Alvor-Silves

quinta-feira, 21 de março de 2019

dos Comentários (48) coches coxos de argumentos

Sendo um assunto de cocheiras, e como o meu avô tinha uma, sei bem do ambiente infestado de bostas, moscas e varejeiras, que felizmente o meu pai soube cimentar e converter em garagem.

Este postal resultou inicialmente dos comentários de João Ribeiro em "Coxos de Coches", que levou a um texto que deixo no final (para que se possam fazer as devidas comparações). Esse texto levou a novos comentários aqui, de João Ribeiro e David Jorge, que permitem dar uma nova luz à questão, corrigindo-a de informações prestadas pelo Museu Nacional dos Coches.

Perante a pergunta pertinente de João Ribeiro, cito a resposta relevante do Museu:
Referenciando igualmente as justas notas do tradutor de uma das últimas reedições desta mesma obra do príncipe polaco Felix Lichnowsky, Portugal: Recordações do anno de 1842, desta vez editada em Maio de 2005 pela editora Frenesi, Daniel Augusto da Silva (o tradutor) justifica bem esta questão no trecho da página 282 que lhe envio, em foto anexa.
Reiterando esta ideia, o veiculo hipomóvel mais antigo da coleção do MNCoche é de facto o Coche de Filipe II.
O que diz essa nota (nº15) na página 282 é o seguinte:
15 É visível que nesta descrição que se faz dos coches da casa real houve uma crisma singularmente anacrónica: o Autor aceitou, decerto sem o mínimo reparo, a informação ignorante de algum empregado ínfimo nas cocheiras do paço. A invenção e uso das carruagens não é de muito antiga data na Europa. A primeira viatura desta espécie, que talvez apareceu em Paris, foi o carro que em 1457 ofereceu à rainha de França o embaixador de Ladislau V, rei de Boémia e Hungria - país que parece ter sido o berço daquela descoberta sumptuária. Até à época da invasão espanhola, os nossos monarcas não usavam coches, mas sim espécies de liteiras, que se denominavam andas. D. Filipe II foi o primeiro que os trouxe a Portugal, e desde então ficou o uso deles estabelecida na nossa corte.
Acontece que o assunto está cheio de pequenas armadilhas burocráticas, próprias de quem quer embaralhar a questão, se alguma vez fosse levantada em público.

Entendendo que a informação do Museu era correcta, fiz o postal assumindo que teria havido um tradutor de 2005, e que se chamaria Daniel Augusto da Silva
Porém, conforme observou David Jorge, tratava-se do matemático português do Séc. XIX, cujo irmão foi ministro do governo entre 1857 e 1877. A sua facilidade com a língua alemã, seria devida à necessidade de se manter actualizado com os trabalhos alemães.

Só que há aqui um detalhe... as notas não foram colocadas por si, mas foram sim colocadas noutra edição da obra, já muito posterior, por Castelo Branco Chaves. Assim sendo, a versão anterior do postal seria profundamente injusta para o nome de Daniel Augusto da Silva, que terá sido o tradutor apenas do texto publicado em 1844. 
A obra com notas pessoais de Castelo Branco Chaves foi doada pelo filho em 2005, e daí talvez se justifique o ano da reimpressão pela Editora Frenesi.

Fui encontrar no OLX, à venda, o exemplar com o prefácio e notas deste autor, editado pela Ática em 1946:
Príncipe Felix Lichnowsky. Portugal: Recordações do Ano de 1842
Prefácio e Notas por Castelo Branco Chaves. Edições Ática.

De facto, o único cuidado que haveria a ter, devido à má informação do Museu, seria mudar o nome de Sr. Silva para Sr. Chaves... que decidiu colocar chaves no assunto, enublando o texto com notas suas, sem qualquer justificação objectiva.

Mantêm-se pois as observações feitas, agora actualizadas.

