Perto de Loulé há uma mina de sal-gema agora aberta à visita turística:
Mina de sal-gema de Loulé é nova atração turística do Algarve (Barlavento, Outubro 2019)
A mina com 50 anos, atinge os 230 metros de profundidade, está abaixo do nível do mar, sendo ainda mais estranho ter 45 Km de extensão de túneis. Normalmente não são associadas coisas desta dimensão a Portugal, e muito menos com o intuito de ir buscar sal-gema. Pela minha parte, conhecia bem o caso de Rio Maior, mas desconhecia este jazigo em Loulé.
De entre as fotografias agora reveladas, apareceu a seguinte escultura de mãe e filho:
Escultura em alto-relevo num corredor da mina (ANIET)
Terá que pensar-se que ao longo destes 50 anos algum mineiro, mais artístico, terá acabado por sinalizar na rocha escavada uma imagem a que depois terá dado a forma vista. Não é uma forma muito perfeita, nem imperfeita, mas não seria o resultado expectável numa mina de sal-gema.
Não sei mais sobre o assunto, simplesmente achei curioso.
Achei curioso, porque quando se exploram minas, poderá acontecer sempre aparecer um desenho ou uma escultura que já lá estava, mas que por força do contexto, foi certamente divertimento posterior.
Veja-se por exemplo, o caso de Maastricht, de que já falámos.
Neste caso, nem sequer há direito a dúvidas, porque todos os túneis serão artificiais e recentes, mas o mesmo já não se poderá dizer de situações mais ambíguas...
Vénus e Cúpido foram sempre imagens emblemáticas da antiga mitologia nacional, e como não parece que as figuras tenham sido cobertas com roupa puritana, será de excluir a vertente católica do menino e madona.
Lembra-me este assunto a descrição na Crónica dos Eremitas da Serra de Ossa, onde Frei Henrique de Santo António fala da grande quantidade de cavernas desse local, que estaria na origem dos anacoretas primordiais.
(...) refugiando-se como em castelo seguro, e fortaleza inexpugnável, nas brenhas, e grutas da Serra de Ossa; cuja suposição é verdadeira, e igualmente recebida dos Historiadores, e muito conforme às notícias dos nossos cartórios e às verdades das nossas tradições.
Refere ainda a possibilidade de aí se ter refugiado Viriato...
(...) onde não há monte, nem serra, em que se possa esconder, nem fortificar uma companhia de soldados, quanto mais um tão numeroso exército, como trazia Viriato, com que pelejou, e venceu todo o poder dos Romanos, que governava Plaucio, sendo a Serra de Ossa em tudo acomodada ao intento, e onde se divisam ainda hoje os alojamentos, que fez Viriato no monte de S. Gens, e aparecem os vestígios, que são tão grandes, e capazes, que dentro deles se podia alojar um exército de mais de quarenta mil homens, com toda a sua bagagem
Mas, talvez mais característico, seja o relato da destruição arqueológica:
(...) e fraldas desta serra, cujos sítios conservam ainda hoje os nomes das ditas Antas. Dentro da cerca do nosso Convento da Serra esteve um, que eu ainda alcancei, tão grande, que o Reitor, que era então do dito convento, mandou contra o meu voto derrubar para se aproveitar muita da pedra, que tinha, ficando aí de presente a cova, donde se tiraram as pedras, e juntamente sinal das cinzas, e carvões de fogo, com que se faziam os sacrifícios; e da outra, que estava fora da cerca, persevera uma porta da mesma cerca, que se chama a Porta da Anta.E finalmente, ligando à questão de Vénus e Cupido:
De mais disto sabemos, que à vista do templo de Vénus estava num cerro alto fundado o templo de Cupido tão visitado, e venerado dos antigos Lusitanos, com o nome de Endovélico, que hoje se lê em algumas pedras daquele tempo; e consta, que este templo de Cupido, que fundou Maarbal pelos anos 340 antes da vinda de Cristo, esteve no outeiro da Vila de Terena, que fica junto da Serra de Ossa, e à vista da Serra de S. Gens. O ídolo era de prata, tinha os olhos cerrados, um coração na boca e asas nos pés. (...)