Alvor-Silves

sábado, 27 de janeiro de 2018

Indica! Índico. Orienta! Oriente.

Índia foi um topónimo grego relativo à região do rio Indo, até porque em sânscrito a palavra para rio era "sindo", e portanto, era praticamente a mesma (ainda hoje usada na região).
Do grego, é suposto ter passado igualmente ao latim.

Por outro lado, "indicar" tem no latim a forma "indicare" que resulta da concatentação do prefixo "in" com "dicare", que é uma forma de dizer, ditar, proclamar. Talvez devesse ser escrito em português como "inditar", e ganhou outra forma em "indigitar". Em "indigitar" vemos a raiz no digitar, no "dígito", significando "dedo". Ora, quem aponta usa a ponta do dedo "indicador".

De forma aparentemente ocasional, vemos como desde os tempos romanos havia na linguagem uma indicação que remetia a indicar o oceano Índico, ou indo para o rio Indo, a Índia de outrora, hoje Paquistão.

Noutro ponto, a ponta em apontar apontava provavelmente para Ponto, o mar, que tanto serviu como divindade marítima, precedente a Poseidon, primeiro referindo o Mediterrâneo, e especialmente o Mar Negro (Pontus Euxinus)... onde na costa norte da Turquia, se definiu o Reino do Ponto. Foi nessa direcção que partiu Jasão com os seus Argonautas, numa pretensa viagem à Pontica Cólquida que seria mais famosa na Antiguidade, quanto foi a viagem de Gama no estabelecimento da ligação à Índia, e depois a todo o Oriente.

Rosa dos ventos em Reinel -  flor de lis azul para
Norte e uma cruz apontada para Oriente (Jerusalém).
Quanto à palavra "orientar", dá a indicação do Oriente como direcção a tomar. A razão para essa orientação tem explicação numa razão de construção -  as igrejas deveriam estar dirigidas ao oriente, ao nascer do Sol, à direcção da alvorada, da aurora (assunto que já abordámos).

Neste aspecto, mistura-se com essa indicação de oriente com uma cruz nas rosas-dos-ventos, por referência a Jerusalém, indicação que passou a ser apresentada nos mapas, a partir do Séc. XVI, por directiva papal.

Oriente resulta do nominativo latino "Oriens", palavra associada a "origem", a "nascente", pelo nascimento do sol. Mas a partícula "ori" é similar a "auri", tal como em "aurora", sugerindo o elemento "ouro", do dourado brilhante das alvoradas. É natural que originalmente "hora" se referisse a essa "aura" matinal, e só depois fosse optado como medida do tempo, por divisão do dia. Fazendo notar que "aura" enquanto "ao Rá", reportaria directamente ao nome egípcio para o Sol.
Especulamos assim que, como nome mais adequado, seria "auriente".

Independentemente das razões, propositadas ou ocasionais, não deixa de ser curioso que na história nacional o verbo "indicar" indicasse o Índico, e que a orientação marítima fosse o Oriente. As palavras têm mais ligação latina, já que "nascente"/"poente" seriam palavras mais comuns, tal como "apontar" versus "indicar". Existindo já em tempo romano, essa vocação de direcção oriental estaria já estabelecida na Antiguidade.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Espada à Cinta

No mês passado, ao responder a um comentário de Gualdim, indiquei um site que me pareceu excelente a vários níveis:
ou Atlas do Sudoeste Português

É um projecto conjunto de várias câmaras do litoral alentejano, até Sagres, e reúne informação diversa, alguma arqueológica, da qual gostaria de destacar dois apontamentos que me despertaram a atenção. 