(i) Antes das notas do Sr. Chaves, houve a tradução de Daniel Augusto Silva:


(Traduzido do allemão)
Imprensa Nacional 1844

O propósito de juntar notas parece claro, já que tinham desaparecido os tais coches antigos de D. Afonso Henriques, D. Dinis, e D. Manuel.

(ii) Nessa edição de 1844 da Imprensa Nacional o tradutor não quis pôr o nome (sabemos agora ser Daniel Augusto Silva), mas não deixou de começar com uma "Advertência do Traductor". Deixo essas três páginas, onde o tradutor da Imprensa Nacional, para além de elogiar a obra e o autor, só acha de maior significado eventuais incorrecções sobre: a estátua de D. José, o teatro S. Carlos, e sobre o desenvolvimento dos estudos científicos na Universidade de Coimbra.


 


Portugal: Recordações do anno de 1842.  A advertência do tradutor em 1844. (clicar p/aumentar)

(iii) Quebrando o propósito de não comentar a obra, aparecem aqui e ali, notas de rodapé informativas nessa edição da Imprensa Nacional em 1844. Curiosamente, e justamente na página 84, onde se falam dos tais coches, aparece uma nota de rodapé (a) sobre o "príncipe do Brasil":

(iv) Portanto, vejamos... o tradutor (D. A. Silva) preocupa-se em instruir o leitor mais inculto, avisando-o de que antes o herdeiro da coroa era príncipe do Brasil, mas deixa passar a questão da descrição dos coches, comendo por boa a "ignorância" de um ínfimo empregado da cocheira... aqui citando literalmente a opinião avulsa do Sr. Chaves, não sei se contaminada ou não pela sua causa monárquica.

(v) Parece pois que o Museu dos Coches tomará por boa a informação de que as notas são do tradutor original, porque a Editora Frenesi em 2005 terá escrito "conforme edição portuguesa de 1845" (deveria ser 1844). Nem sequer reparando que algumas notas referem anos posteriores (por exemplo, a nota nº44, página 275, cita uma obra de 1938).
Quanto ao Sr. Chaves, parece desconhecer, ou descartar como "ignorante", o tradutor da Imprensa Nacional (D. A. Silva). Seria o tradutor da Imprensa Nacional, o tal cocheiro ignorante que acompanhou o príncipe Lichnowsky?

(vi) Porque se não era, alinhou com ele na mesma ignorância, e além disso fez passar por ignorantes todos os seus colegas, amigos, conhecidos e leitores da Imprensa Nacional em 1844, e anos seguintes, que não tiveram acesso às preciosas informações que tinha o Sr. Chaves em 1946. A saber... nada. Nada, porque o argumento do Sr. Chaves é o mesmo do que não dizer coisa nenhuma. Acresce que sendo o tradutor Daniel Augusto da Silva, foi irmão de um ministro do governo, e portanto não lhe deveriam faltar amigos bem informados sobre o assunto em causa.

(vii) Como prova adicional da ignorância passada, só esclarecida pela luz que nos traz o Sr. Chaves, cito o trecho do cronista-mor António Brandão:
O Arcebispo D. Rodrigo não afirma tal coisa, antes dá por razão de El Rey D. Afonso Henriques andar de coche, não poder subir a cavalo, pelo mau tratamento da perna.

Tal e qual um cocheiro ignorante, também o nosso cronista-mor alinhava na ideia absurda de que D. Afonso Henriques andava de coche, não sabendo certamente, como só saberão eruditos como o Sr. Chaves, que os coches foram inventados lá pela Hungria no Séc. XV, e que quando António Brandão nasceu "nem sequer haveriam coches em Portugal".
Pior, remetendo António Brandão a afirmação a um "autor antigo" (o Arcebispo D. Rodrigo), terá transcrito mal o termo "coche", pois segundo o Sr. Chaves, o termo usado antes seriam "andas".

