Alvor-Silves

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Livro de fortalezas nas Índias

Um livro que contém um registo razoavelmente extenso de fortalezas portuguesas na Índia, bem como de algumas outras regiões é:

António Bocarro (1635)

Interessou-me o caso particular da fortaleza de Diu, porque tem uma disposição muito parecida com a que teria a fortaleza de Nova Iorque em Manhattan, conforme desenhada pelos holandeses em 1660:

Mapa de 1660 de Nova Amsterdão (Nova Iorque, Manhattan) com forte e muralha de Wall Street (à direita).

Mapa de Diu (na Índia) também com forte e uma muralha à direita.

Plano actual de Diu (Google Maps) onde a amarelo está destacada a muralha (ainda existente).

As semelhanças são muito evidentes.
O tipo de fortaleza que encontramos no mapa holandês poderia ser bem uma fortaleza portuguesa, que simplesmente teria sido abandonada ou perdida para os holandeses, durante o período de ocupação espanhola. Há diversos fortes portugueses do mesmo tipo, e a delimitação por uma muralha exterior, separando a ilha em duas partes, parece ser exactamente a mesma solução que os portugueses seguiram em Diu.

O continente norte-americano ficou praticamente por colonizar até à chegada dos ingleses, holandeses, e franceses. Não se conhecem registos de fortalezas portuguesas ou espanholas naquelas paragens, exceptuando alguns fortes espanhóis na Florida. Se não fossem os portugueses, pelo menos os espanhóis teriam tido oportunidade para colonizar aquela região, e não o quiseram fazer além da Florida. Porém, é quase certo que a principal razão seria o resto de uma presença portuguesa naquelas paragens, tendo ficado semi-abandonada de ligação ao reino. O nome latino de Nova Iorque corresponder a Nova Eboraca (York seria Eboraca em latim) seria um sinal interessante para especular numa certa colónia "Nova Évora", mas tal nome nunca parece ter constado dos nossos registos coloniais.   

O aproveitamento que os holandeses fizeram das fortalezas portuguesas por si conquistadas, é extenso e claro. Ainda hoje ocorrem casos em que se fala do "forte holandês", quando se tratou de um "forte português" conquistado pelos holandeses. Ainda que os holandeses depois pudessem naturalmente fazer alguns melhoramentos, o projecto e execução inicial era quase sistematicamente português.

É naturalmente especulativo, e até talvez gratuito (dada a escassez de indícios), pensar que poderia já existir uma estrutura militar portuguesa na ilha de Manhattan, tal como tantas outras que existiam ao longo dos oceanos Atlântico (Brasil e África) ou Índico (África, Índia, Indochina). 
Dada a "facilidade" que os portugueses tiveram em erguer uma enorme quantidade destas fortalezas, graças à experiência adquirida em Marrocos (onde as tinham que erguer sob ameaça inimiga constante), também nada impede, e parece-me até razoavelmente provável que os portugueses tivessem fortificado alguma parte da costa norte-americana, até à Terra Nova.

Deixamos 5 imagens de outras fortalezas portuguesas, das 42 constantes no livro de Bocarro, que evidenciam a variedade de estruturas defensivas usadas:


Fortaleza de São Caetano de Sofala (Moçambique) - ver fortalezas.org

Fortaleza de São Sebastião (ilha de Moçambique) - ver fortalezas.org

Fortaleza de Mombaça (Quénia) - ver fortalezas.org

Fortaleza de Curiate (Omã) - ver fortalezas.org

Fortaleza de Mascate (Omã) - ver fortalezas.org

6 comentários:

  1. Muito bom, já tinha visto o livro mas nunca tinha feito a comparação.
    De facto é incrível, mais ainda se tivermos em conta que os holandeses ocuparam quase todos os nossos fortes no Brasil, faria sentido terem feito o mesmo na América do Norte, e talvez até na Austrália.

    Cumprimentos,
    Djorge

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    1. Pois, a comparação pareceu-me demasiado próxima e também acho que merece atenção, ainda que os dados sejam ainda muito escassos.

      Conforme diz, quando os holandeses ocuparam os fortes do Brasil, há uma curiosidade adicional. Os holandeses chamaram:

      - "Nova Holanda" à província brasileira ocupada.
      - "Nova Amesterdão" à cidade de Natal.

      Ora, fizeram o mesmo na América do Norte:

      - "Nieuw Nederland" (Novos Países Baixos) - nome da região à volta de Nova Iorque.
      - "Nieuw Amsterdam" foi o nome anterior de Nova Iorque.

      Parece demasiado confuso para quem tinha que gerir um império, quando falavam em Nova Amsterdão. Como sabiam se estavam a falar do hemisfério norte ou do sul?

      A confusão de nomes parece uma daquelas coincidências burocráticas que dão jeito!
      Se nos registos estiver o ataque holandês a Nova Amsterdão, ou o estabelecimento da Nova Holanda, pode bem estar-se falar da região do Brasil, como também poderia ser Nova Iorque ou até da Austrália.

      Porque, como aos holandeses faltou imaginação, também à Austrália chamaram "Nova Holanda".

      E sim, tem toda a razão, podem também ter havido fortificações portuguesas deste tipo no território australiano, que depois não sobreviveram à colonização inglesa.

      Abraço,
      da Maia

      PS: Há ainda uma curiosidade, porque é agora assumido que o primeiro habitante não nativo de Nova Iorque teria sido um português (João Rodrigues... Jan Rodriguez), que se encarregou de fazer o comércio de peles de castor:

      https://en.wikipedia.org/wiki/Juan_(Jan)_Rodriguez

      https://www.dn.pt/mundo/primeiro-negro-de-nova-iorque-era-portugues-e-primeiro-hispanico-tambem-5432838.html

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  2. Lisboa, a Capital de Portugal e Nome nos USA

    Existem, pelo menos, 37 comunidades nos Estados Unidos que sustentam alguma forma do nome de Lisboa, o centro cultural de Portugal. Estas locais situam-se em 26 estados do sul. Nova Iorque ou Lisboa? Em 1672, ao piratear uma imagem de Lisboa do século XVI, um editor Francês simplesmente modificou os nomes das ruas e dos pontos de referência, tornando-a numa representação fiel de Nova Amesterdão, mais tarde chamada Nova Iorque. C.L. Jollain, 1672, Vol.20,3
    [https://www.loc.gov/resource/g6694l.ct000034/?r=-0.582,-0.078,1.854,0.772,0]

    tirado do livro de Manuel Mira, “empresto” a quem pedir…
    cumprimentos

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    1. Incrível...
      De facto, o
      mapa de G. Jollain

      é copiado do mapa de Georg Braun:

      http://historic-cities.huji.ac.il/portugal/lisbon/maps/braun_hogenberg_V_2_b.jpg

      e não se percebe a razão para tal acontecer.

      Darei destaque como postal, remetendo um link para este comentário (se não se opuser, colocarei também o seu nome).

      Obrigado.

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  3. Este plágio roubo feito aos portugueses pelos franceses não é único, o mais irritante foi o de Napoleão ter enviado a Lisboa um especialista com uma lista de objetos a serem mandados para Paris, hoje podem ser vistos alguns em exposição, de D. Manuel uma fruteira com pedestal de figuras de homens de todos os continentes e armadura de D. Sebastião, mais a maior coleção de arte africana de sempre e roubada aos portugueses, outros estão nas reservas dos museus em França, a razão, para mim, foi a de limpar para as gerações futuras o roubo da América do Norte feito aos portugueses,

    por mim podem dispor do que desejarem meu nome inclusive
    cumprimentos

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