Alvor-Silves

domingo, 26 de outubro de 2014

dos Comentários (11) - ao fundo atlântico

Sobre as diversas especulações atlânticas atlantidas, há uma que me parece fazer mais sentido:
- o relato egípcio transmitido a Sólon e dado por Platão referir-se simplesmente à América.

Este foi o sentido tomado à época dos descobrimentos, desde logo por Poliziano, e conforme já abordei a propósito de uma mapa de Nicolas Sanson:



A situação à época era simples. 
O relato de Platão referia-se a uma grande terra a Ocidente, além do Oceano Atlântico, de dimensões comparáveis à soma da Ásia e África. Ora, a descoberta da América revelava esse duplo aspecto - uma grande terra ocidental, uma ilha de dimensões continentais.
O mistério platónico estava resolvido e como diria Poliziano: "haveria eu também de absolver de toda a suspeita de falsidade o grande Platão e os annaes seculares do Egipto..."

Porém, houve conveniência na insistência de que o mistério permanecia insolúvel, porque de certa forma isto lançara a suspeita de ocultação propositada dos territórios ocidentais, que não se teriam submergido. Houve e há assim subsídios para a manutenção do mistério.

A hipótese América=Atlântida é uma hipótese consistente e documentada, que termina por completo com a fábula atlântica, mostrando que a submersão vigente era a da simples proibição de navegação.

No entanto, há outra hipótese mais remota que também faz sentido, e que o José Manuel abordou de novo num comentário, já se tendo pronunciado sobre ela no Portugalliae:

Durante o período glaciar é sabido que o nível do mar esteve muito mais baixo, e assim não é difícil fazer uma projecção do que seria o terreno a descoberto, consoante o nível das águas. O José Manuel refere uma projecção que aparece sob o nome: 
Atlantis Sinking / Atlantis Rising no site Survey of Atlantis:


Isto não é muito diferente do que podemos obter, pegando no Google Maps, e fazendo a diferença entre as zonas submersas, mas que poderiam estar emersas à época glaciar:
Emersão de terrenos (a verde) hoje submersos, provável na época glaciar. 

... tal como podemos antever o que seria com um nível de águas maior:

... ou com um nível de águas menor ainda:
Isto resume-se simplesmente a definir outros contornos com as curvas de nível para águas mais baixas, da mesma forma que já o fizemos para águas mais altas (por exemplo, no texto Cáspio).

O período de 10 mil anos, estimado para esse período glaciar é razoavelmente curto, e podemos pensar que não houve outras grandes alterações geológicas, mas estamos a falar da zona açoriana, onde a falha resultante do movimento das placas tectónicas é maior. Ainda assim, podemos dizer que este tipo de mapas faz algum sentido - mais certamente do que o habitual pensar que a geografia foi sempre a mesma.

De qualquer forma, convém ainda referir que sob essa hipótese de grande descida das águas, não era apenas aquela zona açoriana que emergiria, haveria a nível mundial todo um conjunto de terrenos hoje submersos e que então poderiam estar acima do nível das águas. 
Já falámos disso no texto Lemuria, mas já agora deixamos aqui uma hipótese, caso o nível de águas fosse ainda mais baixo:

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

CSI Gaiola

Este CSI leva à Gaiola por investigação submarina, e serve para ilustrar um género de títulos que normalmente evito, e já explicarei porquê.
Com efeito, Gaiola é literalmente o nome de um interessante ilhéu próximo de Nápoles, conectado por uma ponte vertiginosa. É uma zona plena de actividade subaquática, e com vários vestígios arqueológicos, numa investigação a cargo do Centro Studi Interdisciplinari (CSI) Gaiola.

A ponte do ilhéu de Gaiola. Investigação submarina - CSI Gaiola

Pelo lado das famosas séries policiais CSI (CSI Miami, CSI Las Vegas, etc.) faríamos aqui uma pequena piada trivial, com a relevância de CSI Gaiola estar dedicada à investigação arqueológica, conforme se nota pelas ânforas do seu emblema.

Só que, ainda que possa não parecer, evito misturar esse tipo de casualidades nos nomes com outras mais relevantes. Não fosse por esta introdução, e um título mais comum e apropriado aqui seria;
- Gaio lá na Gaiola.
O termo "gaiola" não aparece como comum em italiano, nem na zona napolitana, e a wikipedia apressa-se a ligar à origem do latim, por "cavea", e depois pelo dialecto local por "caviola", significando "pequena cave".
Só que a construção silábica do português dispensa-nos da erudição latina, para encontrar significado para o termo "gaiola" sem o ir buscar a "cavea" por via de "caviola". Cá a viola é outra, e um cave-a levaria a outro fundo. Cá a ave dessa cave é um Gaio lá, na gaiola de Gaia. Não é um caio pelo curso do Douro nas caves de Gaia, nem pelo curso do Guadiana na fronteira do Caia. 
Simplesmente há um vi-me no vime e na gaiola há o perigo de um caio lá, que não é necessariamente para qualquer gaio lá.