(viii) A este propósito junto ainda a informação trazida por João Ribeiro, que cita a "Crónica de 1419", que também corrobora a existência de coche ou carro de D. Afonso Henriques:
"Entom se tornou el-rey de Portugal a seu reyno e foy bem sam da perna e nunqua despois quis cavalgar em besta por não aver azo nem rezom de tornar à menagem que avia feyta, mes andou sempre em caro, como soyom andar os reys amtiguamente, e algumas vezes em andas e em colos d.omens."
(ix) Ainda João Ribeiro, fez o favor de indicar o programa de J. Hermano Saraiva (A Alma e a Gente III, nº31):



Este coche mais antigo que José Hermano Saraiva apresenta, e que passa por ser de Filipe III de Espanha, diz ele poder ter sido de D. Sebastião (afirmando haver documentação de dois coches seus, um dos quais perdido em Alcácer Quibir).
Acrescenta haver perto de 80 coches guardados em Vila Viçosa.

(x) Esta história não ficaria completa sem o lado romano (ver Romae Vitam).
Haveria diversos tipos de carruagens na época romana, sendo alguns destinados ao transporte dos mais abastados, que eram chamados "carpentum" (ou carrucas).
Um carpentum - coche no império romano. Reconstrução no Museu de Colónia.

Porque razão se terá perdido a tradição romana de transporte? Pois, isso é uma questão mais complicada, que já foi aqui tratada, e resume-se numa expressão - "a reinvenção da roda". 
Curiosamente esta expressão parece ser recente, com menos de 50 anos, mas é muito ajustada ao reaparecimento dos coches no Séc. XVI.

(xi) Há um detalhe importante que José Hermano Saraiva refere, relativamente ao coche mais antigo... é que a sua suspensão não parece ser a dos supostos coches húngaros.
O habitáculo estava suspenso por fortes correias de cabedal, o que justificaria melhor o uso do termo "suspensão". 

Conclusão: 
Devo uma visita ao Museu dos Coches (incluindo Vila Viçosa). 
Poderemos pensar que os coches anteriores ao Séc. XVII se encontram escondidos, nalguma colecção privada, nalguma cave do Vinho do Porto, numa cave em Vila Viçosa, fora do país, etc...

Mas também não descarto uma outra possibilidade... que seria a de que o coche mais antigo do museu fosse mais antigo, ou mesmo o coche de D. Afonso Henriques. A descrição do Príncipe Lichnowsky não me parece suficiente para afastar essa hipótese, ainda que os vidros não pareçam conjugar a descrição. Se as coisas fossem fáceis, perceber-se-ia pelos brazões a que data reportam (mas esses brazões podem ter sido pintados por cima). Se se quisesse fazer algum estudo mais profundo, haveria forma de datar a madeira, etc, e faltará muita vontade de o fazer.

Terá havido a necessidade de fazer acreditar que não haviam coches antes do Séc. XVI, mesmo que haja descrições de António Brandão e da Crónica de 1419. Essa necessidade só parece ter acontecido no Séc. XX, já que antes disso, em 1844, não houve problemas em publicar a tradução sem nenhum reparo. Portanto, essa censura terá sido decidida já no Séc. XX, ou poucos anos antes.

23 de Março de 2019


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(versão anterior)
- 21 de Março de 2019 -

Na sequência de comentários sobre o tema "Coxos de Coches", teve o João Ribeiro a paciência (que já não tenho), e o cuidado educado, de inquirir o Museu Nacional dos Coches sobre a existência dos coches de D. Afonso Henriques, D. Dinis, e D. Manuel, conforme descritos na obra do príncipe polaco Felix Lichnowsky.

