Alvor-Silves

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

do Sótão (3) «Abreojos de Ortélio»

Continuamos com outro texto, que ficou como rascunho em 22 de Julho de 2011, ou seja, no dia seguinte à publicação do texto «O cozinheiro e o sanduíche», e portanto só se entende melhor, lendo-o primeiro.
Aliás, «o cozinheiro e o sanduíche» é um dos textos que mais marcou este blog, e por isso na resposta ao único comentário que teve, refiro: 
Por isso este post é pouco sobre a descoberta da Austrália... - é muito mais sobre as Ilhas Abrolhos!
Ora, a observação neste rascunho era muito mais sobre o detalhe. Num mapa de 1570 apareciam no Pacífico ilhas chamadas "Abreojo", numa localização não longe da Austrália, e portanto o nome existia em ilhas "australianas" (e não apenas no Brasil), antes de serem redescobertas por Houtman, 50 anos mais tarde. O texto tinha vários outros apontamentos de detalhe sobre os mapas de Ortélio, mas como já não era esse o assunto que mais me ocupava, acabei por não lhe dar importância.

_____________________ 22/07/2011 ____________________

Na sequência do texto anterior, sobre o arquipélago Houtman Abrolhos, e analisando o mapa Typus Orbis Terrarum de Ortélio (1570) encontramos um arquipélago Abreojos no Pacífico, conforme assinalamos:
não está junto à Australia, porque ela não aparece. Como os restantes mapas da época, assinalam uma Nova Guiné mal definida, um grande continente Austral - que neste caso Ortelius associa a Magalhães, pelo lado ocidental do mapa, e a Marco Polo pelo lado oriental, onde aparece Java Minor.

Merece alguma atenção todo o retrato asiático, especialmente a parte da Ásia setentrional, onde identifica já uma Nova Zemla (não como ilha), e a parte junto ao Cáspio, aqui chamado Bachu.

Após os Urais, há alguns nomes de cidades desconhecidos, como Wiliki, Marmorea, Obea, Calami, Cossin, Naiman, Turfon, Taingim, Mongul, e até Cattigara, entre outras.
Haveria bastante a dizer sobre vários casos, mas resumimos a Naiman - tida como tribo mongol, a Turfon com fonética de turfa, a Taingim que se confunde com Tianjin, enquanto é feita uma distinção entre China, Cathaio e Mongol. Ou seja, Cathaio aparece numa zona a norte da China, ou coreana, onde coloca ainda Cattigara, tida como cidade ao sul. 
O mapa parece impreciso para algumas dúvidas legítimas, mas é razoavelmente correcto a colocar os cursos de água, nomeadamente o Rio Obi - que é bem identificado.
Fica ainda evidente uma extensão apreciável do Mar Cáspio (que se uniria ao Mar Aral), que não estaria longe de Samarcanda, na rota da Seda, e capital do império de Tamerlão. A zona do Turquistão ou Corasan (Khorasan) era o coração das relações entre Oriente e Ocidente, que da China e India passavam à Pérsia. Aqui o Cáspio já está reduzido a uma dimensão mais pequena, mas os cursos de água permitem ver como um aumento do nível do mar permitiria ligar o Cáspio ao mar setentrional. Ainda hoje, o registo de povoações importantes permite prever a extensão desse mar antigo.
Vemos ainda que no Mar Negro a foz do Danúbio está bastante recuada, podendo suspeitar-se que o Bucur na lenda de Bucareste fosse mesmo pescador. Conforme já assinalámos, apesar de Bucareste ter resistido até Constantino, a língua latina prevaleceu... com algumas diferenças - Mare não significa Mar, mas sim "principal". Política draconiana para evitar confusões de toponímia com um mar que se ia reduzindo... 
Relativamente a este mapa, acrescentamos apenas que Ortelius coloca Troia onde Schliemann a vai procurar depois.

Portugal, por Ortélio
Falando em Troia, Ortélio tem um mapa particular de Portugal, que aqui mostramos a parte da província de Antre-Tejo e Guadiana (uma designação mesopotâmica tal como Entre-Douro-e-Minho).
O rio Sado era chamado Rio Palma, ligando assim a uma Palmela (que não está representada), podemos ver que Melides, em vez de lagoa teria uma grande entrada marítima pelo "Lago de pera", onde do outro lado de Sines apareciam várias ilhas do Pessegueiro, e não apenas um ilhéu. Há vários detalhes, mas nota-se também aqui o avanço actual da linha costeira.

Esse avanço costeiro aparece aqui como mais evidente na zona da Estremadura, especialmente na foz do Mondego.
O mapa pode prestar-se a algumas confusões, pois o recúo marítimo parece estar aqui exagerado, talvez por erro no traço. 
Não deixa de ser interessante aparecer uma "Nova Lisboa" junto a Peniche e Atouguia, e uma "Anilu" na zona de Torres Vedras(?).... as interpretações estrangeiras levam a algumas estranhas trocas, e vemos aqui a Ericeira enquanto "Ciriceira".

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32 comentários:

  1. Que delícia este mapa...
    Também é interessante ver quais as terras mais importantes à época.
    Fui investigar um pouquinho e descobri um livro de João Batista de Castro, mapas de Portugal antigo e moderno, disponível em archote.org. Não sei se conhece mas logo no início apresenta um mapa, mais moderno, mas também interessante pelo desenho da Costa. O tamanho dos rios, o tamanho da foz do Mondego, Buarcos como ilha, etc. E de novo a importância das terras.
    Este livro também me parece uma delícia :)))

    Cumprimentos,
    Gualdim

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  2. E Sintra aparece como troia
    Gualdim

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    1. Gualdim, este comentário ficou como spam, e só notei isso agora!

      A povoação que aparece como "Aroia" (o A parece um T, mas não é Troia) é a povoação de Azoia, que está mesmo ao lado do Cabo da Roca.

