Terra Nova ou o Nordeste da América do Norte - a parte mais próxima à Europa Ocidental - foi colonizada ou realmente reivindicada por outras potências.

Porquê?
Porque parece que havia o reconhecimento, senão claro pelo menos táctico, que essa zona correspondia ao Reino de Portugal, tal como a Gronelândia ou a a Islândia correspondiam aos Reinos da Noruega/Dinamarca.

Eram terras que já tinham dono. Um dono Cristão. E por Cristão quero dizer Católico. Pelo que seria interessante dar uma olhadela ao quê que o Vaticano teria a dizer... (Tordesilhas e mais especialmente aquele tratado que o precede que diz que os Portugueses têm direito ás terras não Cristãs que descobrirem e conquistarem são claros...)

Nunca os Franceses ou Ingleses ou quaisquer potências reivindicaram a sério aquelas terras até 1580, quando, dois anos após a morte de D. Sebastião, a coroa Portuguesa passa para a Coroa dos Habsburgo Espanhóis. E é como se Portugal deixasse de existir e a América do Norte Portuguesa se torna "fair game" para todas as potências Ocidentais, geralmente em guerra com o Império "Castelhano-Germânico" de Carlos V.

Será que os Portugueses povoarem aquela área nos séculos XV e XVI?

Voltemos a João Fagundes e ao Tratado das Ilhas Novas e Descobrimento Delas e Outras Cousas, escrito (aparentemente) pelo Capitão Donatário da Ilha da Madeira (posso estar enganado) Francisco de Souza por volta de 1570 (?).
Que diz algo como: Alguns nobres se juntaram em Viana do Castelo, tendo informação da Terra Nova dos Bacalhaus, que estavam determinados a povoá-la e que receberam licença do Rei para tal...
Quantas vezes isso aconteceu?
Não continua o tal escrito com algo como: Achando aquela terra muito fria, foram descendo até que se instalaram noutra e ainda hoje lá estão porque foram encontrados à pouco pois já se tinha perdido o contacto com eles, e estão no Cabo Bretão?

Não havia umas famílias nobres do Minho que tinham no seu registo que alguns partiram para a América do Norte em finais do séc. XV / inícios do XVI?

Que podemos nós saber do povoamento Português nessa zona, se é que realmente foi povoado? E toponomia? E sinais? Portugal Cove, etc...

E agora vou ser ainda mais bruto, que o tempo escasseia cada vez mais:

Aparentemente João Álvares Fagundes foi o descobridor da Nova Escócia.
Álvares Fagundes parece ter descoberto a "Baía de Fundy", entre outras zonas daquela parte do mundo. A wikipedia diz que as ainda hoje Francesas ilhas de Saint Pierre et Miquelon à beira da Terra Nova foram descobertas por Fagundes e chamadas de "Ilhas das Onze Mil Virgens".

Álvares Fagundes, parece ter chegado inclusive ao fim da Baía de Fundy*, entre a Nova Escócia e Nova Brunswick, províncias do Canadá actual.

Atentemos para o nome da área mais ou menos pantanosas e mais ou menos pontuada por uma extrema variabilidade das marés.
Chamam-se hoje "Tantramar Marshes", ou Pântanos de Tantramar. Que nome esquisito para a língua Inglesa... Fui ver a explicação:
      A Wikipedia diz que o nome derive do francês do tempo da colonização Francesa da Acádia: "Tintamarre", falam de cenas inglesas como "din" e "racket" e depois explicam que "Tintamarre" é em referência às barulhentas aves, provavelmente gansos e patos, que habitam a zona.

Pois como é que o Inglês toma "Tantramar" desde "Tintamarre"?
Como é que o Marrrrrrre francês passa par um simples mar Inglês? 
Como é que o Tinta passa para Tantra, como aparece o r???

Já, se imaginarmos por ventura que aquela zona era de povoação Portuguesa e se chamava "Entre Mar" poderia facilmente passar para o Inglês "Antremar".
Repare-se na perfeita terminação da palavra em Inglês e em Português nas pronúncias das duas línguas:
"Entre Mar" vs "Tantramar" e o aberrante Francês "Tintamarre" que não só tem uma terminação bastante diferente como lhe falta o som tr.
O T no início derivaria da expressão The Entre Mar. Que deveria ficar algo como Dantramar mas que por algum motivo passou a T.
Entre Mar (o Inglês diria) "Antramar" e acrescentaria o som d/t do "the" Dantramar/Tantramar.