Houve uma rápida resposta do museu, por via técnica, remetendo o assunto para a nota de tradução da obra de Lichnowsky, feita em 2005, por um certo D. A. Silva, que despacha o assunto da seguinte forma (p. 282, Ed. Frenesi):
15 É visível que nesta descrição que se faz dos coches da casa real houve uma crisma singularmente anacrónica: o Autor aceitou, decerto sem o mínimo reparo, a informação ignorante de algum empregado ínfimo nas cocheiras do paço. A invenção e uso das carruagens não é de muito antiga data na Europa. A primeira viatura desta espécie, que talvez apareceu em Paris, foi o carro que em 1457 ofereceu à rainha de França o embaixador de Ladislau V, rei de Boémia e Hungria - país que parece ter sido o berço daquela descoberta sumptuária.
Até à época da invasão espanhola, os nossos monarcas não usavam coches, mas sim espécies de liteiras, que se denominavam
andas. D. Filipe II foi o primeiro que os trouxe a Portugal, e desde então ficou o uso deles estabelecida na nossa corte.
Este despacho é admirável.
Repare-se no uso cuidado das palavras: - "a crisma" e "algum empregado ínfimo".
Traduz-se na novilíngua como: "o sacramento de confirmação" e "algum colaborador ínfimo".

Acresce a isto a designação de "veículo hipomóvel" usada pelo museu, para florear o "coche", e usar de forma ligeira o prefixo "hipo" que tanto dá para "cavalo" como para "baixo nível".


Não vale a pena, mas já agora deixo uma coisa rara, a que se chamam factos, algo que a intelectualidade vigente abomina, fugindo deles como o diabo da cruz.


(i) Antes da Editora Frenesi e do senhor Silva, em 2005, houve uma tradução da obra:



Portugal: Recordações do anno de 1842. 
(Traduzido do allemão)
Imprensa Nacional 1844

Aliás a edição a que tive acesso, foi esta de 1844, que está online (clicar no link).
Portanto, nem quero saber qual foi o propósito de uma nova tradução do que já existia.

(ii) Nessa edição da "ínfima" Imprensa Nacional o tradutor não quis pôr o nome, mas não deixou de começar com uma "Advertência do Traductor". Deixo essas três páginas, onde o tradutor da Imprensa Nacional, para além de elogiar a obra e o autor, só acha de maior significado eventuais incorrecções sobre: a estátua de D. José, o teatro S. Carlos, e sobre o desenvolvimento dos estudos científicos na Universidade de Coimbra.



 

Portugal: Recordações do anno de 1842.  A advertência do tradutor em 1844. (clicar p/aumentar)


(iii) Quebrando o propósito de não comentar a obra, aparecem aqui e ali, notas de rodapé informativas nessa edição da Imprensa Nacional em 1844. Curiosamente, e justamente na página 84, onde se falam dos tais coches, aparece uma nota de rodapé (a) sobre o "príncipe do Brasil":


(iv) Portanto, vejamos... o tradutor preocupa-se em instruir o leitor mais inculto, avisando-o de que antes o herdeiro da coroa era chamado príncipe do Brasil, mas deixa passar a questão da descrição dos coches, comendo por boa a "ignorância" de um ínfimo empregado da cocheira... aqui citando literalmente a opinião avulsa do Sr. Silva.


(v) Parece pois que o Museu dos Coches toma por boa a opinião do tradutor da Editora Frenesi em 2005, e parece desconhecer, ou descartar como "ignorante", o tradutor da Imprensa Nacional em 1844. Seria o tradutor da Imprensa Nacional, conhecedor de alemão, o tal cocheiro ignorante que acompanhou o príncipe Lichnowsky?


(vi) Porque se não era, alinhou com ele na mesma ignorância, e além disso fez passar por ignorantes todos os seus colegas, amigos, conhecidos e leitores da Imprensa Nacional em 1844, e anos seguintes, que não tiveram acesso às preciosas informações que tinha o Sr. Silva em 2005. A saber... nada. Nada, porque o argumento do Sr. Silva é o mesmo do que não dizer coisa nenhuma, é o corropio dos chamados "factos assentes", ou seja, os dogmas duma nova igreja, que estabelece como fé a ignorância dos fiéis.


