Alvor-Silves

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O cozinheiro e o sanduíche

Esta posta explica-se com um boneco.

Como várias outras caricaturas já apresentadas, é de James Gillray (1780 ou 84). 
Agora que se fala na noção pomposa de Thinker Tanks, acho Gillray lhes chamaria mais Tinker Thanks. Neste sentido, digamos que Gillray diz tratar-se de um painel de funileiros, evitando outra tradução mais literal para o português. A panela tem forma de hemisfério ocidental...

De casaca azul estará o Conde de Sandwich, e ajoelhado tentando reparar a panela está Lord North, enquanto o rei Jorge III aguarda que os buracos sejam reparados. O estado a que a panela chegou é resultado da acção do cozinheiro... Cook.

John Montagu, Conde de Sandwich, enquanto comandante da marinha inglesa, foi entusiasta e providenciou o financiamento da expedição de James Cook.
Em reconhecimento desse apoio, Cook terá baptizado o Havai como Ilhas Sandwich.
Há, é claro uma estória sobre sanduíches e a sua "invenção" por Sandwich...
Se Colombo teve o seu ovo, pois Sandwich teve o seu sanduíche.
Entre o pedaço de pão Asiático e o Americano, Sandwich iria reclamar o bife Pacífico.
Não vejo outra sanduíche que não esta... talvez ficando demasiado explícito, no final do Séc. XIX o Havai foi renomeado e apenas ficaram as ilhas Sandwich do Sul.
Talvez possamos dizer que a viagem anterior de Bougainville e as pretensões francesas foram ensanduichadas pelo plano do grupo de Sandwich:
Da esquerda para a direita: Solander, Banks, Cook, Hawkesworth e Sandwich.
Solander era sueco, botânico da escola de Lineu, amigo de Banks, 
e sobre Sir Banks, Gillray dá conta da sua apreciação nesta caricatura...
... uma lagarta encontrada nos Mares do Sul é transformada em borboleta pelo Sol imperial.

O problema complicou-se, e conforme Gillray escreve na primeira caricatura: 
- por cada buraco tapado, abrem-se dois novos!
Digamos que um dos "buracos" de Sandwich que o primeiro-ministro Lord North não conseguiu tapar foi a Independência Americana (o desenho sobre Banks é publicado num 4th of July), projecto em que a França se empenhou...  
Digamos que ainda estava o Endeavour no mar, entre a Nova Zelândia e a Austrália, em 1770, e rebentava a rebelião em Boston, o primeiro gesto que levou à guerra de independência americana.

Havia certamente uma parte do novos territórios Pacíficos prometidos à França, que acabou por ficar com algumas ilhas (que ainda hoje mantém), mas a solução de Sandwich terá sido um rude golpe nas aspirações francesas. 

Quanto aos holandeses, tiveram que fazer quase de conta que nunca tinham visto a Austrália...
Para termos uma ideia da precisão que os mapas holandeses chegaram a ter, basta ver este mapa de Gerritsz em 1618, muito antes da viagem de Tasman (1642):

Apesar de Gerritsz ser considerado um dos maiores cartógrafos, o seu trabalho tem pouca divulgação... e percebe-se que não se queira questionar a razão pela qual as linhas perfeitas acabam onde acabam em 1628, e que os sucessores até Tasman nada tenham feito para completar o circuito. Nem Tasman, nem nenhum seguinte... e é claro que os portugueses estando com colónias em Timor, ou os espanhóis com colónias nas Filipinas, continuavam a não acertar com as velas, e não conseguiam aí navegar para sul! 
Foi preciso Sandwich e Cook para resolver o assunto!

