Alvor-Silves

domingo, 17 de setembro de 2017

536 - um ano sem verão?

Tem sido considerado que no ano 536 (e seguintes) ocorreram uma série de problemas climáticos, que levaram à designação "eventos de clima extremo em 535-536" (segundo a wikipedia).
A principal referência será o historiador bizantino Procópio, que referia que os raios de luz do Sol não aqueciam, parecia a luz lunar, fraca como a luz num eclipse. Há ainda referências a anais irlandeses, ou chineses, onde se refere a ocorrência de neve no Verão.
Procurei informação sobre este assunto em Bernardo de Brito, um dos raros historiadores que comenta o período suevo na história da península, mas não encontrei nenhuma menção ao evento climático singular. Isto não é significativo, até porque sobre o período suevo as informações são tão escassas, que pode ser natural uma ausência a essa referência. 
Sobre as razões desta possível mudança climática, vão desde erupções vulcânicas, que incluem o Cracatoa, até possíveis quedas de meteoros, ou impactos de pequenos cometas... mostrando que quando faltam outras explicações, os historiadores convencionais se parecem muito com "teóricos da conspiração".

É comum considerar-se que durante o período romano, a temperatura era em geral mais amena do que seria hoje, tendo baixado consideravelmente no Séc. V e VI, voltando a subir no Séc. X até ao Séc. XV, caindo de novo até ao Séc. XX.
Isto está por exemplo confirmado num estudo feito em anéis de árvores, no Oeste americano, publicado na revista Nature em 2016:
Gráfico relacionado com as secas entre 800 e 2000 d.C., confirmando informação anterior.  
Estes períodos medievais de maior temperatura são associados a "secas" ou "mega-secas", que se teriam prolongado por dois períodos de 2 séculos. Na prática, isto corresponderá também a uma altura em que a maior temperatura teria aumentado o degelo e o nível do mar, o suficiente para ter permitido navegações em locais extremos - Passagem Noroeste e Passagem Nordeste, feitas muito provavelmente pelos portugueses, e que seriam de certa forma navegações irrepetíveis nos séculos seguintes, dada a descida de temperatura e consequente maior abundância de gelo. Este assunto já foi de certa forma abordado num texto anterior.

Bernardo de Brito refere que após Gorgoris e Abidis, no final do período dos reis míticos lusitanos, a Península Ibérica terá sofrido um período de grandes secas, que podem ter levado ao abandono das populações, que podem ter migrado para norte (nalguns casos podem ter emigrado mesmo para as Ilhas Britânicas, conforme consta nos registos escoceses), e isto também poderá ter dado origem à ideia de um período de invasão de cobras, ou serpentes, no nosso território.

Convém notar, no entanto, que o período mais decisivo em termos de "alterações climáticas", terá ocorrido no final da Idade do Gelo... quando de uma situação em que os gelos perenes se situavam no Sul de França, passaram subitamente para paragens escandinavas. As populações que estavam habituadas a subsistir num tipo de clima mais frio, podem ter acompanhado a migração para paragens situadas bem mais a norte, evitando temperaturas mais "escaldantes". 

Também será natural que as denominadas "invasões bárbaras", que ocorreram no final do Império Romano, pudessem ter como fenómeno adicional de motivação - para uma migração para sul, o decréscimo de temperatura que se veio a verificar nos Séc. V e VI. Há toda uma história de populações que se relaciona directamente com fenómenos climáticos, que ao provocarem destruições de colheitas, impeliam a deslocação de populações... anteriormente conformadas a viver noutros espaços, outrora agradáveis.

Da mesma forma, os holandeses, que durante os últimos 500 anos se entretiveram a conquistar terra ao mar, através de grandes diques, podem sentir agora, mais que outros, uma ameaça latente no clima, como ameaça nefasta ao seu território, se voltarmos a entrar num período de algum aumento da temperatura... como seria expectável.

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