Alvor-Silves

terça-feira, 1 de julho de 2014

Monarchia Lusitana de Bernardo Brito (1)

No campo do que é hoje chamado "História Alternativa", Bernardo de Brito, monge cisterciense escreveu em 1597, o primeiro volume da "Monarchia Lusitana" dedicada a Filipe II de Espanha, então rei de Portugal. 
Pelo teor algo fantasioso, a obra foi sofrendo várias críticas externas, principalmente francesas, até à sua exclusão completa de consideração ou até menção após o Séc. XIX, com Alexandre Herculano.

De qualquer forma, desde 1597 até 1750, poderia considerar-se a obra de referência, a "História Oficial" de Portugal.

Figura inscrita na capa da Monarchia Lusitana (1597)

Bernardo de Brito tem o cuidado de justificar a maioria das suas afirmações, remetendo para autores da Antiguidade. Por isso, a obra é sustentada, e tem esse valor. Por outro lado, há todo um misticismo religioso associado a registos históricos, que foi sendo alvo de crítica severa com a ascensão Iluminista. 
O domínio ibérico nos descobrimentos levou a uma procura pouco objectiva de registos. Foi pretendido uma elevação da história ibérica a níveis míticos, especialmente nos tempos filipinos, e surgiram assim versões iberocêntricas, que davam um relevo maior ao papel da Hispania na história mundial.

Com a expulsão pombalina dos jesuítas, era já quase insustentável manter tal História de Portugal, enredada em registos fabulosos. Passaram a vigorar versões afrancesadas, em que os autores, em contraponto, basicamente reduziam a história nacional a pouco mais que zero.
Tal situação agravou-se no liberalismo com a dissolução das ordens monásticas.
Para evitar uma total secundarização da história nacional, Alexandre Herculano tomou uma decisão que seria muito aplaudida - tomou a seu cargo expurgar todo o conteúdo místico anterior, e começar a história portuguesa com o nascimento de Afonso Henriques. 
A história anterior, escrita por estes monges fervorosos, seria remetida ao esquecimento - nem sequer lhe era dado o estatuto de lenda. Seriam apenas mentiras... e como mentiras, seriam apagadas.

Ora, essa decisão de Alexandre Herculano pode ser compreendida pela necessidade à época de trazer objectividade ao registo histórico, mas foi uma completa lapidação da própria história.
Porquê?
Porque não há forma de apagar uma história que fez história durante pelo menos 150 anos, e por outro lado, esqueceu que o esforço dos monges ia beber a historiadores clássicos, que para outros registos eram ainda usados e considerados credíveis.
Assim, a censura do absurdo foi também ela absurda... pela simples vontade de "não contaminar os espíritos das gentes".
Por mais que uma vez se tem visto que é pior a emenda que o soneto... e o registo de Bernardo de Brito foi história oficial, tal como o passou a ser o registo de Alexandre Herculano.
Ocultar uns, para dar relevo a outros, é mera censura simplista. 
O que se deve fazer é mostrar as versões, e criticá-las à luz da razão.
Se têm falhas, então elas devem ser tornadas evidentes - quais são e por que razão são erradas.

Se o registo de Bernardo de Brito me parece algo fantasioso, podendo ir beber a fontes de mentiras, também noutros pontos pode mostrar que ainda hoje permanecem muitas fontes de mentiras, convenientes aos vendedores das ilusões dos tempos modernos.

Segue o índice dos primeiros capítulos da Monarchia Lusitana, cujos títulos são de alguma forma auto-explicativos.

