Alvor-Silves

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Números em Éfeso

Há uns tempos fiz uma visita turística às ruínas de Éfeso, e este era o aspecto geral das ruínas da antiga cidade grega, focando em especial a "reconstruída" Biblioteca de Celso (à esquerda), e que era considerada a terceira maior do seu tempo, após Alexandria e Pérgamo.

 As ruínas de Éfeso, com a Biblioteca de Celso. 

Não se tratando de um blog de trivialidades históricas, ou de viagens, vou deixar os detalhes de parte, exceptuando dois.

- O primeiro é que entrámos 10 Km no interior da Turquia, para reencontrar esta cidade "costeira", que tinha um dos maiores portos da Antiguidade... e isto é mais uma, das dezenas (ou talvez centenas) de situações, em que se evidencia como na Antiguidade o nível do mar seria mais alto!

- O segundo detalhe está explicado em duas fotos que tirei a uma mesma pedra, no exterior. 

A pedra estava junto a várias outras, sem nenhuma identificação especial, parecendo ser restos por classificar, da exploração arqueológica. 
Pedra em Éfeso, com os algarismos 6 1 numa face...

... e com os algarismos 7 3 na face oposta.

Ora, o detalhe interessante é que ao contrário das restantes pedras, que tinham inscrições especialmente em grego, ou romano, esta pedra tinha grandes algarismos, com os números 61 e 73, numa inscrição que seria mais própria de ter sido feita no Séc. XX, do que em tempos antigos... 

Pior, se tivesse sido feita em tempos antigos, teria que ser no tempo de domínio árabe, já que o sítio foi completamente abandonado depois da invasão otomana, no Séc. XV, e não se notavam nenhuns símbolos, de presença árabe, ou otomana. 
Não consegui saber mais nada sobre a pedra, mas também não me preocupei em saber... poderia ser uma pedra colocada para marcação das escavações arqueológicas recentes - o que seria o mais natural como explicação, mas que não justificaria o destaque dado à pedra naquele conjunto, nem justificava a degradação da pedra.

Assim, ainda que tivesse arrumado o assunto, não deixei de o guardar na memória, como "oopart" , até porque esta questão já não era nova na minha opinião...

A questão é que os algarismos que usamos parecem ter uma lógica intrínseca, podendo representar o número de ângulos formados pelas linhas - ou seja, o 1 sinaliza 1 ângulo, o 2 pode significar 2 ângulos, o 3 relacionar 3 ângulos, e até o 4 invoca 4 ângulos... 

A razão desta observação, prende-se com o símbolo de 1 ser diferente do simples traço I que era usado pelos romanos, e a conclusão segue normalmente até ao 4, mas não extrapolei assim para 5 e seguintes (aqui o 7 e 9 parecem-me extremamente forçados) - simplesmente os restantes poderiam ter mudado de forma, ou de posição.
O ponto engraçado era o mesmo - o zero seria uma bola - zero ângulos!

Ainda que seja incerta a origem desta conjectura, o proponente que vi associava esta representação aos fenícios... algo que contraria a teoria habitual sobre a numeração fenícia, e que fica sem ter outra justificação, que não seja uma conveniência própria. 

Também não é habitual ver-se uma distinção entre as 12 letras que são feitas sem traços redondos:
 - AEFHILMNTVXZ
e as 11 letras que usam traços redondos:
 - BCDGJOPQRSU
... considerando as 23 letras do alfabeto português tradicional.
Múltiplas coisas podem ser ditas, querendo especular sobre o assunto, mas não interessa estar a especular sobre coisa nenhuma, sem que se veja alguma razão ou sentido nisso.

Os números hindo-árabes
Não é difícil encontrar derivações que fazem os números aparecer, desde um sistema Brahmi até à forma ocidental que eles hoje têm... Deve notar-se que há mesmo entre os árabes diferenças significativas, consoante estejam a Ocidente ou a Oriente da Líbia.

Evolução dos números hindo-árabes até à forma ocidental (wikipedia).

Um caso típico será um telefone egípcio que irá apresentar dígitos em árabe, que são bastante diferentes daqueles a que chamamos "árabes" no Ocidente.
Dígitos/algarismos árabes num telefone egípcio actual.

Portanto os Algarismos (nome devido ao matemático persa Al Guarismi, Al Khwarizmi, Séc.IX), terão tido diversas variantes, sendo claro que nessa versão oriental, os três primeiros dígitos seguem uma lógica do número de vértices na parte superior da letra.

