Alvor-Silves

domingo, 4 de novembro de 2018

A sente na centena

Ocorreu hoje um desfile militar, a propósito do centenário do armistício da 1ª Guerra Mundial.
Uma semana de antecedência, ao que consta, por causa das comemorações oficiais que irão decorrer em França. Macron irá receber 60 chefes de estado, no dia 11 de Novembro, em França. Aliás, Macron serve um pouco como símbolo do armistício, já que o seu bisavó inglês, combatente no Somme, aí ficou, casou e constituiu família.
A excepção a essa convergência mundial para França é um pequeno cerimonial que a rainha de Inglaterra fará, no mesmo dia, com o presidente alemão, em Westminster.

O dia 11 de Novembro de 1918, fica célebre pela enorme falta de bom senso francesa. O acordo de paz, ou digamos, o acordo de rendição, foi assinado numa carruagem do marechal Foch, no bosque de Compiègne, forçando os alemães a uma humilhante negociação, que foi depois ainda agravada no Tratado de Versalhes, assinado no ano seguinte.
O Marechal Foch e a rendição alemã em Compiègne, 1918.

É claro que os franceses tentavam uma vingança da humilhação na derrota da Guerra Franco-Prussiana, em 1871, quando depois de conquistar Paris, Wihelm I  decidiu coroar-se imperador no Palácio de Versalhes. Quarenta e oito anos mais tarde, o Palácio de Versalhes seria usado para assinar o acordo do armistício da 1ª Guerra Mundial.

Também vinte e um anos mais tarde, em 22 de Junho de 1940, um soldado que havia combatido na 1ª Guerra Mundial, decidiu trazer a velha carruagem de Foch, e obrigou os franceses a assinarem uma humilhante rendição, exactamente no mesmo local - na floresta de Compiègne.
Adolf Hitler e a rendição francesa em Compiègne, 1940.

Serve este episódio para lembrar que a castanhada que os franceses quiseram dar, no São Martinho de 1918, teve como consequência alhos porros no São João de 1940. Pelo menos, isso foi aprendido, e se as negociações de paz em 1945 deixaram a Alemanha dividida durante 45 anos, o Plano Marshall foi pelo menos uma medida sensata e pacificadora.

Quanto à participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial, foi feita à medida do país que era.
Se o hino republicano dizia "Contra os canhões, marchar, marchar..." pois foi nessa base de "carne para canhão" que funcionou toda a 1ª Guerra Mundial. As tropas saíam das trincheiras para perecerem alguns metros à frente, em vagas sucessivas de carnificina gratuita.
Na batalha de La Lys teve um herói ocasional - o soldado Aníbal Milhais, e pouco mais.
Este pequeno apontamento faz um bom resumo:
O Aliado esquecido - Portugal na primeira Grande Guerra

É claro que estas comemorações de hoje em Lisboa, são muito mais um tónico para esquecer os problemas que sofre o exército, em especial desde o roubo de armas em Tancos. Esta é daquelas vitórias que podemos comemorar, ao contrário da conquista de Ceuta. Mesmo que o politicamente correcto aconselhe Macron a não humilhar Angela Merkel com uma parada militar, parece que o mesmo decoro foi esquecido aqui. Diz-se, enfim, que Macron quererá também evitar falar de Pétain, que de herói da 1ª Guerra Mundial, passou a traidor na 2ª Guerra Mundial, por ter negociado a paz com os alemães. Ficamos à espera da comemoração dos 150 anos do fim da Guerra Franco-Prussiana, para saber se as comemorações se reduzem à única guerra com vitória francesa.

Ainda que o Corpo Expedicionário Português tenha envolvido mais de 50 mil homens, na 1ª Guerra Mundial não havia propriamente uma guerra de ideologias em curso, como aconteceu na 2ª Guerra Mundial. Apesar da maçonaria ter conseguido envolver o mundo inteiro no conflito, não passa de muito mais do que da afirmação de uma seita, que não pode ser assumida como tal, para entendimento público.