1. Pintor dos Tirsos Negros
Trata-se de um pintor do Séc. IV a.C. supostamente associado a cerâmica de influência grega encontrada perto de em Alcácer do Sal (na necrópole do Senhor dos Mártires):

Na legenda a esta figura lê-se:
Fig. 41B - Kratêr-de-sino. Cerâmica ática de figuras vermelhas, pelo pintor dos Tirsos Negros, 375-350 a.C.. Cena dionisíaca. Ménades e Sátiros. Alt.: 29cm. Diâm. máx. 28cm. Necrópole do Senhor dos Mártires, Alcácer do Sal. Colecção do Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. Cf. Pereira, 1962.
Encontramos mais informação sobre vasos gregos em MatrizNet ou em livros, após o trabalho de Helena Rocha Pereira sobre vasos gregos (aquém das Colunas de Hércules), que acerca do Pintor dos Tirsos Negros diz o seguinte acerca da cena dionísica:  «Uma particularidade que distingue o seu autor é o facto dos praticantes deste culto usarem tirsos com a parte superior escura e diferente do desenho habitual.» 
Daqui explica o epíteto "tirsos negros" dado ao pintor. Porém, a questão mais importante é o registo de pelo menos 104 peças, com motivos gregos, metade das quais completa, encontradas em 36 sítios arqueológicos. Ainda que haja quem duvide da presença grega após as Colunas de Hércules, ou seja na costa não mediterrânica, este espólio permite pelo menos assegurar que o comércio trouxe bastantes produtos com influência grega até Portugal, na Antiguidade... Ou então, existiria mesmo uma comunidade grega nestas paragens, definindo um toque diferente nas representações.
No texto "Pinha na pinha" já falámos sobre o significado do tirso, enquanto objecto conotado sexualmente no culto de Dionísio, ou Baco. É minha opinião amadora que os traços desta cerâmica são suficientemente diferentes dos traços gregos habituais, para podermos talvez considerar uma raiz autóctone diferente... Ou seja, haveria no território nacional uma comunidade que partilhava origens, tradição, e língua, com os gregos.

2. Espada à Cinta
O outro apontamento arqueológico diz respeito a duas estelas datadas c. 1300-1250 a.C., encontradas na Herdade da Defesa e na Herdade da Abela (Santiago do Cacém), representando espadas:
 
... que são descritas da seguinte forma: "espada com cinturão e idoliforme insculturados, insígnias de elite guerreira, proto-estatal".

Portanto, especialmente no segundo caso é bastante visível uma cinta ou cinturão. Temos uma espada e uma cinta, que refere provavelmente o uso da espada à cintura, e o que parece ser um copo ou bainha onde a espada poderia ser colocada, e cuja forma parece assemelhar o aspecto da cruz de Santiago... algo que seria coincidentemente apropriado à região de Santiago do Cacém, já que a Ordem de Santiago deteve terrenos nessa costa.


Como as estelas são classificadas como pertencentes à Idade do Bronze, seria de esperar que igualmente se refiram a espadas de bronze. 
Não me parece vulgar, nessa altura reportada ao período da Guerra de Tróia, este tipo de representação que envolvia o conjunto de espada, cinta, e talvez a bainha.
Parecem exemplares que sugerem uma espécie de brazão familiar, ou distintivo guerreiro, aludindo à posição militar  de uma elite poder ostentar uma espada à cintura. 

3. Freixo de Espada à Cinta
Este tipo de representação levou-me naturalmente a pensar na vila de Freixo de Espada à Cinta, cujo brazão era assim desenhado no Séc. XIX:
(ver: As cidades e vilas da monarchia portugueza que teem brasão de armas, Ignacio de Vilhena Barbosa, Volume 1, página 176, ano 1860) (ver também Portugal Antigo e Moderno de Augusto Soares)

Ora tem Freixo de Espada à Cinta uma curiosidade significativa - o seu castelo que remonta a construção ao reinado de D. Dinis apresenta uma curiosa torre octogonal:
Torre octogonal (à esquerda da igreja) em Freixo de Espada à Cinta.
... e ainda surpreendente é ter havido na vila uma tradição de produção de seda, o que levou à inauguração recente de um museu da seda. Sendo claro que Trás-os-Montes não fazia o papel da China, enquanto Rota da Seda... a introdução dos bichos-da-seda da amoreira em Portugal terá ocorrido especialmente desde o início do Séc. XIX, com foco especial na região de Freixo de Espada à Cinta. No entanto, como é conhecida a produção de seda em Itália, desde o Séc. XI, a tradição de produção de seda pode ter sido bastante anterior.

