Alvor-Silves

sábado, 6 de janeiro de 2018

do Sótão (7) «A História segundo Schwennhagen (2)»

No início de 2014 coloquei aqui 3 textos sobre "Estória alternativa", e este rascunho no final de 2013, seria o antecessor desses textos, invocando mais a ligação à teoria de Schwennhagen.


_______________ 30/12/2013___________

Havendo um bom nexo histórico, seria obstinação injustificada trilhar um caminho muito diferente. Um nexo que me parece servir de base para enquadrar as diversas componentes aqui abordadas é o de Ludwig Schwennhagen. A grande diferença é que Schwennhagen vai partir de uma "certa" Atlântida, e faz a sua história começar por volta de 2500 a.C. Procurámos ir mais atrás, e preencher espaços em branco.

A ideia que sustemos é que o propalado "Império Atlante" não saiu do nada... foi resultado uma evolução migratória que começou noutras ilhas remotas, a oriente, na Oceania, e marchou como uma invasão imparável, com duas vertentes coordenadas. A vertente oriental que se consolidou na China, e uma vertente ocidental que se consolidou na Índia e depois no Atlântico, dando origem à ligação indo-europeia. A Índia poderá ter servido de charneira na ligação entre estes dois pólos geográficos, que depois se autonomizaram consideravelmente.

Para Schwennhagen, os Atlantes e Tartéssios seriam os sobreviventes do colapso Atlante, e definiriam um império na Ibéria e na Mauritânia, com capital no Guadiana, em Ton Tarsis. Os Tartéssios manteriam a faceta de navegação marítima, e ajudariam os fenícios, enquanto que outros Atlantes, da Mauritânia, procuraram uma conquista territorial do Mediterrâneo, tendo embatido contra os gregos, no registo aprendido por Sólon no Egipto, e contado por Platão.

Procuramos complementar essa "história". 
Na Idade do Gelo ter-se-ia consolidado uma vertente ocidental, europeia, que teria acolhido o ímpeto agressivo dos invasores indo-europeus, incorporando o registo místico dos pintores rupestres. Aceitar um espasmo artístico cavernoso sem outra continuidade parece-nos redutor.
Essa incorporação definiria um poder completamente diferente. À componente secreta do poder sacerdotal dos invasores acrescia um misticismo mágico dos invadidos. O ilusionismo poderia adquirir estatuto de pragmatismo no poder. As elites iriam manipular e jogar com a ignorância dos povos.

À distância ficavam os restantes povos mediterrânicos e africanos, de outra ascendência, condicionados por manobras de bastidores. Essa nova elite actuaria sem se revelar, condicionando tribos, fabricando mitos e deuses. Se apareciam montados em cavalos, eram centauros que roubavam mulheres gregas, e disfarçados numa mistura animal-humana podiam aparecer como deuses de vários panteões.

Esses "atlânticos" só entrariam no Mediterrâneo, um lago na Idade do Gelo, pelo estabelecimento em ilhas chave... esse espaço serviria de recreio para essa "elite atlântica", autênticos deuses que presidiriam à construção e destruição de impérios.
Ainda na Idade do Gelo, o poder atlântico consolidar-se-ia pelo estabelecimento próximo, numa Europa Atlântica que ligaria à Mauritânia, mas também pelo estabelecimento distante... em paragens idílicas, em Hespérides, na zona das Caraíbas, e em outras paragens americanas. Essa seria a parte que mais sofreria com o degelo posterior.

É natural que o crescente aumento do nível das águas determinasse uma instabilidade social, e um eventual colapso hierárquico nessa estrutura "atlântica". O império pode ter colapsado pela base, separando a elite atlântica da maioria da população europeia, desagregada da sua antiga estrutura de poder...
Esta hipótese serve para justificar o aparente retrocesso civilizacional da população europeia, que se viu forçada a uma reconstrução social, tendo provavelmente criado os primeiros ensaios tribais republicanos.
A plebe atlante republicana estaria sujeita ao ataque das estruturas civilizacionais mediterrânicas, apadrinhadas pelo imperialismo da elite sacerdotal remanescente, mas ausente. 

