Alvor-Silves

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O mapa em 27.10.2017

Em termos de auto-proclamadas independências e dependências, o novo mapa ibérico passou a ser:

Não é todos os dias que se pretende alterar o mapa ibérico, e a data foi escolhida nos números.

Sim, Espanha não reconhece a soberania inglesa sobre Gibraltar, nem reconhece a independência catalã. Desde hoje, Espanha perderia a fronteira com Andorra... e perderia mais o sentido do nome Espanha, que resultou da união entre os reinos de Castela e Aragão. O nome Espanha é directa importação do romano Hispania, um nome que via a Península Ibérica como um território íntegro e uno, conforme Filipe II, III e IV, nos apresentaram durante 60 anos.
O Presidente de Portugal, quando defende o respeito pela unidade de Espanha, apresenta uma engraçada ironia em si mesmo, já que Portugal se define justamente como território em oposição à unidade de Espanha, enquanto herdeira da unidade da Hispania romana.

Madrid irá aplicar o agora famoso artigo 155 da constituição espanhola a uma região autónoma, que já não existe... pois internamente passou a existir uma República da Catalunha, onde Filipe VI não é rei. Madrid pretende organizar eleições regionais na Catalunha, mas provavelmente o governo catalão irá organizar novas eleições para eleger o presidente da República da Catalunha, que interinamente será Puigdemont.
A legalidade espanhola não é aplicável a outro estado, e a Catalunha passará a usar as suas leis internas, ignorando as leis espanholas, tal como Portugal, ou qualquer outro estado independente, o faz. Em breve irá apresentar a constituição catalã a votação popular.

Rajoy arrisca fazer o papel de Gorbachov, ou pior... se usar força, de Milosevic, quando Belgrado foi lutando contra a dissolução da Jugoslávia em diversos estados independentes, levando a uma guerra balcânica bastante sangrenta.
Na altura, também os países externos avançaram cuidadosamente no reconhecimento de governos e independências, porque anteviam sérios problemas, que vieram a manifestar-se em guerras, muito em particular porque a comunidade internacional demorou a definir posições definitivas unânimes. Também em cada um desses novos países existia uma forte comunidade de origem externa - no caso dos países bálticos, uma forte comunidade russa, que estava contra a independência... mas aí, visando a fragilidade de Moscovo, não houve hesitação em apoiar Lituânia, Letónia ou Estónia.

O que parece inevitável é que a única solução para Madrid evitar Barcelona como uma capital independente, serão prisões, com o uso de força policial ou militar... já que não se antevê mudança no resultado, se houvessem novas eleições regionais, ainda para mais, impostas por Espanha.
A manutenção da situação anterior, que tem tantos defensores, inclusive todos os governos do mundo, deixa forçosamente na gaveta todas as auto-determinações dos povos, mesmo que tenham língua ou cultura diferente, e uma motivação histórica bem identificada, com diversas tentativas de independência. Para Guterres, que tanto perorou pela auto-determinação de Timor-Leste, será uma experiência interessante, enquanto secretário-geral da ONU.

Aguardemos agora, para vermos como Madrid pretenderá impôr a sua legalidade em território alheio, para vermos se o F. C. Barcelona continua a jogar na Copa del Rey, para vermos se Barcelona começa a estabelecer os órgãos de soberania próprios, que começam em nova legislação, nova polícia, nova economia financeira, com ou sem Euro, etc... os tempos afiguram-se complicados, não apenas em Barcelona e Madrid, mas também em Bruxelas, enquanto Londres sai da derrocada da UE, que se pode avizinhar em consequência.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Entre Tancos e Punhete

João Bautista de Castro, refere no seu "Mappa de Portugal, Antigo e Moderno" (Volume III, de 1763) que:
"Entre Tancos e Punhete passa o rio Zêzere que tem barca sempre de verão e de inverno."

Em 1836, com a vitória de D. Maria II nas guerras liberais, a notável vila de Punhete muda de nome, ao que consta a pedido dos habitantes, por ordem da rainha e Passos Manuel, pugnando como novo nome "Constância". Aliás João Bautista de Castro ainda acrescenta sobre o rio Zêzere.
Vai finalmente acabar em Punhete, mergulhando-se no Tejo com tanto impeto , que na distancia de mil e quinhentos passos ainda conserva a mesma cor azul , e sabor doce das suas águas, como bem advertem Resende, e outros.

