Alvor-Silves

domingo, 7 de abril de 2019

Queirós dedicado a Scott...

Em 1904 a Hakluyt Society edita em 2 volumes as viagens de Pedro Fernandes de Queirós:

translated by Sir Clements Markham, president of the Hakluyt Society.

O único ponto curioso desta tradução é a sua dedicatória a Robert Falcon Scott.
Scott foi quem liderou a expedição inglesa ao Pólo Sul entre 1901 e 1904, e acabou por morrer em 29 de Março de 1912, meses depois de constatar que Amundsen tinha chegado ao Pólo Sul antes de si, na frustrada tentativa de regresso, onde o grupo de ingleses pereceu gelado.
É uma aventura trágica em que a fama de Scott suplantou pela morte a fama vitoriosa de Amundsen.
A expedição de Scott perante a bandeira norueguesa no Pólo Sul em Janeiro de 1912.

Terra Nova, o navio que levou a expedição de Scott.
Curiosamente, a expedição de Scott era chamada Terra Nova Expedition, porque o navio que os transportou chamava-se Terra Nova

Era um baleeiro que operava justamente nas águas do Labrador, e que depois foi requisitado e comprado para o serviço inglês nas expedições austrais. 

A dedicatória de Markham a Scott escreveu-se assim:

I dedicate this translation of the voyages of Pedro Fernandez de Quiros to you, because the efforts and aspirations of the first navigator who ever conceived the idea of discovering the Antarctic continent cannot fail to have an interest for you who have actually made such great discoveries in the Far South; as tribut also of admiration for your great qualities as a leader, and of affectionate regard for yourself.

Esta dedicatória foi escrita em 1904, alguns anos antes de Scott partir para a decisiva e trágica expedição ao Pólo Sul, onde perdeu a vida. Nesta altura, pelo valor das primeiras expedições, já Scott tinha aquirido uma fama ímpar em Inglaterra, e talvez essa fama gloriosa o tenha empurrado mais facilmente para o desastre de não a querer perder.

O curioso deste apontamento é remeter a Queirós a primeira ideia de descoberta do continente Antárctico, algo que nem sequer passa pela cabeça dos historiadores nacionais, nos dias que correm. No máximo, nalguns casos, questiona-se se Queirós teria encontrado a Austrália, mas não se vai ao ponto de o ligar à Antárctida, o que é compreensível, se atendermos a que os seus registos não apresentam latitudes que cheguem sequer aos 30ºS.

O mapa incluso no Volume 2 resume o relato das viagens "oficiais":
Reconstrução das viagens de Mendaña, Queirós e Torres (conforme mapa de 1904).

Há primeiro uma viagem em que Queirós é o piloto de Mendaña, e depois a viagem em que Queirós segue com Torres (Luís Vaz de Torres). 
Ao contrário da sua intenção de seguir para sul, Queirós regressa pelo Pacífico norte, e Torres vai passar entre a Austrália e a Nova Guiné, no agora chamado "Estreito de Torres".

Depois, seguem-se todos os problemas e miséria que Queirós irá experimentar no seu regresso a Espanha, e na forte censura que foi feita à sua aventura em paragens austrais.
A terra Austrialia do Espírito Santo, a cidade de Nova Jerusalém, etc... tudo isso acabou só por fazer sentido no nome Austrália que substituiu Nova Holanda, ou numa tentativa de remeter uma pátria judaica para a Tasmânia.

Só depois, com Bartolomeu de Gusmão, ou melhor com Alexandre de Gusmão (ver "Gás na Passarola"), vemos a mesma ideia de exploração do continente antárctico... mas agora, mais audaz, com uma "simples" viagem de balão!

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