Alvor-Silves

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Pacífico (31/12/2009)

Sexto e último texto da série "Tese de Alvor-Silves", sim, porque o sétimo seria propositadamente uma "folha branca". Na realidade creio que escolhi o número sete pelo seu simbolismo, e pensava escrever sete textos, mas... as coisas acabaram por correr noutro sentido, até porque pretendia fechar o assunto em 2009. Após três meses intensos, resumidos em duas semanas de escrita, não pensava despender mais tempo no assunto... mais um erro, o problema tornara-se mais complicado do que suspeitara, e fez questão de me atormentar bastante mais tempo. E o principal problema não tinha a ver propriamente com as questões históricas, mas sim em reencontrar alguma racionalidade na estrutura filosófica global. Ora, isso não era tarefa para três meses, e para esclarecer tudo o que me interessava, de fio a pavio, acabei por demorar bastante mais tempo, até porque se adicionaram incómodos e surpresas, de uma ordem que classificaria como imaginária. 
No entanto, a receita é sempre a mesma... quando a fachada abana, têm que se inspeccionar as fundações, mesmo as mais profundas, as raízes que fundam o nosso pensamento. No meio de tanto caos, parecia complicado encontrar alguma ordem, mas estas coisas são ao mesmo tempo necessariamente complicadas, e necessariamente simples. A simplicidade resume-se a aceitar que aquilo que vemos como caos tem uma ordem, não é um acaso... mas isso não basta, porque as coisas são complicadas e não é "por acaso". 
O que acho mais curioso, é que para refazer a minha interpretação de uma racionalidade global, fui impelido a escrever parte disso aqui, ou seja a escrevê-lo para terceiros. Por isso não "é por acaso" que o leitor aqui encontrará assuntos filosóficos que à partida pouco ou nada se enquadram em assuntos ou polémicas históricas... mesmo assim, procurei remeter uma boa parte para o blog odemaia.

Quanto ao texto em questão, também acabei por suprimi-lo pouco depois... sobretudo opinativo, tinha pouca matéria objectiva. Não iria obviamente falhar a passagem de ano, e por isso foi acabado em horas tardias, às 8h00 da manhã do dia 1 de Janeiro, o que se tornou adequado ao título. Foi acabado em Pacific Time, com 8 horas de diferença da Califórnia, do outro Mar Vermelho... horário que ainda mantenho no blog.

Ficaria a faltar colocar aqui os dois primeiros textos. Foi relendo agora o segundo, sobre os Painéis de S. Vicente, que reparei que me tinha esquecido de colocar aqui os restantes, conforme afirmara, a propósito da supressão do Knol. Faltaria assim, o primeiro de todos, que esteve também suprimido, e apesar de ter aproveitado parte da matéria mais substantiva no post Peça-a-Peça (evitando a conjectura sobre as Molucas, sendo que nesta altura não sabia que eram literalmente Malucas, só depois passaram a Molucas), fica aqui também incluído. 

Seguem-se assim os dois textos, o último e o primeiro...





PACÍFICO

... um Desejo Indicado por um Atlas!

Não encontrei melhor forma de conjugar "verbos" e oceanos... um está por cumprir, é ainda um Désir, o grande Oceano onde a humanidade navega.
Tese de ALVOR SILVES - Parte 6 de 7
31 de Dezembro de 2009 / 1 de Janeiro de 2010

Como terminar esta Estória?
Sim... porque afinal será sempre uma Estória, sob forma de tese, tal como é a História.
Poderia continuar a enumerar imensos factos, mapas onde o Brasil aparece cortado em Santa Catarina, o Rio da Prata é exagerado, pois pretende-se associar a passagens polares, é possível associar a distorção da Inglaterra ou a "Ilha Dinamarca", a outras paragens. O completar da costa da Escandinávia era no fundo um completar de uma rota completamente distinta. Há um conjunto de mapas significativo, que se pode consultar por datas neste link da BND.
Mas tudo isso pode sempre passar por simples coincidências... como aliás toda a História.

Talvez seja tempo perdido... só ainda não se convenceu quem não quiser ser convencido!
Se não formarmos a nossa opinião, e só nos sentirmos bem com uma opinião demasiado partilhada, demasiado influenciada, sem auto-crítica, então não somos minimamente livres.
Há que dar os parabéns a quem produziu esta notável experiência psicológica, um tanto ou quanto maquiavélica, onde não é mesmo claro que os fins tenham justificado os meios.
De facto, este nosso povo é um povo de fé e acredita na sua alma. E tem momentos únicos, simbólicos, como quando saímos à rua para cumprir um minuto por Timor.