Em 2003, quando as "armas de destruição em massa" estavam no ponto, a ferver, com suspeitas de que Saddam quisesse volatilizar o mundo com uma panela de pressão (panela ironicamente epitetada como "arma de destruição em massa", no atentado da maratona de Boston em 2013), havia quem estivesse a favor da invasão do Iraque (por exemplo, Pacheco Pereira), mas também havia quem estivesse contra...
Um desses comentadores era Azeredo Lopes, de que podemos ainda ler uma entrevista ao Público (31/03/2003):

... e este título resulta desta afirmação que Azeredo Lopes, agora Ministro da Defesa, fez à época:
«É enfim o que chamo de forma um pouco irónica uma espécie de intervenção baseada na bola de cristal. Isto é, os EUA decidiram, pela sua análise, que algures no futuro, não sabem quando, é inevitável que o regime iraquiano venha a conspirar contra o Ocidente e a servir-se ou transmitir as suas armas de destruição em massa a grupos que depois vão exercer acções contra o Ocidente. »
Independentemente de outros canhões que Saddam Hussein pudesse querer apontar aos céus, com o seu Projecto Babilónia, baseado num projecto HARP (e não HAARP) de Gerald Bull, só quem se cegue, seguia credulamente a manipulação da CIA, que permitiu a G. W. Bush invadir o Iraque, e a Durão Barroso, passar de garçon do chá nos Açores, para garçon de Bruxelas, seguindo a máxima - "que se segue, quem se cegue".

Como não soube de nenhuma conversão de Azeredo Lopes ao completo "ceguidismo", foi surpresa ser chamado pela geringonça para Ministro da Defesa, mas digamos que já não será surpresa que se pretenda arranjar uma panela de pressão, para que saia.
Essa pressão foi mais veemente com o roubo de armas em Tancos, ocorrido em 27 de Junho, quando a polícia se apressou a concluir, na semana seguinte, que as armas estariam já fora do país. Essa previsão sofreu uma pequena dificuldade na narrativa idealizada, quando na semana passada, em 18 de Outubro, as armas apareceram num terreno da Chamusca, não muito longe de Tancos.
Como o desaparecimento ocorre no rescaldo do incêndio em Pedrogão a 18 de Junho, e o aparecimento poucos dias depois dos incêndios de 15 de Outubro, ainda por cima na Chamusca, concelho que tinha reeleito Paulo Queimado como autarca, surgiram comentários sobre o humor negro da "coincidência" funesta.


No entanto, as armas surgiram por denúncia anónima, e não por investigação policial, que as já dera como perdidas no estrangeiro. Portanto, um completo sucesso policial, como se vê, enquanto o ministro padeceu do gozo cortês de ter admitido, por absurdo, que as armas nem tivessem sido roubadas.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Luto e Luta nacional

A repetição da completa desprotecção civil perante os múltiplos incêndios que ocorreram, de novo, no passado domingo (com um número actual de 42 vítimas mortais), deixa uma pergunta no ar de Portugal - qual a confiança de milhões de portugueses, que não moram em centros de grandes cidades?
As imagens que vimos, mesmo em pequenas cidades como Tondela, Gouveia, ou Oliveira do Hospital, são de uma sujeição e impotência, perante grandes incêndios que as cercam e lançam fagulhas incendiárias para as suas casas. Um pequeno pinhal, um jardim, que antes eram locais aprazíveis, passam a ser vistos como rastilho para a propagação de incêndios, e ninguém se sentirá bem nestes dias, com uma moradia que confronta com árvores.

Serve para epíteto simbólico declarar "luto nacional", para o bem estar do politicamente correcto, que dança com mudanças de ministério, enquanto o magistério de uma "luta nacional" tende a repousar.

