Alvor-Silves

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Fim da Evolução - do multicelular ao multianimal (2)

O processo de fotossíntese permite às plantas retirar energia do Sol...
... porém, na "criação", os animais foram daí excluídos.

Todos os animais? ... bom, há raras excepções.
Algumas lesmas marinhas absorvem cloroplastos de algas que ingerem, ficando capazes de realizar fotossíntese, e assim depender directamente do Sol como fonte de energia.
São casos disso:
Costasiella kuroshimae (lesma encontrada nos mares do Japão)

Pteraeolidia ianthina (lesma encontrada nos mares da Austrália)

Havendo esta possibilidade de criar animais capazes de obter energia solar, parece ideia um pouco perversa da "criação" dar aos animais um tubo digestivo como processo de alimentação.
Não terá sido tão perversa enquanto os animais se alimentaram de plantas, mas começou a sê-lo quando se começaram a alimentar uns dos outros.

Energia
Não houve nenhuma evolução objectiva quando os animais optaram por matar para extrair energia. Os maiores seres, e mais possantes, são herbívoros, como é o caso do elefante em terra, ou de baleias no mar. A chita pode ser o animal mais rápido, mas ao contrário de impalas e antílopes, são incapazes de aguentar essa velocidade de topo, mais do que um ou dois minutos. Portanto, a circunstância de animais se alimentarem de outros animais não tem propriamente uma justificação trivial.

A necessidade de energia foi outro presente evolutivo.
Há seres, como sapos ou salamandras, capazes de congelar até 6 meses uma hibernação praticamente total, e recuperam como se nada se tivesse passado. Mas, na maioria dos casos, os animais nem sequer podem tirar férias da refeição diária... comer por uma semana num dia não lhes dá uma semana de folga nas necessidades alimentares, dá-lhes apenas uma semana de fome.

Todo o movimento definido pelos indivíduos, que altera o movimento definido pelas leis naturais, é pago em energia, ao ponto da própria existência ser cobrada.
A mãe Natureza usa a energia como moeda de troca na sua economia da sobrevivência.
Todos os dias os animais pagam pela sua existência, pela energia, sendo forçados a aniquilar outros seres vivos no processo. Vendo a Natureza como modelo exemplar, como muitos gostam de ver, isto corresponderia a um chefe exigir que a sobrevivência dos seus súbditos só acontecesse se outros fossem sacrificados.

Mas a questão energética pode ser resumida a um simples ponto.
A evolução temporal determina uma sequência de acontecimentos, não dando existência a qualquer outra. O custo de ter uma configuração em favor de outras, é um preço energético.
Se não existissem seres vivos, as trocas energéticas ocorreriam sem eles, mas não teriam a complexidade que a sua luta pela sobrevivência os obrigou a definir. A opção por uma acção, ou até a escolha por nenhuma acção, provoca uma evolução material que é paga energeticamente. Se os seres vivos desistissem do jogo energético, a evolução material decorreria sem eles, porque simplesmente iriam perecer.

Ser superior
O que emerge então dos agrupamentos sociais, ou multianimais?
É-nos clara a identificação de agrupamentos celulares enquanto seres vivos bem definidos.
A individualidade dos agrupamentos sociais não se distingue de forma tão evidente.
Porém, desde o momento em que as espécies foram definidas distintamente, cada uma delas passou a poder considerar-se como um agrupamento social.


"Murmuração" - efeito conjunto de um bando de pássaros.
O efeito conjunto ultrapassa qualquer vontade ou plano individual dos pássaros.

Na prática esse agrupamento social reduzia-se na maioria das vezes a um agrupamento familiar, e nessa ideia de família, de passagem de ADN de umas gerações para outras, podemos ver uma primeira tentativa de eternização. Os indivíduos teriam um tempo de vida limitado, mas atendendo à sua descendência, passava a haver uma componente secundária de prolongamento no tempo, na vida de filhos, de filhos de filhos, etc, para além da existência dos próprios.

Este aspecto de eternização, na constituição de uma entidade superior ao indivíduo, que era a família, foi uma criação natural, associada à própria evolução. Foi assim natural que os primeiros grupos sociais humanos estivessem praticamente ligados apenas por uma filiação, que era herança do próprio processo natural. Também se vê o mesmo tipo de ligação nas colónias de formigas ou abelhas, que partilham o mesmo ADN, onde os elementos podem ser encarados como extensão de uma mesma individualidade genética.

Acima deste aspecto trivial, herdado naturalmente, nos homens começou a manifestar-se a criação de outras entidades, para além da simples assinatura genética. Um desses aspectos foi a religião. Criaram-se fortes ligações, que não estavam ligadas ao ADN biológico, passando a estar mais ligadas ao ADN intelectual. Outro aspecto foi a conexão cultural ao aspecto comunitário, ao aspecto nacional. Passou a ser habitual ver indivíduos fazerem sacrifícios pelo bem comum.

É claro que uma estrutura social passou a ter uma força descomunal, que em muito ultrapassava a força dos seus indivíduos. A evolução humana caminhou no sentido de criar esses monstros sociais, capazes de impor vontades com a força organizada de muitos.
Poder-se-ia concluir que o poder se resumia muitas vezes à vontade da liderança, mas na prática esses monstros sociais ultrapassavam qualquer poder individual. O líder teria uma certa discricionariedade na sua actuação, mas como em qualquer acção de um grupo, o resultado era mais do que a soma das partes. Os elementos começam a funcionar em nome de um ideal abstracto, e já nem formulam os seus raciocínios sem atender à reacção dos outros. O líder pode ser aquele que está mais próximo da vontade do grupo, mas é totalmente incapaz de controlar toda a acção, ao ponto de ver a sua vontade menorizada, face a uma vontade maior que lhe é transmitida pelo agrupamento.

Eles
No meio de todo este processo social, começam a surgir acções que não são efectivamente responsabilidade de ninguém em particular, acabam por ser resultado da incapacidade dos indivíduos de se afirmarem. É claro que podem ser explorados por elementos nos bastidores, levando a uma designação comum de um responsável indefinido que são "eles", mas que na prática pode não ser ninguém em concreto. São mais acções que resultam de equilíbrios, conveniências, ou medos pessoais, que deixam que certos acontecimentos evoluam num sentido e não noutro.
As estruturas sociais ganham vida própria, acima dos indivíduos, tal como a estrutura celular tem uma vida própria, muito para além da vida individual de cada uma das células. Tanto poderá parecer caricato admitir que se define um individualidade numa estrutura social, para além da individualidade dos seus membros, como ignorar que o resultado das acções individuais nessa estrutura vai para além da vontade pessoal dos seus elementos. Por exemplo, o grau de violência de um grupo pode ser contagioso e levar os seus membros a atitudes que individualmente não tomariam, porque não sentiriam uma necessidade de afirmação artificial, exacerbada nas relações pessoais dúbias que se estabelecem.

É fácil antecipar que, tal como as células animais perderam a sua individualidade, para definir depois uma individualidade do seu conjunto, também as estruturas sociais possam tender para o mesmo resultado, quando para o grupo o que interessa é o resultado do conjunto, e muito menos o destino individual dos elementos no processo.

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