Sendo Éfeso uma cidade grega na costa turca, o seu sistema numérico era esperado ser semelhante ao grego, que depois influenciou o romano. Ou seja, seria uma numeração baseada no valor das letras, e se tal podia ser prático, também poderia levar a confusões desnecessárias.
Não me parece nada impossível que, comerciantes mais pragmáticos, como eram os fenícios, ou os gregos, necessitassem de outro tipo de numeração mais eficaz. Tal seria possível de ocorrer em qualquer cidade, e Éfeso seria apenas um possível exemplo.
Da mesma maneira que as letras latinas chegaram até hoje sem qualquer alteração significativa, seria possível que um conjunto de dígitos viesse a ser guardado até que houvesse autorização para ser usado de novo!
Claramente que a matemática grega estava desenvolvida a um ponto tão avançado, que só por teimosia ou feroz proibição, não iriam preferir usar uma representação posicional, como o fizeram os Caldeus ou Babilónios.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Almadraba de Cadiz

Numa gravura do Séc. XVI, de Georgius Houfnaglius, podemos ver as "Torres de Hércules":

"La muy noble y muy leal ciudas de Cadiz" por Georgius Houfnaglius (Séc. XVI), com as duas Torres de Hércules.

Legenda: 1- Mar Oceano, 2 - Sant Sebastiano, 3- Santa Catherina, 4- Torres de Guardia, 5- Yglesia Maior, 6 - Castillo;
7- Puerta del Muro, 8- Camino para la ysla, 9- Puntal, 10- Goertas de Safia, 11- Arenas, 12- Torres de Hercules;
13- Stanca, 14- La Baija, 15- Los puercos, 16- Tierra firma d'España, 17- Punta de Sant Lucar, 18- Scipiona;
19- Rotta, 20- Sant Catalina, 21- Pa barra, 22- Puerto Sta Maria, 23- Mar Oceano, 24- La Ysola.

As torres não exibem nenhuma dimensão impressionante, e aparecem aqui a enquadrar ou limitar uma "almadrava", técnica da pesca de atuns. Usamos também a expressão "armação" como em "Armação de Pêra", para designar essa pesca com rede, que redunda numa matança dos animais encurralados.

Relevam para este assunto, textos aqui publicados:
mas esta gravura é curiosa por englobar dois aspectos de tradição antiquíssima - por um lado, a almadrava enquanto armação para "pesca em massa"; e por outro lado as Torres de Hércules.

Conforme já referimos nesses textos anteriores, não restam vestígios ou sinais de quaisquer Torres de Hércules em Cádis. No "maremoto" cultural que ocorreu com o Terramoto de 1755, o que restou de vestígios da primeira torre, passou a ser designado como "Torregorda", e ainda assim encontramos apenas esse nome numa praia.

Mapa de Cádis com o local onde se erguia uma das torres, notando que a paisagem, 
que vemos na gravura acima, estaria orientada para a cidade de Cádis, seguindo o istmo de terra.

Na gravura, a presença de homens em ambas as torres parece indicar uma altura que estaria entre os 10 e 20 metros, e a utilidade das torres parecia aqui muito ligada a esta pesca de atum, ainda que possa não ter sido esse o propósito inicial da sua construção. E também não é nada claro que estas duas torres fossem ou não as chamadas Colunas de Hércules.

O nome Torregorda liga-se a Montegordo, pelo sufixo "gordo", e devido à história dos pescadores de atum que viram as suas cabanas incendiadas pelo Marquês de Pombal, que os queria empurrar para a nova Vila Real de St. António.

Nota: Ainda procurei alguma referência a um "Monte Hércules", sem sucesso... mas curiosamente em 1873, devido a uma descrição falsa de um capitão J. A. Lawson, sobre a Nova Guiné (ver pág. 22), acreditou-se existir aí uma montanha com quase 10 Km de altura, e assim maior que o Everest. Só passadas uma década tal pretensão foi declarada falsa.


Adenda - Dolmen de Poitiers
Ainda do mesmo autor, G. Houfnaglius, não deixa de ser curiosa uma figura que traz de um antigo dólmen às portas de Poitiers (França), onde se vêem vários sujeitos a deixarem marca da sua passagem:

Actualmente este dólmen "pierre levée" ainda sobrevive, junto a uma estrada de Poitiers, mas apresenta a pedra superior partida (ver megalithic.co.uk)

domingo, 18 de fevereiro de 2018

do Sótão (10) «Ré vista (5) ...»

Disse há pouco tempo, num comentário, que a linguagem servia para a compreensão e entendimento humano, e não para o contrário.
- No entanto, como conjugamos isso com todo o desentendimento que se propaga por sua via?
... e falamos de conflitos, que muitas vezes passam de guerras de palavras a guerras efectivas!

Surge este assunto a propósito de um texto que seria o 5º da série "Ré vista", e que não concluí.
Aliás, nunca mais escrevi nenhum texto para essa série, e esta foi só uma razão parcial para isso.

O propósito da série era rever, ou seja "re-ver", ver a ré, ver de novo o que tinha ficado escrito atrás.
O último texto tinha sido o Ré vista (4) escrito no mês anterior, onde tinha ficado no 19º tópico aqui publicado em 2010 (... e ainda bem que não prossegui porque já está a chegar aos 500 textos)!

