Alvor-Silves

sábado, 21 de dezembro de 2019

Silêncio musical (1) Carlos Seixas

No panorama internacional, as produções intelectuais que tivessem origem ibérica foram quase sempre olimpicamente ignoradas.

Trazemos como exemplo o compositor Carlos Seixas (1704-1742), que tem este excelente concerto para cravo em lá maior, que normalmente será reconhecido pelo nosso ouvido, mas não como composição de origem nacional.

Carlos Seixas - concerto para cravo, cordas e baixo contínuo em Lá Maior

Compositor barroco, contemporâneo de Vivaldi e Bach, morreu cedo, aos 38 anos de idade, culminando uma sequência de prolífico período musical no Séc. XVII, que terá incluído a família real (D. João IV e o filho D. Teodósio). 

D. João V, para tutor musical da princesa Bárbara (futura rainha de Espanha) terá trazido de Nápoles o famoso compositor italiano Domenico Scarlatti. Estando Seixas em Lisboa desde os 16 anos, foi sugerido pelo irmão do rei que também ele tivesse aulas com Scarlatti. Consta que o mestre italiano surpreendido pela virtuosidade do jovem terá respondido que poderia receber lições dele.

Que os estrangeiros não lhe dêem espaço mais significativo é mais ou menos compreensível, já que o problema principal é que o nome de Carlos Seixas está praticamente ausente das referências da cultura nacional, exceptuando pelos poucos que tiveram formação musical.

Como toda a cultura gaiteira portuguesa é basicamente uma repetição do refrão internacional empacotado pela judiaria e pandilha maçónica, com foco inglês, francês, italiano ou alemão, e não estando o nome de Seixas inscrito nesse receituário, passa por ausente dos manuais escolares, e entra no profundo silêncio, mesmo que algumas das suas músicas nos sejam já conhecidas.

Acresce à novela a habitual desculpa do Terramoto de 1755, que terá comido muitas das partituras nacionais, inclusive as de Seixas. Se as melodias foram depois recuperadas ou não, isso será outra questão...
Como é dito do espanhol Vicente Martin y Soler, quando a ópera "Una Cosa Rara" estreou em Viena em 1786, eclipsou em popularidade a ópera "Figaro" de Mozart, estreada ao mesmo tempo.
Mozart terá logo depois usado uma melodia da ópera espanhola em "Don Giovanni", diz-se que para "prestar homenagem a Soler".
A fanfarra gaiteira maçónica, rapidamente promoveu o mano Mozart aos píncaros, e o nome do espanhol desapareceu rapidamente, como praticamente quase todos os outros...

6 comentários:

  1. Bom verbete.
    No âmago da mediocridade vigente.

    Feliz Natal !

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    1. Obrigado, e iguais votos de boas festas.

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    2. Boas festas, este também foi bom https://www.youtube.com/watch?v=T9xihUvGzHY
      João Domingos Bomtempo
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Domingos_Bomtempo
      Cumprimentos
      José Manuel em Genève

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    3. Sim, José Manuel, um outro bom exemplo.
      Boas festas.

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  2. Boas Festas,

    Corre o boato de que a obra Adestes Fideles foi escrita por D. João IV. Claro que vêm logo os "entendidos" nacionais declararem que não foi.

    Mas temos muitos e bons compositores, lembro-me rapidamente da famosa obra "The Stars and Stripes Forever" composta por um português

    https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Philip_Sousa

    Boas Festas!

    JR

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    1. Certo, João.
      Há uns anos escrevi aqui um postal sobre o Adestes Fideles:

      https://alvor-silves.blogspot.com/2015/10/adeste-fideles-de-dom-joao-iv.html

      Não sei se foi o D. João IV, mas não é de excluir que tenha sido ele, ou talvez Marcos Portugal.
      Estava a pensar fazer um postal seguinte justamente recuperando esse assunto.

      Boas Festas,
      da Maia

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