Que mais motivos tempos para acreditar na origem Portuguesa do nome do povoado?

É que a zona em questão, os Pântanos (Marshes) de Tantramar, ou de Entre Mar ou de Entre-O-Mar que seria dito em Inglês como qualquer coisa como "The" Antr-a-Mar...

É que essa zona fica mesmo no fim da Baía de Fundy, entre a Nova Escócia e Nova Brunsiwick, e do lado Norte tem um ístmo de terra que faz a ligação da Nova Escócia ao Continente Americano.
Istmo esse que chega a ter apenas 25 Kms de largura.

A Zona de Entre Mar está mesmo Entre o Mar!!! 
A Sul da cidade de Moncton em Nova Burnswick, no Canadá!

E digo-lhe mais! Apresento-lhe Samuel de Champlain, fundador da cidade do Quebec, que andou por essas terram a partir de 1600, tendo feito "29 viagens até ao Canadá", de acordo com a Wikipedia, ao serviço do Rei de França, sendo considerado "o Pai Fundador" da Nova França - e do actual Quebeque.
É de ter em atenção que ele aparentemente era um Francês nascido à volta de La Rochelle, portanto, na costa Atlântica. No Sul (relativo) da costa Atlântica Francesa...
E parece ter começado no mar da seguinte forma:

    1º Começou no mar com a família à volta de 1598 a transportar tropas Espanholas da Holanda para Cádiz, no Reino de Filipe II de Espanha e I de Portugal. Portanto, quando Portugal estava sob domínio Espanhol, ele fazia o transporte das nossas tropas ao longo do Atlântico...

    2º Infiltra-se lá com um Espanhol do mar por volta de 1598 e vai para o México e as Antilhas...

    3º Depois de compilar informações sob os afazeres dos Espanhóis pelas Américas, oferece-as em livro ao Rei de França e ganha sob o Monarca grande ascendente. A compilação oferecida por Samuel de Champlain ao Rei de França tinha o seguinte título:

Breve Discurso das Coisas Mui Notáveis que Samuel Champlain de Brouage Reconheceu nas Índias Ocidentais Nas Viagens Que Fez de 1599 a 1601 E Como Assim É (Tradução minha, mui livre).

E boom! Com isto faz-se dono e senhor do que viria a ser Nova França, Fundador do Quebeque, com todo o apoio do Rei.
É também de notar que a wikipedia diz que isto foi escrito à volta de 1600 mas só foi "publicado" - isto é, só foi tornado público - em 1870.

Acontece que, voltado ao Pântano de Entre-Mar, que à guarda da entrada nessa região pantanosa, na fronteira onde a terra se extende, a Baía de Fundy acaba e o Pântano de "Entre Mar" começa... temos a Baía de Advocate. Que é guardada pela cidade ou vila de Advocate Harbour.

Dizem os locais que quando em 1607 chegou Samuel de Champlain àquela zona, repito, 1607, apontou nos seus escritos o seguinte comentário:

"Encontrei por ali uma cruz muito velha, toda coberta de musgo, e quase toda já apodrecida".

Samuel de Champlain é oficialmente o primeiro Europeu e o primeiro Cristão a estar naquela zona.
Há quem diga que Álvaro Fagundes deixou lá um cruzeiro que nunca foi encontrado e que provavelmente seria este.

Será que o Marsh de Tantramar ou Tintamarre era afinal o Pântano de Entre o Mar e que Fagundes deixou lá um cruzeiro e uma povoação?

Mui, mui interessante...