      (O mapa estava mesmo cheio de transcrições erradas...)

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  3. Sim, conhecia o livro do João Bautista de Castro, mas não essa versão...

    https://books.google.pt/books?id=rt4FAAAAQAAJ

    porque normalmente as edições que nos chegam têm os "mapas arrancados", ou simplesmente não constam do fotografado.

    Parece haver uma ilha em frente a Buarcos, o que é estranho!
    Mas há uma grande diferença entre esse mapa e o de Ortélio, onde me parece haver mesmo uma grande baralhação naquele mapa de Ortelius.
    A colecção já não está online no mesmo sítio.

    Encontrei ainda o primeiro mapa aqui:
    https://nla.gov.au/nla.obj-230711138/view

    Mas um mapa português de Ortelius, só reencontrei o que está na wikipedia:

    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/1579_Ortelius_Map_of_Portugal_%28_Porvgalliae_%29_-_Geographicus_-_Portugalliae-ortelius-1587.jpg

    Obrigado pelo comentário.

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  4. Caro Alvor,

    Tenho um mapa que encontrei em tempos (não me recordo onde) no qual coloquei umas notas que remetiam para Ortelius, embora no mapa esteja explicitamente mencionado "Auctore Vernando Alvaro Secco".
    A nota que coloquei deve ter vindo do "sítio" onde encontrei a imagem, que creditava o mapa a Ortelius como uma cópia, agora não sei quem copiou, se um ou o outro.
    A razão pelo qual chamo atenção a "este" mapa é pelo facto de podermos encontrar os mesmos nomes (erros?)que destaca neste seu texto.
    Aparecendo mais uma vez a Ciriceira, ou a Nova Lisboa junto do "Castelo do Conde".
    Tirando a "Nova Lisboa" e o "Castelo do Conde" que não conheço, toda a restante toponímia está muitissimo próximo do que vemos hoje nos mapas, o que me leva a crer que não haveria razão para fabricar exclusivamente esses 2 locais e que por sua vez, estes possam ter sido simplesmente substituidos por outros nomes de povoações próximas, que ao crescerem, absorveram as primeiras.

    Link do mapa na biblioteca:
    https://mega.nz/#F!rwVTET7S

    Cumprimentos,
    Djorge

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    1. Sim, David, concordo que de um modo geral tratam-se de grafias diferentes com sonoridades semelhantes, uma coisa própria de estrangeiros.
      Creio que o Ortélio (e outros) se basearam especialmente em mapas de Álvaro Seco, até porque Ortélio remete para essa fonte.

      Sobre "Nova Lisboa" pode também ter sido apenas uma mudança de nome, tal como no caso de "Punhete" que passou a "Constância". O nome "Péniche" poderia ser entendido como "pénis", já que na passagem de ilha a península terá ficado com um aspecto semelhante ao que tem hoje o Baleal. Por uma questão de falso pudor, que é coisa que abunda no país, o nome "Nova Lisboa" pode ter sido tentado, mas não teve sucesso, ao contrário de Constância.

      Há neste texto de "Arqueologia e História" alguma (pouca) informação sobre isso e sobre Alvaro Seco:
      https://books.google.pt/books?id=xVANAQAAIAAJ&pg=RA1-PA31

      Obrigado pelo link!

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  5. Sobre o "Nova Lisboa" transcrevo aqui o que o Wikipedia diz no artigo "Praça-forte de Peniche".
    «À época da Independência de Portugal, a ilha de Peniche erguia-se a cerca de oitocentos passos do continente, junto da foz do Rio São Domingos). A ação das correntes marítimas e dos ventos, com o passar dos séculos, levou ao assoreamento desse curso de água, vindo as areias a formar progressivamente um cordão de dunas que, consolidando-se, uniu a ilha de Peniche ao continente, fazendo desaparecer o porto de Atouguia.»

    Destaque para a "ilha" de Peniche, ou seja, Peniche estaria em terra, e o local onde hoje é a cidade seria apenas uma ilha.

    Continuando:
    «O antigo lugar da Ribeira d’Atouguia, na foz desse rio, era um dos mais importantes portos portugueses da Idade Média, ponto de acesso privilegiado a localidades do centro do país (Lisboa, Óbidos, Torres Vedras,Santarém e Leiria), estando implicadada em importantes episódios da História de Portugal.»

    Por sua vez a importância do Porto da Atouguia seria tal, que só se compararia com o de Lisboa tanto em termos de comercio e produção de náus, como via de acesso a vilas no interior oeste (O rio sizandro seria navegável apenas por embarcações pequenas na idade média).

    Daí ser plausivel a ideia que a cidade que se adivinhava vir a crescer dado ao assoreamento entre a ilha de Peniche e o porto da Atouguia ser uma "Nova Lisboa".

    Por outro lado e seguindo com mistério do "Palácio do Conde", mais uma vez o wikipédia relata no mesmo artigo em referência à importância do porto da Atouguia:
    «Sendo alvo constante de ataques de corsários ingleses, franceses e de Piratas da Barbária, o rei Manuel I de Portugal (1495-1521) encarregou o conde de Atouguia da elaboração de um plano para a defesa daquele trecho do litoral, que foi apresentado ao seu sucessor, João III de Portugal (1521-1557).»

    O "Castelo/Fortaleza" é hoje conhecido como o Castelo da Vila.
    No entanto, só em 1609 é que a povoação é elevada a Vila.
    Não faria sentido chamar-se "Castelo da Vila" não passando o "lugar" de uma mera "povoação".

    Teno a preparação e direcção da construção da fortificação ficado a cargo do Conde da Atouguia faz todo o sentido que seja esse o nome a constar nos mapas de 1560 a 1600 "Castelo do Conde".

