Alvor-Silves

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ré vista (4)

Como esperado, esta visita à ré, corria o risco de se atrasar irremediavelmente.
Quando há novidades à frente, frequentemente esquecemos a consolidação da retaguarda. Até porque a vista já é diferente, e certos assuntos, então tidos como importantes, passei entretanto a vê-los como menos interessantes.

(011) O tema da espiga e do alecrim, colocado em Maio, continuava na questão sombria da história do período dos descobrimentos, e da questão dinástica causada pela forte perturbação dos duques de Bragança, especialmente contra a casa de Coimbra-Aveiro, de Alfarrobeira até ao terramoto do Massacre dos Távoras. A bastardia da dinastia de Bragança, do neto do Barbadão, terá custado muitas vidas e sofrimento durante esses 300 anos. Já fiz uma síntese da questão bastarda nas dinastias portuguesas
Entre os comentários, da sempre enigmática Maria da Fonte temos:
Leite de Vasconcelos, diz que as Giestas Amarelas se chamam Mayas. Curioso, mas curioso mesmo, é que Giesta e Sarça, são ambas da mesma Classe: Magnoliopsida, e da mesma Família: Fabaceae.Sarça ou Giesta? - Qual arderia sem se consumir, na Mata Atlântica?
... e por isso encontrámos uma informação interessante sobre as Janeiras e Maias, cantigas que tinham sido proibidas em 1402:
Esta festa [das Maias], de reminiscências pagãs, foi proibida várias vezes, como aconteceu em Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Mayas ou Janeiras e outras coisas contra a ley de Deus..."
Aproveito para acrescentar agora o decreto anterior de 1386 (ver comentários abaixo):
Outrosim estabelecem que daqui em diante nesta cidade e em seu termo não se cantem janeiras nem maias , nem a outro nenhum mez do anno , nem se lance cal ás portas sob titulo de janeiro, nem se furtem aguas , nem se lancem sortes. . . [in Panorama, Maio 1840
Hoje não é preciso proibir, basta colocar as coisas "fora de moda".  Se ainda envergonhadamente hoje se cantam as Janeiras, das Maias já nem lhe conhecia a existência.


(012) Em bom tempo o Calisto sugeriu a leitura de Damião Castro e isso levou a meu conhecimento a "Mitologia dos Antigos Reis Lusitanos".  Em particular, dos nomes "República de Setúbal" e das "Torres Altas de Tróia"... algo que calhava muito bem com esta imagem lacónica da premonitória implosão do nosso desgoverno:
Implosão de Torres da Torralta em Tróia ... 
(duas torres implodidas, em Setembro, dia 8, em 2005)

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É esta a citação de Damião de Castro sobre as "altas Torres de Tróia":
Mas já chama pelas nossas atenções o estrondo da Armada de Ulysses rompendo as correntes do Tejo, e devassando as suas margens no anuo 77 do governo do velho Gorgoris, pai do celebrado Abidis. Poetas famosos, homens de grandes talentos, e até as Aventuras de Telémaco , obra de um espírito sublime, nos instruem, como reduzidas a cinza as altas Torres de Troia. os autores de tanta ruína se botaram a viajar pelo mundo. Ulysses, Rei de Ítaca, reputado perdido, e buscado em muitas partes por seu filho, o dito Telémaco, bem conduzido na pena do ilustre Fenélon; a ele no lo representam embocando o Tejo em uma grossa Armada, que seria formada dos navios de papel em que fala o Profeta lsaías, e saltando em terra com os seus camaradas aventureiros, gostarem tanto dela, que esquecidos da Grécia, determinaram fundar uma povoação, que foi dita Ulysséa, ou Ulyssipo, hoje a famosa Lisboa. Afirma-se, que a eloquência de Ulysses não só moveu a Gorgoris para consentir a fundação; mas a dar-lhe por mulher a sua filha Calypso, que elle tratou como tal em quanto se demorou na Lusitânia. [História Geral de Portugal e suas Conquistas, Damião de Castro, 1786, Pref. pag. XXXI ] 
... aconselhando a leitura deste prefácio notável, que continua, na página seguinte, dizendo que "o amor à verdade está primeiro que a amizade de Platão", a propósito da Odisseia poder reportar viagens a ilhas atlânticas, às ilhas de Aea e Ogygia, referidas por Heródoto. Sendo claro que a propósito do discípulo de Sócrates (o da antiga narrativa) se referia a uma Atlântida. 