Esses atlantes plebeus seriam os marinheiros de Tartessos, os Turdulos velhos, os Galos ou Gaios, que definiram uma ligação europeia pelo lado não mediterrânico. Começando no Porto Galo, pela Galiza, Gália, Gales, Galécia ucraniana, até à Galácia turca. Poderiam ser ainda os Venetos da Bretanha e da Ibéria, que se colocariam como Venécios na Etrusca paragem veneziana. Usariam a Turquia como plataforma de resistência e influência, criando aí novas Tarsis, novas Tróias. Como já vimos muitas vezes, os nomes confundem-se, e cada paragem europeia parecia ter na península turca uma réplica avançada. 
O mesmo se passaria na zona fenícia. Conforme diz Schwennhagen, parece dar-se uma ligação entre Tarsis dos Tartéssios e os navegadores fenícios. A ligação vê-se numa Sídon que é Medina-Sidónia na Andaluzia, mas também numa Ur que passa a Tur (ou Tiro), o que nos remete aos Turdulos portugueses.
Se Ur nos sugere Urano, Tur sugere Touro, e o corno de Cronos, que remete a uma cornucópia de Cibele. A presença constante do touro na civilização de Cnossos, sugere mais à importação de animais ibéricos do rio Minus (Minho), do que a espécies autóctones da ilha do rei Minos. 

As ilhas mediterrânicas serão estratégicas no xadrez global.
Quem estava do outro lado? - O poder imperial, sacerdotal, que deteria os velhos segredos, e a ligação à raiz primeva oriental. Esse poder irá actuar pelo lado Sumério, mesopotâmico, nas primeiras monarquias universais, e entrará em confronto interno no Egipto, na Grécia, e depois em Roma.

Os Anedotos, esses homens-bacalhau, chamados hoje mais prosaicamente Annunaki, pouco mais seriam do que manifestações da influência sacerdotal atlântica (ou atlante) na mitologia e tecnologia de civilizações que passaram de tribos nómadas, com os "reis-pastores", para grandes impérios, como o de Sargão... que consta ter chegado à península ibérica, e mais além. 

Hércules contra os Geriões (dito melhor, "Guerriões")
Schwennhagen dá importância ao domínio dos Geriões sobre a Ibéria, que teria quebrado a dinastia atlante. Os Geriões são remetidos à Ilha Eritreia e à capital Carteia... Muito provavelmente, em tempos de maior nível de água, a ilha Eritreia, contígua à península seria o Algarve, e Carteia é nome antigo de Quarteira.

A figura de Gerião, confunde-se com os filhos Geriões, e colide com a de Hércules. Um dos trabalhos seria roubar os Touros de Gerião... mas por outro lado, Hércules Líbico é visto como aniquilador do despotismo de Gerião, sendo depois vítima dos seus três filhos... que foram vistos como um monstro de 3 cabeças.

Todo o contexto do mito, da história, depende do lado em que se coloca o contador. Os Geriões chegaram a ser vistos como libertadores da Ibéria... e nesse caso o invasor seria Hércules. Ora, isso embate contra a fama popular do herói grego (líbio ou egípcio), que emprestava o seu nome a quase todos os monumentos ibéricos, conforme criticava André de Resende.

Quando entramos pelo campo mitológico, ainda que queiramos associar fogo ao fumo, perde-se muito da ordem cronológica. As tentativas medievais e renascentistas chegam a apresentar o relato ano a ano, após o Dilúvio, o que pareceu obviamente um despropósito fantasioso. 
No entanto talvez seja de considerar que a entrada de Hércules marcará uma subida de águas que abriu o Mediterrâneo à navegação.