Interessam aqui as palavras, porque independentemente da pseudo-origem no latim de "luctus" ou "luctare", as palavras "luta" e "luto" indiciam mais que uma mudança de género. Escreveu-se lucta e lucto, usando uma latinização da língua, mas isso sinaliza apenas que o prefixo "luc" pode ser relacionado com "luz" como em tantas outras palavras.
luto é assim simbolizado com o negro, da ausência de luz.
luta, ao contrário, é a presença de luz.
Independentemente, do significado que outros encontrem para si, as palavras têm para mim um significado ancestral que procuro encontrar nas suas sílabas. Tão simples quanto em "ardeu" que ligo à simples conjugação de ar-deu, pois o fogo não arde sem ar que lhe . O verbo não é ar-dar, mas a má conjugação posterior não fez perder todo o sentido original. Ou, como a têmpera do aço, que tem paralelo no têmpero do que asso. E o que assem só vem de um acen-der inicial, mas também aí temos indicação do que ficou do nosso passado - as cinzas do que serviu p/assado.
É neste contexto que luto significa lu-tu, com quem diz "a luz em ti", e os outros vestem negro, enquanto luta significa lu-tá, como quem diz a "luz está"... colocando a luz como razão da luta, e assim o negro simboliza a morte de alguém que personificava a luz do combate.
Essa luz seria como um luar da Lua, e escusando os latinistas de serviço, não seria apenas a luz da noite, do lume, que alumiava. E dizemos a-lu-miar e não uivar, pois haveria outros cães e gatos de serviço.
A Lusitania claro, seria pátria dessa luz, e mátria das trevas da sua ausência, não me querendo mais alargar nesta poesia especulativa.
Interessa que luto é o interlúdio da luta que se segue... sendo claro que se segue quem se cegue, pois um seguidismo é um ceguidismo, que vê o sossego numa pronúncia do sou-cego, procurando afinal uma bengala alheia, em boa gala alheia.

Surge este texto para uma observação muito simples.
A evolução dos incêndios em Portugal, desde o tempo de Salazar, pode ser facilmente vista no seguinte gráfico, que vai desde 1943 até 1979, onde fica evidente um aumento súbito a partir de 1974.
Fonte: Grandes incêndios florestais na década de 60... (ver artigo de F. F. Leite, J. B. Gonçalves, L. Lourenço)

A interpretação do gráfico, mesmo que relativizada pelos dados disponíveis, não deixa grande margem de dúvida num aspecto - a partir de 1974, e com grandes picos em 1975 e 1978, o número de incêndios em Portugal subiu de forma drástica, chegando a ser 10 vezes superior, mas... pior que isso, tornou-se numa circunstância quase crónica. Não encontrei gráficos juntos, mas podemos ver o aspecto desde 1980 até aos nossos dias, com grandes picos em 2003 e 2005:

Que se saiba, em 1975 não houve mudanças climáticas, não houve abandono do interior, não houve uma plantação súbita de eucaliptos, não terá havido nenhuma das muitas razões que são usadas para oferecer aos seguidores televisivos dos comentários nacionais de serviço.
Houve sim, uma mudança de poder político, e em 1975 não havia apenas incêndios e falta de coordenação para os combater, havia bombas em sedes partidárias, e um clima contido quase de guerra civil em preparação.
Para quem nunca experimentou acender um churrasco, não é assim tão fácil fazer fogo sem ajuda de combustíveis e carvão, mesmo que o dia esteja quente. Tenho muitas dúvidas que 500 coincidências fortuitas, mesmo de agricultores irresponsáveis, consigam pôr o país em chamas... e apenas a norte do Tejo.

Do que me lembro, e olhando brevemente para o segundo gráfico, não será muito difícil estabelecer relações entre os picos de incêndios e o clima político eleitoral... sendo que os anos mais suaves se encontraram depois da governação Sócrates, e não foi certamente por virtude do SIRESP, nem por abrandamento das alterações climáticas. Se alguma relação fizer sentido, foi justamente no fim da semana passada que se deu a acusação do processo "Marquês" (outro nome do "Nero da Trafaria"), ou o conhecimento do Relatório de Pedrogão. Foi após isso que deflagraram estes incêndios, com mais de 500 focos em todo o país.

Mas essa coincidência não é mais nem menos importante, interessa que o problema incendiário está instalado desde a "revolução dos cravos", e é um problema que já tinha tido expressão antes, no tempo de Salazar, mas que tinha sido contido, e em nada era semelhante ao que se seguiu depois.
Diz-se que o Estado falhou... mas este Estado com 43 anos habituou-se a viver com um estado de coisas em que os incêndios são vistos como "normais", e que na necessidade de culpa, para evitar a desculpa, os culpados são os cidadãos.