Bom, e conforme é fácil ler no que se segue, ao rever o 20º texto, um comentário de Maria da Fonte, fez-me coincidir referências a "Cruz", com a notícia da morte de Paulo Cruz, alguém que aqui comentara extensivamente.
Essa coincidência fez-me parar, e ali parei a série "Ré vista".

Também se pode notar que o texto se inicia com uma referência ao ex-primeiro ministro que acabara então de ser detido e constituído arguido... mas esse é um detalhe insignificante.

Coloco aqui ainda outro texto, que não tinha título, e ficou igualmente pendurado nessa altura. Seria o início de uma abordagem genérica a "muros e barreiras", numa perspectiva meio ética e filosófica. Não me lembro se na altura já se falava dos muros que a Hungria veio a construir em 2015, para evitar o acesso dos refugiados. Mas não era nada de novo... a imperial Espanha há muito que os erguera para proteger os seus dois resquícios africanos, e assim não se sentir humilhada pela posse de Gibraltar, pela imperial Inglaterra.

___________________  26 de Novembro de 2014  ________________

Dado o assunto do momento, o título apropriado por esta altura seria mais do género "Réu visto" e não tanto o feminino "Ré vista". Porém aqui a ré é da rectaguarda, no sentido da ré que te aguarda, ou da ré que te a guarda.

(020) West fall é capaz de ser o primeiro dos textos "complicados". Porquê? 
Para perceber isso, veja-se o comentário da Maria da Fonte que ali está:
E se a Cruz tiver outro significado?
Se for o símbolo de uma Herança Ancestral.
Nefer, era representado com um Coração estilizado em coração de cordeiro, cravado numa Cruz, colocado sobre a Traqueia.
Se a Cruz for o símbolo da Voz, do som das ideias? (...)
O significado que tinha na altura fica agora diferente, depois da passagem tempestiva do Paulo Cruz por este blog. Repito que as coincidências são o que são, estamos educados para não lhes dar importância, mas por vezes elas aparecem, desafiantes.


___________________  10 de Novembro de 2014  ________________

Um muro evidente em Melilla (foto de J. Palaizon)

A postura local leva rapidamente a um erguer de muro.
O muro protege o adquirido, mas não deixa de ser um simples muro.
O muro pode ser físico, herança de um arremesso hispânico à costa marroquina, onde o Duque de Medina-Sidónia quis imitar os portugueses na Seta africana.
Porém Melilla não era Ceuta, e por isso esta Seta era a verdadeira Cepta.

Barreira
Qualquer barreira entre corpos, ou é indetectável, e a sua existência é desconhecida, ou é detectada, e a sua existência é questionada.
- Há a ilusão habitual de que o questionar barreiras arbitrárias pode ser evitado.
- Não pode.

A perspectiva local é intrinsecamente ignorante do contexto global. É uma visão exacerbada do "eu" que, ainda que preze o "tu", despreza o "ele". Respeita os segundos, para definir terceiros.

Só que esta visão de grandeza é tão pequenina, tão pequenina, que mete dó... porque os terceiros são sempre a parte monstruosamente maior, aliada de todo o caos universal.

A redução, ou controlo, dos efeitos caóticos é um rotundo nada, porque ou seca a fonte caótica, e congela toda a inspiração, ou a deixa solta, e nesse caso é incapaz de controlar o caos.
É algo triste ver a mediocridade reinante, tão presa à visão pequena do seu enorme umbigo.

Definida uma barreira, a questão universal inevitável é - quem fica de um lado e quem fica do outro?
A arbitrariedade da escolha é a arbitrariedade da barreira, e carece de fundamento.
Não há herança, só há errança, num acaso e espasmo temporal.
A existência de semelhantes, invoca um princípio de reflexão inevitável:
- Colocados uns no lugar de outros, o que fariam esses de diferente face a estes?
Fariam pior... sim, talvez o mesmo.

A lógica que preside à construção da barreira actua com a mesma arbitrariedade na sua destruição.

Interessa avaliar a sua estrutura moral, ou seja, até que ponto resiste à tensão dos desequilíbrios que traz consigo. Trata-se de uma simples questão física, onde a temperatura financeira aparece quase em razão inversa da temperatura climática. Os pontos mais quentes estão localizados nos centros financeiros, e os pontos gélidos estão dispersos pela restante parte subdesenvolvida.
Assim, a termodinâmica financeira, acentuadas as diferenças, exerce um fluxo natural dificilmente separável por um simples muro.
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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

do Sótão (9) «Trópico de Cancer»

Ainda em 2014, deixei por publicar este texto acerca do "Trópico de Cancer", na altura do solstício de Verão... se bem me lembro, foi apenas porque demorei a escrevê-lo, e não o completei.
Tem uma informação interessante acerca da história da Ursa Maior que considerei semelhante ao desenho na caverna da Crimeia.
No entanto, não terei dado a isso relevo suficiente, e no mesmo dia publiquei um texto
sobre a ridícula "estória" que o Canal História trazia nessa altura.