Primeiro Livro
  • Cap. 1: Da criação do mundo e do que nele sucedeu até à morte do nosso primeiro pai Adão.
  • Cap. 2: Do nascimento do patriarca Noé e do dilúvio geral, com as mais coisas que houve no mundo até à divisão das gentes.
  • Cap. 3: De como as gentes de dividiram por várias partes do mundo e como Tubal, neto de Noé, veio povoar nosso Reino de Lusitania, e fundou nele a povoação de Setúbal.
  • Cap. 4: De Ibero, filho de Tubal, e do tempo que reinou em Lusitania, e nas mais partes de Espanha.
  • Cap. 5: Do reino de Jubalda em Espanha e do que se fez neste tempo em Lusitania.
  • Cap. 6: Do rei Brigo, Senhor de Espanha, e do particular amor que teve aos Lusitanos.
  • Cap. 7: De Tago, quinto rei de Espanha, e do que em seu tempo fizeram nossos Lusitanos.
  • Cap. 8: Do rei Beto, sexto rei de Espanha, e do que sucedeu em seu tempo em Lusitania.
  • Cap. 9: De como o tirano Gerião se apoderou do Reino de Espanha, e do que em Lusitania sucedeu até à sua morte.
  • Cap. 10: De como os filhos de Gerião reinaram em Espanha, e da vinda de Hércules Líbico contra eles, e como o mais que se passou até sua morte.
  • Cap. 11: De Hispalo e Hispano, reis de Espanha, e do que sucedeu no tempo de seu reinado em Espanha.
  • Cap. 12: Do tempo em que Hércules reinou em Espanha, e dos favores que sempre fez aos Lusitanos.
  • Cap. 13: Do tempo em que na Espanha reinaram Hespero e Atlante Italo, das guerras que entre si tiveram, e da fundação de Roma, feita por gente Lusitana.
  • Cap. 14: Do tempo em que reinaram em Lusitania Sic Oro (Sicoro), filho de Atlante Italo, e seu neto Sic Ano (Sicrano), com algumas coisas particulares, que em seu tempo sucederam.
  • Cap. 15: Do reino de Sic Celeo (Siceleu) e de Luso em Espanha, e de como esta parte Ocidental se começou a chamar Lusitania, como muitas outras particularidades acerca desta matéria.
  • Cap. 16: De como Sic Ulo (Siculo) começou a governar o reino de Lusitania, e das coisas que lhe sucederam, durando seu Império, dentro e fora de Espanha.
  • Cap. 17: Do que sucedeu em Lusitania, reinando Testa nas outras partes de Espanha, com a relação de certa gente estrangeira, que passou nestas partes.
  • Cap. 18: Do que sucedeu em Lusitania, reinando em Andaluzia um rei chamado Romo, e da vinda de Baco à Espanha, com outras particularidades a este propósito.
  • Cap. 19: De Licínio, capitão dos Lusitanos, e das batalhas que teve com Palato, rei da Andaluzia, até que Hércules Grego chegou a Espanha, com favor do qual Licínio ficou vencido, e Palato seguro em seu reino.
  • Cap. 20: Do rei Eritreu, senhor de Espanha, do que em seu tempo fez a gente Lusitana com alguma opiniões acerca da Ilha Erytreia.
  • Cap. 21: De Gorgoris, rei de Lusitania, do que em seu tempo sucedeu neste reino, com algumas coisas particulares, que os autores referem deste tempo.
  • Cap. 22: Da vinda de Ulisses a Portugal, e da fundação da famosa cidade de Lisboa, feita por este capitão, com algumas coisas a este propósito.
  • Cap. 23: Como Abidis começou de reinar em Lusitania, e nas mais partes de Espanha, e das coisas que sucederam em seu reinado.
  • Cap. 24: De certa esterilidade que os autores contam, que aconteceu em Espanha neste tempo, e da verdadeira e menos duvidosa opinião que há nesta matéria.