Aquando da revolução republicana, a maçonaria também fez uso da carbonária, e de vários actos terroristas, com múltiplas bombas e pequenas revoluções constantes em Lisboa, que ocorreram até ao Estado Novo. Uma vez utilizada a arma, era difícil desactivá-la, e pior que isso... nem parecia interessar pô-la de lado.

Por isso, este é um problema de regime... que poderá nem ter a ver com este regime, e que pode até ser contra este regime pós-74, especialmente quando certos assuntos de bastidores são trazidos para a praça pública. Mas, uma coisa parece clara... enquanto o problema dos incendiários não for visto como um terrorismo global instalado no país, continuaremos a entreter-nos com razões fantasiosas ou científicas, para anualmente metade da área ardida na Europa pertencer a Portugal.
Neste ano as coisas foram longe demais... Junho teria sido suficiente para perceber isso, mas quatro meses depois, vemos que nem sequer se pode contar com contenção e o mínimo de bom senso, por parte de gente que julga poder escapar do seu inferno causando um inferno aos outros. As chamas já chamaram demasiadas vítimas, e agora chamam pelos culpados, com um foco que não sairá das suas cabeças.


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Outubro de 1917

Comemoram-se brevemente 100 anos de dois eventos distintos:
- a última "Aparição de Fátima" a 13 de Outubro;
- a Revolução de Outubro bolchevique (7 de Novembro, porém 25 de Outubro na Rússia).

Os eventos foram agrupados num "segredo" da Irmã Lúcia, quando em 1929 revelou que o fim do comunismo e a devoção da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, seria o segundo segredo. 
O primeiro segredo revelado, que consistia no fim "próximo" da 1ª Guerra Mundial, teve o pronúncio adiado por mais de um ano, e milhões de mortes.

Independentemente do tempo de Verão ter sido marcado por furacões de nível 5, que foram baptizados Maria e Irma (e não Irmã), o ambiente ficou especialmente caótico com as novas tendências de Outono, na Catalunha.

Os segredos da Cova de Iria dificilmente se podem considerar como surpreendentes, ou até como minimamente cumpridos, quando comparados com as revelações constantes dos chamados "Protocolos de Sião", esses muito mais assertivos quanto ao passado e depois quanto ao futuro que se avizinhava, conforme referia Julius Evola nos anos 1930. Digamos que uma vidência que falha o final da 1ª Guerra, nem sequer menciona a 2ª Guerra, a Guerra Civil Espanhola (onde Lúcia estava), ou as catástrofes nucleares de Hiroshima e Nagasaki, focaria um atentado a João Paulo II, esquecendo a morte suspeita de João Paulo I.

Como é habitual neste tipo de fenómenos de "massas", o foco é temporário, condicionado pelos interesses e vontades particulares dos "peregrinos", e tendem a desaparecer subitamente, conforme aconteceu com os santuários de Delfos, Delos, Dodona ou Eleusis, mesmo que tivessem resistido por um milénio.
As sucessivas falhas de previsão ou concretização dos pedidos, nunca são um factor minimamente relevante para o descrédito, porque a sustentação do fenómeno não assenta em nada de verificável, mas tão somente assenta numa esperança infindável, que encontra lugar nos mais pequenos indícios como sinais orientadores. Fátima terá histórias individuais de pequenos "milagres", com a probabilidade natural, e que abafam a inexistência de qualquer história concreta de grande milagre, decorrido um século.