Com efeito uma gaiola de vime poderia atingir grandes proporções, e exemplo disso consta em ilustrações de tradições celtas - o chamado Homem de Vime (Wicker Man)
Homem de vime - gaiola humana para sacríficio celta

Portanto, é preciso ter alguma atenção moral pelas tradições imorais, porque o muro que nos separa da simples barbárie (relatada por Caio, ou melhor Gaius, Julius Caesar) é apenas o mural da moral. Ainda que haja advogados de que tal sacrifício celta não tem fundamento, à falta de uma investigação CSI desta Gaiola, não me parece possidónio duvidar de Posidónio, outra fonte antiga para ceitas celtas.
Assim, quando vemos algum restauro destas tradições, como no movimento wicca, convém não ser weaker man sob o signo do wicker man. Porque entre os trajos angelicais de algumas jovens Maias, nas celebrações de Maio, pode esconder-se uma celebração de um Gaio, uma gaiola, e onde as Maias podem não ser bonecas de vime. Logo, entre Gaios e Gaias, nem sempre resultam só Gaiatos provindos de uma certa balbúrdia entre Gajos e Gajas, por respeito ao Homem de Vime.   

Adiante.
O propósito principal deste texto era a investigação submarina à volta da Gaiola napolitana.
Trata-se do Parque Submerso de Baía, que apresenta vestígios romanos(?), que mais parecem saídos das calçadas portuguesas:

Parque Submerso de Baía (Nápoles, Itália)

Creio que se trata de um vestígio submarino muito raro, ainda que haja outros casos, por exemplo Heracleion (ou Tónis), perto de Alexandria, e esta cidade submersa de Baia é dito ser resultante de um deslizamento de terras aquando dalguma erupção do Vesúvio.
Porém, o que me surpreendeu mais foi o aspecto de calçada portuguesa, que não se vê habitualmente nos pavimentos romanos. Não fosse outro o caso, e dir-se-ia que a Câmara de Lisboa já estaria a levar a cabo o seu "notável plano" de substituir a calçada portuguesa, atirando-a para o fundo do mar napolitano.

domingo, 19 de outubro de 2014

dos Comentários (10) - o Medo, pia com 950 anos

A nova notícia sobre a Grota do Medo é do Expresso e surge por comentário do José Manuel:

((...)) Não convencido com o resultado, Félix Rodrigues recolheu uma amostra de um material aglomerante, que soldou uma fractura existente numa pia quadrangular esculpida numa rocha no alegado complexo megalítico da Grota do Medo, e enviou-a para o laboratório da Beta Analytics, em Miami, "certificado pela norma ISSO-17025". "A idade convencional obtida pelo método de radiocarbono foi de 950 anos, com um erro associado de 30 anos. Tal resultado aponta para a construção de uma peça arqueológica construída pelo homem na ilha Terceira há pelo menos 950 anos, ou seja, no ano de 1064, com um erro de 30 anos", frisa Félix Rodrigues.  [in Expresso, 15 Out. 2014]

 
A primeira imagem aparece no Expresso, associada aí à Grota do Medo - Açores, e nada tem a ver com as habituais 
fotografias do sítio, começando pela vegetação... A segunda imagem corresponde a uma parte do cenário habitual.

_____ [Nota 25/10/2014]: Com efeito, a imagem do Expresso resultará de uma confusão pela comparação pertinente 
que foi feita entre os megalitos da Terceira e os de Montemor-o-Novo, conforme se vê no documentário da RTP Açores:
______

Pouco mais a dizer, face ao que já tínhamos aqui dito no ano passado:

Félix Rodrigues, da Universidade dos Açores, continua sem medo sobre a Grota do Medo. 
Neste caso fez piar uma pia, com uma cola que não cola com a datação oficial.

O assunto já foi mesmo abordado pelo deputado Luís Rendeiro nos Açores - a notícia tem quase um ano (18 de Outubro de 2013 - radioatlantida.net):
Governo Regional desprezou os investigadores locais
O PSD/Açores criticou o Governo Regional por “desprezar os investigadores locais no processo dos achados arqueológicos da Grota do Medo, Monte Brasil e Corvo”. Segundo o deputado Luís Rendeiro, “a tutela tem ignorado e desprezado os investigadores responsáveis por trazer a público aquelas descobertas”, afirmou. 
(...) “Convinha que o senhor Secretário Fagundes Duarte explicasse porque é que investigadores como Nuno Ribeiro, Anabela Joaquinito, Félix Rodrigues, Antonieta Costa, Patrizia Granziera, Isik Sahine, ou Romeo Hristov – da Universidade do Texas – ficaram de fora da comissão. Nenhum destes investigadores gastou um cêntimo à Região”, acrescentou.
Luís Rendeiro denunciou ainda que o Governo Regional “se apressou a constituir uma comissão para proceder ao estudo dos achados em questão, deixando ostensivamente de fora os já referidos investigadores”.
“Essa comissão tem treze elementos e apenas uma semana para analisar os achados da Grota do Medo. Isto quando se sabe que só a área de dispersão dos achados da Grota do Medo é superior a 25 hectares”, acrescentou.
“Estranhamente, ou não, foi incluída no grupo a mesma investigadora da Universidade de Lisboa – Ana Margarida Arruda, que se pronunciou numa fase inicial do processo declarando, peremptoriamente e sem quaisquer pesquisas de campo, que apenas havia “caos de pedras”, concluiu o deputado.
Também nada de muito novo, neste aspecto, exceptuando talvez a interpelação do deputado açoriano.
Mais sobre a comissão nomeada e exclusão dos outros investigadores, no site da Univ. Açores:

Há ainda o despacho da Assembleia Legislativa dos Açores, de 18 de Outubro de 2013

Assim, o despacho da comissão multidisciplinar "independente", excluídos os elementos que poderiam estar em desacordo, esteve então de acordo num parecer que se segue:
e cujas conclusões foram remetidas em 5 pontos, mais 5 pontos de recomendações:

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1. Sob o ponto de vista geológico, todas as estruturas e formas observadas no lugar do Espigão/Grota do Medo podem ser explicadas por um processo natural, primário ou secundário; 
2. Em termos histórico-arqueológicos, nenhuma das construções observadas nos diferentes locais visitados evidencia uma datação anterior ao povoamento quatrocentista dos Açores;
3. Não foram observados quaisquer indícios de pré-existências às construções anteriormente referenciadas;
4. Os dados arquivísticos recolhidos, associados à observação de terreno, validam cronologias e funcionalidades de natureza militar no Monte Brasil (séculos XVI-XX) e usos lúdicos na Quinta da Pateira, essencialmente no século XIX;
5. A área do Espigão e a sua envolvente foram também usadas como local de extração de pedra por métodos tradicionais;

Em face do exposto: 
6. Entende-se que não é adequada, nem aconselhável, uma abordagem de natureza arqueológica que recorra a métodos de diagnóstico intrusivo para estabelecer a datação das ocorrências identificadas;
7. Relativamente ao sítio do Espigão/Grota do Medo, a comissão reconhece a sua relevante valia em termos patrimoniais e, eventualmente, como recurso turístico, assim como a sua importância social como testemunho de vivências das épocas moderna e contemporânea, pelo que estes testemunhos devem ser protegidos, designadamente através de uma eventual classificação;
8. Caso se equacione a sua valorização, tem que ser garantido o seu estudo prévio, nomeadamente através de levantamento topográfico rigoroso, da realização de estudos especializados nos domínios da História Contemporânea e da História da Arte, mediante um projeto de reabilitação elaborado por arquitecto paisagista;
9. Os «artefactos e objectos», eventualmente recolhidos em acções não autorizadas pela tutela e mencionados nos meios de comunicação social, devem ser depositados na DRaC, de acordo com a legislação em vigor;
10. Relativamente aos vestígios e construções observadas no Monte Brasil, a comissão reconhece o seu interesse no contexto do património militar regional.
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Ao enunciar e insistir no ponto 1 - "processo natural" - a Comissão "Independente" disse ao que ia:
- prestar-se ao ridículo e à galhofa total... 

O único cozinheiro cujo avental não era nacional seria Angus Duncan, um vulcanólogo cuja relevância para o assunto talvez fosse mais uma erupção das capelinhas, porque pretender ali uma origem vulcânica, é demasiada paródia junta.
Depois, o resto é o folclore nacional conhecido - as funções, cumplicidades, comprometimentos de fundos estatais para quintinhas de investigação própria, etc... tudo isso faz da "independência" uma palavra decorativa do verbo "encher chouriços".

Como o deputado açoriano previa, a inclusão de Arruda era um sinal de que o parecer seria o mesmo, dito por outras palavras, e acompanhada agora de um cortejo de vestais... ou talvez vegetais, comprometidos pelo cozinhado. 
Como os argumentos, não mudaram, aqui fica o comentário que fiz à época, e que mantém toda a actualidade, dado o carácter sério da galhofa:
Também nada acrescenta de novo à história a "arqueóloga", Ana Margarida Arruda, da Faculdade de Letras de Lisboa.
Citando alguns dos argumentos de Arruda.
Começa sobre a impossibilidade de navegação dos fenícios...
«Sobretudo numa época em que ainda não havia quem navegasse com três velas… acredito, por isso, que seria tremendamente complicado chegar aos Açores, senão mesmo impossível…»
... não se percebe se é arqueóloga ou navegadora, mas não parece nunca ter visto nenhum barco a navegar. Do ponto de vista histórico, deverá considerar que os Havaianos foram teletransportados para as ilhas, ou então que usaram "três velas".
«Creio, aliás, que o que foi anunciado como sendo sepulturas sejam, afinal, silos para armazenar cereais.»
Ou seja, os monumentos megalíticos europeus não passaram afinal de silos para cereais. O que se aprende na Fac. Letras!
Quanto a dizer que as estruturas eram conhecidas do Séc. XVI, e que alguém as fez... estamos de acordo. A diferença é o axioma da impossibilidade de navegação doutros, que não os portugueses... por causa das "três velas".
Note-se que estas coisas são "decoradas"...
"Vela" não significa apenas a vela do navio.
"Vela" vem de véu... portanto pode haver um código dos "Três Véus".
A lenga-lenga depois é papagueada...
Eu não diria que são "três véus", é mesmo uma Burka! (...)
Acresce que alguém no site do Expresso colocou chapado, o parecer assinado pela referida "arqueóloga" Arruda, dando um link:

