Alvor-Silves

domingo, 7 de junho de 2020

Relógio dos Jerónimos

Conforme assinalámos num postal anterior, sobre o computo pascal, apareciam na Bíblia dos Jerónimos ilustrações de relógios, e portanto aos hieronomitas não seria estranho o artefacto, que aliás era já comum nas torres das nossas igrejas.
Vejamos uma peça escrita em 1853, em que começa assim o 6º capítulo:
Acaba de soar a sexta hora da tarde no relógio do convento dos Jerónimos em Belém, no dia 6 de Novembro de 1640, quando num velho palácio (...)
Esquecendo o enredo, onde está o relógio do Mosteiro dos Jerónimos?
Ora, o Mosteiro dos Jerónimos não apresenta nenhum relógio... agora!
Com efeito, há fotografias do Mosteiro dos Jerónimos com o relógio, que perdeu há 150 anos:
Foto do Mosteiro ou Convento dos Jerónimos, em 1872, com o relógio (ao centro, à esquerda).

A informação relevante está num blog 
que publicou parte do acervo fotográfico de Eduardo Portugal (1900-58), constante da Câmara Municipal de Lisboa.
Pode-se ler que os cenógrafos italianos do São Carlos, vão propor "demolir a galilé e a sala dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório, a rosácea do coro alto, e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por uma cobertura mitrada".
O problema foi que em 1878 dá-se a derrocada do corpo central do dormitório, que tinha o relógio, a reconstrução só é finalizada pouco antes das comemorações dos 400 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, ou seja, em 1894-98.

O projecto de reconstrução fez alterações consideráveis, e tinha outra ambições:
digamos, que não foi só desaparecer o relógio...

Vemos aqui outra foto em que é possível ver o relógio, e as obras na parte superior, que levaram à subsequente derrocada:


Note-se que antes disto, a torre da igreja tinha a tal cobertura piramidal, conforme vemos na figura seguinte, e que foi substituída por um torreão mais alto, dita mitrada. Vemos ainda os alicerces para fazer os torreões do dormitório, junto à igreja (conforme os temos hoje):


Note-se ainda, aqui num esboço mais antigo, como os barcos chegavam praticamente até ao mosteiro (numa altura em que estes barcos à vela poluíam muito, e faziam aumentar o nível do mar... imagine-se o raspanete que a Greta não lhes teria dado).

O que se sabe disto?
Pois, o que é conhecimento público geral é que derrocou a parte central do Mosteiro, conforme está atestado em diversas outras fotografias.
Digamos que não será um assunto secreto... talvez sirva para surpreender uns iniciados na maçonaria, mas pouco mais que isso. 

Conhecendo os bichos que temos, não é nenhuma informação de espantar!
Tão facilmente alterariam o Mosteiro dos Jerónimos, quanto esconderiam os coches antigos de D. Afonso Henriques e de D. Dinis... e foi praticamente na mesma altura.
As fotos terem por vezes escrito "reservado", reportar-se-ia certamente a uma mesa na Trindade.

Agora, se o relógio dos Jerónimos estava lá desde o início, pois isso já é mais complicado saber... até porque houve ainda o Sismo de 1755. Sendo que como se sabe que caiu o Carmo e a Trindade, e não propriamente a Sé e os Jerónimos, é natural que aí o Marquês se tenha dedicado ao espectáculo dos seus horrores no campo ao lado, o chamado Chão Salgado.
Pelo menos, o autor da peça, António Aragão, acreditava que em 1640 estava lá o relógio.

13 comentários:

  1. José Felicidade Alves escreveu três livros 'O Mosteiro dos Jerónimos' (I-II-III), edição Livros Horizonte, com uma exaustiva e interessante explanação sobre as fases da edificação do Mosteiro dos Jerónimos.
    Respeitante à simbologia das muitas figuras esculpidas, não aparece nenhuma referência a 'pedreiros livres' ou por não haver ou por não querer dizer.
    Por cá, temos muita gente que desconhece que muitos dos 'manuelinos', que agora vemos, são obras do sec. XIX.
    Cumpts.

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    1. Sim, p.ex. o relógio do Convento de Cristo em Tomar também desapareceu, mas estou na dúvida se hei-de escrever sobre isso, uma vez que será coisa mais conhecida:

      http://estacaochronographica.blogspot.com/2009/12/pista-da-semanaconvento-de-cristo-em.html

      http://tomaradianteira.blogspot.com/2009/12/charola-e-o-relogio-antes-e-depois.html

      Por isso, no que se tratou do vírus anti-relógios, só escapou a Torre da Sé, que tem relógio desde o tempo d'el Rey D. Fernando (e que consta ter sido o primeiro em Portugal).