    Sobre Peniche ser Nova Lisboa ou Nova Lisboa passar a ser Peniche, há o facto da ligação dos Condes da Atouguia (os Ataídes) aos Távora, tendo o último conde sido executado em 1759, segue a lista segundo a wikipedia:

    Titulares (Condes de Atouguia)

    Álvaro Gonçalves de Ataíde (c.1390-1452), conde por carta de 17 de dezembro de 1448.
    Martinho de Ataíde (c.1410-1480), filho do anterior, conde por carta de 14 de fevereiro de 1452
    Luís de Ataíde (1517-1580) bisneto do anterior, conde por carta de 4 de setembro de 1577, 10º Vice-Rei da India
    João Gonçalves de Ataíde (c.1560-1628), 2º primo do anterior
    Luís de Ataíde, (c.1570-1639), casado com Dona Filipa de Vilhena, Marquesa de Atouguia.
    Jerónimo de Ataíde, 6.º Conde de Atouguia (1610 — 16 de Agosto de 1665), filho do anterior, uma das grandes figuras da Restauração da Independência de Portugal.
    Manuel Luís de Ataíde (c.1640-1665), filho mais velho do anterior
    Luís Peregrino de Ataíde, meio-irmão do anterior
    Jerónimo Casimiro de Ataíde (? — 30 de Novembro de 1720), filho do anterior. Casado com Mariana Teresa de Távora, filha do 2.º Marquês de Távora
    Luís Peregrino de Ataíde (16 de Outubro de 1700 — 1758), filho do anterior. 6º Vice-rei do Brasil
    Jerónimo de Ataíde (14 de Julho de 1721 — 13 de Janeiro de 1759), filho do anterior. Casado com Mariana Bernarda de Távora, filha do 4.º Marquês de Távora. Executado

    Links:
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a-forte_de_Peniche
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Atouguia

    Cumprimentos,
    Djorge

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    1. Caro David, estou praticamente de acordo com tudo o que escreveu.
      Faço apenas duas observações.
      A wikipedia pode remeter o assunto a assoreamento, mas então todo o avanço da costa, que vemos aparecer claro na diferença entre estes mapas e o estado actual, teria sido um enorme assoreamento.
      Isso serve certos propósitos de não querer reconhecer que nestes últimos séculos vivemos numa das épocas mais frias da Terra, e que houve um autêntico recuo significativo do mar. Os exemplos são múltiplos, mas basta olhar para o Baleal, para vermos que se foi passando exactamente o mesmo, sem nenhuma ribeira de Atouguia para invocar um assoreamento. Mais acima, vemos que a lagoa de Óbidos poderia ter assoreado... se houvessem ali alguns rios significativos, mas nem isso, simplesmente o mar que chegava a Óbidos recuou, tal como recuou mais acima em Alfeizerão que foi porto, e como recuou em Alcobaça que também tinha uma entrada de mar, pela antiga lagoa da Pederneira. Se o nível do mar fosse o mesmo, não seria nenhum assoreamento que o travaria na entrada.
      Para além disso, quase todos os rios perderam caudal, passando alguns a ribeiros com pouca ou nenhuma água.

      É bem observada a ligação ao forte de Peniche, e justifica o nome Castelo do Conde, mas não creio ter havido nenhuma sanção a nomes... o nome Távora manteve-se, e a vila de Atouguia também não perdeu o nome. A sanção que houve foi aos títulos de condes e marqueses associados aos nomes.

      Obrigado pelo informativo comentário. Cumprimentos.

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    2. Bem,

      Lendo um pouco mais, penso que me adiantei um pouco e devia ter lido um pouco mais antes de postar o comentario.
      Contrariamente ao que escrevi, o Castelo sempre foi "da Vila".
      Isto porque, muito antes de Peniche ser Vila, os Condes da Atouguia foram condes da "Vila" de Atouguia (o que remete uma vez mais para a importância do seu Porto) até ao ponto em que Atouguia perdeu o seu estatuto, provávelmente na mesma altura que Peniche se uniu com a Ilha.

      Isto nada invalida o nome do "Castelo" aparecer no mapa como "Castelo do Conde", pois teria sido o Conde o responsável pelo "melhoramento da fortificação contra as invasões de corsários".

      -------------------------------------//------------------------------

      Quanto aos assoreamentos, sim concordo que o mar recuou, mas a mudança da nossa costa não resulta apenas do recuo do mar criou-se um modelo de aumento da frente Oeste que não resistiu.

      O assoreamento da foz de um rio é natural, ocorre pela depositação de sedimentos na foz (quando o seu curso não é impedido) e mantem-se com a propagação de vegetação. Como consequência, a não existencia duma manutenção constante na foz (ex. os moliceiros em Aveiro), resulta na natureza a encarrega-se de fechar ou prolongar em istmos o que anteriormente era baía.

      As obras marítimas que foram executadas nos últimos séculos ao longo da nossa costa de norte a sul, são um exemplos das consequências do impedimento do transporte litoral de areias e dos resultados da falta de manutenção da foz.

      Ganhar terra ao mar requer muita manutenção, descobrimos isso cedo na nossa hitória, no entanto, rapidamente esquecemo-nos de quão importante é a manutenção para manter o ganho de terra ao mar, sob pena de perder na navegabilidade do rio.

      No último século, temos como exemplos de alguns impedimentos do transporte litoral de areias que normalmente se dá de Norte para Sul:

      Em Espinho vemos bem o que um pequeno esporão perpendicular à costa provoca nos restantes 100km de costa a sul.

      Na foz do Mondego, é ainda mais visível o efeito do Molhe Norte sobre o crescimento da praia Norte e o recuo na praia Sul, isto nos últimos 10 a 20 anos.

      Que o mar entrava outrora sem impedimentos "terra-a dentro", é completamente verdade, mas verdade é também o facto que os rios teriam muito mais caudal, elevando as cotas das frentes ribeirinhas e permitindo a sua navegabilidade ao interior do país, como exemplo, o Rio Mira (navegável até Odemira e norte algarvio) é hoje considerado como um dos rios com maior velocidade de caudal vazante em Portugal o que torna a sua navegação dificil(ainda que com barcos a motor). No entanto, há registos arqueológicos da sua navegação por Romanos o que demonstra que não seria assim tão dificl de navegar noutros tempos.