(013) O texto Por Tubal surge assim numa sequência natural, e a este propósito já voltámos a abordar o assunto dos míticos reis ibéricos, de Tubal e Ibero, a Gorgoris e Abidis. 
Não tanto através de Damião de Castro, mas mais directamente remetendo a Fr. Bernardo de Brito, através da sua Monarquia Lusitana.  É aqui no campo dos comentários, ainda em 2010, que surgem as primeiras referências à ligação directa do ADN britânico ao hispânico (J. Manuel), e ainda as referências da M. Fonte aos Boii e Konii, ou seja Boios e Cónios... e ainda a Krisaor (Crisaor), o homem da falcata de ouro, que seria pai do mítico Gerião, tirano ibérico, depois derrotado por Hércules.

(014) A Academia dos Humildes e Ignorantes é basicamente uma outra referência para a mesma história mítica dos reis ibéricos, ainda que contenha outro material significativo.

(015) Na mesma linha, o texto Ulyssippo, de António Sousa Macedo, em 1640, remete para o campo mítico, num poema publicado ainda a 31 de Dezembro de 1640, um mês depois da Restauração, num fulgor nacionalista que remetia às míticas origens lisboetas.

(016) Em dia de Camões, Lusíadas Canto IX (91)  é uma curta citação às estrofes que remetem a origem humana dos nomes dos deuses do panteão clássico 

(017) Em dia do santo, Mapa com St. António referia a particularidade de haver mapas sob o signo do colo o menino Jesus, aqui ao colo de St. António, noutros casos ao colo da Virgem Maria. Pareceu-me à época interessante esta dualidade franciscana e mariana.
Houve por esta altura uma certa ideia de publicar a par com as datas comemoradas - formato que viria a abandonar por completo.

(018) Ainda nessa perspectiva de "blog com alguma actualidade" um texto sobre Saramago era algo inevitável, e fazia ainda sentido pela "viagem de Salomão" - uma iniciativa entre o irreal da sua ficção, uma certa referência ao mito hebraico e a uma viagem pelo interior profundo de Portugal.

(019) O caminho desse Salomão de Saramago passou em Centocellas. 
Por Brito e Bluteau seguiram-se então duas referências àquele que é talvez o mais enigmático monumento antigo que restou de pé, em Portugal. O texto destinava-se mais a dar algum crédito à informação histórica da Monarchia Lusitana de Bernardo de Brito, assunto que foi completamente anulado pela intervenção histórica de Alexandre Herculano.

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18-10-2014

10 comentários:

  1. Se fosse a si pesquisava por Maias + Beja

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    1. Agradeço a dica.
      Com efeito, basta ver na wikipedia
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Maias_(folclore)

      mas estas coisas só se procuram quando se sabe que existem.
      Das Janeiras ouvi falar todos os anos em época natalícia, desde criança.
      Já quanto às celebrações de Maio, foi-se falando cada vez menos espiga, e das cantigas das Maias como esta

      O meu maio moço
      ele lá vem
      vestido de verde
      que parece bem.

      ... se a ouvi da minha avó, não me lembro.
      Talvez tenha confundido as cantigas de Maio com as cantigas de Abril...

      Mas, ainda voltando a Maias+Beja o que vemos é que a tradição só foi aí recuperada este ano de 2014. No ano de 2010, em que escrevi sobre o assunto, não vi nenhuma vontade significativa de recuperar a tradição.

      Portanto, o espírito revolucionário de Abril, foi substituindo as Maias pelas "Cantigas de Maio", p.ex. do Zeca Afonso:
      https://www.youtube.com/watch?v=0AOKb5z0-9g
      ... apesar do Zeca Afonso ser justamente alguém que deu relevo a esses tradições populares.
      Só que nestas coisas, é muito natural a atenção recair mais para si, do que para o que fala. O pessoal gosta mais de saber "quem" do que o "quê", porque é mais simples reduzir tudo a uma questão pessoal.