Quem quiser perceber o que escrevi nos capítulos anteriores, poderá ler que:
- no mínimo houve uma "Teoria da Cabala", que deveria requerer um "Esclarecimento Cabal"!

Mas é certo o que significam estas expressões?
De facto, parece que se acordou em repartir o significado dos fonemas em "Cabal" ou "Cabala", com sentidos aparentemente opostos.
Temos vivido assim, numa luta pela educação, pela fundação do raciocínio, que nos forma ideias pré-concebidas, e torna a comunicação muito difícil, até com as mensagens que os nossos antepassados quiseram transmitir.
Tanto mais difícil que as mudanças na escrita até baralharam a terminação dos verbos em "ão" para "am", confundindo a outra possibilidade do verso camoniano:

E entre gente remota edificarão Novo Reino, que tanto sublimarão;

Quem quiser entender - por bem - o que escrevi, verá que tomei claramente um lado da história, o lado ocidental, que ficou sinistro num nevoeiro. 
Era inevitável - é o lado de que é preciso falar!

Não tem nada a ver com Oriente e Ocidente... é preciso tornar isso claro!
Poderia chamar-se Poente e Levante, ou outros tantos nomes... correspondeu a duas opções políticas em Portugal (e não só), que fizeram muito sentido na história. Com o tempo deixaram de fazer tanto sentido, mas ficou um legado de grande encobrimento, que nos afecta ainda. Confesso que não sabia disso... e minorei demasiado a possibilidade.
Entre não haver ninguém que tivesse prestado atenção suficiente e uma cabala de dimensão impensada, foi sempre mais plausível considerar a primeira hipótese. Eu preferiria ignorar o passado mais recente para que fosse pelo menos possível uma conciliação a longo termo.

Mas, agreste é constatar, que afinal tudo não passam de Segredos de Polichinelo.
- Polichinelo, que ama uma Colombina, e que em Espanha até é conhecido como Don Cristobal ...
Chega-se a este ponto de ilusão, e de facto... não estando predispostos a associar a informação, não o fazemos - é cultural!

É assim o Carnaval, de Veneza, o de Espanha, e dando ritmo à melodia camiliana (da "Queda de um anjo") em Portugal teremos sido há séculos os bombos da festa. E todos estes países acabam por estar envoltos nesta luta contra o seu passado pretensamente glorioso e ao mesmo tempo sinistro. Isto afectou dramaticamente o que se passou depois... e não só nestes países que menciono, é claro!

Em contra-balanço com o aparecimento da internet, que tornaria tudo mais claro, vê-se que reina aí o excesso de informação e distracção. Vai acabando a tradição da espiga (percebo agora, ligada à Pedro), e tantas outras tradições que se mantiveram na memória popular, mas que são descuidadas no pragmatismo contemporâneo.

Mas se houve um fio que se soltou à marioneta, fica pois muito bem arrumada no esquecimento, e todos os habilidosos trági-comediantes podem continuar a entreter a plateia que poderá até ter pago para ver este espectáculo. Alguns, espectadores mais sensíveis, procurarão gritar para as pessoas que acordem, mas não percebem que a cera é bem espessa e não foi colocada por Ulisses, mas sim por Zeus. E, já agora, sendo filosófico, ficará sempre a dúvida aos assistentes da plateia se por sua vez não farão apenas parte da Estória que aqui conto, etc!

É claro que podemos continuar a manter a informação reservada, que será considerada uma inestimável riqueza para quem a possui.... mas até quando estes segredos das muitas chinas, ou dos muitos chinelos?
É claro que a maior parte das pessoas não liga à História, e vão sendo sempre iludidas que temos de começar tudo de novo! Partimos para qualquer rumo, sem direcção anterior, sem registo de percurso! Agora é que é... temos que produzir mais! Portanto, para além de estar numa prisão que desconhecíamos... passamos a trabalhos forçados!

Para além disso é suposto ficarmos calmos, e ver que a História de Portugal é internacionalmente obliterada, ignorando mesmo a metade do legado dos nossos antepassados!
E depois fomenta-se a leitura de Camões, Pedro Nunes... o que se quer provar?
Que somos ignotos e não merecemos o nosso passado?