4. A localização das localidades
Algo que é significativo é a persistência das localidades. Exceptuando grandes catástrofes naturais ou sociais, que obrigam ao abandono e deslocalização de populações, do seu lugar de origem, as localidades são bastante estáveis no tempo, podendo facilmente remontar a vários milhares de atrás, na sua fundação. Não é propriamente habitual toda a população abandonar uma cidade de dimensão razoável, pelo que o lugar original pode ir-se mantendo, com pequenas alterações. Talvez a única grande excepção conhecida foi a que ocorreu aquando da Queda de Roma, em que grandes cidades foram completamente abandonadas, muito devido a razões económicas e especialmente religiosas.

Ora, o nome "Freixo de Espada à Cinta" está associado a lendas algo bizarras, e pode ter origem bem mais antiga... a um tempo em que o privilégio de andar de "espada à cinta", seria privilégio guerreiro, ilustrado em estelas, como as encontradas em Santiago do Cacém. Nem tenho razões mais fortes para suster esta hipótese, do que as restantes parecerem mais bizarras.


Estes foram só 2 dos vários motivos de interesse que podem ser encontrados no site "Atlas do Sudoeste Português".

domingo, 14 de janeiro de 2018

(Ré)prova

Recebi um habitual email do Pinterest, neste caso sobre mapas, onde constava um link para o seguinte stock de fotos (Stockfresh):

Com o título 
"#2892078 Vintage compass lies on an ancient world map
[por cookelmaANDREY ARMYAGOV, MOSCOW, RUSSIA ]", 

não pude deixar de notar que se tratava do célebre mapa exposto no Museu da Marinha, e que a ele fizémos referência, nomeadamente no texto "Prova":
Aparentemente está aí colocado desde Abril de 2013, ou seja no mês anterior a esse texto. Não deixa de ser curioso ter como palavras chave "Vintage, bússola, mentiras, antigo mapa do mundo, natureza morta".

Acresce a esta foto parcial do mapa, uma total, noutra fotografia:

Basta comparar com o mapa original, que aqui colocámos em 2010, para vermos que tudo é igual, excepto os brasões portugueses (que parecem aqui ausentes ou apagados), e especialmente nota-se um carácter de mapa envelhecido, ao ponto de ter perdido a cor original.

As fotos são produções recentes, como é óbvio, mas a questão continua a colocar-se sobre o suposto "mapa vintage"... que segundo constava tinha sido produzido pelo pessoal do Museu da Marinha em 1970. Só que essa produção não lhe tinha colocado o ar envelhecido que aqui apresenta (o mesmo ar envelhecido, que também encontrámos no pedaço de mapa sobre a Austrália, no texto "Prova").

O problema é simples e persiste... um tal mapa não poderia ter sido realizado com as explorações declaradas antes do final do Séc. XIX. Há mapas bastante precisos dessa altura, que mesmo assim mantêm dúvidas sobre os territórios mais a norte - é Amundsen que vai fazer a passagem Noroeste. Ora, isso implicaria que o suposto "envelhecimento" teria sido fabricado... além disso, as múltiplas questões já abordadas antes, permaneceriam sem resposta.

Cada um tira as conclusões devidas, apenas aqui quis deixar esta informação, que me parece bastante relevante. Pode servir para explicar de onde saiu a imagem da Austrália, que tinha servido o texto "Prova", mas não acrescenta muito nem retira nada de especial, ao que foi dito antes.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

dos Comentários (33) - um mapa de Andrea Bianco

É bem conhecido, e até reconhecido, que antes da descoberta oficial da Madeira, Canárias e Açores, existiram mapas anteriores, portulanos, onde estas ilhas estavam bem identificadas. Alguns desses mapas eram italianos, outros da escola catalã das Baleares, etc.

Surge a este propósito um email de David Jorge acerca de um mapa de Andrea Bianco de 1448, que foi interpretado como tendo uma referência ao Brasil, e que entretanto verificámos ter sido essa opinião sustentada também no Séc. XIX por H. Yule Oldham... mas sem grande sucesso.