  • Cap. 25: De várias coisas, que sucederam em Lusitania, depois desta esterilidadade acabada, principalmente da vinda de Homero a estas partes, e dos Franceses Celtas, que povoaram muita parte do nosso reino.
  • Cap. 26: Da vinda de muitas nações estrangeiras a Espanha, e das terras, que em Portugal se povoaram com a vinda delas e dos Franceses Celtas.
  • Cap. 27: Das guerras e descontos, que a gente de Andaluzia teve com os Fenícios, que viviam em Cadiz, e como os Lusitanos foram em socorro dos Espanhois.
  • Cap. 28: Das guerras que houve em Lusitania, entre os Celtas e Turdulos, e da vinda a Espanha de Nabucodonosor.
  • Cap. 29: De como a gente Portuguesa, que foi em socorro de Cadiz, tomou as armas contra os Fenícios, por lhes negarem o soldo.
  • Cap. 30: De como os Turdulos, que viviam na costa marítima de Portugal, se estenderam pelo sertão contra o nascente, e da origem dos povos Transcudanos.
Cronologia da Monarchia Lusitana, por Bernardo de Brito
  • 3962 a.C. - Criação
  • 2306 a.C. - Diluvio
  • 2161 a.C. - Tubal - 2009 a.C. 
  • 2009 a.C. - Ibero - 1970 a.C. 
  • 1970 a.C. - Jubalda - 1906 a.C. 
  • 1906 a.C. - Brigo - 1855 a.C. 
  • 1855 a.C. - Tago - 1825 a.C. 
  • 1825 a.C. - Beto - 1795 a.C. 
  • 1794 a.C. - Gerião - 1760 a.C. - Jupiter Osíris
  • 1760 a.C. - 3 Lomínios - 1718 a.C. - Hercules Lybico
  • 1718 a.C. - Hispalo, Hispano - 1669 a.C.
  • 1669 a.C. - Hercules Lybico - 1628 a.C.
  • 1628 a.C. - Sic Oro - 1584 a.C.
  • 1584 a.C. - Sic Ano - 1553 a.C.
  • 1553 a.C. - Sic Celeo - 1509 a.C.
  • 1509 a.C. - Luso - 1476 a.C.
  • 1475 a.C. - Sic Ulo - 1415 a.C.
  • (1415 a.C. - Testa - 1344 a.C. - Romo - 1311 a.C.)
  • 1332 a.C. - Baco, Lísias - 1309 a.C.
  • 1309 a.C. - Licínio vs. Palatuo - 1239 a.C. - Hercules Grego
  • 1239 a.C. - Eritreio - 1179 a.C.
  • 1156 a.C. - Gorgoris - 1079 a.C.
  • 1079 a.C. - Abidis
  • - - fuga pela seca e esterilidade na Hispania - -
  • 999 a.C. - entrada dos Celtas franceses no Alentejo
  • 932 a.C. - gregos de Rodes em Roda (Andaluzia)
  • 923 a.C. - grande incêndio dos Pirinéus
  • 752 a.C. - exploração dos Fenícios das minas de ouro e prata
  • 604 a.C. - nova chegada de gregos
  • 589 a.C. - vinda de Nabucodonosor a Espanha
Que crédito dar à Monarchia Lusitana?
Em 1493, Annio de Viterbo disse ter encontrado em Viterbo manuscritos que se julgavam perdidos, nomeadamente um registo do caldeu Beroso, que explicaria grande parte da história que faltava.
As suspeitas sobre a autenticidade dos registos de Viterbo começaram a ser questionadas nas décadas seguintes, e o próprio Bernardo de Brito em várias passagens lhe retira algum crédito, mas não o deixa de mencionar. Mas, só quase um século mais tarde é que Scaliger declara a completa falsificação da obra de Viterbo.
Entretanto, já ilustres académicos tinham compilado as suas histórias com os dados de Viterbo, nomeadamente o espanhol Floriano de Ocampo ou João Vaseo. Aparentemente a receita de Viterbo agradava em vários aspectos... a toponímia - nomes de rios, cidades, terras, ligava-se directamente a antigos reis. Não só, fazia-se uma ligação entre várias lendas, antes desconexas. Por exemplo, Jupiter e Osiris seriam o mesmo personagem, Hercules e Horus também, etc...