2 comentários:

  1. Diria que há uma memória de guerras passadas no ADN de certas pessoas, bárbaros contra o império, ou melhor druidas contra Roma, civilização da árvore contra a da pedra, prefiro a árvore,

    vivi a minha infância e adolescência na D. Carlos I, vi muita coisa, de paradas a Salazar a cercos da Assembleia pelos comunistas, duma magnifica parada em toda a avenida duas alas com os quatro ramos do exército a receber Salazar, fica na memória duma criança de uns seis anos, me interrogava porque pouca gente vivia nessa avenida, dizia-se que tinham ido para as colonias,

    do poder rigor aparente nessa parada sai aos meus olhos que os soldados não eram de chumbo, um magala teve de deixar a G3 para ir a correr às casas de banho do jardim em frente, e o rigor fica no fim do desfile tachado com avaria duma mota da escolta de Salazar com um dos poucos populares a empurrarem…

    gostaria de ter estado em Lisboa a assistir ao desfile de 2018, cinquenta anos passados,

    cem anos depois da tragédia de batalha de La Lys as tropas portuguesas estão em guerra pela França em Africa a defenderem seus interesse geopolíticos, mais uma vez… e miseravelmente equipadas, não se compreende que o presidente da república diga que “recusa Forças Armadas ao serviço de jogos de poder”,

    um mesmo Marcelo a prestar homenagem no Cemitério Militar Português de Richebourg, onde nem sabem ao certo quantos soldados portugueses lá estarão enterrados, Marcelo dá honras de vive la Françe a um Macron en marche, triste sina

    Cumprimentos de Genebra
    e desejo https://www.youtube.com/watch?v=uxXFWFGJ-vc

    José Manuel

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    1. Bom dia, José Manuel.
      Não me lembro de uma única vez que a França tenha tomado o lado português.

      Será isso natural, por via da aliança antiga com a Inglaterra? Parece que vai um pouco além disso, mesmo que não haja nenhuma animosidade entre os dois países.

      Tentou-se disfarçar o assunto com o apoio de Mitterrand à entrada na CEE, como se isso tivesse sido positivo, e vê-se que a longo prazo não foi. Fechou-nos como marginais numa Europa central, enquanto fora dela estaríamos numa posição central a nível mundial.

      No caso da 1ª Guerra Mundial, fomos defender os franceses da invasão alemã, por pressão do Grande Oriente Lusitano, filial do Grande Oriente Francês. Como mesmo assim mantínhamos respeitinho à Inglaterra, aguardámos a ordem de chamada até 1916.

      É importante lembrar esse cemitério português de Richebourg, na Picardia, com 1500 mortos identificados, e uns 250 por identificar.
      Fomos parar a La Lys, na região francesa da Picardia, e vejamos a definição de "picardia":
      - Maldade; ação perversa; em que há ou expressa crueldade. Logro; comportamento da pessoa que busca enganar e iludir.

      Por acaso, até estava perto de Lisboa, estive em Paço de Arcos nesse fim de semana, mas não tive nenhum ensejo de ver desfilar uma "amostra de exército".
      Como diria Ferrer, o líder da Costa Rica, que aboliu o exército em 1948 - as forças armadas de pequenos países destinam-se mais às guerras internas do que à defesa de inimigos externos.

      Quer agora Macron fazer o "exército europeu" contra a Russia, China... e EUA:
      https://www.independent.co.uk/news/world/europe/emmanuel-macron-european-army-france-russia-us-military-defence-eu-a8619721.html

      Só faltou incluir o Reino Unido, que agora já não é membro da UE!
      Portanto, estamos de novo a ser convocados para La Lys... pelo "Grande Oriente".

      Conforme diz, calhou-nos esta triste cena, mas não a vejo como triste sina... simplesmente estamos numa época de transição. Ninguém faz ideia é para onde transitamos, porque a tendência da estação é a total estagnação, ao estilo medieval.

      Abraços.

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