David Jorge colocou a questão da seguinte forma:
Reportando-me a um "capitulo" interessante na história da descoberta do Brasil, a certa altura e sobre o que "descobrira", Mestre João Farás, piloto da Armada de Pedro Álvares Cabral escreve para D. Manuel I o seguinte: "Quanto, Senhor, ao sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapamundi que tem Pero Vaz Bisagudo, e por aí poderá ver Vossa Alteza o sítio desta terra, porém, aquele mapamundi não certifica esta terra ser habitada, ou não. É mapamundi antigo; e ali falará Vossa Alteza também a Mina"

Como é óbvio, a primeira vez que li este pedaço de texto, corri à bibliioteca a procurar um mapa que se assemelhasse à descrição neste pedaço de texto.

Existe uma ideia geral que esse mapa seria uma cópia  do mapamundi de Andrea Bianco (1448), onde aparece a "ixola otintiche a ponête 1500 mile".                              
Nota: Mapa mundi ANTIGO (com apenas 52 anos)??
O mapa mais conhecido de Andrea Bianco é de 1436, e David Jorge comparou a parte sudoeste desse mapa (aqui invertido):


com um a parte sudoeste de outro mapa, bem mais antigo, atribuído a S. Isidoro de Sevilha:

onde David Jorge leu "insola incognita * ay 13 * 1159 partes mundi", e associou à possível ilha, que está ausente do mapa anterior. Em suma, concluiu:
Tendo como ponto de partida um mapa Português juntamente com o da crónica de S. Isidoro (vale a pena ler no que esteve envolvido) como bases para este mapa, (pois retrata os descobrimentos ao longo da costa Africana e (eventualmente) a Mina), a existência desse texto, juntamente com a carta a D. Manuel I comprova que Portugal tinha de facto um conhecimento das terras na America do Sul anterior a pelo menos 1436.
Acontece que esta suspeita de David Jorge veio a estar confirmada por uma suspeita de H. Y. Oldham constante de um artigo de G.C. Hurlbut em 1895 no Journal of the American Geographical Society of New York, (Vol. 27, No. 4), pp. 396-410.

Coloco aqui o texto relevante para o assunto:
 

Como se poderá ler, esta conjectura de Oldham foi rebatida por um certo "Signor Errera", com os seguintes argumentos "notáveis":
- (i) os portugueses no Séc. XV não tinham nenhum conhecimento de terras no sudoeste;
- (ii) que a ilha misteriosa de Bianco não é encontrada em nenhum dos mapas portugueses;
- (iii) que os historiadores portugueses estão calados sobre o assunto;
- (iv) e que a descoberta acidental do Brasil por Pedro Álvares Cabral, foi uma surpresa para o governo e para a nação!
Esta parte do artigo de Hurlbut termina concluindo que "a opinião deve ser final, mas nenhum homem vive para ver o fim da sua teoria".

Pela parte que me toca, achei interessante o argumento (iii) - o silêncio dos historiadores portugueses, que já era bem notado em 1895, e que em nada mudou nos 120 anos seguintes. Certamente que o silêncio não se deve à falta de dados e argumentos, e também reduzi-lo a uma mera obediência aos mestres das escolas maçónicas, ou por obediência à igreja nacional, veríamos um muito pouco ganho para a troca.


sábado, 6 de janeiro de 2018

do Sótão (7) «A História segundo Schwennhagen (2)»

No início de 2014 coloquei aqui 3 textos sobre "Estória alternativa", e este rascunho no final de 2013, seria o antecessor desses textos, invocando mais a ligação à teoria de Schwennhagen.


_______________ 30/12/2013___________

Havendo um bom nexo histórico, seria obstinação injustificada trilhar um caminho muito diferente. Um nexo que me parece servir de base para enquadrar as diversas componentes aqui abordadas é o de Ludwig Schwennhagen. A grande diferença é que Schwennhagen vai partir de uma "certa" Atlântida, e faz a sua história começar por volta de 2500 a.C. Procurámos ir mais atrás, e preencher espaços em branco.