Mais, podemos especular que, perante o avanço do degelo, a migração de Noé para o Cáucaso tenha sido mais uma organizada navegação lacustre, com o objectivo de estabelecer na Ásia Menor uma reedição das paragens atlânticas que iam ficando submersas pelo avanço dessas águas. Em desespero de causa, talvez os partidários de Noé tenham mesmo pensado em fazer uma enorme arca no topo do monte Ararat, último refúgio, caso tudo o resto falhasse. Quando dizemos isto, apontamos para a reprodução de nomes na península turca, e em particular para a existência de uma Ibéria e Albânia caucasiana... a Cólquida pode representar assim a parte ocidental submergida.
Seria essa nova Cólquida que encerraria o Velo de Ouro, o símbolo do velho poder atlante mergulhado no Dilúvio. Os "deuses do antigo poder" passariam a reunir-se em paragens Olímpicas bem altas, temendo novo colapso diluviano. Restabelecido o poder em torno do Cáucaso, da Turquia, da Grécia, o mar não subiria tanto quanto temido, e as populações abandonadas tenderiam a reorganizar-se autonomamente.
A mesopotâmia ibérica com as suas províncias de Entre-Rios pode ter esboçado uma reorganização independente, ausente que estava o poder em paragens caucasianas... podem ter erguido grandes torres, desafiando o antigo poder, e sofreriam consequências. Aguardaria aos deportados uma nova Mesopotâmia, colocada em lugar mais próximo do Cáucaso, mais facilmente controlável... uma Babilónia onde sempre chorariam Cião. A história seria recontada partindo do oriente, lugar bem central, que só foi chamado oriente relativamente ao ocidente perdido.
O ocidente tem que se erguer de novo, de restos sobreviventes, mas com um considerável atraso. É tempo dos grandes monumentos na Mesopotâmia... pelo lado europeu refaz-se uma cerâmica campaniforme. Entretanto o mar pára de subir, Jasão tem autorização divina para fazer a sua viagem exploratória pela passagem norte, pelos pântanos polacos, que em breve fechariam o Mar Negro à entrada norte.

Os gregos dominariam temporariamente os mares, mas despertaria de novo o lado ocidental pelos galos, celtas e venetos etruscos, é então altura de Tarsis, e da tentativa de colocar na Fenícia um posto marítimo avançado, em Ur, Tur, Tiro. Os galos fenícios disputarão o Mediterrâneo com os gregos. O galo passaria a fénix fenícia, e reergueria nas suas velas as riscas alvi-rubras, equi-fraternas, as vezes necessárias.
O Egipto será palco de maiores disputas internas.
Cai o monoteísmo de Akenaton, centrado num Rá solar, mas a ideia prevalecente será explorada noutra direcção... o Deus de Abraão, que lhe pedira obediência em troca do filho, convoca Moisés para uma Terra Prometida

No entanto, numa sociedade que se habituou a usar o Touro em espectáculo circenses, é natural que estejam presentes na Ibéria muitos vestígios de símbolos para orientação cortesã... uma arte de cavalgar toda a sela, onde nunca a cegueira ou o peso do montador deveriam esmagar o montado.
Os mais diversos selos selavam cumplicidades de matilhas montadas em selas.

No entanto, é claro que o registo bíblico contém muitas descrições que remetem para instrumentalização, manobras e manipulação da realidade no Médio-Oriente, em particular na condução dos objectivos de um povo perante um condutor externo, que aparecia sob forma de divindade. O culto de Akenaton, reduzido a Rá, o deus solar, pode na origem dos outros monoteísmos, em particular, o hebraico, que derivou depois no cristão e islâmico. Também a sociedade grega oscilou nas suas convicções sobre o panteão divino, ficando célebre a condenação de Sócrates. Porém seriam os mistérios herméticos, o legado de Zaratustra, de Buda, de Lao Tzé, de Cristo, que iriam influenciar uma profunda reflexão filosófica que abalaria a, até então estável, instituição sacerdotal rodeada por múltiplas divindades pouco consistentes.

Os gregos enquanto sociedade democrática tiveram um sucesso limitado, e foi a monarquia macedónica, com Alexandre Magno que trouxe o império universal para o Egipto ptolomaico. Da mesma forma, apesar das vitórias republicanas sobre Cartago, a extensão do poder romano só se tornou mais efectiva quando Júlio César assume um cargo imperial, e é com ele que se forma a monarquia universal que substituirá os Ptolomeus.
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