Não sei se há alguma versão deste género.... mas nesta história, parece que Caim depois de matar Abel, adopta os seus filhos, e querendo o bem deles, evitando que façam o mesmo, educa-os numa rígida visão, com a sua versão dos acontecimentos. Mas, ao mesmo tempo coloca a arma do crime, na sombria ala poente (onde dormem). Tão habituados, nunca reparam na sua presença. Certo dia, após Abel morrer, um desse filhos adoptados tropeça nela.
O que é suposto acontecer depois?
- Conta aos outros irmãos, e voltam a pôr tudo no sítio para não haver mais problemas?
- Vão pedir explicações aos outros, e exigem luz nas duas alas?
- Ou entram em conflito muito maior?
É uma estória um pouco arriscada...


Comunidades perdidas
Se não quisermos estar sempre a reconstruir tudo de novo, a História precisa de ser entendida e não será só a história nacional, porque só em poucos aspectos ela é nacional.
O "verbo" do nosso raciocínio foi de tal forma adulterado que se tornou claro que não haveria entendimento quando as diferentes versões da mesma história se encontram perante um castigo babeliano, e há algumas estórias que pretendem sem razão ser mais histórias que outras.

Cada grupo ou povo enredou-se dentro da sua própria construção linguística, numa parte da memória que quer conservar, e foram surgindo os inevitáveis desentendimentos.
Não por razões hereditárias de sangue, mas por razões hereditárias de cultura, as pessoas tornaram-se diferentes e a comunicação pretendeu-se difícil, distintiva.

Fomos sujeitos a isso?
- É claro, em nome de propósitos maiores, muitos dos quais guarda-os a memória dos tempos! Muitas das nossas acções surgem assim como réplicas a um sobressalto passado.

As barreiras linguísticas de entendimento começam a abrir-se, sob uma língua comum. Será o inglês... não será a nossa língua, mas qual é o problema?
Não é assim tão difícil ser bilingue... podendo aceitar uma cultura universal, de entendimento, mas também onde cada uma das partes tem direito à sua língua, à sua versão, e à sua tese. Honra-se a diferença, aceita-se um entendimento.
É por isso que até ao 5º capítulo marquei essa diferença... a diferença pela "perspectiva nacionalista", e a marquei como uma Estória, como uma Tese, incompleta, imperfeita, que toma um lado esquecido!

O detalhe é uma tentativa finita de atingir o infinito... simplesmente não leva a nenhum lado humano!

Se não aceitarmos a nossa finitude e imperfeição estamos a tentar comparar-nos a deuses que não o somos, nem seremos. Devemos tentar controlar o nosso erro, e não pensar que seremos sempre capazes de evitá-lo.

Camões é magnífico como exemplo de entendimento. Toma partido, mas produz uma obra que honra as duas perspectivas em conflito.A sua obra é quase perfeita na balança, na libra... e isso é melhor elogio do que ser perfeita. O seu erro é controlado pelo lado que assume, face ao outro lado que isso oculta.
Se tomarmos partido por um dos lados, como se tem feito até aqui, estamos a lobotomizar gerações, presas em muros de justificações incompreensíveis...

A certa altura haverá sempre uma cultura onde se desenvolvem duas ou mais maneiras de ver as coisas. Haverá sempre um lado preferido e outro condenado a esperar, sentindo que foi preterido, ou expulso. Mostra-nos a História que esse lado vencido, nunca desaparecerá da memória, por muito ténues que sejam as informações, elas serão reencontradas. Pode deambular num deserto, mas essa memória reorganizar-se-à até sob uma forma ténue, adulterada, ao mesmo ou a outro propósito.

E se tivesse acontecido algo ainda mais surpreendente... um grupo de refugiados, que foi excluído, e que foi acumulando no seu seio todos os refugiados, em sucessivas purgas feitas por civilizações que presenciou, mas que acabaram por sucumbir? Esse grupo iria acumulando um conhecimento milenar, resultado da sua participação no progresso dessas civilizações. Poderiam unir-se até com um pretexto religioso, ligado às suas origens e dessa forma mantendo um elo de ligação, mas estariam sempre abertos à entrada de novos refugiados no seu seio.

