Alvor-Silves

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Haiti, a derrota da Hispaniola

Colombo marca o fim da sua aventura nas Caraíbas em 1492, na ilha do Haiti.
Renomeou-a Hispaniola, mas quando regressou já não havia sobreviventes espanhóis na sua colónia.
António Galvão é sempre uma referência primordial. Diz ele sobre a viagem de Colombo:
- A primeira ilha que visitaram se chamava Greinani, saíram em terra, tomaram posse dela, puseram-lhe o nome Sam Salvador.
- despois viram muytas a que chamaram As Princesas, por serem as primeiras por eles vistas, mas os da terra lhes chamam os Lucayos, ainda que todas têm nomes separados, e estão da parte do Norte, quasi debaixo do Trópico de Cancro, da parte do Norte de 16 até 17º, que é a ilha de Santiago.
- Daqui foram à ilha que os da terra chamam Cuba, e os Castelhanos puseram o nome Fernandina, por el rey D. Fernando, a qual está em 22º, 
- donde os Indios os levaram à outra que eles chamam Ahyti, e os Castelhanos Isabela, em memória da rainha de Castela, e também a Espanhola. 
(Galvão, edição de 1563, pág. 23.v)
Não é o primeiro relato semelhante que vemos.
Sem saber a história que se iria contar, mas talvez prevendo a perda de nomes, Galvão dá-nos o relato da origem dos nomes Haiti e Cuba. Eram designação dos "indígenas"... Mais do que uma contaminação alentejana na América, seria de averiguar a contaminação do nome no Alentejo.
Até na grafia, Ahyti é mais parecido com a grafia crioula Ayiti. Por isso, se Galvão escreve Greinani, será de ponderar o nome Guanahani dado à ilha do primeiro desembarque... sendo que isso tem apenas importância para os detalhes e os seus demónios.

Tem-se ignorado que o Haiti foi um bastião de independência, perante a avassaladora presença europeia.
Isso aconteceu desde o início... 
Depois de falar nos papagaios que os espanhóis e Colombo levaram consigo do Haiti, e da rota que tomaram pelos Açores, passando por Lisboa, Galvão relata a segunda viagem:
- No ano de 1493, aos 25 do mês de Outubro, tornou Christovã Colõ às Antilhas, e da barra de Calez tomou sua derrota, levando 17 velas e 1500 homens nelas (...)
- (...) logo viram muitas outras, a que puseram o nome Virgens, ainda que os da terra lhe chamam as Quiribas, por ser de homens guerreiros e bons flecheiros(...)
- Destas ilhas em outras foram ter à principal delas, a que os da terra chamam Boliquem, e os castelhanos Sã João, donde chegaram à Espanhola e acharam todos os homens mortos, que na terra deixaram, por ofensas que aos da terra fizeram aqui(...)
Quanto à nomenclatura, vemos Quiribas para as Virgens, e Boliquem para Porto Rico (provavelmente), acrescenta depois a Iamaica que se chamava então Santiago.
Derrota é uma palavra comum até ao Séc.XIX e tinha o significado que atribuímos a rota...
mapa do Haiti em João de Lisboa (c. 1514)
note-se que na ilha amarela inscreve Puerto Rico e ainda Sam Joam.

É nesta segunda viagem americana, e depois constatar que os compatriotas tinham sido mortos, que Colombo decide enveredar por uma colonização mais efectiva, deixando a maioria dos homens nessa ilha.
A resistência prossegue com Anacaona, enforcada em 1504, que tornará num dos muitos símbolos.
(execução de) Anacaona, líder da resistência

Carlos V tentou resolver o problema em 1517, e teria havido uma deportação para a parte oriental da ilha, actual República Dominicana, perdendo-se muito do registo ocidental, com resistência nas montanhas, até ao período de registo de piratas e corsários já no Séc.XVII.
A ilha costeira a norte, Tortuga, seria uma base de piratas, os Bucaneiros. É preciso entender que qualquer organização fora da alçada dos governos europeus seria entendida como fora-da-lei, ou pirata. Doutra forma, as potências europeias arriscavam-se a uma multitude de reinos independentes em ilhas distantes. A coligação Bethren terá tido aqui o seu período áureo.

O registo seguinte mais significativo é revolução do Haiti na transição de 1800, primeiro com Toussant, que acaba preso, e depois com Jacques I, que mantém a independência e sagra-se imperador do Haiti em 1805. Acabara de derrotar a armada francesa liderada pelo cunhado de Napoleão.
Toussant, e Jacques I, líderes que resistem a Napoleão.

Não estamos a falar de uma pequena proeza... e os esforços de emendar o Haiti continuaram. Apesar de ter já uma Constituição, teria que ser submetido ao caminho civilizacional do colonialismo europeu.

Será este pequeno reino esquecido que acolhe Simon Bolivar em 1815 e financia a sua iniciativa independentista da América do Sul, com o compromisso de que nas novas repúblicas terminasse com a escravatura.

As tentativas de isolar o pequeno país mantiveram-se, para além do bloqueio comercial, e de impostos de independência sob ameaça militar francesa, por Charles X.
Seguiu-se durante uma parte razoável do Séc. XX, após ocupação de 1915, por Th. Roosevelt, um domínio ou ocupação dos Estados Unidos, a que se seguiram as ditaduras dos Duvalier, e as instabilidades conhecidas.

O terramoto que ocorreu há um ano, foi um pequeno terramoto na escala Richter, mas num país como o Haiti não surpreende a opinião pública que o número de mortos seja de centenas de milhar. Haiti, foi uma "derrota" de muitos navegadores, mas a sua derrota é muito mais a derrota dos valores da nossa civilização.

[parte significativa da informação cruzada usou exclusivamente a wikipedia]

2 comentários:

  1. Tem toda a razão.
    A Mente, foi-nos intencionalmente distorcida.
    Boliqueime... no Algarve....e no estanto, os "Indios", que curiosamente tinham uma língua semelhante ao Antigo Ebraico, sem H, já chamavam nos tempos pré-Colombianos, Boliqueim a uma Ilha....

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  2. ... para além do nosso Presidente, aquele que falava da "situação explosiva" na passagem de ano para 2010, ser justamente de Boliqueime!

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