Alvor-Silves

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

dos Comentários (52) a alabarda suiça

O João Ribeiro trouxe o tema - será o estado suiço uma invenção templária?
Este tema, apesar de nunca ter sido aqui discutido, já foi considerado noutros fóruns (ou fora, já que fora é o plural de forum em latim). Por exemplo, neste link:


consideram-se diversas razões para esta associação ter algum sentido. Dado que sobre este assunto não tenho dados adicionais, vou-me limitar a citar as diversas razões, que podem ser consideradas "provas circunstanciais", mas não são concludentes.

Questão de datas. A confederação suiça começou em 1291 com um acordo entre 3 cantões vizinhos, em torno do Lago Lucerna (ou Lago dos 4 Cantões):
- Schwyz (cantão de onde surge o nome e a bandeira), Uri e Unterwalden.
No entanto o primeiro embate, que define a independência suiça será a Batalha de Morgarten em 1315, contra as tropas de Leopoldo I, Duque da Áustria, um Habsburgo.
Acontece que o fim dos templários, é marcado pela execução de Jacques de Molay em 1314, mas a ordem tinha sido abolida já em 1312, após as prisões ordenadas pelo rei de França, em 1307.

Portanto, o que se pode questionar é para onde teriam ido os templários que estavam em França (o seu maior centro), e que não foram inseridos nos hospitalários, que não migraram para Portugal, para a Ordem de Cristo, ou para outras eventuais paragens - Aragão ou Escócia.
Uma boa possibilidade seria terem sido acolhidos pelos cantões suiços, que assim receberiam uma força com capacidade militar.

A alabarda. Uma arma que tornou a infantaria suiça temível, em Morgarten, e depois noutras batalhas em que foram saindo vencedores, foi a alabarda, uma lança especialmente eficaz contra a cavalaria dos Habsburgos.
Ainda hoje, a guarda papal, que desde 1506 é exclusivamente suiça, ostenta as suas longas alabardas.
O facto que desperta alguma curiosidade será essa passagem de camponeses à invenção de armas de batalha e à constituição de um exército de referência, ao ponto de ser adoptado para protecção papal.
Além disso, os suiços passaram a ter fama de competentes mercenários, e foram usados por diversos reis. Em particular, uma boa parte da guarda de Luís XVI era suiça, e foi massacrada na revolução francesa, quando tentava proteger a família real (ver monumento em Lucerna).
Aliás, o período da revolução francesa foi particularmente complicado, pois alguns suiços franceses, adeptos revolucionários, decidiram convidar à invasão das tropas napoleónicas.

A cruz suiça. Um outro ponto de possível contacto é a semelhança entre a cruz templária, vermelha sobre fundo branco, e o símbolo da bandeira da Suiça, que é uma cruz branca em fundo vermelho, e que é também a bandeira da Cruz Vermelha internacional. No entanto, aponta-se o brasão do cantão Schwyz como estando na origem desta bandeira (o que será menos claro é saber se o cantão já teria essa cruz antes de 1291).

A banca templária. Os templários tinham ainda fama de servirem de banco internacional, e concretamente emprestaram uma considerável quantia ao rei francês, Filipe o Belo, o que contribuiu para que este tomasse a decisão de suprimir a ordem templária, e assim também a sua dívida.
Para além de terem mais este ponto em comum com os judeus, também adoradores do Templo de Salomão, outra questão que permaneceu até hoje é o papel da banca suiça, enquanto gestora de muitas fortunas mundiais, e nem sempre de origem recomendável.

Na minha opinião são ainda um conjunto de factos circunstanciais, soltos, que pode ou não ligar-se entre si, mas mais dificilmente parece faltar uma qualquer ligação directa aos Templários.
De qualquer forma, parece-me interessante, podendo ser relevante, caso se reúnam mais dados concordantes.

Aditamento (10/09/2019):
Esta teoria que liga os Templários à formação e consolidação da Confederação Suiça foi apresentada inicialmente por Alan Butler e Stephen Dafoe no livro "The Warriors and the Bankers" (1998).
Em 2010 Alan Butler deu uma pequena entrevista a um blog de templários:
onde praticamente vemos a repetição dos argumentos acima expostos. Será claro que nem estes dos autores terão sido os primeiros a pensar no assunto, nem provavelmente serão os últimos.

Há outros argumentos de contexto que dão consistência a esta teoria.

(i) A Suiça tem 3 línguas nos diversos cantões, ainda que na sua maioria sejam alemães, tal como eram os 3 primeiros cantões. Reunir sob o mesmo governo populações de línguas diferentes, sem animosidade ou desconfiança, ao longo de uma história europeia tão conturbada, nos últimos 700 anos, não parece difícil, parece praticamente impossível, sem haver uma direcção aglutinadora. 
Os outros casos de governo conjunto com línguas diferentes, se foram também ao ponto de terem raízes diferentes, como o caso do alemão, incompreensível para franceses ou italianos, ou vice-versa. Temos o caso da Bélgica, divididos entre valões franceses e flamengos, mas aí o estado artificial foi unido por uma figura real, um rei comum. Isso não aconteceu na Suiça, pois nunca houve aí uma nobreza estabelecida. A única figura comum preservada pelo mito, foi mesmo Guilherme Tell.

(ii) A posição da Suiça sendo central na confluência das fronteiras francesas, italianas e alemãs ou austríacas, acabou por também facilitar a que fossem esses mesmos países a definirem o avanço da sociedade europeia. Tudo isto foi acontecendo sem cisões internas que poderiam ter levado a guerras civis. A Suiça permaneceu colada com uma cola invisível, algo secreta, que se adequa muito bem a que estivesse em causa um plano maior.

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