Falo nisto apenas porque o epíteto "judeu" apareceu ligado a muitos portugueses, sem razão aparente. Seria mais fácil designar assim quem estivesse contra as ideias vigentes, aproveitando popularmente o episódio do sacrifício pessoal de Jesus. Ainda hoje em Portugal o termo "judeu" é usado apenas pejorativamente, sem qualquer conotação religiosa.

Perante uma perseguição hostil, é natural que os novos apelidados "judeus", parte da elite pensante de cada nação, encontrassem refúgio entre os outros "judeus" (já praticantes religiosos), e se tornassem parte da comunidade. A comunidade iria sendo progressivamente enriquecida com tantas diferentes origens, e de facto, é díficil notar qualquer semelhança fisionómica entre os diversos israelitas.

Também é interessante, pois a agora muito difundida Teoria da Cabala, aparenta ser filosófica, e tem origem em judeus que saíram de Portugal. Muitos desses "judeus" exilados encaram-se ainda como velhos portugueses, e criaram comunidades influentes, por exemplo, na Holanda e nos Estados Unidos da América.
Para além disso, podem encontrar-se registos em Cordoeiro ou então em Paolo Riccio (pensador muito elogiado por Erasmus), onde encontrei a figura de uma "árvore da vida": com a inscrição PORTAELUCIS, 

que é suposto ser Portae Lucis (Porta da Luz), mas também, com mais um anagrama típico da época:

PORTAELUCIS >> PORTUCAELIS

Ora esta ligação judaica a Portugal não é desconhecida, e desdramatizando, permitam-me mais este pequeno anagrama: CABALA >> BACALA e que é no sentido inverso. Ou seja, a pesca do Bacalhau nas terras perdidas da América, levou a reencontrar cristãos no Canadá, mas também se encontraram povos circuncisados (Aztecas, Incas). Isso pode ter sido visto como um reencontro com tribos perdidas. A grande presença judaica em Portugal, pode ter sugerido a palavra com uma pequena modificação insuspeita. Sendo pura especulação a associação, e não pretendendo ser confrontado com nenhum esclarecimento cabal, pareceu-me interessante relacionar com a nossa devoção ao sagrado peixe, seco e salgado, é claro! No fundo, apenas porque grande parte dos descobrimentos não se dissociaram da pesca deste peixe, que merece aqui esta homenagem por esta associação.
Pode parecer estranho e despropositado invocar isto... mas não é!

Renascimento Científico...
Isaac Newton conhecia a Teoria da Cabala, e os anagramas eram usados como forma de publicação... É claro que o Renascimento teve muitas ideias próprias... mas terão sido assim tantas?
Todas ao mesmo tempo, e em sítios muito específicos, em tempos muito específicos...
Não eram algumas dessas ideias anteriores, do tempo da Biblioteca de Alexandria, que passaram por Portugal, onde tiveram um desenvolvimento adicional (secreto), antes de terem sido difundidas por essa migração forçada?
Quando se lê Duarte Pacheco Pereira percebe-se logo de início uma teoria de gravitação radial que quebra o mito de navegações para além do Equador! Diz claramente que os graves caiem para o centro da Terra, e que partindo desse ponto não sairiam. Ele é um homem do mar, e não apresenta a fórmula de gravitação! Muito antes de Galileu, fala do método experimental:

"& além do que dito é a experiência que é madre das cousas nos desengana"

Depois, temos um Pedro Nunes que não dá especial importância à Teoria de Copérnico, heliocentrica. Ora, Pedro Nunes tem uma concepção matemática relativista. Nas suas cartas não assume como referencial um único centro polar, considera vários zénites... logo, não considerando a gravitação, não fazia sentido dar mais relevo a um modelo tendo o Sol como centro, do que a outro com a Terra como centro... e que só lhe traria ainda mais problemas com as navegações e com a Inquisição.
Uma parte das descobertas científicas feitas no séc. XVI, XVII, e creditadas ao Renascimento, foram na realidade, boas adaptações de conhecimentos muito antigos, para os quais os Portugueses contribuíram. Encontram-se até gravuras com príncipios para a refracção óptica...
Toda essa contribuição científica ficou perdida na tal memória ocidental perdida... esse conhecimento teve uma luz, uma chama, diferente daquela que obteve noutras partes.
Mesmo essa contribuição científica conhecida, nestes exemplos que aqui dei, não é ensinada nas nossas escolas, e agora percebo porquê!
E já que refiro este ponto, aproveito para salientar que, de forma hábil, Duarte Pacheco Pereira relata que à época (1506) os descobrimentos de D. Manuel acrescentavam 1500 léguas ao que já se sabia mesmo contando os "antigos". Ora aos "antigos", o fenício Hanno, e o grego Eudoxo, ele creditaria nada mais, nada menos, do que o contorno da costa africana por navegação costeira... Sabendo-se isso... qual seria então a grande proeza nacional? - Acho que ficou claro nos capítulos anteriores... em 1537, Pedro Nunes declara o conhecimento total. A representação do Livro de Marinharia que está como logotipo deve mostrar aquilo que já se sabia em 1506.