P.S. - Sobre João de Álvares Fagundes e seus descendentes diz isto a wikipedia em Português:
"(João Álvares Fagundes) a documentação veio revelar que casou apenas uma vez, com Leonor Dias (Boto), sepultada a 24 de Agosto de 1538 na Misericórdia de Viana do Castelo, e deixou duas filhas, D. Violante, que foi sua herdeira universal e casou com o fidalgo João de Souza de Magalhães, cujo filho sucedeu nos direitos do descobrimento da Terra Nova, que em 1589 vendeu a D. Filipe I por 2.000 cruzados"

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Comentário-resposta de José Manuel Oliveira

Caro IRF, Canada foi uma próspera colónia portuguesa até D. Sebastião querer ser imperador e se ter virado para a porcaria da África, ou melhor, nisto já aqui por mim escrito:

O Continente Americano não esteve encoberto, foi "contido" para evitar o esvaziamento da Europa, e até que a saída marítima da armada do Islão do Mediterrâneo para o Atlântico fosse controlada pela cristandade, não foi permitida sua colonização.

Pode-se perguntar então porque não se colonizou antes do surgimento do Islão, a resposta seria longa e fora do assunto, mas o fator climático tem sido menosprezado pela historiografia, que não incorpora a Paleoclimatologia, Arqueologia e estudos das migrações pelo mapeamento do ADN das populações. O Gulf Stream no Atlântico Norte foi alterado várias vezes o que impediu viagens transatlânticas durante muito tempo, mas facilitou outras no Atlântico Sul.

Mas o que continua encoberto é o que motivou as viagens marítimas e expedições terrestres dos portugueses? Uns dizem que foi para expandir a cristandade, outros que foi por os lucros comerciais das especiarias, outros dizem que foi para encontrarem um Reino perdido, e aí aflora-se o encoberto que é a "Rota Marítima do Megalítico pelos portugueses nos Re descobrimentos".

Os portugueses procuravam, ou melhor os seus comanditários como o Infante D. Henrique e D. João II, que programaram a procura do que restou das civilizações depois da glaciação dá 12.000 anos, que sabiam serem mais avançadas que as deles medievais: "Sete Cidades", pois os portugueses deviam ter registos das suas localizações, porque num curto espaço de tempo foram a todas suas ruínas, e em todos os Continentes! Etiópia, Canárias, duas na Índia, uma no Tibete várias na América do Sul, foram os primeiros a oficialmente a contactar o Império Inca há documentos coevos sobre isto, no Vanuatu do Pacífico (Pedro Fernandes de Queirós) desembarcaram nas Ilhas artificiais Megalíticas do Pacifico! 
Deram o nome de "Ilha de Pescadores" onde estão os Megalíticos submersos da zona do Japão, até o Vasco da Gama com tanto sitio para desembarcar foi faze-lo na única zona da Índia que tem Megalíticos "Neolíticos" iguais as Antas portuguesas! E agora venho a saber dum Viçente Pegado que foi o primeiro europeu a relatar sobre o Império Monomotapa / "Grande Zimbabwe" que parece ser na origem uma civilização avançada megalítica! Não esquecendo o Brasil que por si é o berço da humanidade ou um dos Éden ainda encoberto pela vegetação, donde vão surgir do que dar um ataque cardíaco a muita gente do establishment.

Os portugueses da época dos descobrimentos visitaram todos os locais megalíticos, terão encontrado o que procuravam?

Cpts.

Onde ver mais das minhas “investigações”;
Recordo que o primeiro carteiro real da Nova - França era um português... Pedro da Silva e teve 14 filhos! terá o topónimo Fatima algo a ver com os portugueses? no meu blog

Portugal Cove-St. Philip's
é uma das mais antigas povoações do novo mundo. Supõe-se que terá sido fundada quando no século XVI Gaspar Corte-Real Mestre de uma embarcação de pesca, chegou às margens da região, para enterrar dois pescadores que haviam falecido na viagem desde Lisboa. Acredita-se então que desde essa data estes pescadores fundaram uma nova localidade, para servir de abrigo e apoio à pesca e secagem do Bacalhau que depois seria enviado para Portugal” in wiki

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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

dos Comentários (55) manuscrito Casanatense

Ainda no seguimento do postal anterior sobre Ludovico Varthema e o seu Itinerário, pela página da wikipedia segue-se a um manuscrito da Biblioteca Casanatense, biblioteca italiana que tem um original português com diversas gravações reportando os povos com os trajos típicos desde o Médio Oriente ao Extremo Oriente.
Num comentário mais extenso, que enviou por email, Djorge dá justamente conta deste manuscrito, datado de circa 1540, juntando informação adicional, que transcrevo em baixo.