      Nos Jerónimos parece que eram todos pedreiros-servos, ou nem tanto, porque onde é que estão César e Hércules? Saberá?
      Mas esse é problema para um postal seguinte.

      Obrigado pela sugestão dos livros.

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  2. Evidentemente, por 'manuelinos' referia-me ao estilo copiado nas obras efectuadas no séc. XIX no próprio monumento.

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  3. Re: "o relógio do Convento de Cristo em Tomar também desapareceu"

    Estão escondidos... passei um cordão vermelho e dei com este, ESCONDIDO :
    https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Clock_machine_16th_century-Convent_of_Christ,Tomar,_Portugal.jpg

    o Convento tem escadarias de pedra muito antiga vedada com paredes de pedras mais recentes.

    Os Filipes também fizeram lá obras,fachada, e boas, visíveis nesta minha foto :

    https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Castelo_dos_Templ%C3%A1rios_e_Convento_de_Cristo,Tomar,_Portugal.jpg

    Cumprimentos
    José Manuel

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  4. Certo, José Manuel, essa imagem está noutro postal dessa altura:

    https://alvor-silves.blogspot.com/2015/08/dos-comentarios-15-tempo-de-tomar.html

    Só que acho que não fomos à procura do sítio do relógio... e ele está bem visível nas pedras brancas, que se nota serem mais recentes, e assim taparam o local onde ele estava.

    Aconselho definitivamente a leitura do blog de Fernando Oliveira (que será provavelmente uma das pessoas que mais informação acumulou sobre o assunto):

    http://estacaochronographica.blogspot.com/2009/12/pista-da-semanaconvento-de-cristo-em.html

    Neste postal de 2009 ele coloca a máquina na farmácia do convento, o José Manuel a terá encontrado já noutro sítio.

    Há uma tese de mestrado de Lúcia Marinho (2010), sob o título "Guardiães do tempo", que é bastante interessante, e que também aconselho leitura, basta Googlar, depois o link será o pdf directo (demasiado grande para aqui).

    Sobre essa tese, há algumas figuras de relógios interessantes.

    (i) Notei a de D. João III, porque o relógio tem 2 ponteiros (horas e minutos),

    https://en.wikipedia.org/wiki/File:Joao_iii_REI.jpg

    mas depois fui saber mais sobre o quadro e é de Carlos Falch, circa 1650, e passa o tempo de ser novidade... ainda que me pareça provável que seja baseado num outro quadro original da época (porque o rei está em pose), não é claro que o desenho do relógio fosse o mesmo.

    (ii) A de Catarina de Bragança que teria um relógio num pequeno pendente. Uma miniatura, talvez mais pequena do que os Pomander de Peter Henlein.

    Ainda estou na dúvida se consigo fazer um postal relevante a partir disto.

    Obrigado, da Maia.

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  5. RE: "Só que acho que não fomos à procura do sítio do relógio..."

    Penso que pelas dimensões desse mecanismo não será o relógio da torre, estou prisioneiro do Covid em Genebra, o meu arquivo fotográfico está em Lisboa, em julho envio fotos das escadas condenadas que falei, vou voltar a Tomar para ver melhor, há um sistema acústico enigmático na charola, "canalização" de propagação de som ? talvez dum órgão distante ou de cânticos cerimoniais, há muito sobre este Convento para questionar...

    Não querem que se chegue a outros mecanismos de Antikythera por esse relógios... (tem gravado as coordenadas Hispania numa das suas rodas dentadas) destruíram todos os aparelhos de Pedro Nunes... isto é deliberado, destroem pontes que possam ligar à tal civilização avançada do passado.

    Tem tudo aqui no seu blog, mas disperso, penso que um leitor desconhecedor deste tema precisaria dum bilhete englobante melhor documentado em imagens, vou enviar-lhe as das escadas condenadas de Tomar, e Druidas de Óbidos…

    Roma enviou um estudioso à Hispania para fazer a língua oficial do Império da dos celtas, não sei se aqui tem referências:

    https://fr.qwe.wiki/wiki/Languages_of_the_Roman_Empire

    em todo o caso o atual Portugal tem muito, mas muito para revelar dos Druidas e Celtas, e mais para trás…

    Cumprimentos

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    1. É capaz de ter razão, José Manuel, mas a indicação de Fernando Oliveira é que seria esse o tal mecanismo do relógio.