      Segundo o mapa de Ortelius, copia do mapa de Alvaro Seco de 1560, o rio Sado seria navegável até perto de Évora.
      Certo é que a sua navegabilidade não seria constante, possívelmente com diversos transbordos de mercadorias e mudanças da tipologia de embarcação em varios portos até chegar ao interior, mediante a época do ano ou até a carga em causa.
      Vejo o Portugal de Alvaro Seco assim, numa mescla de portos pequenos de pequenas povoações servindo de intermediários no comercio fluvial com o interior.

      Em épocas sem estradas e capacidade de carga reduzida terrestre, os rios eram as auto-estradas, através dos quais as mercadorias usadas como moeda de troca para as especiarias seriam levadas a Lisboa. Este comercio sustentaria varias povoações e cidades do interior.
      Não vejo um alentejo dependente de " bolota e porco preto", nem como o celeiro da nação, nesta época, idealizo uma Évora com peixe de Rio na sua alimentação e bacalhaus desde o tempo de D. Dinis.

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    3. Em conclusão:

      Há mão humana na morfologia da nossa costa nos últimos séculos, quer por construções matítimas quer por desleixo na manutenção das barras.

      As consequências são visiveis ao compararmos o mapa de Alvaro Seco e com o estado actual das bacias hidrogáficas.

      A falta de manutenção das bacias hidrográficas fez com que o comercio (que sustentava a manutenção das entradas dos rios) passasse a fazer-se mais por terra e menos pelos rios, num cíclo vicioso e negativo.

      Cumprimentos,
      Djorge

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    4. Estamos de acordo, é claro que houve diverso aproveitamento humano que permitiu fixar terrenos, usando a vegetação e floresta, e um caso desses foi o pinhal de Leiria, que tem uma estrutura de solo que é praticamente areia "recente".
      Mas, noutros casos esse avanço humano é facilmente contrariado por ajuste de contas com Poseidon, que ameaça as construções mais ousadas... veja-se o caso das Torres de Ofir, e vários outros.
      As coisas foram sempre assumidas ao ponto limite, de que o mar ia recuando sempre - o que pressupunha uma diminuição de temperatura, para a água ficar acumulada como gelo, e o nível do mar não aumentar.

      Ora, como é óbvio isso não será bem assim... e é melhor as populações fiarem-se na linha de costa, dada pelas antigas vilas, do que nas linhas modernas, que vieram sendo definidas nos últimos séculos.

      No mapa que coloquei em
      https://alvor-silves.blogspot.pt/2011/02/afonso-henriques-e-ourique.html

      esbocei um limite de até onde poderia chegar a costa no tempo de D. Afonso Henriques (que foi um tempo de temperaturas mais altas), e sim, nesse caso, Évora ficaria bastante próxima de conexão marítima, conforme o David disse.
      O mapa poderá estar exagerado nalguns pontos, mas não noutros (creio que nenhuma terra costeira antiga desaparecia).

      Cumprimentos, e obrigado pelo comentário.

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    5. Caro Alvor,

      A grande vantagem do seu blog, é podermos revisitar comentários ou publicações anteriores e pegar nos pormenores descartados para encontrarmos novas "coincidências” e colocar novas questões.

      PARTE 1 – Castelo do Conde & Nova Lisboa

      Assim, reportando ao artigo https://pt.wikipedia.org/wiki/Praça-forte_de_Peniche sobre a praça forte de Peniche no Wikipedia, ficou a faltar, aquando da descrição do Castelo da Vila (mandado construir pelo conde da Atouguia D. Luis de Ataíde), há uma frase no final do artigo que passo a citar:
      "...concluído por volta de 1570, ao tempo do reinado de D. Sebastião (1557-1578)."
      Ora o mapa de Seco seria de 1560 e por isso 10 anos anterior à conclusão do Castelo do Conde, logo, não faria sentido que nesse mapa de Seco viesse a toponímia de Castelo do Conde.
      Sabendo que este mapa de Otellius, que refere a sua fonte como o mapa de Seco, aparece "impresso" no Theatrum Orbis Terrarum de 1570, faz todo o sentido que essa nomenclatura se adeque à data da impressão e não à data do documento original de Seco.
      Assim, é muito provável que o Castelo do Conde e a Nova Lisboa, fossem ambos nomes correntes, pelo menos em 1570.
      Será que com a construção da Fortaleza/Castelo faria sentido criar uma cidade que prosperaria com o comercio do porto da Atouguia, ao ponto da actual Consolação ter sido denominada de Nova Lisboa?