A ideia que sustemos é que o propalado "Império Atlante" não saiu do nada... foi resultado uma evolução migratória que começou noutras ilhas remotas, a oriente, na Oceania, e marchou como uma invasão imparável, com duas vertentes coordenadas. A vertente oriental que se consolidou na China, e uma vertente ocidental que se consolidou na Índia e depois no Atlântico, dando origem à ligação indo-europeia. A Índia poderá ter servido de charneira na ligação entre estes dois pólos geográficos, que depois se autonomizaram consideravelmente.

Para Schwennhagen, os Atlantes e Tartéssios seriam os sobreviventes do colapso Atlante, e definiriam um império na Ibéria e na Mauritânia, com capital no Guadiana, em Ton Tarsis. Os Tartéssios manteriam a faceta de navegação marítima, e ajudariam os fenícios, enquanto que outros Atlantes, da Mauritânia, procuraram uma conquista territorial do Mediterrâneo, tendo embatido contra os gregos, no registo aprendido por Sólon no Egipto, e contado por Platão.

Procuramos complementar essa "história". 
Na Idade do Gelo ter-se-ia consolidado uma vertente ocidental, europeia, que teria acolhido o ímpeto agressivo dos invasores indo-europeus, incorporando o registo místico dos pintores rupestres. Aceitar um espasmo artístico cavernoso sem outra continuidade parece-nos redutor.
Essa incorporação definiria um poder completamente diferente. À componente secreta do poder sacerdotal dos invasores acrescia um misticismo mágico dos invadidos. O ilusionismo poderia adquirir estatuto de pragmatismo no poder. As elites iriam manipular e jogar com a ignorância dos povos.

À distância ficavam os restantes povos mediterrânicos e africanos, de outra ascendência, condicionados por manobras de bastidores. Essa nova elite actuaria sem se revelar, condicionando tribos, fabricando mitos e deuses. Se apareciam montados em cavalos, eram centauros que roubavam mulheres gregas, e disfarçados numa mistura animal-humana podiam aparecer como deuses de vários panteões.

Esses "atlânticos" só entrariam no Mediterrâneo, um lago na Idade do Gelo, pelo estabelecimento em ilhas chave... esse espaço serviria de recreio para essa "elite atlântica", autênticos deuses que presidiriam à construção e destruição de impérios.
Ainda na Idade do Gelo, o poder atlântico consolidar-se-ia pelo estabelecimento próximo, numa Europa Atlântica que ligaria à Mauritânia, mas também pelo estabelecimento distante... em paragens idílicas, em Hespérides, na zona das Caraíbas, e em outras paragens americanas. Essa seria a parte que mais sofreria com o degelo posterior.

É natural que o crescente aumento do nível das águas determinasse uma instabilidade social, e um eventual colapso hierárquico nessa estrutura "atlântica". O império pode ter colapsado pela base, separando a elite atlântica da maioria da população europeia, desagregada da sua antiga estrutura de poder...
Esta hipótese serve para justificar o aparente retrocesso civilizacional da população europeia, que se viu forçada a uma reconstrução social, tendo provavelmente criado os primeiros ensaios tribais republicanos.
A plebe atlante republicana estaria sujeita ao ataque das estruturas civilizacionais mediterrânicas, apadrinhadas pelo imperialismo da elite sacerdotal remanescente, mas ausente. 

Esses atlantes plebeus seriam os marinheiros de Tartessos, os Turdulos velhos, os Galos ou Gaios, que definiram uma ligação europeia pelo lado não mediterrânico. Começando no Porto Galo, pela Galiza, Gália, Gales, Galécia ucraniana, até à Galácia turca. Poderiam ser ainda os Venetos da Bretanha e da Ibéria, que se colocariam como Venécios na Etrusca paragem veneziana. Usariam a Turquia como plataforma de resistência e influência, criando aí novas Tarsis, novas Tróias. Como já vimos muitas vezes, os nomes confundem-se, e cada paragem europeia parecia ter na península turca uma réplica avançada. 
O mesmo se passaria na zona fenícia. Conforme diz Schwennhagen, parece dar-se uma ligação entre Tarsis dos Tartéssios e os navegadores fenícios. A ligação vê-se numa Sídon que é Medina-Sidónia na Andaluzia, mas também numa Ur que passa a Tur (ou Tiro), o que nos remete aos Turdulos portugueses.
Se Ur nos sugere Urano, Tur sugere Touro, e o corno de Cronos, que remete a uma cornucópia de Cibele. A presença constante do touro na civilização de Cnossos, sugere mais à importação de animais ibéricos do rio Minus (Minho), do que a espécies autóctones da ilha do rei Minos. 