Com 30 anos passados sobre a Perestroika e Glasnost, e sobre o declínio da doutrina ortodoxa comunista, já poucos se lembram da angústia permanente da ameaça de um conflito nuclear, que tornaria ridícula qualquer comparação actual... tendo a Coreia do Norte como ameaça.
Os media tentaram desde logo capitalizar novos conflitos como causas de instabilidade mundial - como no caso da 1ª Guerra do Golfo, em 1991, que serviu para assustar os viciados no susto, e teve os efeitos dramáticos concentrados nas populações do Kuwait e Iraque, como previsível. A Guerra da Bósnia, com perto de 100 mil mortos, foi um conflito europeu bem mais caótico, mas não foi usado pelos media para instaurar o mesmo tipo de medo "globalizado". Isso só viria a ser feito com a ameaça "terrorista", dado ter sido implantada com efeitos dramáticos nos centros ocidentais. Mas, à excepção do estranho caso do 11 de Setembro (onde a Torre 7 foi demolida pela BBC antes de ter caído), o número de vítimas e actos terroristas depois de 2001 será bem inferior aos que ocorreram nas décadas de 1970 e 80... quando não havia nenhum controlo especial nos aeroportos, nem nenhum medo global instalado pelos media. Nessa altura, convém lembrá-lo, o risco de terrorismo era encarado como um risco de voo, tal como o seria uma falha mecânica... e nessa conta, o número de vítimas causadas por falhas humanas ou acidentes de voo continuou a ser muito superior ao causado por qualquer acção de grupos terroristas.

Se o comunismo não tivesse desaparecido do seu protagonismo político, seria previsível que os media estivessem desde já a reportar os 100 anos da revolução bolchevique, mas assim mal se ouve falar do assunto... e como as comemorações dos 100 anos de Fátima ocorreram no 13 de Maio, para este 13 de Outubro fica a atenção muito mais reduzida, como é habitual (... talvez à excepção da associação com a passagem do asteróide 2012 T4C, prevista para este 12 de Outubro).

Interessa ainda que passam ainda 100 anos sobre a  Declaração de Balfour, de que falámos também referindo o apoio que Lenine teria recebido pelos alemães e austríacos, para financiar a revolução bolchevique e assim colocar a Rússia fora da 1ª Guerra Mundial...

Essa declaração escrita em Outubro de 1917, antecederia a Batalha de Jerusalém e a entrada britânica na cidade em Dezembro, findo o poder otomano de 400 anos, e retomando a entrada como novos cruzados, após o abandono em 1187 por Balian de Ibelin para Saladino, e depois em 1244 por Frederico II, que a havia reconquistado antes, no contexto da 6ª Cruzada.
(Selo de Balian de Ibelin)


terça-feira, 3 de outubro de 2017

De 11/9 a 9/11, em 300 anos, esquecida a conquista de Madrid

Filipe não será o melhor nome de rei espanhol, no que diz respeito a portugueses e catalães!
Até porque antes do actual Filipe VI, houve Filipe V...

11 de Setembro (11/9) 
Em 11/9/1714, as forças de Filipe V venceram Carlos III e Barcelona caiu.
Desde essa altura o 11 de Setembro é dia nacional da Catalunha.

9 de Novembro (9/11)
Em 9/11/2014, passados 300 anos, a Catalunha, com Artur Mas, realizou a primeira consulta referendária para uma independência, onde obteve similares resultados aos expressos agora no 1-o (o referendo neste domingo passado). Ou seja, há três anos, obteve 80% de votos sim-sim (havia 2 perguntas) com uma participação de 2,305 milhões de votantes. 
Em percentagem, subiu agora para 90% na vontade independentista, subida que muito deve à desastrosa política de Rajoy. Mas fiando-nos nestes resultados, pouco mudou, e pouco tenderá a mudar. Uma parte maioritária da Catalunha quer ser independente...

9/11 era domingo em 2014, mas a escolha da data invertida face ao 11/9, não terá sido acidental, e diz muito do simbolismo nestes pequenos actos, quando então se comemoravam 300 anos. O inverter da data, seria um bom augúrio, para inversão do passado, passados 3 séculos... mas o efeito foi pouco notado, por comparação com a publicidade que a actuação de Rajoy agora deu ao 1-o. Dir-se-ia que o galego Rajoy parece estar a trabalhar bem para a independência da Catalunha.

Filipe - Carlos (bis)
Bom, nesta disputa estão ainda Filipe VI pela monarquia e Carles Puigdemont pela república...
Uns 300 anos antes estavam Filipe V e Carlos III, monarcas de origem francesa e austríaca.
3 séculos, mas de novo um antagonismo entre Filipes e Carlos.
Filipe V, sendo neto de Luís XIV de França, foi o primeiro monarca da Dinastia Bourbon espanhola, porque foi o vencedor da Guerra de Sucessão (1702-14) contra Carlos III (Arquiduque e Imperador Carlos VI da Áustria).