https://dl.dropboxusercontent.com/u/2914872/Resumo-Parecer001.pdf
A linguagem é claro muda, deixa de ser coloquial, passa a ser "muda".
Vejamos então os argumentos usados para esta Grota do Medo ou Espigão...
Passamos a ter "grandes penedos soltos" que nomeia como "caos de blocos", o que é um brilhante argumento que pode ser aplicado a tudo o que é "megalítico". Em duas ou três linhas, arruma com toda a construção megalítica - são grandes penedos soltos, e cito "mais ou menos empilhados e/ou acumulados em cima uns dos outros".
Realmente parece não se ver cimento cola em nenhum monumento megalítico.
Portanto, o período megalítico deve ter sido suprimido do ensino na Faculdade de Letras de Lisboa.
Sobre as inscrições "Gruta de Camões", "Fonte dos Pombos", "Penedo de S. Pedro", não sei do que se fala.
Mas o argumento seguinte é que é genial. Haveria entre outras coisas, embutidos fragmentos cerâmicos, de faiança azul e branca, produzida em Lisboa, entre os Séc. XVII e XVIII.
Ou seja, se esta "arqueóloga" encontrar uma pastilha elástica colada no Mosteiro da Batalha, automaticamente ele passará para uma datação do Séc. XX?
Continua com o desprendimento de blocos do Tor... e mais uma vez pode haver decoração - "Tor" tem que se lhe diga.
Depois vamos para uma novidade, há uma definição:
«Um monumento megalítico, anta ou dólmen, é composto por câmara funerária, construída com 5 a 11 esteios (...) que é tapada por um "chapéu", e a que se acede através de um corredor, também construído com esteios»
Ou seja, os nossos antepassados liam a definição de Arruda, e diziam uns para os outros - "temos aqui que colocar 5 a 11 esteios e um corredor, ou no futuro irão julgar que isto são silos agrícolas". É claro que naquela definição não entram simples menires nem cromeleches... mas imagino que isso seja um detalhe.
A definição está feita, e quem manda sobre a formatação do passado é a Profª Arruda.
Depois, a "pièce de résistance":
«Por último parece importante referir a total ausência de espólio arqueológico datável da Antiguidade (cerâmicas, metais, líticos ou outros) ....
Muito bem, de acordo!
Mas... vejamos, a ideia parecia ser pedir uma autorização para escavar, procurar. As que estavam visíveis foram retiradas.
Este raciocínio "arqueológico" impede qualquer escavação.
Admiro o esforço de Félix Rodrigues, porque a hidra não tem apenas as 13 cabecinhas que serviram a comissão. Nem será a datação por radiocarbono que demoverá Arruda, ou Cláudio Torres. Até porque o último tem é que se preocupar com o bom financiamento do "seu" campo de Mértola... que isto da crise é tema complicado.
Estivesse a Grota do Medo, tal qual, no "seu" campo alentejano de Mértola e seria então interessante saber o que Cláudio Torres teria a dizer sobre a "formação natural" da compreensão megalítica de Arruda .

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Nota posterior [25/10/2014]:
Conforme afirmado, no artigo do Expresso, a figura anexa ilustrativa da Grota do Medo, na Ilha Terceira, era afinal de Montemor-o-Novo, num erro grosseiro do jornal... desculpável (porque havia uma comparação com esse monumento), mas lamentável.

Para tornar ainda mais claro como a Comissão, talvez por comichão, ignorou as comparações evidentes, nomeadamente com inscrições na pedra, coloco aqui as imagens ilustrativas retiradas do vídeo da RTP Açores, do programa "Em Foco":
Algo a que a comissão "independente" parece ter feito "vista grossa", foi às inscrições nas rochas:

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ré vista (4)

Como esperado, esta visita à ré, corria o risco de se atrasar irremediavelmente.
Quando há novidades à frente, frequentemente esquecemos a consolidação da retaguarda. Até porque a vista já é diferente, e certos assuntos, então tidos como importantes, passei entretanto a vê-los como menos interessantes.

(011) O tema da espiga e do alecrim, colocado em Maio, continuava na questão sombria da história do período dos descobrimentos, e da questão dinástica causada pela forte perturbação dos duques de Bragança, especialmente contra a casa de Coimbra-Aveiro, de Alfarrobeira até ao terramoto do Massacre dos Távoras. A bastardia da dinastia de Bragança, do neto do Barbadão, terá custado muitas vidas e sofrimento durante esses 300 anos. Já fiz uma síntese da questão bastarda nas dinastias portuguesas
Entre os comentários, da sempre enigmática Maria da Fonte temos:
Leite de Vasconcelos, diz que as Giestas Amarelas se chamam Mayas. Curioso, mas curioso mesmo, é que Giesta e Sarça, são ambas da mesma Classe: Magnoliopsida, e da mesma Família: Fabaceae.Sarça ou Giesta? - Qual arderia sem se consumir, na Mata Atlântica?
... e por isso encontrámos uma informação interessante sobre as Janeiras e Maias, cantigas que tinham sido proibidas em 1402:
Esta festa [das Maias], de reminiscências pagãs, foi proibida várias vezes, como aconteceu em Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Mayas ou Janeiras e outras coisas contra a ley de Deus..."
Aproveito para acrescentar agora o decreto anterior de 1386 (ver comentários abaixo):
Outrosim estabelecem que daqui em diante nesta cidade e em seu termo não se cantem janeiras nem maias , nem a outro nenhum mez do anno , nem se lance cal ás portas sob titulo de janeiro, nem se furtem aguas , nem se lancem sortes. . . [in Panorama, Maio 1840
Hoje não é preciso proibir, basta colocar as coisas "fora de moda".  Se ainda envergonhadamente hoje se cantam as Janeiras, das Maias já nem lhe conhecia a existência.


(012) Em bom tempo o Calisto sugeriu a leitura de Damião Castro e isso levou a meu conhecimento a "Mitologia dos Antigos Reis Lusitanos".  Em particular, dos nomes "República de Setúbal" e das "Torres Altas de Tróia"... algo que calhava muito bem com esta imagem lacónica da premonitória implosão do nosso desgoverno:
Implosão de Torres da Torralta em Tróia ... 
(duas torres implodidas, em Setembro, dia 8, em 2005)