As ilhas mediterrânicas serão estratégicas no xadrez global.
Quem estava do outro lado? - O poder imperial, sacerdotal, que deteria os velhos segredos, e a ligação à raiz primeva oriental. Esse poder irá actuar pelo lado Sumério, mesopotâmico, nas primeiras monarquias universais, e entrará em confronto interno no Egipto, na Grécia, e depois em Roma.

Os Anedotos, esses homens-bacalhau, chamados hoje mais prosaicamente Annunaki, pouco mais seriam do que manifestações da influência sacerdotal atlântica (ou atlante) na mitologia e tecnologia de civilizações que passaram de tribos nómadas, com os "reis-pastores", para grandes impérios, como o de Sargão... que consta ter chegado à península ibérica, e mais além. 

Hércules contra os Geriões (dito melhor, "Guerriões")
Schwennhagen dá importância ao domínio dos Geriões sobre a Ibéria, que teria quebrado a dinastia atlante. Os Geriões são remetidos à Ilha Eritreia e à capital Carteia... Muito provavelmente, em tempos de maior nível de água, a ilha Eritreia, contígua à península seria o Algarve, e Carteia é nome antigo de Quarteira.

A figura de Gerião, confunde-se com os filhos Geriões, e colide com a de Hércules. Um dos trabalhos seria roubar os Touros de Gerião... mas por outro lado, Hércules Líbico é visto como aniquilador do despotismo de Gerião, sendo depois vítima dos seus três filhos... que foram vistos como um monstro de 3 cabeças.

Todo o contexto do mito, da história, depende do lado em que se coloca o contador. Os Geriões chegaram a ser vistos como libertadores da Ibéria... e nesse caso o invasor seria Hércules. Ora, isso embate contra a fama popular do herói grego (líbio ou egípcio), que emprestava o seu nome a quase todos os monumentos ibéricos, conforme criticava André de Resende.

Quando entramos pelo campo mitológico, ainda que queiramos associar fogo ao fumo, perde-se muito da ordem cronológica. As tentativas medievais e renascentistas chegam a apresentar o relato ano a ano, após o Dilúvio, o que pareceu obviamente um despropósito fantasioso. 
No entanto talvez seja de considerar que a entrada de Hércules marcará uma subida de águas que abriu o Mediterrâneo à navegação.

Mais, podemos especular que, perante o avanço do degelo, a migração de Noé para o Cáucaso tenha sido mais uma organizada navegação lacustre, com o objectivo de estabelecer na Ásia Menor uma reedição das paragens atlânticas que iam ficando submersas pelo avanço dessas águas. Em desespero de causa, talvez os partidários de Noé tenham mesmo pensado em fazer uma enorme arca no topo do monte Ararat, último refúgio, caso tudo o resto falhasse. Quando dizemos isto, apontamos para a reprodução de nomes na península turca, e em particular para a existência de uma Ibéria e Albânia caucasiana... a Cólquida pode representar assim a parte ocidental submergida.
Seria essa nova Cólquida que encerraria o Velo de Ouro, o símbolo do velho poder atlante mergulhado no Dilúvio. Os "deuses do antigo poder" passariam a reunir-se em paragens Olímpicas bem altas, temendo novo colapso diluviano. Restabelecido o poder em torno do Cáucaso, da Turquia, da Grécia, o mar não subiria tanto quanto temido, e as populações abandonadas tenderiam a reorganizar-se autonomamente.
A mesopotâmia ibérica com as suas províncias de Entre-Rios pode ter esboçado uma reorganização independente, ausente que estava o poder em paragens caucasianas... podem ter erguido grandes torres, desafiando o antigo poder, e sofreriam consequências. Aguardaria aos deportados uma nova Mesopotâmia, colocada em lugar mais próximo do Cáucaso, mais facilmente controlável... uma Babilónia onde sempre chorariam Cião. A história seria recontada partindo do oriente, lugar bem central, que só foi chamado oriente relativamente ao ocidente perdido.
O ocidente tem que se erguer de novo, de restos sobreviventes, mas com um considerável atraso. É tempo dos grandes monumentos na Mesopotâmia... pelo lado europeu refaz-se uma cerâmica campaniforme. Entretanto o mar pára de subir, Jasão tem autorização divina para fazer a sua viagem exploratória pela passagem norte, pelos pântanos polacos, que em breve fechariam o Mar Negro à entrada norte.