Hespera Mundi
Não haverá nada que dramatizar... mas há que assumir os erros.
Se for tudo bem explicado, perceber-se-à que houve graves falhas, mas também boas intenções, pois isso também me parece claro que houve. E não falo só de um lado, falo dos dois lados... Há o atingível e o inatingível, o compreensível e o incompreensível, mas tudo deve ser bem doseado, bem equilibrado na balança de Pedro.
A nossa tradição católica incutiu-nos uma capacidade de perdoar, e por isso a grande alma lusitana poderá ainda estar disposta a isso, encarando o seu fado como sempre fez, ou cantando, ou ironizando, num magnífico carnaval que atravessa fronteiras.
Deixo símbolos elucidativos que faltam cumprir:

Moto do Infante Dom Pedro, com a balança.

Moto que D. João legou a D. Manuel, com as duas esferas
armilares, das quais apenas se foi manteve a Oriental.

Ambos invocam um equilíbrio, mas para que esse equilíbrio seja reposto nos dois hemisférios cerebrais, há que considerar que a nomeação Mundi Spera deve passar a Hespera Mundi.
De facto, o que nos foi mostrado foi o lado oriental, e essa parte já foi cumprida e comprida. Múltiplos sinais chegaram-nos de tantas partes do mundo, por tantas vias, alguns guardados por nós, tantos outros guardados em arquivos externos... que quiçá doutra forma se teriam perdido (por exemplo ambos os mapas de Reinel, estão na França e na Alemanha).
Ainda assim, temos sido incapazes de ver o lado ocidental, do Jardim das Hespérides. Por isso mais que uma Espera, o désir deveria ser uma Hespera.
Nos seus tercetos (incluídos no livro de Pêro de Magalhães de Gandavo) Camões comparará "Leónidas" a D. Sebastião, mas se comecei com esse elogio de armas, é tempo de recordar o seu moto:


Serena Celsa Favent 

"a grandeza é favorável ao esclarecimento"... que à falta de outra tradução, será para mim essa.
Quando olhamos para poente, a Terra roda no sentido de nos mostrar o futuro. Também é verdade que o Sol nascente anuncia uma luz para o dia que vem, e o Sol poente parece anunciar a escuridão... Mas essa escuridão traz também estrelas, que nos mostram um mundo novo.

Incompletude
Como é óbvio, nada está acabado e está longe de estar perfeito, é essa a condição humana de não tentarmos julgar que somos capazes de colocar um ponto final, ou ser perfeitos.Estas palavras que escrevi de alma, seguiram-se a tantas outras, sempre imperfeitas.É ainda natural que no meio dessa imperfeição tenha deixado transparecer um estado de espírito, resultado de uma irritação por semelhante e impensável obliteração cultural. Perdi quase 3 meses neste trabalho intensivo... mas isso não é nada, comparado com aquilo que tantos perderam no meio deste processo.
É agora tempo de repousar os fantasmas que me assombraram o espírito.
Quem por bem quiser continuar este trabalho - que precisa sobretudo de divulgação - o faça livremente, bastando apenas mencionar que é um trabalho anónimo cujo título é Tese de Alvor Silves que são os lugares fúnebres de Dom João II.

Alvor >> Aveiro >> irmã - Santa Joana Princesa,
Silves >> Coimbra >> avô - Infante Dom Pedro.

Simbolicamente, D. João II escolheu os lugares, no mesmo meridiano, na costa algarvia, correspondentes às pessoas que tanto prezava. Poderá ser mais uma coincidência!
Há tanta coisa para descobrir, que não quero estragar o suspense para tantas outras descobertas!


Um agradecimento especial à Google, por permitir espaços de divulgação, e a tantas fontes anónimas que contribuem na imperfeita mas necessária Wikipedia, bem como a Fontes mais particulares. 