_____________________ 25 de Junho de 2014 __________________

O Zénite é o ponto no céu tirado acima da cabeça do observador. A trajectória solar atinge o seu ponto mais elevado ao meio-dia, mas nas zonas não tropicais o Sol nunca atinge o zénite.
Os trópicos delimitam assim a zona tropical, onde a sombra pode desaparecer... quando o Sol está a pino.

Trópico de Cancer é a linha limite norte - no dia de solstício de Verão a sombra fica na perpendicular, dando ideia de desaparecer em qualquer relógio solar. Como podemos ver na figura seguinte, e porque há sempre imprecisões naturais e mínimas, a linha tem-se deslocado aproximadamente 15 metros por ano em direcção ao equador:
Marcação anual do Trópico de Cancer (México)

De forma semelhante, o Trópico de Capricórnio assinala o limite sul, no solstício de Inverno, e entre os dois, passará pelo Equador nos equinócios.

Acima do Trópico de Cancer, no hemisfério norte, o meio-dia aponta sempre a sul, de onde em latim "meri-dies" originou a palavra meridional para sul, tal como setentrional se associava às sete estrelas da Ursa Maior, para indicar o norte.

Várias notas acerca disto. 
O Cabo Bojador é um ponto relevante na costa africana antes de passar o Trópico de Cancer. 
A partir daí, o meio-dia, que indicava o sul, podia aparecer a norte, e a sombra poderia desaparecer... alguns temas que poderiam fazer as delícias metafísicas da Idade Média. Já antes disso, Eratóstenes usara o fenómeno para medir a circunferência terrestre, com uma distância e simples trigonometria.
Por outro lado, esta indicação latina especificava bem o que era norte e o que era sul, e associação das Sete Estrelas à Ursa Maior não remete para nenhuma alteração significativa da posição das estrelas e do norte. A menos que as Sete Estrelas passassem a ser as Pleiades... e que a Estrela Polar fosse uma Estrela "Pular"... que então pulara para norte.
Ainda que nada disto bata certo, não deixam de ser muito estranhas as orientações sugeridas por Plínio ou Estrabão para a localização dos pontos geográficos da península ibérica, que parecem invocar uma posição menos correcta dos pontos cardeais, como os entendemos hoje. Porquê hoje? Porque falar em nascente poderia não significar Leste, mas sim sudeste, já que só nos trópicos o Sol nasce mesmo a Leste, acima do Trópico de Cancer o sol vai nascendo cada vez mais a sul.

No sentido de não ter havido grandes diferenças até ao tempo greco-romano, há a referência habitual à Odisseia, onde se terá dito que as Sete Estrelas eram a única constelação que não mergulhava no Oceano... e isso só é verdade acima do Trópico de Cancer. Portanto, a ida para paragens a sul tinha este aspecto de perder as referências habituais de navegação... mas que seria um problema muito ligeiro, já que outras referências se estabeleceram sem problemas - nomeadamente o Cruzeiro do Sul.

Ainda sobre este assunto, e a propósito da Ursa Maior, encontrei esta referência na wikipedia:
«Using statistical and phylogenetic tools, Julien d'Huy reconstructs the following Palaeolithic state of the story: "There is an animal that is a horned herbivore, especially an elk. One human pursues this ungulate. The hunt locates or get to the sky. The animal is alive when it is transformed into a constellation. It forms the Big Dipper".»
Esta descrição é curiosa porque, sendo mero resultado de análise de lendas "paleolíticas", a descrição de uma caçada a um veado, ou outro grande herbívoro com chifres, e a sua relação com um fenómeno celeste, enquadra-se perfeitamente na história que se subentende da gravura rupestre na gruta da Crimeia, conforme detalhámos no fim de um texto anterior "à volta do Mar Negro".
Bom, mas se há registos de lendas que associam a constelação a veados ou a touros, a principal que herdámos é grega e associa a ursos, nomeadamente à mãe Calisto e ao filho Arcas, imortalizados no céu como ursa maior e urso menor...
Assim, dando crédito a que sejam as mesmas estrelas, a disposição estelar, ou a posição orbital da Terra, não se teria alterado significativamente desde o final do paleolítico, pelo menos... (uma outra curiosidade é que a Estrela Polar, apesar de pouco brilhante, é afinal a mais brilhante das estrelas variáveis cefeidas).

A existência de desertos na zona do Trópico de Cancer marcava ainda o antigo limite romano do "mundo habitável".
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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

do Sótão (8) «Alternativa (4)»

Há 4 anos atrás, no início de 2014, escrevi aqui três textos que fizeram sentido para estabelecer uma eventual "Estória Alternativa":


não publiquei o quarto texto, ou antes, acabei por publicar uma outra versão dele em 2016:


Fica aqui o rascunho que comecei, para o que iria ser o quarto texto, mas que nunca acabei por publicar, simplesmente porque a tarefa ficou demasiado complicada, para não ser apenas uma "estória"...