Os gregos dominariam temporariamente os mares, mas despertaria de novo o lado ocidental pelos galos, celtas e venetos etruscos, é então altura de Tarsis, e da tentativa de colocar na Fenícia um posto marítimo avançado, em Ur, Tur, Tiro. Os galos fenícios disputarão o Mediterrâneo com os gregos. O galo passaria a fénix fenícia, e reergueria nas suas velas as riscas alvi-rubras, equi-fraternas, as vezes necessárias.
O Egipto será palco de maiores disputas internas.
Cai o monoteísmo de Akenaton, centrado num Rá solar, mas a ideia prevalecente será explorada noutra direcção... o Deus de Abraão, que lhe pedira obediência em troca do filho, convoca Moisés para uma Terra Prometida

No entanto, numa sociedade que se habituou a usar o Touro em espectáculo circenses, é natural que estejam presentes na Ibéria muitos vestígios de símbolos para orientação cortesã... uma arte de cavalgar toda a sela, onde nunca a cegueira ou o peso do montador deveriam esmagar o montado.
Os mais diversos selos selavam cumplicidades de matilhas montadas em selas.

No entanto, é claro que o registo bíblico contém muitas descrições que remetem para instrumentalização, manobras e manipulação da realidade no Médio-Oriente, em particular na condução dos objectivos de um povo perante um condutor externo, que aparecia sob forma de divindade. O culto de Akenaton, reduzido a Rá, o deus solar, pode na origem dos outros monoteísmos, em particular, o hebraico, que derivou depois no cristão e islâmico. Também a sociedade grega oscilou nas suas convicções sobre o panteão divino, ficando célebre a condenação de Sócrates. Porém seriam os mistérios herméticos, o legado de Zaratustra, de Buda, de Lao Tzé, de Cristo, que iriam influenciar uma profunda reflexão filosófica que abalaria a, até então estável, instituição sacerdotal rodeada por múltiplas divindades pouco consistentes.

Os gregos enquanto sociedade democrática tiveram um sucesso limitado, e foi a monarquia macedónica, com Alexandre Magno que trouxe o império universal para o Egipto ptolomaico. Da mesma forma, apesar das vitórias republicanas sobre Cartago, a extensão do poder romano só se tornou mais efectiva quando Júlio César assume um cargo imperial, e é com ele que se forma a monarquia universal que substituirá os Ptolomeus.
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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Alvo de Maia - volume 8

Com os devidos votos para o ano de 2018, está pronto o oitavo (ou nono) volume, correspondente ao ano de 2017. Às 2666 páginas dos volumes anteriores
juntamos agora mais 244 páginas do volume 8:
Alvo de Maia - Volume 8 (2017)

Como pequeno balanço, e conforme esperado, nada de significativo a apontar desde o final de 2013. 
Portanto, temos assim o período meio conturbado 2010-13, e desde aí, entre 2014-17, tem sido uma pacata colocação de temas, sem nenhuma razão ou objectivo especial. Bom, é claro que ainda ficou muito por dizer, e haverá ainda muito a explorar, mas desde então com calma, com muito mais calma...