      Pois, o que está escondido terá muito que se lhe diga.
      Se pensarmos bem, não há nenhuma razão objectiva para que não esteja tudo escrito, aproximadamente desde o tempo em que se inventou a escrita. Pode se ter tudo perdido, degradado, etc... mas houve certamente sempre quem procurasse reescrever o que tinha guardado em memória. Os monges copistas fizeram isso, e muito antes disso já se teria sentido a poderosa vantagem de uns reterem a informação do passado, e dos outros nascerem sempre crianças, como ignotos, sem passado registado.

      É complicado reorganizar tudo, porque são 10 anos com muitas horas perdidas... mas não está fora de causa. Fico à espera de mais informações sobre Druidas e Celtas, como sabe, isso interessa-me bastante.

      Obrigado, e cumprimentos.

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  6. Torre central da Abadia de Belém, antes da derrocada de 18 de dezembro de 1878 (Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa) Gravura de Auguste Victor Deroy,:

    https://i.ebayimg.com/images/g/0TcAAOSwq1leGY0F/s-l1600.jpg

    Melhor imagem do leão de água dos Jerónimos, tem brasão ao lado de quem ? :

    https://kezling.ru/wp-media/portugal_1_012.jpg

    https://thumbnails.trvl-media.com/cpgksTdbvEXW23FxMjCyo0xdmog=/768x432/images.trvl-media.com/media/content/shared/images/travelguides/destination/2080/Jeronimos-Monastery-257209.jpg

    E os leões frisados do túmulo de Pedro na batalha :

    https://ic.pics.livejournal.com/taras_palkov/77385134/397315/397315_800.jpg

    As esculturas dos leões portugueses são de juba molhada escorrida, lembram-e o cão de água original português, que os franceses chamam de cão leão.

    Cumprimentos

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    1. Boas informações. A gravura deixa o relógio ainda mais evidente.
      Quanto ao leão, o brasão ao lado parece sugerir ser da Companhia de Jesus (mas fora de tempo), ou tem outra opinião?
      Cumprimentos.

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  7. Monograma... (U F P T ?) enigmático !
    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Lisboa%2C_Mosteiro_dos_Jer%C3%B3nimos%2C_fonte_de_le%C3%A3o_%283%29.jpg

    Cumprimentos

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    1. Parece-me muito semelhante ao símbolo IHS da Sociedade de Jesus.

      Acresce que em ambos os casos, do IHS ou ihs parte um Sol a irradiar.

      https://en.wikipedia.org/wiki/Society_of_Jesus#/media/File:Ihs-logo.svg

      http://www.jesuswalk.com/christian-symbols/ihs.htm

      https://www.pinterest.pt/pin/572238696377425562/

      Creio ainda que o leão tem o brasão com uma folha de carvalho.

      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/Jeronimos_Monastery_Cloisters%2C_Belem%2C_Portugal_-_panoramio_%289%29.jpg

      O José Manuel pode ter aqui notado num prelúdio do símbolo que iria ficar na Sociedade de Jesus.
      Sendo a finalização do claustro praticamente uma obra de 1517-30, nessa altura não havia Sociedade de Jesus, que só foi constituída em 1540, por Loyola e meia dúzia de frades.

      O seu rápido crescimento e expansão, na maioria das vezes iniciais, saindo de Lisboa, pode fazer antever que o projecto da Companhia de Jesus estivesse a ser idealizado, tal como foram as Companhias das Índias.

      Cumprimentos

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  8. Pode ser bem uma esfera solar radiando com monograma ihs nos Jerónimos...

    Cúpula da Charola do Convento de Cristo, Tomar com monograma ihs ?:
    https://lusophia.files.wordpress.com/2015/11/cc3bapula-da-charola.png
    https://lusophia.wordpress.com/2015/11/

    tenho estas fotos no meu arquivo, vou ver melhor,
    Rosa Cruz e Templários... tiveram uma mina de sal (compraram...) com grutas na Serra de Aires e Candeeiros, estive lá tenho fotos, deram aquilo a uma corporativa de camaradas trogloditas!

    Cumprimentos

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    1. Ok, acho que já se juntou informação suficiente para mais um "dos comentários"!
      Obrigado.

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