Mostrando-se falso esse registo, a obra de Bernardo de Brito ficaria como uma ficção desprovida de sentido, poderia ser apenas uma ficção literária... só que Bernardo de Brito vai mais longe.
Descobre, nos arquivos do Mosteiro de Alcobaça, uma crónica de Laimundo Ortega, monge do Séc. X.
É essa crónica que Bernardo de Brito vai seguir principalmente... e nalguns aspectos pareceria coincidir com o tal registo falso de Beroso.
O que acontece de seguida? 
- Já no Séc. XVIII é questionado que essa obra de Laimundo seja autêntica, e portanto, mais uma vez, perante novas acusações de falsificação, a Monarchia Lusitana sofre novo ataque.

Parece-me bastante provável que, quer Viterbo, quer Bernardo de Brito, tenham encontrado documentos antigos, provavelmente feitos no Séc. XI ou XII, que visavam criar essa história mirabolante unificadora. 
No fundo, havia necessidade disso.
Sendo a Bíblia a única referência, e dando apenas conta da história judaica, faltavam registos que não fossem apenas gregos ou romanos. Se não existiam, podem bem ter sido inventados, com maior ou menor inspiração em factos conhecidos, para satisfazer uma história das restantes paragens europeias.

Assim, se Bernardo de Brito pode ter bebido em fontes impuras, também é verdade que não segue apenas estas duas fontes. Segue centenas de autores antigos, muitos dos quais os clássicos, a partir dos quais se organizou toda a história greco-romana. 
O que acontece é que de Plínio, Estrabão, Heródoto, e outros, apenas se tem tirado o que se considera ser "politicamente correcto", e à sua maneira, a história oficial foi fazendo a sua censura, escolhendo o que interessava e não interessava. 
Nesse aspecto, a obra de Bernardo de Brito junta múltiplas fontes, numa ficção que ele considerou ser consistente, à luz do pensamento católico vigente, e com base numa extensa documentação de suporte.

Não é menos do que uma história mítica de Artur, Merlin, Lancelote, Parseval, e tantos outros personagens que, sendo míticos, não deixaram de ser apresentados a público como tal. Foram igualmente resultado de obras de monges do Séc. XII, como Geoffrey de Monmouth, e a sua relação com eventos reais ou míticos não foi prejudicada pela divulgação.
Porém, a censura às obras ibéricas teria um objectivo de evitar estabelecer o mesmo aspecto mítico, que ilude populações, e não era já conveniente que os reinos ibéricos tivessem ideias de grandezas perdidas... muito menos que competissem no tempo com a Bíblia e a família judaica.

16 comentários:

  1. "A História é escrita pelos vencedores"... E há que fazer coincidir a história com certas narrativas.. como agora se costuma dizer em politiquês...

    Acabei de descobrir este site sobre trajes portugueses (muito interessante, diga-se de passagem)

    http://trajesdeportugal.blogspot.pt/

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    1. Pois é, cara Amélia, e é essa frase pode ser bem entendida:
      - não é esta a História, logo não são estes os vencedores!

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  2. Mais um blogue interessante (vale muito pelas imagens.. e que imagens... :-) )

    http://erikkwakkel.tumblr.com/

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  3. Re: “não é esta a História, logo não são estes os vencedores!”

    Quebrar a estrutura do raciocínio da carneirada é coisa difícil, os pastores (melhor, jardineiros do Éden) provavelmente deixaram no ADN humano um mecanismo que auto bloqueia o acesso à informação de tudo (árvore da vida) já indicado no IRM do cérebro mas com ajuda de certas drogas alguns conseguem aceder (xamanismo) outros nascem “avariados” (com ADN dos “deuses”?) e têm acesso livre à base de dados. Em suma o libre arbítrio é isso e poucos o têm. Os hinduístas dizem que todo o ser humano tem (tinha... diga eu) no seu corpo todas as informações sobre o universo e tudo mais, outo grego mais tarde vai copiar este ensinamento, dizia nada se inventa tudo se redescobre num certo sítio.

    Por isto tudo digo a guerra é antiga e não acabou ainda.
    Os vencedores (sobreviventes) não precisam de contar histórias, os factos falam por eles.

    Cumprimentos,
    José Manuel CH-GE

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    1. Pois, a questão é que os factos são a parte independente do sonho.
      Há o sonho dos pastores, que é uma forma de realidade - no sentido em que ganhou consistência nalguma mente, porque as mentes aceitam mentiras desde que bloqueiem uma parte dos factos.
      Ou seja, é possível dizer que uma pedra vermelha e outra azul, são iguais, se esquecer a cor. Ignorando umas coisas e escolhendo outras pode construir uma lógica parcial, que bate certo com o que escolheu, mas não bate certo com tudo... e arrisca não bater certo com nada.
      Por isso a mentira está sempre condenada a ser uma realidade não universal, ou seja faz parte de um universo sem nexo, que se pode acreditar num sonho circunstancial, alucinado ou não, mas que não resiste sempre, a todos os factos.
      Os factos são esse teste à resistência contra a mentira de uns, que precisam de ignorar os outros.