      PARTE 2 – O “azar” de D. Sebastião e D. António

      Seguindo esse mesmo raciocínio, remeto novamente para o artigo da wikipedia que mencionei acima, pois na linha seguinte à data da suposta conclusão do Castelo, vem o seguinte texto:
      “Durante a Dinastia Filipina, foi em Peniche que as tropas inglesas, cedidas por Isabel I de Inglaterra, sob o comando de António I de Portugal, iniciaram a sua marcha sobre Lisboa (julho de 1589), na tentativa infrutífera de restaurar a soberania portuguesa.”
      Este pormenor é mais um dos que passo a citar cronologicamente e que em conjunto são intrigantes:
      1. Antes de 1570, é terminado um Castelo na restinga crescente da Atouguia, e a sul é criada uma vila com o nome Nova Lisboa (atual Consolação),
      2. Tanto o Castelo como a Vila são da autoria do Conde de Atouguia o general conceituado Luis de Ataíde com ligação á casa de Avis,
      3. Em 1577, Luis de Ataíde ter-se-á escusado da partida para Alcácer-Quibir e parte para Goa no ano da jornada final de D. Sebastião,
      4. Em agosto de 1578 Luis de Ataíde chega a Goa e morre em 1580, supostamente pouco tempo depois de receber noticia do desaire de Alcácer-Quibir,
      5. Termina a linha masculina dos Ataíde,
      6. Em 1580, postumamente? Luis de Ataíde recebe o título de Marquês de Santarém pelo Rei Filipe I,
      7. Entre 1580 e 1589, das varias tentativas de D. António em reaver o trono, numa delas em 1589, terá desembarcado em Peniche (justamente no Castelo da Vila (do Conde de Atouguia) com tropas inglesas para o assalto a Lisboa,
      8. Em 1588, Filipe I confirma ao fidalgo João Gonçalves de Ataíde as Berlengas e Baleal,
      9. Tendo tido apoio militar Inglês, D. António em 1589, desembarca em Peniche, no Castelo do Conde,
      10. A revolta não tem sucesso, por abandono do apoio marítimo que “estava a prestar” a armada inglesa comandada por Francis Drake, e Lisboa fica para Castela,
      11. Em 1592 Filipe I, confirma a João Gonçalves de Ataíde o castelo (do conde), pescaria (Atouguia) e a comenda de Arguim, que fora de seu cunhado Diogo de Miranda.

      O que é certo?

      • Tanto o 3º como o 4º Condes de Atouguia (Ataíde) receberam títulos do rei Filipe I,
      • D. Sebastião e D. António foram traídos nos anos anteriores, durante a preparação das suas “demandas” e pelo que se compilou até hoje, até durante as próprias campanhas.

      O que fica?

      Filipe I, conhecido por ter comprado o favor da elite aristocrática Portuguesa, terá com isto conseguido convencer os Ataíde a trair ou talvez fazer papel duplo com D. Sebastião e posteriormente com D. António?

      Cumprimentos,
      Djorge

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    6. Muito boa a compilação de dados.
      Com efeito, tendo em atenção essa sequência, é de associar que tenha havido essa ligação de conveniência dos Ataíde com o que depois viria a ser o reinado de Filipe II de Espanha.
      Torna-se especialmente interessante porque Filipa de Vilhena:
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Filipa_de_Vilhena

      ... era a mãe dos Ataíde que fez participar na Restauração de 1640.
      A história dos filhos da mãe e por ela armados, ficou inscrita por Garrett.
      Como diria Garrett, foge cão que te fazem barão... para onde?, se me fazem visconde!

      Muito interessante.
      Abraço.

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  6. Ora resumindo e baralhando ;)
    Pegando nestes mapas todos e nas teorias da habitabilidade e importância das localidades, ajude-me lá a organizar as ideias…
    Parece-me que ainda há pouco tempo o nível da água do mar era completamente diferente.
    Ora então, no tempo do Ptolomeu estaria a nossa Pax Júlia perto da costa?
    No tempo da batalha de Ourique estaria esta perto da costa?
    Cumprimentos,
    Gualdim
    P.S. – Aquela localidade Os Colos, no Alentejo, intriga-me….

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    1. Sim, caro Gualdim, parece-me natural que o nível do mar se tenha alterado, e não apenas uma ou duas vezes... eu diria que se alterou bastante nos últimos milénios.

      Por exemplo, até ao fim da Idade do Gelo, a linha de costa em Portugal estaria afastada dezenas de quilómetros do que é hoje (tudo isso está ainda submerso).

      Depois com o aumento de temperatura, o mar subiu bastante, e creio que poderá existido um período "quente" em que o mar chegou quase à beira da Serra da Estrela....
      Aliás, essa é a minha suspeita para o nome "Beira".
      O Ribatejo é praticamente plano e ao nível do mar, e teria sido facilmente galgado por um nível costeiro mais alto. É claro que nos tempos em que Almeirim existia, esse nível marítimo seria bastante mais baixo.
      Já os topónimos de "Estremadura", que existem também em Espanha, parecem apontar mais para uma fronteira, "uma estrema durável", no decurso da Reconquista cristã. Nos Séc. X, XI, XII, pode ter havido a ideia de não conseguir a Reconquista até ao fim, e contentarem-se com territórios acima do Tejo; encarando a presença árabe como inevitável. Por isso, as Cruzadas, e a ida de D. Afonso Henriques até ao Alentejo, podem ter mudado essa disposição.

      Atendendo que até ao Séc. XIX tínhamos Alcácer do Sal como porto navegável, para navios grandes, não é difícil suspeitar que a navegabilidade (mar + rio) teria estado bem mais perto de Évora, e talvez de Beja, mas ao ponto de aí ter chegado, tenho dúvidas.
      Tudo isso está no tal post sobre a batalha de Ourique:
      https://alvor-silves.blogspot.pt/2011/02/afonso-henriques-e-ourique.html

      Aconselho também este site, que tem algumas informações muito interessantes:
      http://atlas.cimal.pt/drupal/?q=pt-pt/node/348

      Cumprimentos.

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    2. Caro Alvor,

      Será esta a prova que precisava para complementar a teoria do mar que poderia ter chegado à "Serra"?
      Neste link: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b550061273/f27.item.r=atlas.zoom
      Temos, (como aliás já mencionei noutro post), uma Pax Julia tão navegável e acessível por barco, que não só está junto a um rio como está junto ao mar.
      Falta a imagem daqueles sites que prevêem o aumento do nível do mar para confirmar o contorno da costa.

      Abs,
      Djorge

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    3. Caro Djorge,
      essa indicação de link é bastante pertinente, porque mostra que a interpretação de Mercator do Atlas de Ptolomeu, era a de que haveria uma costa, que ia de Setubal, por Alcacer até Beja.
      Isso é exactamente a conjectura, e a imagem com o aumento do nível do mar já a tinha colocado aqui (foi feita computacionalmente, por mim):

      https://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/afonso-henriques-e-ourique.html

      porque também suspeito que esse aumento do nível marítimo ocorreu de novo por volta do século XI, XII, ao tempo de Afonso Henriques.
      Estas "alterações climáticas" globais são mais frequentes do aquilo que se pretende vender nos dias que correm.