_________________ 19 de Janeiro de 2014 ________________

Escritas
O nexo histórico só começa a ser escrito consistentemente no 1º milénio antes de Cristo. Antes disso há as referências mesopotâmicas e egípcias, mas são interpretações por tradução conveniente feita no Séc. XIX.
É preciso notar que o registo egípcio e mesopotâmico estava praticamente perdido até essa altura, e nem tão pouco havia mitos reportados no ocidente (o movimento anti-Beroso-Viterbo tinha desacreditado muitas teorias não bíblicas). Como vimos, as primeiras imagens das pirâmides são feitas por viajantes isolados, apresentando contrastes face ao depois reportado por Napoleão.
Para além dos disparos contra a esfinge, e um desbaratar de achados transportados para França, é nessa expedição que a Pedra de Roseta leva à tradução de textos egípcios. Pouco depois, pelo lado inglês, é feita a tradução de inscrições cuneiformes sumérias.
Em poucos anos, no início do Séc.XIX, já se começa a fazer nova história com traduções de hieróglifos e inscrições cuneiformes. A tradução egípcia foi proeza exaltada, e no entanto a solução foi quase imediata ao problema, consensual. Mas, vejamos diversas formas de escrever Set (o deus que se opôs a Hórus)

Portanto, temos aqui três conjuntos, completamente diferentes, supostamente representando o mesmo nome (com a posterior identificação a Tot, juntam-se pelo menos mais dois). A isto, acresce uma certa compressão evitando as vogais, que veio a acontecer em muitas escritas (por exemplo, hebraico, abreviaturas romanas).

É habitual ver dúvidas sobre interpretações de textos em latim e grego, onde muita gente conhece as línguas, e é muito menos frequente ver dúvidas sobre textos sumérios ou egípcios... onde a incerteza seria enorme.
Como dizia Disraeli, acrescia haver mais que uma interpretação sobre os hieróglifos. Uma do conhecimento da escassa população letrada, outra apenas do conhecimento sacerdotal.
Qual tem sido traduzida? O que concluir?
Devemos continuar a usar primordialmente a tradição vinda pelos textos greco-romanos.
A outra sofre do método educacional. Quem ensina, condiciona a interpretação. Se há dúvidas remete-se sempre para o topo, onde prevalece a hierarquia... o antigo aluno raramente questiona os mestres.
Depois, tratam-se de profissões, onde ninguém quer ser desacreditado ou ridicularizado pela comunidade, logo é melhor concordar do que discordar. Tudo razões para não tomar "demasiado à letra" o que resulta dessas traduções modernas... e que trouxeram reinos perdidos pela história, como os Hititas.
O reino hitita, apesar da enorme influência hoje atribuída, só foi "desenterrado" no Séc. XIX.

Portanto, não se trata de duvidar por duvidar, porque certamente um nexo de tradução foi encontrado.
Só que o nexo encontrado foi também o que se quis encontrar, o que se ajustou a muitos factores, uns mais subjectivos que objectivos. O amador quando encontra uma inscrição envia para tradução, raramente arrisca traduzir juntando os hieróglifos. Porém, se repararmos nas traduções que são feitas, podemos ver que dificilmente se trata de uma ciência muito exacta... 
Não falamos do registo chinês, supostamente bem mais antigo e bem melhor guardado, mas igualmente envolto em incerteza e secretismo.

O Egipto, sendo a grande referência do mundo antigo, merece alguma atenção especial.
Preferia não entrar em detalhes, alguns já mencionados, mas podemos olhar para este caso especial, indo de novo à época do dilúvio. Este dilúvio é também chamado de Ogyges, o que é um nome grego para Oceano, mas também se liga a um rei mítico de Tebas.
Surge aqui uma das confusões entre a Tebas grega e a egípcia, até porque o início faraónico começa na zona de Tebas, em Abidos.
A versão oficial aponta para um faraó Ro (ou Iry Hor), denominado companheiro de Horus, sendo que na mitologia ibérica Horus correspondia a Hércules Líbico... que depõe os Geriões. Nessa versão, este Hércules tinha sido antecedido por Júpiter, a que os egípcios chamariam Osíris, cujo filho seria Hórus, que irá eliminar Seth, tal como o correspondente Hércules eliminaria o Gerião.

Há assim analogias não negligenciáveis nesta parte inicial, também com Tot e Mayat, cujo nome não se deixa de associar a Maia, mãe de Hermes, explicitamente associado a Tot em Hermopolis. O culto de Tot associado a Hermes Trimegisto será intenso no período ptolomaico, de fusão cultural.
Há ainda uma história egípcia com Ka e com o mítico Rei Escorpião...