(vii) Para não me alongar mais, deixo como prova adicional da ignorância passada, só esclarecida pela luz que nos traz o Sr. Silva, o trecho do cronista-mor António Brandão, que dizia o seguinte:

O Arcebispo D. Rodrigo não afirma tal coisa, antes dá por razão de El Rey D. Afonso Henriques andar de coche, não poder subir a cavalo, pelo mau tratamento da perna.
Tal e qual um cocheiro ignorante, também o nosso cronista-mor alinhava na ideia absurda de que D. Afonso Henriques andava de coche, não sabendo certamente, como só saberão eruditos como o Sr. Silva, que os coches foram inventados lá pela Hungria no Séc. XV, e que quando António Brandão nasceu nem sequer haveriam coches em Portugal.
Pior, remetendo António Brandão a um "autor antigo", o Arcebispo D. Rodrigo, a tal afirmação, terá transcrito mal o termo "coche", pois segundo o Sr. Silva, o termo usado antes seriam "andas".

O que fazer?

Nada. Na minha opinião, não vale a pena fazer coisa nenhuma.
Desisti da liga das bananas, deixo-a para os macacos.
Uns seguem a via do engano e os seus frutos fáceis... outros não.

15 comentários:

  1. Bom dia caro Da Maia,

    Apenas uma advertência. Conforme o MNC foi Filipe II que introduziu os coches em Portugal, logo contemporâneo de Frei António Brandão.

    Em todo o caso seria ridículo um douto erudito como o foi António Brandão cometer a asneira de dizer que uma "novidade do seu tempo" era usada há séculos atrás. Era como se alguém contemporâneo de Henry Ford afirmasse que há séculos atrás se andava de automóvel.
    António Brandão só o pode ter afirmada pois tinha perfeito conhecimento que andar de "coches" não era novidade alguma daquele tempo coisa nenhuma.

    Ab

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    1. Certo. Ora, como o frei António Brandão é dado como nascido em 1584, nessa altura ainda tínhamos fresco o primeiro dos nossos Filipes. Ora, se os coches foram introduzidos pelo segundo Filipe, foi já depois de 1598, tendo o nosso cronista ao menos 14 anos, e deve ter achado uma assombração ver um coche, a tal luxuosa "invenção húngara". Coisa digna de menção como redescoberta da roda, já que antes, só burros, mulas, ou cavalos de baixa rês, poderiam puxar uma carroça. Carroça sim, mas nunca um coche, que isso é invenção diferente, com tecto e tudo.

      Usando o seu exemplo, seria como distinguir a invenção das limousines da invenção dos carros... sendo certo que os romanos abastados usavam coches, a que se chamava carpentum:

      https://www.romae-vitam.com/roman-carriages.html

      Mas, só o Sr. Silva saberia explicar a grande novidade da invenção húngara, que parece ter sido uma nova suspensão...

      Enfim, para esta malta, não tenho paciência. Mas agradeço ao João a ter tido, porque assim fica a confirmação.

      Abç

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  2. Caros,

    Só para tentar entender, D.A. Silva, terá sido Daniel António da Silva, matemático da Real Academia de Ciências? que faleceu em 1878?
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Augusto_da_Silva

    Porque, segundo este registo:
    http://biblioteca.cm-sintra.pt/Opac/Pages/Search/Results.aspx?Database=10222_BIBLIO&SearchText=AUT="Silva,%20Daniel%20Augusto%20da"

    Título: Portugal : recordações do ano de 1842
    Autor(es): Felix Lichnowsky ; il. D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha ; trad. Daniel Augusto da Silva
    Publicação:
    Lisboa : Frenesi, 2005
    Descrição física: 299, [4] p. : il. ; 19 cm
    Notas: "Conforme edição portuguesa de 1845"
    ISBN/ISSN: ISBN 972-8351-91-7
    Assuntos: Palácio Nacional de Sintra--Séc. 19 | Convento dos Capuchos--Séc. 19 | Quinta do Ramalhão--Séc. 19 | Palácio Nacional da Pena--Séc. 19 | Narrativa de viagens--Literatura alemã | Sociedade portuguesa--Séc. 19 | Romantismo--Cultura portuguesa | Costumes portugueses--Séc. 19 | Memórias
    Veja também: Lichnowsky, Felix, Príncipe | Silva, Daniel Augusto da
    Localização: 80.2-L-1/4 (BMS) - 62426 SNT

    Cumprimentos,
    Djorge

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    1. Ainda bem que notou isso! Só adensa o mistério...