      Um abraço.

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    4. Li recentemente, que houve um período anormalmente quente entre os anos 700 e 1400 onde o nível do mar terá subido.
      Trata-se de um estudo de tese, mas perdi o link, vou pesquisar um pouco o histórico do browser, se encontrar coloco em adenda aqui.
      Este período é coerente com a "zona tórrida" onde não era possível viajar por ser tão quente, segundo relatos.
      A documentação existente, anterior à época dos descobrimentos, começa a fazer sentido e a ser coerente com um nível do mar mais elevado, e uma temperatura nos trópicos pouco tolerável.

      Um abraço,
      Djorge

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    5. Encontrei o link: https://www.sciencedaily.com/releases/2019/07/190724131624.htm

      O que é interessante, é que a equipa alega que os períodos de aquecimento e arrefecimento não foram globais.
      Na minha opinião, este resultado da pesquisa é ainda mais favorável aos mapas ditos "mal desenhados" que temos das épocas quente e fria "Medievais".

      Um abraço,
      Djorge

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    6. Caro Djorge,
      quando se fala em "anormalmente quente", e ocorre num período de 700 anos, não se pode dizer que seja "anormal". É justamente uma mudança de clima habitual na Terra, que se tem verificado ao longo das épocas, e que justifica muita coisa, certamente não se podendo invocar a grande actividade industrial para esse aumento de temperatura medieval.

      Acerca desse assunto, e para além do link que agradeço, já tinha mencionado o assunto nalguns textos anteriores:

      https://alvor-silves.blogspot.com/2017/12/torridamente-tropical.html

      https://alvor-silves.blogspot.com/2017/09/536-um-ano-sem-verao.html

      https://alvor-silves.blogspot.com/2012/12/fretum-trium-fratrum.html

      Alguns dos quais, já nem lembrava da muita informação que contêm...

      Abraço.

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    7. Caro Alvor,

      Penso que o "anormalmente quente" tem exactamente a ver com o facto de não ser global, mas sim "local", como os períodos de extremos não são iguais em datas de inicio e fim, alguns chegam a diferir 200 anos, e afastando a hipótese de erro na datação, então seriam temperaturas "anormais" durante algumas décadas, não detectados nos períodos anteriores ou posteriores.
      Quando vemos os relatos da zona tórrida, faria sentido até, admitir que os relatos seriam muito anteriores às datas de publicação dos documentos.
      O que acho notável neste estudo não é o facto do aquecimento ter ou não ocorrido, mas que as conclusões apontam para que esse aquecimento tenha ocorrido em períodos e locais diferentes, ainda que globalmente.
      Uma zona tórrida, pode por decreto ou por bom senso ser um impedimento à navegação livre, por outro lado, uma zona não tórrida, pode ser decretada como impropria para navegação por se considerar tórrida para fins de encobrimento.
      Vejo o decreto de impedimento de navegação pelo Sul apoiado e divulgado em mapas como o de Piri Reis que mostram que as "cobras" nesse deserto "quente" são muito perigosas.
      O impedimento de navegação pelo sul do índico, já vimos, também noutro postal seu, que seria o suficiente para não apanhar os "Roaring 40s" que poderiam levar uma embarcação directamente ao Sul da Austrália.
      Assim, esta zona "Torrida" do sul poderia ser divulgada com fundamento nas experiências de temperaturas locais onde o normal não era.
      Com o um impedimento deste tipo (mito urbano) não haveria o perigo de encontrar as tais "cobras" no mapa de Piri Reis numa Antárctida que no Atlas dito Miller chega à Austrália.

      Abs,
      Djorge

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    8. Caro Djorge,
      sigo certamente as suas conclusões que são lógicas e pertinentes.
      Convém no entanto reparar o pressuposto de que está a ocorrer um aquecimento global... com aumento da temperatura dos oceanos, etc. e tal.

      Quem frequenta as praias de Portugal, banhadas directamente pelo Oceano Atlântico, gostaria de sentir esse aumento de temperatura, mas como acontece desde sempre, basta molhar os pés, e água continua bem gelada quase até chegar aos ossos.

      Olhamos para os gráficos da temperatura da água e temos este espectáculo:
      https://www.ipma.pt/en/maritima/sst/

      ... esta malta anda a querer gozar connosco com toda a força e sem vergonha nenhuma.
      Se reparar, toda a temperatura costeira atlântica está abaixo dos 17ºC, podendo chegar a 14ºC na zona do Porto. Mas depois, quando medida para o interior, chega aos 23ºC (que é nos sítios onde só grandes barcos têm acesso). Conhece o fenómeno da água arrefecer quando chega à costa? Não conhece, porque não faz sentido nenhum. Na melhor das hipóteses, não querendo chamar-lhes de mentirosos descarados, o que fazem no mar alto é fazer a medição próximo da atmosfera, e portanto obtêm quase a temperatura do ar.
      Não podem fazer isso nas praias, porque o povo vai à água e vê que a água continua gelada, como sempre aconteceu, desde que éramos crianças.

      Por isso, estou de acordo com o que escreve, mas passo ao lado das tangas do artigo do "sciencedaily", que continuam a servir para a publicidade que está na ordem do dia há 20 anos, e que é a publicidade do aquecimento global.

      Abraço.

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    9. Caro Alvor,

      Não sendo de todo especialista na matéria, creio que a água fria junto à costa atlântica está relacionada com a plataforma continental e com correntes que emergem de profundidades maiores quando colidem com a mesma. Por exemplo, de onde vem a água fria no Estreito de Gibraltar!?

      Relativamente à imagem do IPMA esclareço que são geradas por modelos, são previsões e não medições.