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É esta a citação de Damião de Castro sobre as "altas Torres de Tróia":
Mas já chama pelas nossas atenções o estrondo da Armada de Ulysses rompendo as correntes do Tejo, e devassando as suas margens no anuo 77 do governo do velho Gorgoris, pai do celebrado Abidis. Poetas famosos, homens de grandes talentos, e até as Aventuras de Telémaco , obra de um espírito sublime, nos instruem, como reduzidas a cinza as altas Torres de Troia. os autores de tanta ruína se botaram a viajar pelo mundo. Ulysses, Rei de Ítaca, reputado perdido, e buscado em muitas partes por seu filho, o dito Telémaco, bem conduzido na pena do ilustre Fenélon; a ele no lo representam embocando o Tejo em uma grossa Armada, que seria formada dos navios de papel em que fala o Profeta lsaías, e saltando em terra com os seus camaradas aventureiros, gostarem tanto dela, que esquecidos da Grécia, determinaram fundar uma povoação, que foi dita Ulysséa, ou Ulyssipo, hoje a famosa Lisboa. Afirma-se, que a eloquência de Ulysses não só moveu a Gorgoris para consentir a fundação; mas a dar-lhe por mulher a sua filha Calypso, que elle tratou como tal em quanto se demorou na Lusitânia. [História Geral de Portugal e suas Conquistas, Damião de Castro, 1786, Pref. pag. XXXI ] 
... aconselhando a leitura deste prefácio notável, que continua, na página seguinte, dizendo que "o amor à verdade está primeiro que a amizade de Platão", a propósito da Odisseia poder reportar viagens a ilhas atlânticas, às ilhas de Aea e Ogygia, referidas por Heródoto. Sendo claro que a propósito do discípulo de Sócrates (o da antiga narrativa) se referia a uma Atlântida. 

(013) O texto Por Tubal surge assim numa sequência natural, e a este propósito já voltámos a abordar o assunto dos míticos reis ibéricos, de Tubal e Ibero, a Gorgoris e Abidis. 
Não tanto através de Damião de Castro, mas mais directamente remetendo a Fr. Bernardo de Brito, através da sua Monarquia Lusitana.  É aqui no campo dos comentários, ainda em 2010, que surgem as primeiras referências à ligação directa do ADN britânico ao hispânico (J. Manuel), e ainda as referências da M. Fonte aos Boii e Konii, ou seja Boios e Cónios... e ainda a Krisaor (Crisaor), o homem da falcata de ouro, que seria pai do mítico Gerião, tirano ibérico, depois derrotado por Hércules.

(014) A Academia dos Humildes e Ignorantes é basicamente uma outra referência para a mesma história mítica dos reis ibéricos, ainda que contenha outro material significativo.

(015) Na mesma linha, o texto Ulyssippo, de António Sousa Macedo, em 1640, remete para o campo mítico, num poema publicado ainda a 31 de Dezembro de 1640, um mês depois da Restauração, num fulgor nacionalista que remetia às míticas origens lisboetas.

(016) Em dia de Camões, Lusíadas Canto IX (91)  é uma curta citação às estrofes que remetem a origem humana dos nomes dos deuses do panteão clássico 

(017) Em dia do santo, Mapa com St. António referia a particularidade de haver mapas sob o signo do colo o menino Jesus, aqui ao colo de St. António, noutros casos ao colo da Virgem Maria. Pareceu-me à época interessante esta dualidade franciscana e mariana.
Houve por esta altura uma certa ideia de publicar a par com as datas comemoradas - formato que viria a abandonar por completo.

(018) Ainda nessa perspectiva de "blog com alguma actualidade" um texto sobre Saramago era algo inevitável, e fazia ainda sentido pela "viagem de Salomão" - uma iniciativa entre o irreal da sua ficção, uma certa referência ao mito hebraico e a uma viagem pelo interior profundo de Portugal.

(019) O caminho desse Salomão de Saramago passou em Centocellas. 
Por Brito e Bluteau seguiram-se então duas referências àquele que é talvez o mais enigmático monumento antigo que restou de pé, em Portugal. O texto destinava-se mais a dar algum crédito à informação histórica da Monarchia Lusitana de Bernardo de Brito, assunto que foi completamente anulado pela intervenção histórica de Alexandre Herculano.

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18-10-2014

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

dos Comentários (9) - Antiguidades melanésias e outras

O texto anterior sobre as antiguidades indonésias, ia na linha da tese que temos vimos a desenvolver há mais de um ano - a origem da maioria das raças humanas na Oceania, com duas grandes vagas de migração para a Europa, Ásia, e depois para a América.
Passados dois ou três dias surge então a notícia, que o José Manuel fez o favor de trazer num comentário e que é esta

As inscrições rupestres terão aparecido primeiro na Indonésia

L'Indonésie veut protéger les grottes ornées de peinture découvertes par des chercheurs, indiquant que l'art pariétal n'est pas apparu d'abord en Europe selon une idée couramment admise.
Cette main découverte dans les grottes de Maros en Indonésie est datée de 39 900 ans au moins. 
(photo: AFP)

Antes de ter concluído a muito provável origem das migrações na região da Melanésia, já o José Manuel me tinha chamado a atenção para o seu importante texto:

A Montanha com escritos Ili-kere-kere de Timor-Leste 
e a caverna Lena Hara no Tutuala (Nova Sagres)

em que nomeadamente se refere às estranhas inscrições na caverna de Lena Hara
 
Inscrições em Lena Hara (Timor) datadas entre 30 e 35 mil anos

Ora, tivesse-me eu lembrado deste texto do José Manuel, e certamente que o teria incluído no anterior, onde falei de Timor. Porém, as coisas escapam da memória, e se fiz aí um comentário sobre os óculos do Bornéu, já não me lembro em que texto li isso (... mas lembro que tinha sido surpresa dos navegadores portugueses na chegada ao Bornéu verem os óculos popularizados nesse reino).