      Assim, estas Maias populares foram incómodas, primeiro para os promotores da "lei de Deus", depois para os promotores da "lei dos homens", que não as proibindo, arranjaram forma de as colocar fora de moda.

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    2. Ultimamente têm feito pesquisas, creio que até escreveram um livro. Ainda há fotografias a preto e branco de antigas Maias

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    3. Sim, parece que acordaram... mas estes acordares são normalmente até ao próximo sono.
      Ao que parece na transição dos anos 70/80 também houve alguma moda de recuperação etnológica. Só que estas coisas subsistiram milénios sem etnólogos, sem apoio do estado, ou o que quer que fosse. Subsistiram por educação familiar, algo que se foi perdendo, por se considerar que a escola oficial seria o suficiente como educação.
      Não é. Foi assim com algum espanto que se viu a geração nascida nos anos 80 e 90 sem fazer a mais pálida ideia da história recente. Os pais sabiam, tinham-na vivido, mas acharam que não era relevante transmiti-la, que a escola se encarregaria disso.
      Ora, é importante alimentar uma história familiar, porque senão as gerações seguintes serão sempre gerações sem avós, educadas pelo sistema para servir o sistema.

      Abraços.

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  2. Artigo do PANORAMA (Maio de 1840)

    Crenças Populares Portuguezas.

    Todas as nações tanto antigas como modernas teem sido sujeitas á doença moral chamada credulidade. Dada a crença da existência dos espíritos e da sua immortalidade , os homens vendo diariamente morrer os seus semelhantes, e sentindo em si uma consciência que repugna á aniquilação, perceberam facilmente que o espirito não morria: a revelação não fez mais que confirmar um sentimento innato no homem. Depois a saudade dos mortos que nos foram caros , e o temor que experimentavam os criminosos de que as suas victimas ainda se podessem vingar delles alem do sepulchro emfim amor e remorsos, ajudados da imaginação, povoaram este mundo de phantasmas. A Grécia, sempre poética, formulou esta serie de factos intellectuaes era muitas expressões materiaes: sirva d'exemplo a descida d'Orpheu aos infernos em busca d'Euridice, mytho formosíssimo , com que os antigos gregos simbolisaram o amor como capaz, de unir os espiritos que passaram com os que vivem na terra. A imaginação multiplicou e variou estas expressões de um pensamento vago e primitivo. D'ali vieram os lemures , as strygas, e todas essas creações extravagantes, que ainda no primeiro século christão o severo philosopho Plinio não se atrevia inteiramente a descrer.

    Entre as nações modernas a portuguesa passa por uma das mais inclinadas a muitas destas superstições. É uma das multiplicadas calumnias que sobre nossas cabeças lançam estrangeiros: quem disso se quizer desenganar leia o Diccionario infernal de Collin de Plancy, e achará que qualquer província da França , ainda das mais civilisadas , nos deita , como se diz vulgarmente, a barra adiante em superstições populares.
    Quasi o mesmo se pôde dizer da nação mais allumiada da Europa — a alleman. Na Inglaterra basta dizer que não haverá ahi perro turco, ou bramane crédulo que leve vantagem em superstição ao povo dos três reinos unidos. As bruxas , diabos azues, vampiros , e seiscentas outras diabruras surgem , por assim dizer, debaixo dos pés dos inglezes , como nos pinhaes do Alentejo e Estremadura se erguem , debaixo dos pés dos caminhantes , as ninhadas dos sapinhos, quando sobre o pé das estradas cae em dia de verão um aguaceiro de trovoada.

    Apesar, porém, de não sermos dos povos mais abastados neste género de riquezas [que poeticamente o são] tem havido entre nós muitas crenças populares dignas de se fazer menção dellas; por isso mesmo que as mais antigas são geralmente desconhecidas , e as mais modernas vão diariamente desapparecendo; que ao menos esse bem temos tirado das nossas luctas políticas e deste espirito do século, que renegou de tudo quanto nos transmittiu o passado. Tanto de umas como de outras colligiremos aqui algumas espécies, que se nos não enganamos, serão lidas com interesse pelos leitores do Panorama.

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    1. http://books.google.co.uk/books?pg=RA1-PA138


      (cont.)

