Alvor-Silves

sábado, 25 de novembro de 2017

do Sótão (1) «António Galvão»

Particularidade de quem tem espaço, é que não gere bem o lixo. Por razão disso, sempre me custou mandar coisas fora, era mais fácil mandá-las para um dos quartos do sótão... com aquela ideia de que "mais tarde poderiam ser úteis". É assim que se junta uma quantidade imensa de lixo, ou mais simpaticamente... de "velharias".

Vou tirar deste sótão um rascunho de 30/07/2010... portanto com mais de sete anos. 
Versava sobre António Galvão, e não deixei de fazer vários textos sobre ele (o primeiro dos quais, uns 4 meses mais tarde). Sempre foi uma presença habitual aqui, porque é um dos personagens históricos mais interessantes, e mais esquecidos, da época dos descobrimentos. 
No início de 2016, fiz mesmo uma transcrição da primeira parte da sua obra sobre os "descobrimentos", e que foi obra de referência para os ingleses.


____________________ 30/07/2010 ___________________

É complicado falar desse herói português, que foi António Galvão, capitão de Maluco (Molucas)... e que defendeu a fortaleza com 130 homens contra um ataque simultâneo e coordenado de todos os reis locais. Francisco de Sousa Tavares, no prólogo que faz do seu livro, dedicado ao Duque de Aveiro, após a morte de António Galvão, em 1557, exclama assim:
"Oh! Grande fraqueza da nossa natureza humana, que vindo ele a Portugal, com grande confiança, pelo que tinha feito havia de ser mais favorecido, e honrado, que se trouxera cem mil cruzados, se achou muito enganado, porque nele não achou outro favor, ou honra, senão o dos pobres miseráveis, quero dizer o do Hospital: onde o tiveram 17 anos, até que nele morreu (...)"
Fica claro que Sousa Tavares relata já o ambiente cortesão que beneficiava dos prodígios de indivíduos como Galvão, que incautos na sua honestidade, eram vítimas fáceis dos ardis. O isolamento e internamento hospitalar, de que eram alvo estes elementos incómodos, talvez tenha levado à designação "maluco", com um outro significado para este Capitão de Maluco.
Sousa Tavares continua mais à frente, de forma surpreendente:
"Não querendo tomar por remédio o que tomava aquele Grão Turco Zizimo, filho do Grão Mahamede, que tomou Constantinopla, e morreu em Roma, que se embebedava por se não alembrar do grande Estado que perdera. Nem o que muitos dos seus amigos lhe davam, dizendo, que se pusesse fora do Reino, que doutra maneira não teria vida? Ao qual respondia, que nesta parte mais queria ser comparado ao grande Timócles Ateniense, que ao excelente Romano Curiolano. O que é um grande exemplo de lealdade Portugueza, posto que não sei como o diga: porque também o é, que dos leais estão cheios os Hospitais."
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O texto seria suposto continuar com uma referência aos três personagens invocados:
(i) - o turco Zizimo, (ii) - o ateniense Temístocles, (iii) e o romano Coroliano.
... e os links para a Wikipedia permitem compreender a história de cada uma dessas figuras.

Interessava que, segundo Sousa Tavares, Galvão evitou entrar num processo de degradação alcoólica, como acontecera com Zízimo, um sucessor do sultão Mehmet II, que conquistara Constantinopla.
Zizimo perdeu a guerra de sucessão, e foi forçado ao exílio em Roma, sendo acolhido como refugiado pelos cavaleiros hospitalários.
Galvão também não seria homem de se exilar, e trair o país ao serviço de um potência inimiga, como teria feito o romano Coroliano, que se exilou junto aos volscos, e depois comandou essas forças contra Roma. Ao contrário, conclui que, tal como Temístocles, Galvão preferiria morrer, a trair a pátria portugesa, revelando segredos ou participando nalguma empresa militar. Ao contrário de Fernão de Magalhães, e outros, Galvão não se foi oferecer a outros reinos, para obter o reconhecimento que lhe era devido. Aceitou estoicamente o seu fado...

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