Alvor-Silves

terça-feira, 3 de outubro de 2017

De 11/9 a 9/11, em 300 anos, esquecida a conquista de Madrid

Filipe não será o melhor nome de rei espanhol, no que diz respeito a portugueses e catalães!
Até porque antes do actual Filipe VI, houve Filipe V...

11 de Setembro (11/9) 
Em 11/9/1714, as forças de Filipe V venceram Carlos III e Barcelona caiu.
Desde essa altura o 11 de Setembro é dia nacional da Catalunha.

9 de Novembro (9/11)
Em 9/11/2014, passados 300 anos, a Catalunha, com Artur Mas, realizou a primeira consulta referendária para uma independência, onde obteve similares resultados aos expressos agora no 1-o (o referendo neste domingo passado). Ou seja, há três anos, obteve 80% de votos sim-sim (havia 2 perguntas) com uma participação de 2,305 milhões de votantes. 
Em percentagem, subiu agora para 90% na vontade independentista, subida que muito deve à desastrosa política de Rajoy. Mas fiando-nos nestes resultados, pouco mudou, e pouco tenderá a mudar. Uma parte maioritária da Catalunha quer ser independente...

9/11 era domingo em 2014, mas a escolha da data invertida face ao 11/9, não terá sido acidental, e diz muito do simbolismo nestes pequenos actos, quando então se comemoravam 300 anos. O inverter da data, seria um bom augúrio, para inversão do passado, passados 3 séculos... mas o efeito foi pouco notado, por comparação com a publicidade que a actuação de Rajoy agora deu ao 1-o. Dir-se-ia que o galego Rajoy parece estar a trabalhar bem para a independência da Catalunha.

Filipe - Carlos (bis)
Bom, nesta disputa estão ainda Filipe VI pela monarquia e Carles Puigdemont pela república...
Uns 300 anos antes estavam Filipe V e Carlos III, monarcas de origem francesa e austríaca.
3 séculos, mas de novo um antagonismo entre Filipes e Carlos.
Filipe V, sendo neto de Luís XIV de França, foi o primeiro monarca da Dinastia Bourbon espanhola, porque foi o vencedor da Guerra de Sucessão (1702-14) contra Carlos III (Arquiduque e Imperador Carlos VI da Áustria).

Filipe de Bourbon era o herdeiro nomeado, mas uma boa parte das potências externas não acharam boa ideia que a Casa Bourbon acumulasse os tronos francês e espanhol... apoiando assim o arquiduque austríaco, Carlos. Carlos começou por desembarcar em Portugal, mas depois fixou-se em Barcelona, até ser derrotado. Os catalães apreciaram a escolha, e lutaram até que Barcelona caísse.

A conquista de Madrid por António Luís de Sousa em 1706
No decurso das hostilidades, em que Portugal, tal como Inglaterra, estavam do lado de Carlos III, o Marquês das Minas, António Luís de Sousa, teve a pequena ousadia de pegar num exército de cerca de 15 mil portugueses e 5 mil anglo-holandeses, seguir em direcção de Salamanca, e numa série de vitórias, só parou com a conquista de Madrid, em Junho de 1706.

Conquista de Madrid - 1706 (de João Vieira Borges)

Foi uma pequena ocupação, mas suficiente para que Carlos III tivesse  tempo de sair de Barcelona e ir a Madrid reclamar o trono... No entanto, a população castelhana já preferia Filipe V, Carlos III foi aclamado, mas mal recebido, e em Outubro de 1706, perante contra-ofensivas e derrotas dos aliados, o exército português foi forçado a retirar estrategicamente de Madrid.

Estranhamente, esta conquista única da capital espanhola, por um exército que era praticamente português, e com comando português, não consta de ser conhecida, e muito menos ensinada aos nossos petizes. Tanto mais que terá sido a única vez que os portugueses entraram como força invasora numa capital europeia... e convém notar que, se do outro lado o exército espanhol se dividia, o exército francês do rei sol, Luís XIV, era comandado pelo experiente Duque de Berwick, que com reforços, acabou por vencer a contenda, que colocou os Bourbon no poder - até hoje, com ligeiras interrupções republicanas.
Filipe VI é assim o herdeiro directo da dinastia que ficou com o nome espanholado "Borbón", e sendo essa dinastia de tão má lembrança à Catalunha, na altura apoiante de dinastia oposta, pedir lealdade no sentido monárquico, parece uma deslembrança com pouco sentido histórico, e especialmente com pouco sentido político, quando os catalães, ainda que sem outra opção, votaram por uma república.

Barcelona 1929 - 1992
Os únicos jogos olímpicos realizados em Espanha não foram realizados em Madrid. Espanha uniu-se para receber os jogos em Barcelona, em 1992, onde foi construída uma vila olímpica... com duas torres gémeas a encabeçar. Já antes, na Exposição Internacional de 1929, foi construída a Praça de Espanha, também com duas torres, feitas ao modelo de Veneza.
1992 - Barcelona - torres gémeas

1929 - Barcelona - torres gémeas "venezianas"

O campanário de S. Marcos com mais do dobro da altura (98 metros) foi a inspiração para as duas torres venezianas, de 47 metros em Barcelona, na Praça de Espanha. Construídas em 29 foram talvez um dos primeiros exemplos de torres gémeas, depois repetido em 92, com duas torres mais modernas (agora uma como hotel, e outra de escritórios Mapfre)... numa altura em que já se repetiam torres gémeas em diversas cidades do mundo - nomeadamente em Nova Iorque.

Para uma cidade que comemora o 11 de Setembro como dia nacional, não deixa de ser curioso...

Aproximando-se o nosso 5 de Outubro, reparamos que aí comemoramos simultaneamente a instauração da independência e a proclamação da república - ou seja, a resposta ao referendo catalão nas suas duas vertentes - independência e república.


Nota (5/10/2017):
Relativamente à incursão portuguesa e inglesa em território espanhol, não deixa de ser significativo que foi no final da Guerra de Sucessão que Filipe V aceitou conceder Gibraltar à Inglaterra, a título definitivo, no Tratado de Utrecht de 1713. Isto tem a relevância actual da Espanha ter insistido na devolução do rochedo, no contexto das negociações em curso da UE com UK, dado o Brexit.
Ou seja, exigiram o rochedo, para completar o território espanhol na península, mas ficaram a braços com uma eventual independência da Catalunha. A coincidência dos acontecimentos não deixará de ser ponderada em Madrid.
Entretanto, o único território semi-independente com língua oficial catalã continua a ser Andorra.

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