A queda de Tróia poderá ter sido o equivalente à queda de Roma. 
Após o período destabilizador com os povos do mar, semelhante às invasões bárbaras, a zona mediterrânica e europeia terá entrado num longo equilíbrio, semelhante a uma Idade Média. 
Nessa época o foco religioso foi o Egipto, especialmente Heliópolis, que faria o papel de controlo papal, semelhante ao que se fez em Roma depois. Continuava o poder militar na Mesopotâmia, sempre pronta a intervir e a invadir até mesmo o Egipto.
A situação geográfica seria praticamente a mesma antes e depois da Guerra de Tróia, mas com novos acordos de paz, mais estáveis, entre as elites sacerdotais. A Europa continuaria raptada, com controlo pelas cidades e reinos da Ásia Menor, havendo alguma liberdade de navegação em Tarsis, e por extensão com os fenícios do Líbano, que se encarregariam de navegações purpurinas, para além das colunas de Hércules. Autorização semelhante conseguiria Salomão e os hebreus, também com um entreposto na Ibéria. Os gregos, apesar da sua vitória, saíriam menos bem, ficando espalhados pela costa e ilhas do Mediterrâneo. A aliança de Agamémnon desvanecer-se-ia após o fim de Tróia.
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sábado, 10 de fevereiro de 2018

A braça e a brasa, abraça e abrasa (2)

O brasão e o braseiro - a brasa e a braça
Ainda que a etimologia seja uma espécie de "ciência oculta", remetida a diversos segredos e especulações convenientes, é um bom exercício remeter as palavras às suas sílabas.
Protesto contra ferrar animais.
Neste caso, é interessante especular sobre a semelhança dos termos "brasa" e "braça".
A conjectura é simples... as palavras podem ser semelhantes, porque referiam colocar uma brasa num braço. Recentemente, em protestos contra marcar os animais com brasas, houve activistas que aceitaram ser marcados no braço com uma brasa. 
Um brasão diferente, mas igual noutro sentido... os escravos, na Antiguidade, e na Idade Moderna, eram muitas vezes marcados com ferros em brasa, especialmente em caso de fuga. Um local de fácil observação, menos escondido por roupa, seria justamente o braço.
Por coincidência, em inglês, "arm" tanto significa arma como braço. A derivação enquanto arma é latina, e enquanto braço será germânica. Curiosamente, brasão diz-se "coat of arms", e essa cota de armas também pode ser entendida como uma "malha no braço", uma espécie de insígnia, que de ser marca de escravos, passou a ostentação militar ou burguesa. A semelhança inglesa entre braço e arma faz ainda sentido, já que os braços foram uma primeira arma.

De forma genérica a sílaba "bra" remete ao braço, sendo claro que esta suposição parece ligeira, e mais, é gratuita. Porém vendo palavras como "dobra", notamos que o dobrar é típico do braço; e a própria "quebra" ocorre como um dobrar do braço. Tal como a primeira "obra" terá remetido para trabalho braçal; ou ainda "abra", se entendermos que um "abraço" começa por um abrir de braços.  Depois podemos até entender que "bradar" não seria mais do que "dar aos braços", ou que "vibrar" seria um "vi braço" - a acenar, a mexer. Poderíamos ir até à "cobra" na forma e flexibilidade do braço, ou num braço que cobre, mas dificilmente chegaríamos a conexão com "cabra". No entanto, apesar de parecer mais um exercício de imaginação, não é difícil imaginar que "bravo" seria o que avançava, confiante nos seus braços.

Feita esta pequena introdução, continuamos com os brasões de mais três vilas:
- Alenquer, Almada e Almeida.
Nalguns casos já vimos estas vilas serem mencionadas por João de Barros, mas aqui iremos concentrar-nos no que Vilhena Barbosa diz no seu livro.

Antes de especificar cada vila, notamos que o antigo brasão é diferente nestes três casos, também no que diz respeito ao nicho superior. Nos três brasões das vilas anteriores era sempre uma vieira que se enquadrava no nicho superior. Aqui isso só acontece com Alenquer, já que Almada tem uma coroa imperial fechada, e Almeida uma coroa real aberta... o que pode indiciar uma origem mais recente para ambas, que não é remetida à Antiguidade.

ALENQUER
Invocando uma lenda sobre D. Afonso Henriques e um cão de nome Alão... Vilhena Barbosa, diz que as armas da vila são "em campo de prata, um cão pardo preso a uma árvore com um grilhão de oiro".
Temos uma substancial mudança para o actual, onde o cão passou a negro, está em campo de ouro (amarelo), não há grilhão nem árvore, passando a haver um castelo azul. A página da Câmara de Alenquer explica o brasão actual de 1936, e menciona o de Vilhena Barbosa.
Acerca da toponímia, Vilhena Barbosa refere a ligação à romana Jerabriga, mencionada por João de Barros, e que o nome lhe poderia advir dos Alanos, enquanto Alan-Kerke, significando "templo dos alanos", ou dos Suevos, como Alankerkana
Como já aqui mencionei num comentário, gosto da possível ligação dos Alanos no nome Alancastro (castelo de Alanos), e também o Calisto fez referência aos Alanos nas tropas do rei Artur. Há ainda a referência ao cão Alano (alaunt), mesmo que Vilhena Barbosa diga que o símbolo alano seria um "gato" que, de ser toscamente representado, parecia um cão.

