Alvor-Silves

domingo, 4 de abril de 2021

A África começa nos Pirinéus (6)

Resumindo aquilo que foi apresentado nesta série, para mim fica claro que não existem registos judaicos anteriores à queda de Cartago. A questão das moedas, levantada no postal anterior, é apenas mais um exemplo. Não se encontram símbolos judaicos, nem sequer em relatos de outros povos.
É claro que há tentativas de ligar qualquer referência à Palestina, a um povo judaico, mas mesmo essas são tão escassas e pouco significativas que podem ser quase ignoradas. Todo o folclore judaico começa quase em simultâneo com o cristianismo, à excepção do suposto "Velho Testamento", cuja origem mais antiga é praticamente coincidente com a queda ou, pelo menos o declínio de Cartago após a derrota de Aníbal.

Antes da invasão de Alexandre Magno, o mundo antigo tinha civilizações de referência - os egípcios, os persas/babilónios/caldeus, os fenícios, e os gregos. A invasão de Alexandre terraplanou essas diferenças para um factor comum - todos foram helenizados! É claro que Alexandre nem se dá conta da existência de judeus, porque simplesmente não contavam/existiam.

Só que, passado um século torna-se claro que o legado cultural egípcio, fenício, persa ou caldeu, corria um risco iminente de desaparecer da História. Os fenícios ainda tinham Cartago, Cartagena ou Cádis, mas os restantes estavam sob domínio das dinastias dos generais de Alexandre - de Ptolomeu no Egipto, e de Seleuco no Médio Oriente.

O mais natural, parece-me, é que especialmente o corpo sacerdotal não queria perder um legado milenar, de um momento para o outro, e a ideia de uma certa aliança entre três reinos magnos começou a ganhar forma, especialmente quando os Romanos ameaçaram mais definitivamente substituir-se aos gregos no controlo dessas regiões, após as "vitórias de Pirro" (Burro) e a derrota de Aníbal.
Esses três reinos eram basicamente três partições do império de Alexandre: - a parte africana do Egipto (Ptolomeu), a parte asiática do Médio Oriente (Seleuco), e a parte mais europeia com a Ásia Menor (Antígono).


Representação dos 3 reis magos com chapéus frígios "de liberdade".

Do lado egípcio seria herdado um velho monoteísmo de Akenaton. 
Do lado caldeu todo o antigo mito da criação de Gilgamesh, em concorrência com os ensinamentos filosóficos de Zaratustra.
Do lado da Ásia Menor e Fenícia, um certo ideal de liberdade das cidades estado fenícias, dos reinos da Frígia,  Lídia, Lícia, herdeiros hititas, um aspecto de comércio livre, etc.

Quem terá tomado o inicial protagonismo terão sido provavelmente os egípcios e caldeus adeptos do culto monoteísta de Akenaton a Aton e de Zaratustra a Ahura Mazda, em conjunto com os fenícios de Tiro.
A formação da religião monoteísta "judaica" terá sido congeminada aquando da definição da Septuaginta, umas décadas depois de Ptolomeu ter consolidado o seu reinado, na nova capital egípcia, Alexandria. 
A região entre a Palestina e a Síria tornou-se um foco de várias batalhas entre os lados ptolomaico (egípcio) e seleucida (sírio), culminando numa zona de ninguém, onde se começaria a formar o reino judaico, com a revolta dos Macabeus. Com o fim de Cartago e a conquista romana da Grécia e Ásia Menor, é natural que aí se juntassem expatriados fugindo não só de Cartago, mas também de territórios vizinhos conquistados pelos romanos.

Em breve essa aliança circunstancial terá cedido em dissensões, em que o núcleo principal "judaico" se foi identificando aos expatriados fenícios, de Cartago e Cartagena, forçados a uma travessia no deserto até às suas origens. O lado egípcio foi provavelmente aquele que, juntamente com o lado da Ásia Menor (Paulo, era nascido em Tarso), mais favoreceu a dissensão para um cristianismo. 
Com efeito, a adesão ao cristianismo foi tão forte no Egipto, que praticamente o cristianismo copta substituiu a antiga religião egípcia. Após Cleópatra, o Egipto era apenas mais uma província romana, e o resto da cultura egípcia perdera-se. 
Outra dissensão, seria pelo lado caldeu e frígio, ligando-se ao culto do Mitraísmo que, até à implantação do cristianismo por Constantino, era um culto com bastantes adeptos e muito concorrencial com o cristianismo. Esse lado favoreceu depois o próprio aparecimento da região islâmica, como natural dissensão dos velhos acordos.

O grande objectivo destes três reinos magnos seria a queda de Roma.
O maior sucesso partiu do lado judaico-cristão, que se foi espalhando justamente por todo o império, especialmente entre os escravos. Os fenícios-cartagineses mantiveram-se na dissensão que levou á concretização do judaísmo. Os povos da Ásia Menor,  variaram entre o mitraísmo e o catolicismo, com a sua definição pela separação no lado ortodoxo cristão, do Império Romano Oriental, com centro em Constantinopla. Finalmente o legado principal dos caldeus acabou por ir para a definição da terceira religião abraâmica, o islamismo.

Roma incorporou o cristianismo de forma subtil, e acima de tudo sobreviveu à sua vitória, reerguendo-se como capital do império ocidental. 
Bom, mas esta especulação ainda não termina aqui...

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