D. Sebastião
verdades ou mitos

A versão que circula sobre D. Sebastião tem muito pouco de verdade, e muito de ficção conveniente.

Tese de ALVOR SILVES - Parte 1 de 7
13 Dezembro 2009

A verdade... ou o que não se sabe
A figura de D. Sebastião (1554-1578) está envolta num mito e num segredo da História de Portugal.
Por morte do pai, aos 3 anos de idade D. Sebastião sucede ao avô D. João III.

Por ser menor, há uma parte do reinado, pelo menos 11 anos, em que não é regente. Só aos 14 anos é que assume a governação, mas será com 16 anos que começará a evidenciar alguma autonomia face às ideias do tio, o Cardeal D. Henrique, que assumira a regência anteriormente.
Por isso, associá-lo a ideias de "batalhas, conquistas e a expansão da Fé", poderá ser só verdadeiro na versão que se pretendeu passar enquanto mau personagem de uma "estória mal contada".
A contrario, nessa "estória" que vai fazendo História, há várias contradições que apontam exactamente em sentido oposto:

    (i) aos 17 anos, não está presente - nem interessado em participar - na famosa
    Batalha de Lepanto (1571), essa sim, reunindo uma "Liga Santa" contra os Otomanos.
    (ii) em Alcácer-Quibir aparece ao lado de um "rei mouro"... quem então será cego, pela fé cristã?!
    (iii) é ele que atenua o nível de censura da Inquisição, permitindo publicação de obras de Camões, como "os Lusíadas", ou os tratados de Pedro Nunes. Estas figuras perseguidas são protegidas e há admiração mútua.
    (iv) ao contrário dos seus antecessores fica próximo do Duque de Aveiro, a linha sucessória de
    D. João II, figuras antes pouco queridas à dinastia chamada Avis-Beja, começada com D. Manuel. Quem morre ao seu lado em Alcácer-Quibir é justamente o Duque de Aveiro
    (v) ao contrário, o Duque de Bragança sofre "inesperadas febres", e adiada a partida, mesmo assim não quererá ir. Por precaução ao "contágio da doença do pai", D. Sebastião levará o filho de 10 anos. Após a morte de Sebastião, Filipe II promete "resgatar o filho dos infiéis" se o Duque de Bragança desistir da pretensão do trono para a sua mulher. Cumprido isso, o Ducado de Bragança torna-se mais poderoso que nunca, com os favores do rei Filipe II, Filipe I de Portugal.
    (vi) terá sido pouco cauteloso D. Sebastião, tomando mesmo estas precauções?... Mas contra quantos poderes internos e externos lutou ele em Alcácer? Quantos sobreviveram para contar a história? Quem eram os resgatados, sobreviventes... que outra estória contariam?
    (vii) quem lucraria verdadeiramente com a morte de D. Sebastião? Já não será costume seguir essa linha de investigação para procurar culpados?


A trama em Alcácer-Quibir é muitíssimo complexa, tal como foram complexas as relações que levaram à constituição e dissolução da famosa "Liga Santa" (Espanha-Habsburgos, Roma-Estados Papais, Malta, Génova, Savóia, e ainda Veneza) e até posteriores acordos com os otomanos.

D. Sebastião dificilmente poderá ser visto como um jovem insensato ou um fervoroso religioso.

Para percebermos como este problema de trama interna pode atravessar séculos de escuridão, basta reparar numa pequena coincidência...
Os mais próximos de D. Sebastião, comandantes na Batalha de Alcácer-Quibir, serão:

    (i) o Duque de Aveiro;
    (ii) os irmãos Távoras.

Passados 200 anos, quais são vítimas do Processo dos Távoras, movido pelo Marquês de Pombal?

    (i) o Duque de Aveiro;
    (ii) a família dos Távoras.

Alguns filhos destes eternos culpados escapariam, a pedido da filha de D. José, a futura D. Maria I. Assim, ao filho do Duque de Aveiro, foi-lhe "apenas" exigido que não tivesse descendência.

Quando soube todo o segredo, é natural que D. Maria I tivesse necessitado de cuidados mentais, e também será natural e desejada uma fuga da corte para o Brasil, e a posterior declaração de independência... mas isso seria uma estória muito mais longa!

Toda a estória faz muitos malucos, e não terá sido acidente Afonso VI ter sido afastado por isso!
Será tudo isto coincidência?