ALMADA
Aparentemente a origem de Almada é "recente", e Vilhena Barbosa diz: "não conserva esta povoação padrão algum da sua antiguidades, mais do que tradição e memórias. Do castelo que os ingleses aí levantaram no Séc. XII não restam vestígios." Quer no brasão antigo, quer no actual, um mesmo castelo, que invocará o edificado pelos cruzados ingleses que ajudaram D. Afonso Henriques.
Quanto ao topónimo, a origem seria "Al Maden", nome de uma povoação árabe arrasada na conquista cristã, nome que os ingleses aí estabelecidos teriam mantido, segundo Vilhena Barbosa.
Em Espanha há uma cidade de nome Almadén, que tem o nome resultante de "al ma'din" referindo a mina, a maior do mundo na produção de mercúrio líquido. O mercúrio tornou-se importante na extracção do ouro americano, formando amálgamas que permitiam retirar o metal da escória. Não sei se assim podemos falar num paralelo com Almada. Uma outra raiz, "al madina" (a cidade), de onde surge Almedina, ou Almadina, também se poderia ajustar ao topónimo.
Vilhena Barbosa refere um incidente notável, de Frei Luís de Sousa (Manuel de Sousa Coutinho), que teria incendiado a sua casa, para não servir de habitação aos governadores espanhóis que em 1599 pretendiam aí refugiar-se da peste que atingia Lisboa.
Refere ainda a "Torre Velha", uma fortaleza oposta à Torre de Belém, que funcionaria a par desta.
Torre Velha e Torre de Belém num mapa inglês de 1810.

ALMEIDA
As armas de Almeida são remetidas a D. Manuel, nomeadamente a sua esfera armilar. Vilhena Barbosa, diz: "As armas de Almeida são um escudo com as armas reais, sendo a coroa destas aberta, ao uso antigo, e ao lado a esfera armilar, divisa d'el rei D. Manuel, que foi quem lhe deu este brasão".
Actualmente no brasão consta apenas um castelo.



Duarte de Armas - Castelo de Almeida
Sobre a origem do nome, e conforme é dito na página camarária, a origem é provavelmente árabe. Vilhena Barbosa, ou Bernardo de Brito, falam em Talmeida ou Talmayda, como significando um hipódromo (Atmeidan), ou remete-se ainda para uma "mesa", lugar plano que estaria mais a norte, num certo vale de nome "Enxido da Carça".

D. Dinis teria deslocado a povoação com a construção do castelo (que depois desapareceu numa explosão do general Massena, em 1810), mas que podemos ver num esboço de Duarte de Armas, onde a esfera armilar está como estandarte numa das torres, e a cruz de cristo, noutra.
Barbosa refere ainda as fontes termais junto ao rio Côa, a Fonte Santa (que tem hoje um moderno equipamento termal).

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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

A braça e a brasa, abraça e abrasa (1)

Inicio aqui uma digressão sobre um livro de brasões de vilas e cidades, 

publicado em 3 volumes por Inácio Vilhena Barbosa em 1860. 

Irei comparar esses com os brasões actuais (cf. wikipedia), podendo reparar em semelhanças e diferenças... conforme ilustramos com os três primeiros exemplos: 
- Abrantes, Albufeira e Alcácer do Sal.

Antes disso, começo pela etimologia da palavra brasão, que segundo alguns poderia ter uma mesma origem indo-europeia do que a palavra "brasa"... e que estará também na origem do nome "Brasil". Do que li, a opinião maioritária não será esta.
No entanto, parece-me ser uma suficiente justificação a clara proximidade do nome. Sobretudo porque ainda hoje um ferro em brasa serve para identificar a casa do proprietário de gado.
Brasão pode até ter sido o nome do ferro que tinha a marca do proprietário, e de forma semelhante o brasão de armas passou a funcionar como identificação da casa senhorial. Esta coincidência é demasiado clara e óbvia, dispensando outras teorias, com menos sentido. No entanto, como há sempre mais a dizer... guardo para o fim.
Para já, apresentamos os três brasões, antigos e actuais:

Os brasões no livro de Vilhena Barbosa (1860), e os actuais (img: wikipedia).

ABRANTES
O brasão de Abrantes não mudou. Segundo a descrição de Vilhena Barbosa - "... tem por armas quatro flores de lis, e quatro corvos, com uma estrela no meio, em campo azul". 
Vilhena Barbosa refere que Abrantes é uma das vilas mais antigas de Portugal, atribuindo a sua fundação aos "galos celtas", ou seja, à migração que os celtas teriam feito de França para a Ibéria. Chega ao ponto de estabelecer a sua fundação precisamente no ano 308 a.C. Diz ainda que foi própera durante o tempo romano, onde era chamada Tubuci (ainda que esse nome também possa ser atribuído a Tancos). 
Segundo ele, o nome Abrantes deriva de designação Aurantes que os godos lhe teriam posto, devido ao muito ouro que aí se recolhia das areias do Tejo. Desse nome Aurantes teria havido corrupção para Avrantes e depois Abrantes. Acrescenta que no tempo de domínio árabe seria chamada Libia
A Câmara Municipal investe numa lenda local brejeira, para a origem do nome...
Vilhena Barbosa justifica o brasão com a vinda de um cruzado francês (flor-de-lis, azul) para a conquista de Lisboa aos mouros, e que com D. Afonso Henriques participou na recolha do corpo de S. Vicente (corvos). O rei teria-o colocado como alcaide-mor de Abrantes, e isto praticamente justifica o nexo do brasão escolhido. 