Este é sempre um problema de atenção - as informações nem sempre nos chegam no momento em que estamos mais predispostos a lhes dedicar maior cuidado. 

Ontem, a informação sobre estas cavernas de Maros, na Indonésia, surgiu em catadupa na comunicação social, por exemplo aqui:
... notando que a primeira imagem parece de gado caprino, e a segunda de gado bovino.

Podemos ver nas notícias que a datação varia entre 35 e 40 mil anos, sendo assim o valor 39 900, uma precisão bizarra do jornal suiço, pois estas datações não funcionam ao tom do relógio suiço. 

Se por um lado, "esta notícia vem a calhar", o que é certo é que já tinha lido há bastante tempo a informação do José Manuel sobre a caverna de Timor, que tem o mesmo nível de importância, ou até mais, com a mesma ordem de datação - 30 a 35 mil anos.

Passamos ao tópico seguinte - a datação, a informação e desinformação.
O Bartolomeu apontou seguidamente umas notícias de datação de pedras de 120 milhões de anos com "o mapa do relevo dos montes Urais" (... cuja fonte seria o pravda.ru).

A questão é simples - por que razão damos valor a uma informação e não a outra?
O caso das pedras com 120 milhões de anos é até demasiado grotesco (literalmente) para ser comentado. Mesmo 120 mil anos são uma passagem de tempo que ninguém concebe seriamente. Quando se acende o génio humano, é preciso justificar-se o que as pessoas faziam, tendo em conta os últimos 120 anos. Portanto, ou as lâmpadas estavam fundidas, e não acendiam nenhum génio, não havendo aí humanos com registos claros de inteligência, ou então falamos de uma evolução cada vez mais rápida - até ao ponto em que pode ter sido devastada por acidentes naturais, ou pela sua inconsciência. Se foi mais por razão de inconsciência, o mais natural é um recomeçar repensado, guardando o génio na lâmpada, para evitar novos problemas. Esse foi um claro papel dos educadores religiosos, dos xamãs - criar medos, criar condicionantes, conforme já aqui mencionámos. Manter os medos, para evitar que o rebanho se transformasse numa alcateia de lobos.
Encontrar relevo numa pedra que "parecem os montes Urais", pois não deve ser difícil, e até se podem encontrar relevos com os contornos da Irlanda numa nuvem vulgar. O resto é folclore.

Interessa aqui não tanto a natureza da informação, mas por que razão a creditamos, ou seja, por que razão acreditamos.
A informação é um processo social, e distinguem-se dois tipos:
--- a informação auto-suficiente,
--- a informação insuficiente.
A auto-suficiente é aquela em que o receptor a pode verificar com os dados que lhe são disponibilizados. É essa informação que aqui coloco. Coloco os dados e como chego às conclusões.
Há ainda uma informação auto-suficiente experimental, em que o receptor é convidado a experimentar uma receita - os primeiros cientistas foram, sem grandes dúvidas, cozinheiros(as).
Ora se uma receita culinária está ao alcance do supermercado, não há supermercados científicos onde se possam comprar os ingredientes para fazer experiências científicas... que são mais perigosas do que errar no tempero do sal.
Assim, dentro da informação experimental, a mais complexa não é auto-suficiente, o receptor tem que acreditar nos resultados, e a ciência perde o seu carácter absoluto, para passar a ser uma religião, uma fé na comunidade.
Acontece assim com os processos de datação. Os arqueólogos podem dizer 40 mil ou 10 mil (era a datação anterior atribuída aos mesmos desenhos), e o público pode acreditar ou não. Não terá informação suficiente para disputar o resultado, apenas as suas contradições, o seu bom senso, face a outro conhecimento.
Quando formulei a hipótese de que fazia sentido a vinda da Melanésia, não foi por acreditar nos estudos haplogrupos, nem por acreditar que haviam 800 línguas na Papua, nem por mais nenhuma razão particular entre muitas. O que interessava é que a soma de razões diferentes ia apontando no mesmo sentido. Quando muitas razões distintas apontam para o mesmo resultado, é menos provável que haja ali grande vício informativo, menos provável ainda quando resulta também de uma conclusão lógica (darwiniana) - as ilhas têm maior apetência para serem o berço de maior diversidade genética. Sobretudo quando estamos numa região que estaria sujeita à transição entre ilha e continente pelo baixo nível do mar.

Por isso, o que traz de novo esta notícia?
Não é a suspeita de que havia pinturas com 35 mil anos na Melanésia, porque isso já o José Manuel reportara sobre Timor. A novidade é que este facto ganhou credibilidade na comunidade, sendo propagado por importantes órgãos de comunicação. Assim, ficamos também a saber que isto de uma pintura rupestre ter 10 ou 35 mil anos, depende muito de quem faz o processo de datação, datação que está longe de ser uma ciência muito exacta. Se já se apontavam essas datas para Lara Hara, o facto parece ter sido mais negligenciado do que este.
E a pintura de mãos em cavernas dessa zona não é aqui novidade, pois já tinhamos falado de Awin Cave, na Nova Guiné:

Certamente que estas "mãos" têm datação mais recente - até pelo colorido interessante, mas podemos entender que isso não é assim "tão científico". Interessa que as manifestações culturais primitivas se espalharam por todo o planeta - desde cavernas na Nova Guiné à Europa, e até à Argentina (Cueva de las Manos). Como já vimos, não apenas neste aspecto rupestre, mas até na questão dos dólmens, dos menires, e da mumificação. Portanto, a datação acaba por ser algo secundária, se supusermos que foi uma população com a mesma origem que produziu a mesma expressão cultural.