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Para adoçar, mais ainda, a vontade de ler este belo itinerário, segue o link para o Codex Casanatense MS. 1889 (mais um documento Português a habitar em terras alheias), na Biblioteca Casanatense em Roma.

METADADOS
Data: A wikipedia justifica assim a data de 1540 
Several of its inscriptions provide information as to the date it was made, namely the allusion to the Siege of Diu of 1538, but the absence of any mention of the Japanese, whom the Portuguese contacted in 1541-43. It is therefore possible it was made circa 1540
Autor: A mesma wikipedia “The creator has not been identified and many hypotheses have proven inconclusive” 

ITINERÁRIO ACOMPANHADO DA DISCRIÇÃO VISUAL NO CODEX 1889
Ao leitor do itinerário, poderia parecer-lhe que Ludovico certamente preencheria os requisitos para ser o autor das pinturas, ou que de alguma forma, estas poderiam ter sido executadas a seu pedido para ajudar o seu relato. No entanto, os factos não são favoráveis a esta tese. As imagens não constam no dito itinerário, não é conhecida a veia artística plástica de Ludovico, e a sua morte em 1517 é anterior à data atribuída às pinturas. Factos que, neste momento, são suficientes para, à partida, afastar o seu nome da autoria deste manuscrito. 

SOBRE AS PINTURAS (AUTOR/PINTOR)
A ideia transmitida em algumas teses recentes aponta para as seguintes origens:
"The artist’s complete reliance on faces in three-quarter profile indicates he was trained in a Sultanate studio further north, at a date earlier in the century than that of the Codex. Either Mandu or Gujarat would seem to be the most obvious candidates for where he received his training.” …” We would suggest that he must have moved to Goa soon after his initial training in order for him to become acclimatised to the different female costumes of the Deccanand the south, so that they become a stereotyped part of his output.
ou outra:
"Our artist has been divorced from the elegant stylisations of the human figure seen inthe Sultanate schools”… “and trained to draw by his Portuguese patrons in a more naturalistic European manner.”…”this artist’s most extensive landscape painting, which with its broad strokes of brushwork, and alert and intelligent peasants, is surely not too far from what was going on in the early Mughal school."
in» http://tiny.cc/b4qwdz
Ambos os casos apontam para uma origem Indo com influência mista Cristã e Persa.
Já Maria Manuela da Mota em 2001 afirmou confiantemente que o autor seria de origem Indo-asiático (Persa?) tendo como base o estilo artístico.

SOBRE O PATRONO (CLIENTE)
Noutro estudo, Rui Manuel Loureiro em 2013 publicou in “Anais de Historia de Além-mar” a seguinte tese INFORMATION NETWORKS IN THE ESTADO DA ÍNDIA, A CASE STUDY: WAS GARCIA DE ORTA THE ORGANIZER OF THE CODEX CASANATENSE 1889? 
Cujo abstrato cito:
Several Portuguese writers working in India during the sixteenth century on specific cultural projects were able to mobilize important information networks across maritime Asia. Outstanding examples, among many others, include Duarte Barbosa, Gaspar Correia, Dom João de Castro and Garcia de Orta. Each one of them worked and wrote under diverse circumstances, using different methods and receiving dissimilar support from the Portuguese authorities. But they were able to muster many of the official textual resources available from the Estado da Índia, while at the same time availing themselves of the collaboration of countless European and Asian informers.

FANTASIAS
Relembrando a teoria maioritariamente aceite sobre a origem do autor/pintor das imagens no Codex 1889, juntando a possibilidade ter sido Garcia da Orta o “Cliente” e misturando com a vontade e desejo renascentista de passar conhecimento a livro, especulo um pouco sobre a data de origem de todas as folhas do Codex. Se algumas (as que nitidamente são menos cuidadas no seu traço, as das últimas páginas do manuscrito), poderiam ter sido adicionadas depois, mais tarde, por outro autor que não o original. Fantasio se ter-se-á encontrado este manuscrito já parcialmente preenchido?
Considerando outros possíveis autores contemporâneos com a mesma experiência exploratória de Ludovico, não deixa de ser interessante fantasiar o que terá acontecido ao companheiro de viagem “Persa”, que acompanhou Ludovico até à data em que deserta o Samorim para os Portugueses na India.
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