Vilhena Barbosa menciona aqui o episódio trágico-romântico de Guiomar Coutinho, uma rica herdeira, filha do Conde de Marialva, que se envolveu primeiro com o Marquês de Torres Novas, João de Alemcastro, filho de D. Jorge (e assim neto de D. João II), mas que depois se veio a casar com o infante D. Fernando, filho de D. Manuel, e Duque da Guarda. O episódio terminou com a morte dos dois filhos, do infante, seu marido, e dela própria, todos falecendo no ano de 1534. O drama de Camilo Castelo Branco - "O marquês de Torres Novas" aborda esta tragédia.

ALBUFEIRA
Situação oposta é a de Albufeira, em que o brasão mudou por completo. Segundo Vilhena Barbosa - "O seu brasão d'armas é uma vacca de oiro em campo azul." A página da Câmara Municipal não acrescenta razão para a mudança, mas confirma que a "vaca de oiro em campo azul" constava das ordenações filipinas, e simbolizava uma abundância de gado. Apresentam um brasão antigo com orientação para leste, diferente da orientação para oeste, usada por Vilhena Barbosa. Poderá haver alguma semelhança com o brasão de Atougia da Baleia, que já aqui foi mencionado.
Quanto à toponímia, Vilhena Barbosa diz que o nome de origem romana seria Balium, e com a invasão árabe passou a ser Al Buhar, significando "o mar" (dito "al-buhayra", para "pequeno mar"... digamos que bufar seria o mar, e bufeira seria a lagoa). Referia-se a uma grande lagoa de água que o mar enchia em tempestades, ou grandes marés, e que ficava ali aprisionada. Agora essa Albufeira desapareceu, ou digamos aparece naturalmente quando há cheias e inunda a cidade... Na região de Valencia em Espanha, também encontramos uma Albufera, referente a uma mesma lagoa retendo águas.

ALCÁCER DO SAL
Salacia, mulher de Neptuno.
O brasão de Alcácer do Sal inclui agora um castelo e cruzes de Santiago, mantendo o navio (em direcção oposta) já constante no livro de Vilhena Barbosa que diz - "Tem por brasão uma nau, e por timbre as armas reais". Segundo ele, a nau referia-se à armada de cruzados que ajudou D. Afonso Henriques na conquista da cidade. Conforme já fizémos aqui referência, o nível do mar era bastante mais alto, permitindo que Alcácer do Sal recebesse navios de grande porte no seu porto até ao Séc. XVIII. E também por isso é perfeitamente admissível que a conquista de Alcácer do Sal tivesse uma forte componente marítima, conforme já abordámos, para o caso da Batalha de Ourique.
Acerca do nome, Vilhena Barbosa refere Salacia ao tempo dos romanos, referindo-se à deusa, mulher de Neptuno que, para preservar a sua pureza tinha fugido do deus dos mares, escondendo-se no Oceano Atlântico. Conforme o próprio nome indicia, a ninfa Salacia refere o carácter salino da água do mar, e assim o Sal já era carácter notório da vila em tempo romano (segundo a Câmara Municipal, teria antes dos romanos o nome púnico de Bevipo).
Vilhena Barbosa acrescenta uma lenda interessante... de uma invasão vinda do norte de África, ao tempo do imperador Augusto, chefiada por um rei de nome Bogud. Este Bogud teria saído do sul da Lusitânia carregado de despojos, após ter destruído o templo a Salacia. Porém, um forte temporal fez naufragar os navios com a pilhagem, e fez perecer a maioria do seu exército. Isto foi entendido pela população como um castigo de vingança da deusa Salacia, sendo erguido novo templo ainda maior. Augusto aproveitou para declarar Salacia Imperatoria como município romano. Em tempo romano poderá ter ficado enorme, já que alguns autores reportam 10 Km, havendo vestígios de grandes edifícios. Do nome Alcácer é fácil de entender a sua origem árabe, pois comummente "alcazar" significa castelo. Vilhena Barbosa acrescenta que em 1217 deu-se a definitiva recuperação, após curta perda, com tropas lideradas por D. Soeiro, bispo de Lisboa, e as batalhas em redor, com auxílio de tropas árabes vindas de Badajoz, Jaen, Sevilha e Córdova, terão sido tão sangrentas, que foi chamado a um local "Vale da Matança".

_________________ 03/02/2018