      Sempre fui muito aristotélico, por convicção na perfeição... ou seja, a compreensão da observação deveria ser suficiente para entender o que é preciso entender. A experiência pode acelerar o processo, mas não trará maior conhecimento ao fundamental. A experiência só se torna necessária para evidenciar factos que foram ocultados.
      Ou seja, a maior técnica permitirá cada vez mais mostrar as inconsistências de historietas antigas mal contadas.

      Quanto mais evoluir a técnica, mais pesam os factos contra os sonhos e as mentiras... por uma simples razão de consistência. Não é possível conjugar o racional da ciência misturado com o irracional das historietas.
      Por isso, quanto mais técnica for usada para controlar, mais ela revelará esse controlo.
      A rolha pode ser boa e aguentar a pressão do interior da garrafa, mas ou o líquido apodrece, ou o gás libertado pela agitação acaba por forçar a saída.

      É claro que a informação total do universo nunca poderia estar inserida no corpo humano, ou numa qualquer parte do universo, porque isso seria dizer essa parte menor era igual ao todo. Agora, ao longo desta vida e para além dela, há todo o tempo do mundo para se manifestar toda a complexidade, real e imaginada.

      Dizer que tudo se redescobre é apenas uma fé, e já falámos sobre isto. Interessa o nosso tempo, para além do outro tempo. Nesse nosso tempo, as nossas descobertas não são redescobertas. Até podemos acreditar pelos factos que se poderiam inserir assim... mas não podemos negar a experiência pessoal, colocando-a abaixo doutras deduções.
      Ou seja, aquilo que descubro é feito sem informação de que foi ou não descoberto antes, e por isso essa constatação será sempre posterior, e irrelevante para o processo.

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  4. Re: “Ou seja, aquilo que descubro é feito sem informação de que foi ou não descoberto antes, e por isso essa constatação será sempre posterior, e irrelevante para o processo”

    Aquilo que eu descubro é fruto da minha observação, depois de comparar com o oposto ao que observei, há uma parte inconsciente que me faz inclinar para uma conclusão, chamam a isto raciocínio outros de livre arbítrio, têm-lhe dado vários nomes.

    Agrada-me a mistura da teoria das cordas, universos paralelos com a do “nada se perde tudo se transforma”, onde o Universo ou os, se contraem e descontraem indefinidamente, o que estamos aqui a fazer já se reproduziu segundo algumas teorias e muitas filosofias, por instinto próprio lhe digo; BONS RE DESCOUBRIMENTOS caro Alvor!

    Sobre a técnica que faço alusão é a do IRM do cérebro humano em estado de alienação no momento em que tenta ou pensa que está em contacto com o divino, não é nessa situação que o filosofo grego dizia aos seus discípulos que se vai buscar as informações, ou re descobertas, é quando se morre fisicamente, e se volta a esta situação física (1) em que nos encontramos aqui a discutir, alguns trazem-na outros não, acho que é um modelo antigo sustentável por teorias actuais, pois de concreto nada se sabe ao certo, e continuo a procurar, por isso venho aqui ler os seu blogs a ver quiçá se me “relembro” de algo esquecido.

    Cumprimentos,
    José Manuel CH-GE

    (1) Anamnese
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Anamnese_(filosofia)

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  5. Não há nada depois da morte.Somos seres pensantes e temos a capacidade,aos outros seres vivos,de analisar o que nos rodeia.O ser humano engana-se inventando a vida eterna...quem crê em alguma das vidas eternas esta-se a enganar a si próprio.