      Não suspeitei que se tratasse da mesma pessoa... um matemático tradutor!

      A informação do Museu dos Coches era muito, muito falaciosa.
      Portanto, em 2005 a Frenesi fez uma simples reimpressão e não houve nova tradução.

      Trabalheira... vou ter que mudar o postal, corrigindo o que é devido corrigir.

      Agora, pergunto:
      - Se já havia a tradução em 1844 publicada pela Imprensa Nacional, afinal que obra é a de 1845, e foi publicada por quem?... e porquê?

      A resposta também se encontra ao virar da esquina.
      Há mais edições:

      http://biblioteca.cm-sintra.pt/Opac/Pages/Search/Results.aspx?Database=10222_BIBLIO&SearchText=AUT=%22Lichnowsky,%20Felix,%20Pr%C3%ADncipe%22

      Se a tradução é de D. A. Silva, o prefácio e notas, que aparecem certamente depois, são de Castelo Branco Chaves, porque este só nasceu em 1900:

      http://acpc.bnportugal.gov.pt/espolios_autores/e45_chaves_castelo_branco.html

      Tudo junto e bem misturadinho, como manda a velha tradição burocrática.
      Assim, lança-se a devida confusão, com muita poeira das cavalariças.

      Muito obrigado, Djorge, vou ter que mudar o postal, mas acho que vai ficar mais colorido!

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    2. Ficou ótimo e lucido, ou como se diz agora, na giria post-milenial, ficou "stand-alone".

      Parabéns!

      Cumprimentos,
      Djorge

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  3. Boa tarde,

    Aqui segue José Hermano Saraiva sobre o tal coche de Filipe II (minuto 10:57)

    https://www.youtube.com/watch?v=H8zohvjal9E

    Cumpts,

    JR

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    1. Muito oportuno... parece que Hermano Saraiva também tinha dúvidas, pelo menos que o primeiro fosse o de Filipe III de Espanha; já que parece não ter dúvidas que D. Sebastião tinha dois coches.

      Informação muito interessante.
      Vai servir para complementar o que terei que reescrever!

      Obrigado!

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  4. Caro da Maia não sei se ajudará mas a fonte de muitas fontes, a "crónica de 1419" diz o seguinte: "Entom se tornou el-rey de Portugal a seu reyno e foy bem sam da perna e nunqua despois quis cavalgar em besta por não aver azo nem rezom de tornar à menagem que avia feyta, mes andou sempre em caro, como soyom andar os reys amtiguamente, e algumas vezes em andas e em colos d.omens."

    Cumpts,
    JR

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    1. É mais uma boa fonte, para juntar na nova versão deste post, que deverei fazer neste fim de semana...
      Obrigado.

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  5. Boa noite caro Da Maia,

    Concordo com o Djorge, ao qual deixo os meus cumprimentos,o post ficou muito bom.

    Já me tinha ocorrido de que nem todas as carruagens conservadas tivessem sido usadas para exibição ao público mas que algumas tivessem ficado na própria Casa Real e que daí tivessem convertido para a Fundação da Casa de Bragança, por exemplo.

    Por aqui podemos dar uma vista de olhos pelas que estão expostas ao público:

    http://www.fcbraganca.pt/paco/carruagens/01.htm

    Logo, existem por aí carruagens que podem ter sido admiradas pelo príncipe e que não tivessem ido parar ao Museu dos Coches. A visita do príncipe foi em 1842 e o Museu inaugura em 1905.