O mapa de Gerritsz tem ainda outros problemas... identifica a descoberta de Houtman das ilhas Abrolhos, e apesar de estar datado de 1618 apresenta as descobertas até 1628. Parece claro ao inspeccionar o mapa que as inscrições com as datas e exploradores são posteriores à execução do mapa!
Quanto ao arquipélago e recifes de Abrolhos... descobertas por Houtman em 1619(!), ficaram definitivamente nomeadas Houtman Abrolhos.
Open your eyes... abram os olhos, abrolhos!
Nada mais apropriado, desde sempre até hoje...
Ilhas australianas de Houtman Abrolhos

Por via das confusões, e não tivesse ficado registo português com esse nome, apareceram também umas ilhas Abrolhos no Brasil. Assim, uma das estórias relata que Houtman terá sido inspirado por essoutras. Não é de espantar, porque Tasman vai repetir a inspiração com Pedra Branca, na Tasmânia, que lhe vai lembrar Pedra Branca, perto de Singapura.

Por acaso, Abrolhos faz-nos lembrar "Vannila Sky" que na versão original espanhola se chamava "Abre los Ojos"... só a Penelope Cruz seria a mesma. 
No fundo, um problema de chancela que tem vários aspectos e protagonistas ao longo dos tempos.
Independentemente dos protagonistas, o argumento, esse é intemporal...

2 comentários:

  1. ei ei ei.....falasse tanto mas do que e nosso nada....em primeiro lugar....cristovao mendonca descobriu australia e nova zelandia 270 anos que o capitao cook....esse senhor era LUSITANO e foi ele que descobriu as ilhas da indonesia nem ingleses nem holandeses sonhavam com nada .....as pessoas tem que entender uma coisa ...nos lusitanos a uns seculos atraz fomos como hoje em dia sao os amarecanos e russos,no espaco,.......eles ja andam no espaco desdeos anos 30 desde o tempo da 2 guerra mundial,ja vao a lua a marte e a outos planetas,mas ninguem sabe disso e segredo,o mesmo se passou com portugal ,nos navegamos mares e visitamos terras duantes muitos anos sem que o resto do mundo saubece......

    ResponderEliminar
  2. Caro Helder,

    sobre a Austrália já aqui falámos várias vezes.
    Pode ir à caixa de "Pesquisar neste blogue", e colocar "Austrália".

    A última vez creio que foi aqui:
    http://alvor-silves.blogspot.com/2011/05/mapas-de-dieppe-3-nuca-antara.html

    Sobre a hipótese de Cristóvão de Mendonça, está na wikipedia
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%B3v%C3%A3o_de_Mendon%C3%A7a
    Tem mais informação?

    O problema é que não basta bater o pé e dizer aquele é que é, e não é o outro!

    Se nós chegámos a Timor em 1514, logo devemos ter chegado a Austrália muito antes de 1520, ou seja muito antes dessa viagem do Mendonça!

    De qualquer forma a questão de prioridade sobre a Austrália é meio ridícula.

    A Indonésia é islâmica... isso significa que os árabes foram até lá de barco, e estiveram lá muito tempo para os converter.
    Acha que eles não teriam dado com a Austrália ali ao lado?
    Falamos só dos europeus?
    É que até muito natural que os próprios Romanos lá tenham chegado, conforme dá a entender Manilo.

    Podemos ter tido uma mais valia tecnológica, mas ela veio e foi-se!
    Não fomos os primeiros a quem isso aconteceu!
    Na comparação que faz, verá que sobre os Russos os mais jovens já só aprendem nos livros. A maioria deles nasceu depois da queda do Muro, e só alguns têm uma ideia da tensão da guerra fria. A partir daí foi só EUA... e o que nos garante que isso continuará?

    Interessa muito mais seguir o percurso e perceber o que estava em causa, o que impedia as descobertas, e depois deixou de impedir, etc...
    Encher o peito e dizer que nós é que fomos bons, isso pode ser uma enorme ilusão... às vezes conveniente nos bastidores!

    Por isso este post é pouco sobre a descoberta da Austrália...
    - é muito mais sobre as Ilhas Abrolhos!

    ResponderEliminar