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    1. Como dizia um sábio índio dos USA num filme, torna mais fácil a nossa existência acreditar numa vida depois da morte física, mas cada qual faz o seu próprio filme, face à morte poderá o caro anónimo mudar de opinião, médicos dão pequenas doses de LSD a doentes com mentes não preparadas para morrer e cépticos sobre outras dimensões, uma coisa tenho a certeza o organismo humano está programado para enfrentar a situação a nossa mente EGO esse que fabricamos e engordamos com tudo o que fazemos ao logo da nossa vida esse não está preparado para nada a não ser simplesmente que pensa saber tudo e tudo conhecer etc. a electricidade não é visível mas se duvida que existe ponha a mão no pólo positivo... temos 5 sentidos muito limitados por isso tudo é possível depois da morte, se há alguma forma de existência depois da morte física cada qual o saberá um dia, isso é a única certeza que todos podemos afirmar.

      Um tardigrade regenera o seu ADN resiste 2000 anos congelado etc, uma carraça vive 10 anos sem comer à sombra duma árvore! Tempo e vida vária, não somos a espécie mais evoluída neste planeta Terra, somos sim a mais nefasta e vaidosa, infelizmente.
      Pouco sabemos do que nos rodeia, mas como dominamos a bomba atómica pensamos tudo poder fazer pois até já sabemos do ADN, mas do ADN negro NADA, dois segundos é o que representa a existência da nossa espécie para a duração deste planeta...

      Pessoalmente só sei que pouco sei da vida, da morte logo verei um dia.

      Cumprimentos,
      José Manuel CH-GE

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    2. Caro José Manuel,
      repare que quando liga à Anamnese, está implicitamente a recusar a morte através da remniscência.

      Grande parte das dúvidas colocadas resultam pura e simplesmente do baralhar de noções mal definidas. Não se define o que é a realidade, a matéria, a energia, os sentidos, etc... são tudo coisas vagas, pré-assumidas, e por isso a conversa sobre isto acaba por andar em torno de nada.

      Qual a principal diferença entre a morte dos outros e a morte do próprio?
      - A morte dos outros pode ser declarada por variados critérios. Chegou a ser o bater do coração, depois dos transplantes, passou a ser o electroencefalograma que declara a morte cerebral.
      - Objectivamente o que se pretende dizer com isso?
      - Que o corpo em causa deixou de manifestar o raciocínio.
      - Nunca ninguém pode declarar objectivamente que o raciocínio terminou. Terminou apenas a sua manifestação pelos aparelhos científicos disponíveis. Acreditando na ciência, pode pensar-se que é falha dos aparelhos... mas isso nunca resolveria nada.

      Essa é a maneira de ver a morte dos outros. Como pode aferir da sua morte?
      Não pode! Ponto final.
      Não há mais nenhuma volta a dar-lhe, é escusado.

      Eu já sonhei muitas vezes com a minha possível morte, e acordei sempre... porquê?
      Porque é óbvio que perante um final sem possibilidade de continuação, o raciocínio só tem uma possibilidade lógica de continuar - considerar que se tratava de um sonho, e dá-se a descontinuidade.

      Se continuar a pensar, é porque não morreu. Ponto final. Por isso, a ideia de vida para além da morte só faz sentido enquanto vida, e não faz nenhum sentido enquanto morte... porque não ocorreu nenhuma morte do seu raciocínio - se continuou a pensar é porque não morreu. A sua ligação ao corpo é um detalhe. Como já aqui disse, uma trombose é suficiente para o deixar sem qualquer acção sobre o seu corpo. Fica um mero observador, sem possibilidade de interagir. Vê, mas não pode fazer nada, nem dizer nada.
      Se tiver um familiar nessa situação, como eu tive, perceberá melhor a situação dramática.
      Vai visitá-lo, não consegue saber se ele o está a ver ou não. Nem consegue perceber se ele está a pensar nalguma coisa, ou se arranjou forma de se abstrair, fugir daquela situação. Apenas vê o corpo dele inerte.
      O que acontece quando essa pessoa morre?
      Exactamente o mesmo. Pode ir visitar a campa, e repete-se o discurso:
      Vai visitá-lo, não consegue saber se ele o está a ver ou não. Nem consegue perceber se ele está a pensar nalguma coisa, ou se arranjou forma de se abstrair, fugir daquela situação.