Por agora, certamente que sim... mas, ainda assim há já detalhes interessantes!
Quando ocorre o Terramoto de Lisboa, 1755, volta-se a falar do "Desejado"... pois Lisboa tinha sido fustigada por um "castigo divino". Foi aí que, assomado com a mesma indisposição revelada pelo antecessor, o então Duque de Bragança, e Rei, D. José I, apressa-se a dar ordens a outro Sebastião (depois, Marquês de Pombal), para exterminar a linha sucessória que assombrava a família Bragança desde a adulteração do testamento de D. João II.
De facto, D. Manuel aparece como herdeiro, mas são claras as indicações dadas por Garcia de Resende de que se trataria de uma possível falsificação. Quem deveria ser o herdeiro seria Dom Jorge, filho bastardo de D. João II, que ficará então como Duque de Aveiro.
Garcia de Resende e Gil Vicente apontam, de forma diferente, vários problemas às "estórias oficiais".

Heróis ou loucos irreverentes numa época em que, tal como hoje, a irreverência é proibida?!
Talvez por posse de tal segredo, têm uma estranha protecção da Rainha D. Leonor... mas, assim que é autorizada a Inquisição em Portugal, em 1536, ambos desaparecem no mesmo ano!
Só poderá ter sido uma morte por desgosto mútuo...


Relatos Ingleses sobre Alcácer-Quibir
Uma batalha como Alcácer-Quibir, não se deverá chamar batalha... foi mais um massacre, próprio do culto de São Sebastião! E por estranho que pareça, nem sequer passou despercebida na Europa...
Os ingleses contemporâneos (1597), dedicaram-lhe várias peças, e assim iniciaram o teatro, um pouco antes de Shakespeare:
(ou antes "Muly Molucco", ver George Peele: The Battle of Alcazar.)
Estas obras são aparentemente desconhecidas... em Portugal!

Tivesse sido possível, e no devido tempo de inquisição, teriam sido queimadas, ou perdidas para sempre! Mas, em Portugal, país dos brandos costumes, há outros métodos de seleccionar a erudição... Achou-se excessivo matar toda a população, testemunha da tragédia... mas só a medo, bem baixinho, cantou o "nevoeiro que encobriu o desejado". Assim foram poupados, e apenas sacrificados todos aqueles que combateram ao lado do rei em Alcácer... Alcácer, Quibir?
Pois... de facto, "Quibir" será o nome mais ausente na peça inglesa! Por que será?
Os ingleses trocariam tudo?... falariam até de Muly Molucco! Será que queriam dizer Morocco?
Mas, não... os portugueses também designam Mulei Moluco!

Vejamos, haverá alguma ironia face à proposta que Filipe II de Espanha fez?
Filipe II de Espanha não quereria o sangue de D. Sebastião. O jovem valoroso haveria de ver a razão, tal como todos os sobreviventes tinham visto antes! Ofereceu-lhe a mão da filha e o jovem nunca aceitou noiva espanhola. Filipe insistiu, e para evitar o combate onde Sebastião haveria de ser morto, juntou-lhe como oferta "as Ilhas Molucas".
Sim... Molucco é mesmo parecido com Molucas!

E veja-se... só mesmo um "maluco" poderá ver aí um território "moluco" !

Mas, esperem, quando surgiu no português a palavra "maluco"? ... à volta de 1580?... e que outra língua a tem?
Desde a sua "descoberta" por Fernão de Magalhães, as "Molucas" eram alvo de disputa entre Portugal e Espanha, já que por perto passaria o Meridiano de Tordesilhas (na sua parte antípoda).
Aliás, as Filipinas nem sempre se chamaram assim!... A primitiva designação Molucas poderia incluir as Filipinas, que por honra ao rei espanhol assim se chamaram. Foi só em 1571 que os espanhóis se decidiram instalar em Manila. Antes ficavam-se apenas pelas ilhas Guam, onde Magalhães quis morrer.
Mas... ficando as Filipinas na parte espanhola, ao lado estava a China, e pior - incluía todo o Japão! Seria algo como isto que estava em jogo, alguns anos depois dos espanhóis fundarem Manila?
Como é possível que nada disto nos tivesse chegado?
... - tirando o facto de depois termos como imperador Filipe II, o rei Filipe I de Portugal?!