      Um dos mais antigos documentos que nos restam sobre as superstições populares é a celebre postura da camara de Lisboa de 1386. Esta postura caracterisa essencialmente o espirito religioso da epocha de D. João l° — Nella se prohibem as superstições populares, as quaes ahi se enumeram , como querendo a camara agradecer assim a Deus a victoria d'Aljubarrota , que assegurou a independência de Portugal. Transcreveremos algumas passagens do referido estatuto, sem que tentemos explicar muitas dessas superstições a que ahi se allude , porque difficil fora appresentar mais do que conjecturas. Eis o que nos parece mais notável naquelle assento municipal;

      Os sobreditos estabelecem e ordenam . que daqui em diante nesta cidade, nem em seu termo nenhuma pessoa não use, nem obre de feitiços , nem de ligamento , nem de chamar os diabos , nem de descantações , nem de obra de veadeira , nem obre de carantulas , nem de geitos , nem de sonhos , nem d'encantamentos , nem lance roda, nem lance sortes , nem obre d'advinhamentos .... nem outrosim ponha nem meça cinta, nem escante olhado em ninguém , nem lance agua por joeira ....

      Outrosim estabelecem que daqui em diante nesta cidade e em seu termo não se cantem janeiras nem maias , nem a outro nenhum mez do anno , nem se lance cal ás portas sob titulo de janeiro, nem se furtem aguas , nem se lancem sortes. . . .

      Porque o carpir e depenar sobre os finados é costume que descende dos gentios , e é uma espécie de idolatria , e é contra os mandamentos de Deus, ordenam e estabelecem os sobreditos que daqui em diante nesta cidade, nenhum homem ou mulher, não se carpa, nem depene, nem brade sobre algum finado, nem por elle , ainda que seja pae, mãe , filho ou filha , irmão ou irman , marido ou mulher , nem por outra nenhuma pena , nem nojo , não tolhendo a qualquer que não traga seu dó , e chore se quizer. ...


      Muitas destas disposições ditem respeito a crenças que já não existem , ou são conhecidas por outras denominações. As janeiras e maias duraram até os nossos dias, e ainda no Minho se chamam maias as flores da giesteira amarella , com que se adornam as janellas no primeiro de maio; alem disso todos que hoje vivemos nos lembramos de ver em Lisboa os maios pequeninos passearem as ruas cubertos de flores, bem como de ouvir cantar as janeiras, o que ainda dura em muitas partes das nossas províncias.

      As prohibições da camara relativamente aos prantos pelos mortos , alludem ao carpirem-se c arrepellarem-se sobre o cadáver e por elle , depois d'enterrado , certas mulheres , que disso viviam chamadas carpideiras ou pranteadeiras , e na falta destas os parentes mais próximos. Fr. Francisco Brandão diz que tal costume se acabou no tempo de D. João 1º : mas engana-se manifestamente , porque nos nossos chronistas se acham memórias de semelhantes prantos em epochas mui posteriores , e lá diz Gil Vicente


      Prantos fazem em Lisboa
      Dia de sancta Luzia
      Por elrei D. Manuel
      se finou neste dia.


      Entre as superstições antigas podem contar-se os reptos , requestas . ou desafios , em que se apellava para o juizo de Deus quando um homem accusava outro de homicídio ou traição. Este costume , geral em toda a Europa , vogou muito em Portugal no principio da monarchia , sendo até declarados os foraes de algumas terras os casos em que o duello devia servir de prova da justiça ou injustiça da accusação ou querella. Muito cedo porém começaram os nossos reis a trabalhar , por meio de leis prudentes e saudáveis, em pôr termo a este costume bárbaro.

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    2. D. Diniz foi o primeiro que por lei de 1313 prohibiu houvesse reptos duas léguas em redor donde estivesse a corte :
      — « Estabeleço e punho por lei [diz elle] que daqui adiante nenhum Filho-d'algo não desafie , nem mande desafiar outro , nem por si , nem por outrem , perante mim , nem nos legares onde eu for , nem a duas léguas aredor de mim; E aquelle que contra isto vier, morra por isso , e a desafiação não valha.»

      Successivas providencias se foram dando a este respeito , de modo que na ordenação affonsina apenas são permittidos os desafios no caso de traição contra a pessoa real, como se pôde ver no titulo 64 do Livro 1.° desta ordenação.