    Na realidade achei a discrição da carruagem de D. Afonso Henriques demasiado elaborada para a época mas enfim "upgrades" podem ter sido feitos e isso poderia significar a adaptação de uma antiga carruagem de gala numa outra mais moderna inserindo os tais ornamentos de dourados e bronzeados. De seguida apercebi-me que os vidros venezianos já são famosos muito anteriormente ao séc XII: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vidro_de_Murano

    E então as carruagens de D. Dinis e a de D. Manuel? Que tivessem enganado o príncipe trocando o nome da carruagem de Filipe por D. Afonso Henriques é uma coisa mas enganarem-no com o nome de três carruagens seria absurdo! Que maneira de tratar uma visita real...

    Portanto, pergunto existe por aí alguém com 34 cohes reais guardados em casa?

    Ab

    JR

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  6. Caros,
    penso que os diversos contributos foram importantes, e se pudémos avançar no assunto, foi justamente porque colaborámos bem.
    Se ficou "stand-alone", pois isso tem o significado operativo de que vale por si mesmo, sem necessidade doutrém, mas também "stand alone" também significa ficar sozinho... e esse é um problema recorrente das "verdades". A "verdade" não precisa de ninguém que a defenda, mas se ninguém a defender, há do outro lado quem tenha interesse em arregimentar fiéis para eventuais benefícios que as mentiras trazem. Por isso, é sempre mais fácil vermos fiéis recompensados alinhando pelo engano, do que abnegados seguidores da verdade.

    Dito isto, com o último comentário do João, creio que ainda se pode seguir por esta via da "redescoberta da roda". Há um livro interessante, que pode servir de base:

    https://www.gutenberg.org/files/46216/46216-h/46216-h.htm

    Até porque temos imagens gravadas, como esta:

    https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carro_a_quattro_ruote_-_Còren_del_Valento-Naquane_R_62_-_Capo_di_Ponte_(Foto_Luca_Giarelli).jpg

    ou o bem conhecido "carro solar" de Trundholm :

    https://en.wikipedia.org/wiki/Trundholm_sun_chariot

    que indiciam que o uso de carros de 4 rodas poderia ter sido iniciado em tempos pré-históricos (pelo menos, Idade do Bronze).

    A questão da suspensão parece-me um factor de despiste. Permitiria mais conforto, mas com 4 rodas independentes, ou independentes 2 a 2, seria obtido um efeito similar, sem nenhum problema.

    Os problemas de rigidez, de que falava Hermano Saraiva, são entendíveis para quem pensa nos eixos dos carros como factor de tracção. Mas isso é uma percepção do Séc. XX, e talvez por isso se tenha criado essa ideia só no Séc. XX.

    Enquanto carruagens, ou coches, a tracção era feita pelos cavalos, e a única vantagem da roda era diminuir o atrito. A questão da suspensão no conforto para o passageiro, pois seria interessante para os mais abastados, mas nunca seria propriamente uma razão técnica que impedisse a existência de outros carros.

    Mais facilmente, é claro, teriam apenas duas rodas, conforme vemos mesmo no seu extensivo uso em quadrigas, desde o tempo dos faraós:
    https://en.wikipedia.org/wiki/Chariotry_in_ancient_Egypt

    Ou seja, há neste tópico vários assuntos de interesse.

    E a questão é mesmo essa - há alguém com dezenas de coches e que não quer mostrar a mais ninguém? Ou que raio de vantagem é que alguém pode ver neste engodo?

    Abraços.

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  7. A meu ver alguém por aí tem (ou tenta ter) a colecção completa de coches reais, ou seja, um coche que tenha pertencido a cada um dos Reis portugueses. Coches, ou carroças mais ou menos ornamentados, teriam de existir e se pertenciam ao rei, maior a ornamentação. Como se levaria um rei doente de uma terra para outra, ou no caminho da sua sepultura? Enfim são tantas as utilidades...