Finalmente, regressando à informação, é conveniente ser cauteloso com informação insuficiente.
Uma medida para a informação insuficiente é a sua possibilidade de falsificação, ao contrário da auto-suficiente. Somos por educação demasiado crédulos com muitas fontes de informação que se vieram a revelar igualmente dignas de suspeita.
Por exemplo, a história desde que há jornais, está cheia de notícias falsas, algumas das quais se destinaram a convencer populações a alinhar numa causa, numa guerra, por via de notícias que foram depois reconhecidas falsas (o caso das armas de destruição massiva no Iraque é só um exemplo, até ao ponto de não sabermos se alguma ameaça tinha existido ou não).
Convém notar que o próprio desmascarar, e levantar suspeita, sobre notícias fabricadas, é uma forma de manipulação - porque torna as pessoas mais desconfiadas, e com maior sentimento de isolamento num mundo de falsidades.
A informação insuficiente é inevitável, porque é óbvio que há situações que não podemos verificar, apenas temos um "confio" com um fio muito frágil, que se rompe pela mentira. E a mentira nem sempre é propositada, pode resultar de uma diferente interpretação da comunicação, por isso os canais devem estar abertos para aclarar.
O crédito nem sempre deve ser um "crê dito", e a falsidade nem sempre é uma "falsa idade" das datações... tudo pode resultar de simples erro. Podemos sempre ser mais tolerantes, mas não tolo-errantes, aceitando persistentes erros e propositadas mentiras.

sábado, 4 de outubro de 2014

Temor

É frequente ouvir-se falar na dificuldade em transportar e erguer grandes monumentos megalíticos, normalmente como aperitivo para invocar depois tecnologias alienígenas, ou algo semelhante.
Sendo claro que a tarefa não seria propriamente fácil de executar, foram deixadas pistas claras sobre o processo. Relativamente ao erguer de megalitos, ainda que ninguém se dedique hoje a erguer pedras de grande dimensão manualmente, há a chamada 
 "festa do mastro" - maypole 
onde se repete uma técnica ancestral em eventos culturais.
(perto de Penafiel, em Julho) - (perto de Munique, em Maio)

Por toda a Europa (e não só - no Brasil também ocorre), especialmente em zonas de conhecida tradição celta, temos esta tradição pagã, praticamente igual após muitos milénios. A festa acontece habitualmente em Maio ("May Day" - ver texto anterior), e não será acidental a cultura ser comum, porque guardará um velho conhecimento de como erguer grandes estruturas verticais, usando apenas a força de um grande número de homens. Claro que estas tradições pagãs foram combatidas de forma repressora... e depois no Séc. XX de forma sedutora, com maior sucesso, por deixarem de estar na "moda".

A ideia de dólmens, mouras ou antas, está espalhada não só na Europa, mas também na Ásia, havendo mesmo registo de que serviria como pedestal para chefes. Para isso fomos parar à Oceania-Indonésia, confirmando uma tendência persistente de "origem celta" vinda dessas paragens, que deduzimos de uma interpretação descomprometida da informação recente sobre os haplogrupos.

Para juntar à festa do mastro, encontrámos estas fotos antigas da Indonésia no princípio do Séc. XX, e que são elucidativas:

A primeira imagem mostra bem como se transportava manualmente um grande megalito na Indonésia, até há 100 anos atrás, e a segunda imagem evidencia vários menires megalíticos.
Por isso, quando virmos discussões de "como seria possível antigamente levar megalitos, etc, etc..." bastará pegar no link da fotografia, que está na wikipedia, e enviar a quem tem dúvidas.
Mas essas dúvidas são naturais, porque há todo um cozinhado educacional que tem suprimido este tipo de provas que desvanecem automaticamente mistérios. É claro que com megalitos maiores seria mais difícil, ninguém duvida, mas estamos aqui a considerar o caso de uma tribo duma pequena ilha - Nias (na costa ocidental de Sumatra), que usava até ao Séc. XX os métodos mais rudimentares.

Portanto, apesar de se ignorar sistematicamente a ocorrência megalítica em paragens indonésias, ou da Oceania, vislumbra-se aqui de novo a ligação cultural do rendilhado das ilhas da Melanésia, nos confins do Oriente, até às manifestações culturais do Ocidente, em particular nesta técnica megalítica.
Um quadro de propaganda ao Império Holandês do início do Séc. XX, é ilustrativo da jóia da coroa holandesa, centrada em Jacarta (Batavia):
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Poderíamos falar de como os holandeses se dedicaram a substituir-se aos portugueses, depois da anexação filipina. Para isso convém notar que, para além dos segredos que Cornelius Houtman obteve em Lisboa (já falámos aqui do cozinhado nas ilhas australianas de Houtman Abrolhos), houve contribuição interna para o ascendente marítimo de holandeses e ingleses, assim que o "démon du midi", Filipe II, anexou o reino de Portugal. O fenómeno também se deu ao contrário - afinal, a bem sucedida invasão holandesa da Inglaterra, protagonizada com Guilherme de Orange, acabou por iniciar o declínio holandês, e talvez mostrar que a Holanda pouco mais serviu do que um trampolim para um império comercial maior - o império britânico.

Aqui interessa-nos referir a Holanda, pela estranha partilha que acabou por ser feita em Timor. De todas as ilhas indonésias, o último reduto português foi aquela ilha, aliás, apenas uma parte dela. A reduzida população portuguesa nunca teria conseguido grande implantação num império tão vasto, mas foram significativas as perdas de Malaca e Maluco. Malaca era importante no controlo do estreito de comunicação com a China e com as especiarias das ilhas Malucas. Se Houtman usou o caminho alternativo para as Malucas pelo estreito de Sunda, os holandeses não descansaram enquanto não atacaram Malaca, bem como todas as importantes possessões portuguesas.