      Ainda sobre estas flutuações cíclicas ao longo da história, talvez seja um exagero de raciocínio, ou talvez um século desfasado, mas poderiam as invasões muçulmanas estar relacionadas com o período quente medieval e temperaturas proibitivas na Península Arábica!?

      Cumprimentos
      NM

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    10. Caro NM,
      boas observações que coloca.
      Podemos ver aqui que a "água fria/gelada" na costa portuguesa será singular:

      https://www.quora.com/Is-the-water-in-South-West-Portugal-very-cold-on-the-beaches-Colder-than-the-Mediterranean

      Também não conheço a razão, e sempre ouvi dizer que Portugal não apanhando a Corrente do Golfo, teria a temperatura da água mais baixa que França, e que a região Basca. Porém, isso levaria a pensar de que toda a água seria fria, ao longo do Oceano, e não apenas na faixa costeira.

      Sendo apenas na faixa costeira, parece estranho, e de facto a explicação mais simples para um fenómeno desse tipo seria alguma emersão de água profunda, muito mais fria.
      Simplesmente as correntes de convecção são contrárias - ou seja, a água fria desce, e o que sobe é a água quente.

      Nunca me afastei o suficiente da costa, por exemplo, além das Berlengas, para constatar água mais morna. Quando fui aos Açores não fui a banhos, e de facto julgava que a temperatura a meio do Atlântico era igual à da nossa costa, não tinha ideia que fosse semelhante à temperatura da Madeira/Porto Santo:

      http://www.ipma.pt/pt/maritima/sst/index.jsp?area=atlantico

      Portanto, há que reconhecer que o erro foi meu, e peço desculpa.

      Ainda assim não fica explicada a água fria da nossa costa.
      Só na zona da Nazaré há uma reentrância - o canhão da Nazaré, que poderia explicar a chegada à costa de águas profundas. Mas nem sequer a zona da Nazaré é mais fria que o restante, é só igualmente fria...
      O resto da área que está sob baixa temperatura, tem profundidades acima de 200 metros, o que não se pode considerar muito profundo, até quase 50 Km da costa. Fica muito estranho o mínimo ocorrer justamente aí.

      Quanto às invasões muçulmanas, a ideia seria coincidente, mas há de facto uma diferença de 100 anos ou mais... No tempo de Justiniano (550 d.C.) vivia-se um tempo de temperaturas muito baixas, e isso prolongou-se mais uns séculos.
      Creio que o período de aquecimento medieval só terá começado entre 800-900 d.C.
      O que é curioso, porque é nessa altura que os Vikings também decidem começar a fazer incursões para sul.
      Parece pois que as coisas aconteceram em contra-ciclo atmosférico, os árabes expandiram-se com o frio, e os vikings expandiram-se com o calor... mas o ponto comum parece ser que ambos se expandiram com temperaturas mais amenas na sua região.

      Obrigado pela correcção e comentário.

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    11. Caro Alvor,
      parece que o fenómeno se designa de "upwelling" e é de facto algo singular, pois só se produz em 1% da área total dos oceanos.

      https://cienciapatodos.webnode.pt/news/porque-esta-a-agua-do-mar-sempre-t%C3%A3o-fria-no-ver%C3%A3o-/

      Quanto mais calor houver na península, mais acentuada será a nortada que conduzirá na sua passagem ao efeito do upwelling.


      Obrigado pelo blog e partilhas
      Um prazer poder contribuir
      Cumprimentos
      NM

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    12. Obrigado de novo pela informação.
      No entanto, não há sempre Nortada... e a água na nossa costa não varia entre morna e fria, consoante o vento. No máximo varia entre fria e muito fria, ou quase gelada.
      Estou há mais de 50 anos à espera de um dia em que a temperatura da água na costa ocidental fique tão quente quanto a água fria no Algarve.

      Curiosamente, talvez por erro, esse fenómeno de upwelling (afloramento costeiro), não está indicado para a nossa costa - veja o mapa identificador aqui:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Upwelling#/media/File:Upwelling_image1.jpg

      Percebo que o pessoal da metereologia tenha arranjado essa explicação. Faz algum sentido, e pode dar jeito. Mas está longe de explicar o assunto.
      A nortada é um vento ocasional que nem sequer me parece minimamente forte para justificar um deslocamento de uma massa de água. Sendo ocasional ainda pior...
      Não vou adiantar mais. Precisaria de saber mais sobre o assunto - até aqui era um não-problema, pois nem sequer sabia que existia.

      Obrigado,
      da Maia.

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  7. Muito interessante esse site

    Obrigado

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  8. Caro Alvor,

    Sobre o tema da navegabilidade dos rios, nada melhor que procurarmos os tesouros da Torre do Tombo.
    O seguinte link leva para um manuscrito datado entre 1607 e 1617 mas serve para ter uma ideia. (em breve na biblioteca)

    Citação:
    "Em 1617, no mês de Maio, Alessandro Massai, engenheiro de Sua Majestade, foi incumbido de fazer diligências acerca das obras e fortalezas do reino do Algarve e da calheta de Sines, de que resultaram descrições com notícias sobre a história e a geografia dos lugares, sobre o estado das fortificações (as obras realizadas e as que deviam ser feitas), sobre as guarnições e a artilharia existentes, os tipos de navios que vinham aos portos, a navegabilidade dos rios, as armações, as fontes ou as pessoas que forneceram informações, entre outros assuntos, bem como plantas ou traças com suas legendas ou declarações."

    Link: http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=3908671
    Título: Descrição e plantas da costa, dos castelos e fortalezas, desde o reino do Algarve até Cascais, da ilha Terceira, da praça de Mazagão, da ilha de Santa Helena, da fortaleza da Ponta do Palmar na entrada do rio de Goa, da cidade de Argel e de Larache

    Cota: Casa de Cadaval, n.º 29

    Cumprimentos,
    Djorge

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    Respostas
    1. Caro David,
      o link em questão, foi abordado aqui:
      https://alvor-silves.blogspot.pt/2016/02/dos-comentarios-18-tauria.html

      ... tinha-me sido sugerido antes por José Lopes, e é de facto um conjunto notável de mapas de costas e fortalezas.