Foi uma época de luz, não do conhecimento, mas sim dos fogos de fé.
D. Sebastião recusou também as ofertas territoriais... provavelmente saberia já outro segredo!

Sabia que iria defrontar um poderoso dragão que assombra Portugal, por dentro, há vários séculos.

Requisitou até a Espada de D. Afonso Henriques, guardada no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra!

Julgou que isso lhe daria força invencível, mas não avaliou a dimensão do dragão...
O que defrontaria D. Sebastião? Na realidade, ninguém sabe...

As cortes portuguesas foram unânimes na aprovação do projecto. A batalha tem uma data em Marrocos, mas os portugueses sobreviventes só regressam vários meses depois... numa altura em que regressa também a Espanha o corpo esquartejado de D. Juan de Austria, tido como rival em bravura, e comandante em Lepanto (pela Liga Santa), mas a causa da morte deste terá sido um tifo, pelos vistos "esquartejante"! A lista de mortos em 1578 inclui um assinalável número de coincidências, mais significativa do que na batalha de Lepanto (por exemplo, Diego Colón, descendente de Colombo, e Almirante das Índias Espanholas).
Não se conhecendo mais...
a honra que deve ser feita a D. Sebastião é louvar a sua coragem e convicção pelo que combatia!

Comentário
Designar "Alcácer-Quibir" como uma "simples batalha" é desviante.
Tratou-se de um massacre, ao ponto de não ser certo se algum dos supostos sobreviventes ou supostos presos alguma vez estiveram do lado do rei.
Conforme vimos, os ingleses à época usaram o termo "Batalha de Alcácer na Barbárie"...
Consideraram D. Sebastião como um herói lutando sózinho contra o "Deus da Guerra", nunca falaram em fervor religioso, irresponsável juventude ou nada semelhante.
Ao contrário do que acontece em Portugal... onde nunca foi considerado "honorável e corajoso".
Muito haverá por descobrir nesta estória.

Verdadeiramente, ficou-nos apenas o "nevoeiro", o que foi "encoberto", e o "desejado".
Dom Sebastião tinha 24 anos de idade e um sonho... que obviamente mais ninguém ousou cumprir!



Observações finais:
1 - Registo inglês -
Há um inglês, Thomas Stuckley, que estando primeiro ao serviço de Filipe II, optou por ajudar Dom Sebastião na batalha... e daí surgem os tais registos ingleses do massacre, da traição de tropas (italianas e não só...) que iam no contigente português, etc. muitas coisas estranhas, e alguns recados internos à Inglaterra por ter-se alheado de Portugal, e ter por isso a "Armada Invencível" às portas!

Mesmo assim, nos registos portugueses, ainda será estranho falar-se sempre em duas batalhas, uma ganha, onde já estariam mortos os reis marroquinos, e depois tudo muda...

D. Sebastião acabará morto, ficando aquela batalha sem vencedor vivo!!

Quanto mais não seja, é quase caso único... e depois, vejamos:
- apesar da tragédia com os infiéis, Filipe II consegue servir de intermediário, recuperar um grande número de presos, resgatar o filho do Duque de Bragança, mas é claro tudo isto a troco de uma verdadeira extorsão de resgates que delapidam o tesouro nacional.
Talvez se tenham que procurar outros Três Reis, na Batalha que é assim designada pelos Marroquinos.
Depois da Batalha de Lepanto, o efectivo dirigente do Império Otomano, Mehmet Pacha, formou alianças com os adversários. E de facto, em 1579, a capital marroquina de Fez, estava sob poder turco. Ou seja, neste jogo de interesses cruzados e ocasionais, que sempre foi a política mundial, não era nada claro, mesmo na altura saber quais seriam os adversários... não menos díficil será perceber isso, a esta distância dos acontecimentos.


2 - Registo cultural -
Maluco ou Moluco?
Pode ler-se num jornal brasileiro (JB-Online 9/08/2008):
"Em 1570, os habitantes das ilhas Molucas, que os portugueses tinham conquistado há pouco, revoltaram-se contra os colonizadores e mataram muitos deles a pauladas. A notícia chegou a Lisboa e as pessoas choraram muito. Não entendiam o que estava acontecendo: nós lhes levamos o cristianismo e a civilização, e eles reagem com tanta selvageria! São esses molucos! Assim nasceu a palavra maluco, carregada de preconceito contra o anti-colonialismo."
A lição da época foi bem aprendida... e a memória esquecida!


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