      A diferença é que já nem vê o corpo na campa, e por isso não é levado a acreditar que ele o veja, porque deixou de ver o corpo, e os olhos abertos, ainda que inexpressivos.

      Portanto, há situações de classificamos de vida que só diferem da morte, por uma crença de que o corpo poderá recuperar - num caso, e que não tem recuperação possível, no outro. Agora, sobre o espírito que dava vida ao corpo, desse espírito o rasto foi logo perdido, mesmo antes de morrer.

      Podem chegar ao pé de mim, e dizer-me:
      "Olha, meu caro, sabes aquele acidente, em que ninguém se poderia safar, tu achaste que te safaste, mas não, estás morto..."
      E a minha resposta seria simples:
      "É melhor considerarem que foi o universo em que eu não me poderia safar, que não se safou..."

      Por isso, meu caro, pelo simples facto de pensar, ninguém pode dizer que estamos mortos.
      Por isso, nunca vai saber se morre ou não. No máximo, o que lhe pode ocorrer é uma transformação em que deixa de interagir com o corpo que tem. O que lhe disserem, compete a si acreditar ou não, e por isso se há coisa que não deve abandonar nunca, é o raciocínio lógico - só ele leva à verdade.

      A morte absoluta é um problema nulo. O que é que interessa o destino de um universo onde deixará de pertencer? - No máximo só lhe interessa o universo onde não pode evitar estar presente, ou poder vir a estar presente.

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    3. Boa noite

      A boa prosa do Alvor parece "de advogado" na forma, parecida no fundo com budismo com a qual concordo em parte.

      Vou para a photas na Wiki, é menos complicado.

      Cpts
      José Manuel

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  6. COmplicado é juntar a todas as belas descrições, históricas, o cavalo Lusitano (com ~20.000 anos...antes disto o mais antigo era o Árabe), ou as conchas e seus potes (não são poucos, só cerâmicas são mais de 100.000 peças...bués para um povoado com meia dúzia de esquecidos no ocidente) bem como as videiras (mais antigas que as encontradas na Geórgia...muito aborrecido para re-escrever tudo outra vez) que aparecem perto de São Romão do Sado. A isto tudo há a juntar que os ciclos anuais nem sempre foram contados pela mesma aferição. Quanto ao oculto, é outra chatiçe imensa, já que uma cobra enrolada mordendo-se a si própria não é muito diferente de uma cobra com quatro pontas girando (duas cabeças e duas caudas), pese embora esta última seja em tudo semelhante ao símbolo do último 'profeta' que anunciou o seu império como o de 1000 anos. Então e a peste negra que veio da Ásia...mas que tinha sido originária da Europa medieval???...cruzes canhoto!
    Giro mesmo, é observar que o Flamenco e o Tango têm todos os movimentos das antigas escolas de Kung Fu.

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    1. Caro Bartolomeu Lança,
      muito obrigado pelos comentários.
      A arqueologia nacional tem sido sistematicamente condicionada, e quanto à história mais recente guardaram-se apenas os documentos que não iam contra a versão que foi sendo oficializada, século após século.
      Ninguém parece achar estranho que a maioria dos mapas e registos de viagens tenha sido perdido. Perdeu-se tudo no Abalo de 1755... já se sabe, ou melhor é assim que se quer fazer crer. Já antes tudo tinha sido perdido, como se queixavam Damião de Góis, João de Barros e os outros historiadores. Porque houve necessidade de ocultar, e até mesmo de destruir definitivamente, como foi com a acção do Marquês de Pombal.

      As escavações mais recentes certamente que estão e vão levantar novas questões, mas toda a máquina está preparada para as desvalorizar.

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  7. Acabei de adquirir no OLX os 4 Tomos da História De Portugal De Alexandre Herculano e já comecei a ler. Vamos lá ver o que vai sair dali.

    Ab

    JR

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    1. Caro João Ribeiro, pois é uma boa escolha, mas dado que se tratou do documento que serviu de base a todas as histórias posteriores, duvido que encontre alguma grande novidade. De qualquer forma, haverá sempre detalhes que entretanto foram caindo no esquecimento, até porque a versão de Herculano teve revisões posteriores.
      Abç

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