Timor significa em latim "temor", associa-se à divindade grega Phobos, mas a origem do termo é reportada à palavra "Timur" que significa "Leste" em bahasa indonésio. Ainda que hajam muitos mais territórios a leste, é suficientemente a leste para justificar o termo. Malaca era também a designação latina para a cidade de Málaga, também cidade às margens de outro estreito - o de Gibraltar. Quando aumentamos o número de linguagens, torna-se quase forçosa a coincidência de termos simples, e isso não revela nada de especial. Fica apenas a curiosidade dos muitos termos com sonoridade semelhante como Mataram - um dos maiores reinos indonésios. Se encontramos Timor que é Phobos, não encontramos Metus que seria Deimos, e portanto o par de divindades associada a Marte não está presente na nomenclatura.

Interessa aqui que, após os sucessivos abandonos de territórios indonésios pelos portugueses, havia uma grande quantidade de população mestiça (característica típica da actuação portuguesa), que se revia apenas no controlo do rei português e recusava o domínio holandês. Esse foi o caso dos Topas, ou Topasses, que podem bem justificar a persistência final dum enclave português rodeado por hostilidade holandesa.
Os Topas reclamavam origem portuguesa 
e eram caracterizados pelo uso de chapéu.

Com efeito, a única razão que justifica o enclave timorense de Oecussi-Ambeno, parece ter sido a ferocidade com que os Topas defenderam a sua autonomia - não só contra holandeses, como até contra o vice-rei português, reclamando sempre a sua afiliação directa ao rei português. Essa identidade própria acabou por desvanecer-se sob o domínio português, mas ainda hoje é traçada uma ligação directa às famílias Topas que dominam esse enclave timorense com o estatuto de rajas.

Apesar de ser uma pequena ilha, verifica-se mais uma vez, o fenómeno de multiplicidade linguística, ainda que o tetum possa ser dominante

Não chegando a 800 línguas, como no caso da vizinha ilha da Papua - Nova Guiné, há várias dezenas de línguas, algumas das quais, a oriente, aparentadas com as línguas da Papua. Ora também isto mostra como conviveram, num certo equilíbrio, uma quantidade razoável de tribos muito distintas.

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Jaoa ou Iaoa, aparece em mapas antigos como nome para a ilha de Java.
O "homem de Java", homo erectus, foi considerado durante bastante tempo como um elo na transição dos símios para humanos. Não se trata aqui de referir a teoria darwiniana, que assenta num caos evolutivo aleatório, mas sim um facto óbvio - a inteligência é precedida de não-inteligência, qualquer observador só ganha sentido com um observável prévio. Isto aplica-se a homens, ETs, deuses, ou qualquer uma outra entidade que se entenda como inteligência primeira - foi sempre antecedida por uma entidade não inteligente. Mas é preciso entender que, se é o olho que permite ver, o que vê é o que lá estava antes. Assim o papel da inteligência consciente é reencontrar em si a inteligência prévia, que só não era inteligência por não ser consciente.

O homem de Java enquadra-se bem na hipótese natural, esta sim darwiniana, de terem sido as ilhas os locais a favorecerem a evolução separada de espécies singulares, como foi também o caso que abordámos dos pigmeus homo floresensis, onde se mencionava também os Topas da Ilha das Flores, entendidos como "portugueses pretos" pelos holandeses. A esse assunto acresce outro comentário de José Manuel, sobre as stupas no templo de Borobudur em Java (c. Séc. VIII):
Este templo de Borobodur tem detalhes muito interessantes, nomeadamente ao mito dos elefantes brancos no nascimento de Buda pela Rainha Maya. Dificilmente será acidental o nome Maia corresponder no ocidente à mãe de Hermes, com um papel religioso-filosófico igualmente crucial na vertente de Hermes Trimegisto.
Igualmente curioso é o desenho em Borobudur de uma embarcação, muito semelhante a uma caravela
... sendo claro que o budismo não chegou à Indonésia sem travessias com barcos, mesmo que este aspecto nos pareça estar algo deslocado da típica embarcação do Índico e Melanésia.

Um nome de embarcação que nos surge a este propósito é a Carraca, notando que este termo é muito semelhante ao irlandês Currach ou ao galês Coracle
... notando que, ao contrário da carraca quinhentista, estas embarcações eram incipientes, parecendo-se até com alcofas, e estavam espalhadas no seu uso popular da Irlanda ao Vietname. O termo alcofa é apropriado ainda pelo nomes que a embarcação tem no Iraque (quffa) e no Tibete (kowa).

Há uma série de relações e factos interessantes que acrescem, e que nos dispensamos agora de acrescentar, nomeadamente os habitáculos em pedra em Gunung Kawi, em Bali, ou o monte piramidal de Gunung Padang
Gunung Kawi

Terminamos com um apontamento sobre Timor que podemos ler na wikipedia:
In 2011 evidence was uncovered in neighbouring East Timor showing that 42,000 years ago these early settlers were catching and consuming large numbers of big deep sea fish such as tuna, and that they had the technology needed to make ocean crossings to reach Australia and other islands.     
Portanto, se já tinhamos falado sobre o mito polinésio de Tuna, que era suposto ser afinal uma enguia, temos esta evidência de pesca pré-histórica de atum. Atum, tema de que faláramos há uns dias atrás, serve assim para fechar este apontamento.
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6/10/2014