Alvor-Silves

sábado, 14 de novembro de 2020

Camara obscura (2) Torre de Ulisses

Há uns anos considerei aqui como a camara obscura e o seu efeito, deve ter estado presente desde cedo na humanidade, e, como se pode ver na página da wikipedia, há registos chineses e gregos, que apontam pelo menos para o Séc.V a.C.

Aquilo que não sabia, até porque é algo que não é muito divulgado, é que na Torre de Ulisses, do Castelo de São Jorge, em Lisboa, foi instalado um dispositivo desse tipo, em 1998, que permite aos visitantes ter uma visão de Lisboa, num disco com mais de 2 metros, permitindo imagens notáveis:


Com efeito o operador pode rodar um espelho, e ajustar o foco da lente (dispositivo da Sinden Optical), que assim pode ser tão eficaz quanto uma vigilância por câmara vídeo:


Estas imagens tirei-as do blog "aprender viajando", que também mostra o tecto, de onde é projectada a entrada de luz para o ecrã. 

Portanto, o dispositivo em termos técnicos não tem nada de especial, mas é impressionante, no que consegue fazer. A razão pela qual esse dispositivo foi instalado numa das Torres do Castelo de S. Jorge, terá a ver com razões turísticas, e seguiu a iniciativa que tinha sido já implementada em Espanha, em Cádis, na Torre Tavira em 1994, após terem visto o dispositivo de David Sinden em Edimburgo.

A Torre de Ulisses, era a Torre Albarrã, chamada Torre do Tombo. Foi aí que foi colocado uma boa parte da documentação mais importante do Arquivo real português, especialmente na altura em que o próprio Castelo de S. Jorge tinha o Paço Real, o que aconteceu até ao início dos Descobrimentos.

Independentemente de ter sido colocado nesta Torre (ao lado, havia a chamada Torre do Observatório), este tipo de dispositivos poderia existir na Idade Média?
A resposta é um inequívoco sim!
Mesmo esquecendo a parte da lente (que existiram desde que há vidro), qualquer orifício que permita a entrada de luz numa sala escura, faz uma camara obscura
As chamadas máquinas fotográficas usavam este princípio, e a única coisa mais complicada, que foi conseguida no Séc. XIX, foi imprimir a luz numa película que fosse foto-sensível.

No entanto, digo claramente que não descarto a possibilidade disso ter sido conseguido muito antes.
Que Leonardo da Vinci usava esse princípio, para fazer os seus quadros, é conhecido, e por tentativa de lhe atribuir tudo, atribui-se também a si este dispositivo, que está totalmente descrito quase 500 anos antes, em obras do astrónomo árabe Alhazem, e mais de mil anos antes, já Aristóteles o referia.

Seria daqueles "conhecimentos proibidos", e porquê?
Bom, porque bastaria a qualquer um saber isto, e poderia ver sem ser visto... Uma casa que tivesse um pequeno orifício na parede, dando para uma sala escura, permitiria ao seu dono entrar, fechar a porta, e ver toda a rua projectada na sua parede. Era bem mais fácil do que estar a espreitar pelo buraco. Portanto, seria algo que reis quereriam guardar para si, e não permitir aos outros. A ideia de usar isso para fazer quadros, conforme dissemos, terá sido usada por Da Vinci, mas será de considerar que muitos outros pintores do Renascimento a tenham utilizado.

Este fenómeno ocorre sempre, por qualquer frincha... simplesmente não é observado porque a luz que vem de outros sítios é mais intensa, e sobrepõe-se. Só não se sobrepõe quando a sala está escura, e não entra mais luz, a não ser a que chega através do orifício. 

Coisas destas são feitas de cartão, e encontra-se no YouTube como o fazer em poucos minutos:

(neste caso é colocada uma lente, para poder entrar mais luz, mas nem isso seria necessário)

Se era possível na Antiguidade conseguir o registo, como foi depois conseguido usando uma emulsão de prata, pois isso já será mais complicado de especular. Mas creio que se a fonte de luz fosse forte, e a exposição fosse sobre uma paisagem imóvel durante horas, poderia causar alguma sensibilidade em cera. Ou seja, não será de descartar que possam existir registos "fotográficos" de há milhares de anos, feitos sobre cera... desde que não tenham derretido ou ardido, é claro.
Mas que necessidade haveria disso, se era mais fácil chamar um pintor, que conseguisse colocar a tinta certa em cima das cores na tela que via? Será como pedir às pessoas que façam o desenho que está à frente dos seus olhos, copiando por cima!

Repare-se que ninguém usa a palavra desenhador... nas diversas línguas europeias, fala-se em pintor.
Fala-se em pintura e não em desenho. Porquê? Bom, se fosse este o caso, na realidade nada havia a desenhar, o desenho era a realidade projectada sobre a tela, pelo que ser tratava apenas de uma questão de pintar por cima, com as cores certas.
Ah, mas se fosse assim, porque razão isso não foi usado na Idade Média? Bom, porque justamente na Idade Média, fazer uma cópia da realidade era quase uma heresia - a de se pretender equiparar a Deus.

Não vou repetir as diversas outras considerações que fiz no postal anterior, mas é ainda de considerar que as torres sem aberturas, como a Torre de Ulisses, ou outras, pudessem servir um propósito de  camara obscura, permitindo uma vigilância sobre a paisagem em redor, sem se vislumbrar qualquer vigilante.


2 comentários:

  1. Neste novembro 2020 observei na zona da Serra dos Candeeiros a meio da noite uma grande "bola de fogo" vermelha, manteve-se sempre com o mesma intensidade e aspeto , não foi perdendo incandescência como os meteoros, apareceu num radiante NE 40 para uns 320 NW a altitude provavelmente muito superior à dos aviões, era de grande dimensão e lenta, não seria UFO certamente mas bela imagem par recordar, os nosso vizinhos observam coisas destas, ver aqui:
    https://www.youtube.com/watch?v=dCnfEIPyP2Y&feature=emb_logo

    Recomendo o filme O Doador de Memórias:
    https://www.youtube.com/watch?v=g9qdp9eVjys
    https://www.youtube.com/watch?v=FtNpOIjmiDY

    ou de ler o livro:
    https://www.amazon.com/Doador-Memorias-Em-Portugues-Brasil/dp/8580412994

    Cumprimentos
    José Manuel

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    1. Pela orientação que se vê no vídeo, pode ter sido semelhante à que está descrita lá, porque iria na direcção da Serra dos Candeeiros. O José Manuel sabe bem distinguir uma estrela cadente, e a cor vermelha permanente é invulgar - costumam começar por se verem mais avermelhadas e depois vão acabando em tom azul. Não sei, sem registo vídeo fica na observação e consideração do próprio. Foi oferecida a si...

      Vi o filme "Doador de Memórias", muito interessante. Agora que Hollywood entrou em declínio, parece que já nem vamos ser presenteados com cinema desse. Lamentável.

      Cumprimentos.

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