Filipe de Bourbon era o herdeiro nomeado, mas uma boa parte das potências externas não acharam boa ideia que a Casa Bourbon acumulasse os tronos francês e espanhol... apoiando assim o arquiduque austríaco, Carlos. Carlos começou por desembarcar em Portugal, mas depois fixou-se em Barcelona, até ser derrotado. Os catalães apreciaram a escolha, e lutaram até que Barcelona caísse.

A conquista de Madrid por António Luís de Sousa em 1706
No decurso das hostilidades, em que Portugal, tal como Inglaterra, estavam do lado de Carlos III, o Marquês das Minas, António Luís de Sousa, teve a pequena ousadia de pegar num exército de cerca de 15 mil portugueses e 5 mil anglo-holandeses, seguir em direcção de Salamanca, e numa série de vitórias, só parou com a conquista de Madrid, em Junho de 1706.

Conquista de Madrid - 1706 (de João Vieira Borges)

Foi uma pequena ocupação, mas suficiente para que Carlos III tivesse  tempo de sair de Barcelona e ir a Madrid reclamar o trono... No entanto, a população castelhana já preferia Filipe V, Carlos III foi aclamado, mas mal recebido, e em Outubro de 1706, perante contra-ofensivas e derrotas dos aliados, o exército português foi forçado a retirar estrategicamente de Madrid.

Estranhamente, esta conquista única da capital espanhola, por um exército que era praticamente português, e com comando português, não consta de ser conhecida, e muito menos ensinada aos nossos petizes. Tanto mais que terá sido a única vez que os portugueses entraram como força invasora numa capital europeia... e convém notar que, se do outro lado o exército espanhol se dividia, o exército francês do rei sol, Luís XIV, era comandado pelo experiente Duque de Berwick, que com reforços, acabou por vencer a contenda, que colocou os Bourbon no poder - até hoje, com ligeiras interrupções republicanas.
Filipe VI é assim o herdeiro directo da dinastia que ficou com o nome espanholado "Borbón", e sendo essa dinastia de tão má lembrança à Catalunha, na altura apoiante de dinastia oposta, pedir lealdade no sentido monárquico, parece uma deslembrança com pouco sentido histórico, e especialmente com pouco sentido político, quando os catalães, ainda que sem outra opção, votaram por uma república.

Barcelona 1929 - 1992
Os únicos jogos olímpicos realizados em Espanha não foram realizados em Madrid. Espanha uniu-se para receber os jogos em Barcelona, em 1992, onde foi construída uma vila olímpica... com duas torres gémeas a encabeçar. Já antes, na Exposição Internacional de 1929, foi construída a Praça de Espanha, também com duas torres, feitas ao modelo de Veneza.
1992 - Barcelona - torres gémeas

1929 - Barcelona - torres gémeas "venezianas"

O campanário de S. Marcos com mais do dobro da altura (98 metros) foi a inspiração para as duas torres venezianas, de 47 metros em Barcelona, na Praça de Espanha. Construídas em 29 foram talvez um dos primeiros exemplos de torres gémeas, depois repetido em 92, com duas torres mais modernas (agora uma como hotel, e outra de escritórios Mapfre)... numa altura em que já se repetiam torres gémeas em diversas cidades do mundo - nomeadamente em Nova Iorque.

Para uma cidade que comemora o 11 de Setembro como dia nacional, não deixa de ser curioso...

Aproximando-se o nosso 5 de Outubro, reparamos que aí comemoramos simultaneamente a instauração da independência e a proclamação da república - ou seja, a resposta ao referendo catalão nas suas duas vertentes - independência e república.


Nota (5/10/2017):
Relativamente à incursão portuguesa e inglesa em território espanhol, não deixa de ser significativo que foi no final da Guerra de Sucessão que Filipe V aceitou conceder Gibraltar à Inglaterra, a título definitivo, no Tratado de Utrecht de 1713. Isto tem a relevância actual da Espanha ter insistido na devolução do rochedo, no contexto das negociações em curso da UE com UK, dado o Brexit.
Ou seja, exigiram o rochedo, para completar o território espanhol na península, mas ficaram a braços com uma eventual independência da Catalunha. A coincidência dos acontecimentos não deixará de ser ponderada em Madrid.
Entretanto, o único território semi-independente com língua oficial catalã continua a ser Andorra.