      Já pensei várias vezes em fazer um apontamento focado em "engenharia militar", porque se mantivémos um império tão extenso, muito se deveu a essa capacidade técnica, que tem sido negligenciada.

      Por exemplo, desde 2012 que as fortificações de Elvas ganharam algum espaço mediático, e são de facto notáveis.

      Há duas que merecem uma nota:

      - Forte de Santa Luzia (1640-48)
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_Santa_Luzia

      - Forte de Nª Srª Graça (1763-92)
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_Nossa_Senhora_da_Graça

      O mais recente Forte de Nª Srª Graça é suposto ter sido feito no estilo Vauban, que refere ao francês:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Sébastien_Le_Prestre_de_Vauban

      Acontece que é basicamente uma cópia do Forte de Santa Luzia, começado a construir quando Vauban tinha 8 anos de idade. Portanto, o Forte de Santa Luzia tem o problema de também ter o estilo Vauban... antes de Vauban. Nesse caso há quem vá buscar outras origens externas - holandesas ou italianas!

      Porém, olhando para as fortificações das praças marroquinas, dá para perceber que houve uma grande necessidade, mesmo no Séc. XV, de fazer novas fortificações com maior capacidade de resistência... tal como antes os cruzados o tinham feito nas suas incursões na Terra Santa, por exemplo - o Crac dos Cavaleiros.

      Só que há esta mania ridícula de refazer a história ao gosto francês, inglês, ou estrangeiro de modo geral, que acaba por encontrar protagonistas ridículos, tal como o caso de La Fontaine, que copiou ipsis verbis as fábulas de Esopo, escritas 2000 anos antes.

      Obrigado, e bom ano!

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    2. Caro Alvor,

      Não me referia à questão das praças ou das fortificações, mas aos pormenores da navegação dos rios.

      Rio Mira:

      Na página 98 temos uma vista "aérea" muitíssimo detalhada, diria até que estaria mais detalhada que o normal para a época, da entrada do rio Mira.
      É visível nesse plano, a estreita entrada da barra em maré baixa de águas vivas, dificultada pelos bancos de areia a sul.
      Também é possível ver que as embarcações que navegam o Rio são Galés, o que faz sentido tendo em conta a velocidade do caudal do Rio (isto se na altura fosse semelhante ao de hoje).
      Não se vêem caravelas, naos ou caracas como a que vemos na página 78 à entrada da barra de Portimão. (neste plano há ainda um pormenor com galés ao largo em combate)
      Ainda no rio Mira, vemos uma embarcação estacionada com cabo esticado a terra, que poderá representar o ponto de ponto de ancoradouro para a vila.
      À esquerda, vemos uma galé que acaba de entrar no rio, tem um pormenor muito peculiar pois demonstra demonstra o problema de navegação ao vento na Barra de Mil Fontes.
      Mil Fontes tem uma ravina à entrada da barra no lado Norte, que não permite a navegação à vela em qualquer altura.
      O pormenor da galé a ser remada rio a dentro com as velas recolhidas dá muita informação.
      Por outro lado, o mesmo já não sucede mais a montante onde vemos a utilização de um mastro com vela latina noutra galé (à direita).

      Dito isto, parece-me muito provável o acesso a Odemira por Galés à data da execução deste documento, o que me leva a crer que também fosse possível num passado mais distante (como já mencionou noutros artigos).

      Mapa Geral:

      O mapa geral na página 50 mostra (na minha opinião) apenas os rios navegáveis, por galés.

      Sendo este manuscrito um levantamento para a defesa, faria sentido identificar os rio com perigo de invasão e não os que não podem ser navegáveis por embarcações de ataque rápido (ie. Galés).

      A exemplo, temos o Rio Sizandro que serve Torres Vedras.
      Este rio aparece com uma largura considerável (presumo navegável) apenas até à zona (estimada) do Castro do Zambujal o que faria sentido, no contexto histórico-geográfico.
      Esta representação do rio, assim como outros que não têm a sua total extensão representada, o que me leva a concluir que apenas está evidenciada a área navegável. Seguindo a lógica, os restantes também deverão estar representados apenas nas suas extensões navegáveis por galés.

      Setúbal/Tróia ->Ourique:

      Olhemos mais a norte para a barra da entrada de Setúbal, com uma restinga de Tróia com um comprimento inferior ao actual e uma bacia enorme que poderia sustentar vários navios de carga ou de guerra.

      Seguindo o raciocínio do mapa geral, vemos que Ourique, é acessível por Setúbal, através de vários tributários e possivelmente por galés.

      Cumprimentos,
      Djorge

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    3. Sim, estou de acordo com praticamente tudo o que escreveu.

      O mapa em causa também tem algumas coisas bastante estranhas - por exemplo, toda a parte do Rio Mondego está bastante diferente do que conhecemos, inclusivé Tentúgal aparece do lado sul do rio...

      De um modo geral, creio que devemos tomar como base que a costa foi delimitada pela linha que define as povoações mais antigas, e que estão hoje no interior, mas antes não estariam. Por exemplo, toda aquela zona que vai da Figueira até Aveiro, foi uma zona marítima conquistada ao mar, tal como a zona do pinhal de Leiria, que vai da Nazaré até à Figueira.

      No caso de Torres Vedras, creio que toda essa zona servia "Dois Portos" (há uma terra que se chama assim) - uns que seguiam os rios, como o Sizandro para o Atlântico, e outros que seguiam os rios para a bacia do Tejo. Isso era uma vantagem tática de fuga - perante uma invasão de um lado, poderiam sair pelo outro...

      Cumprimentos, e obrigado.

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