      Como, porém, os reptos não tinham logar em todos os casos, e tal era o de cair a suspeita do crime em mulheres, as quaes não podiam ir defender ás lançadas a sua innoccncia, havia outros meios de recorrer ao juizo de Deus. Destes eram geralmente em toda a Europa, as provas da agua fria, da agua queute, e do ferro em braza. A que se usou em Portugal foi a ultima , a qual consistia no seguinte: o accusado que queria arriscar-se á prova, depois de se confessar, e de jejuar rigorosamente por alguns dias , e de receber exorcismos , bênçãos e orações de um sacerdote, ou se punha a andar descalço sobre uma vara de ferro em braza, ou pegava nella e caminhava apertando-a nas mãos por certo espaço. Se o ferro caldo [como lhe chamavam] não produzia o seu natural effeito o culpado era havido por innocente; mas se lhe queimava os pés ou as mãos impunham-lhe a pena do crime de que fora accusado.

      Já se vê que era difucultosa empreza achar innocentes por tal meio ; todavia algumas tradições existem que a serem verdadeiras, provariam que a Providencia, apiedando se dos injustamente opprimidos, suspendera algumas vezes a favor delles as leis da natureza. Juncto ao sepulchro do commendador de Leça D. Garcia Martins se conservava , segundo o testemunho de Jorge Cardoso , um ferro de arado , que , posto em braza , transportou para alli a mulher de um ferreiro accusada de adultério. Fr. Bernardo de Brito e Fr. António Brandão citam uma doação feita ao mosteiro de Arouca , por D. Tareja Soares, mulher de D. Gonçalo Mendes de Sousa , que sendo accusada pelo marido d'adulterio, recorreu , em sua defeza, á prova do ferro em braza , e saindo illesa , se recolheu ao mosteiro d'Arouca , ao qual fez uma doação, onde se menciona este successo, que seria em verdade extraordinário, se não fosse mais fácil e rasoavel crer na supposicão do documento do que na realidade do milagre.

      Esta superstição da prova por fogo parece que ainda estava muito arreigada em Portugal no fim do século 14.° Quando o Mestre d'Aviz matou o conde Andeiro a rainha D. Leonor, ouvindo na sua camara o ruido que soava, mandou saber o que era, e vieram dizer-lhe que tinham assassinado o conde.

      » A rainha quando isto ouviu , houve grão temor ,
      » porém disse: Oh sancta Maria vale! me mataram
      » em elle um bom servidor!—e sem o merecer-, cá
      » [porque] o mataram, bem sei porque. Mas eu
      » prometto a Deus que me vá de manhã a S. Francisco,
      » e que mande ahi fazer uma fogueira, e ahi farei
      » taes salvas, quaes nunca mulher fez por estas "cousas."

      [Lopes chr. de D. João 1.° cap. 11].

      Santos, narrando este meuno successo, accrescenta:
      » "Alludiu ao antigo costume de se purificarem ,
      » tomando o ferro quente , as mulheres accusadas, ou
      » murmuradas d'adulterio.

      [Mon. Lusit. Liv. 23 c. 8].

      E com effeito não é crivei que a rainha na sua afflicção fizesse uma figura de rhetorica, dizendo que se queria sujeitar a um costume que já não existia; muito mais que Fernão Lopes, escriptor tão visinho daquelles tempos, parece reconhecer a actualidade de tão barbara usança, accrescentando que a rainha tinha mui pouco em vontade de o fazer.

      (... )

      (fim de transcrição - mas o artigo continua na revista Panorama)

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  3. A "arvore de maio" vem donde viemos parar a este planeta Terra (duma constelação) é essa celebração que tanto se têm esforçado de encobrir, de lunes e martes passou-se para feiras!

    http://es.wikipedia.org/wiki/Semana#El_origen_de_los_nombres_de_los_d.C3.ADas_de_la_semana

    Cpts.
    José Manuel CH-GE

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    1. Sobre os dias da semana, e os meses:
      http://alvor-silves.blogspot.pt/2014/08/cesar-kaisers-e-czares.html

      O caso português das "feiras" foi quase singular, contra a tradição pagã, tal como acontece com os Gregos, por imposição de norma ortodoxa.

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