    Cumpts,

    JR

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    1. Exacto, João, não se percebe como se quis induzir a ideia de que o transporte em coche, ou em carro, tinha desaparecido durante a Idade Média. Ao mesmo tempo, que se criticam civilizações como os Maias ou Aztecas, de não usarem a roda em carros, temos o mesmo ridículo lançado sobre a própria Europa.
      A vantagem de tomar essa posição e distorcer o conteúdo histórico? Pois, não faço ideia. Mas em última análise, não passará de uma burocrática definição do que era, ou não era, um "coche".
      Apanhámos com essa brincadeira de mau gosto nas pseudo-descobertas do interior africano:

      https://alvor-silves.blogspot.com/2011/01/de-luanda-e-de-angola-contra-costa.html

      As inúmeras expedições portuguesas ao interior africano, feitas desde o Séc. XVI, ficaram perdidas da memória dos dias de hoje, por um artifício burocrático.
      A expedição de "Luanda à contra-costa" não valeu, só valeu a expedição de "Angola à contra-costa", realizada 75 anos depois.

      Um ridículo vergonhoso que a pseudo-ciência, que vigora desde o Séc.XIX tem alimentado, retirando crédito e mérito a uns, e dando-o a outros.
      Pior, as elites portugueses, que vão da bandalheira à mediocridade, aceitam este estado de coisas, provavelmente à conta de rendas, prebendas e outras chulices.
      Nem gosto de falar nisto, que me dá vómitos.

      Abraço.

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  8. Parabéns a todos, pelo Estudo

    Sem querer ser má língua, pelo menos sem querer ser pior, do que habitualmente sou, tenho para mim, que na tal colecção guardada em parte incerta, talvez esteja a Carruagem de Júlio César, ou quem sabe, a de Gneu Magno, ou então, a de Cleópatra VII, a Rainha Isis... O que seria bom demais, para ser verdade.
    O certo, é que de algum lado viria, esse termo "Carpento", que até deu nome à linhagem dos Prado Carpento.
    Também, ninguém se iria lembrar de chamar a César, José Carpinteiro, que é o mesmo que José Carpento ou Carpenter, se não fossem as Carruagens Romanas.
    Se o século das Luzes, foi a Apagão das Ciências, os Séculos XVIII,XIX e XX, foram os Inventores da Historiografia....Haja paciência, para aturar tudo isto.

    Abraço a todos

    Vou levar o Carpentum reconstruído, até que surja o original.

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    1. Curiosamente o termo "karros", para carro, é dito ser celta:

      https://en.wiktionary.org/wiki/carrus

      e imagino que a intelectualidade vigente assuma que dizemos "carros" porque vem do latim. Aliás, "carro" e "corro" é suposto terem a mesma origem indo-europeia, que é como quem diz, origem num português mais antigo.

      Como parece mostrar o carrinho de Trundholm (com 6 rodas, o que para burocratas é tripla invenção), quem gostava mesmo de carros eram os celtas. Celtas, que como sabemos, são emigrados padeiros da Azambuja, que andavam de costas... para depois nas pegadas históricas parecer que tinham sido imigrantes e não emigrantes.

      Bom, isto apenas para complementar a ligação dos carpinteiros à construção de carros.
      Se César tinha, é natural, já que vemos os carpentum até nos filmes, por exemplo:

      https://www.youtube.com/watch?v=ODkLWSUL9Zk
      (segundo 0:15)

      Eu gostaria de acreditar naquela perspectiva mais engraçada, a de que foi tudo guardado congelado, lá para a Antárctida. Mas na prática, mesmo que não seja verdade, pode ser feito verdade.
      Porquê, porque a técnica de falsificar antiguidades é sempre mais evoluída do que a demora a perceber que essa antiguidade é falsificada. Assim, espero que quando desenterrarem um carpentum, ao menos que o disfarcem bem, para parecer mesmo antigo. É como aquela situação, em que sabemos não haver amor, mas ao menos que se sejamos enganados com alguma classe e estilo.

      Abraço.

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