Quando Roma procurava ainda expandir-se na península itálica, a parte norte dessa península esteve sob longo poder dos gauleses, de tempos bem anteriores à fundação de Roma, e a região do norte de Itália era mesmo conhecida como Gália Cisalpina, incluindo o vale do Rio Pó, até aos montes Apeninos. Mesmo quando Roma assegurou a parte sul grega, da Apulia e Calabria, ao tempo das primeiras Guerras Púnicas com Cartago, Roma ainda não tinha assegurado a parte norte de Itália, pela qual Aníbal avançou contra Roma, com a complacência dos gauleses aí estacionados.
Um dos episódios marcantes de Roma foi a sua
invasão pelos gauleses de Breno, c. 390 a.C., após a vitória na Batalha de Ália, quando Breno passou o Rubicão e saqueou praticamente toda a cidade, à excepção do monte Capitólio, onde os romanos aguentaram o cerco, e procuraram negociar uma paz em troca de um pesado resgate de ouro. Ao protesto de que a balança não se alterava por mais ouro que os romanos juntassem, Breno terá respondido "
Vae victis" - algo como "
ai dos vencidos"... pois o seu peso só era medido na balança dos vencedores.
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O quinhão de Breno nos despojos romanos (Paul Jamin, 1893) |
Assim, é bastante simbólica a conquista da Gália por Júlio César, exorcizando o fantasma de Breno, ao contrapor a famosa frase "
Veni, vidi, vici".
Os gauleses, ou celtas (segundo a designação grega), estenderam-se por um território europeu enorme, bastante superior à França, e se fizeram também a sua incursão por território ibérico por um lado, por outro lado ameaçaram toda a Grécia,
derrotando os gregos nas Termópilas, e avançando até à região turca da Anatólia onde se fixaram, ficando aí conhecidos como Gálatas (aliás, ainda hoje existe o clube turco Galatasaray).
Sendo as Termópilas o local mítico da resistência grega "
dos trezentos" contra os persas, ficou bem menos famosa a derrota grega contra os gauleses de Breno - um líder com o mesmo nome do que antes havia saqueado Roma (ou eventualmente a palavra "breno" designaria o líder).
Foram finalmente travados por
Átalo, Rei de Pérgamo, do que restou simbolicamente a notável estátua do "
gaulês moribundo" - que depois os romanos reproduziram, talvez aí já comemorando as vitórias de César na Gália.
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"O gaulês moribundo", estátua do Séc. III a.C. - cópia romana. |
No peso distorcido da histórica balança gaulesa de Breno, se os romanos preservaram algumas partes da história dos seus inimigos, apagaram uma boa parte da memória dos vencidos...
vae victis!
Assim, pelo lado gaulês, desse seu grande império europeu que foi da Bretanha até à Turquia, praticamente restou um mesmo nome -
Breno - para dois líderes diferentes. Depois disso, ficou essencialmente o nome do líder derrotado por César -
Vercingetorix.
Aliás, uma boa parte do que restou sobre os gauleses/celtas foi a descrição feita pelo seu conquistador - Júlio César, que em particular apontava a grande superioridade naval dos Venetos sobre os Romanos, na navegação atlântica (Venetos, que estavam na Gália, mas que antes tinham também estado na região de Veneza).
No entanto, uma grande atracção que se veio a verificar na cultura francesa no Séc. XIX, procurou recuperar a memória cultural pela tradição antiga, nomeadamente foi recuperado um fascínio sobre os seus sacerdotes - os druidas - capazes de notáveis poções mágicas, conforme ilustrado nos álbuns de banda desenhada "Asterix".
Recuperamos aqui um informativo texto de Pinho Leal sobre esses druidas, que seguirá certamente alguma leitura francesa da época, onde ele se deverá ter baseado.
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DRUIDAS E SUA RELIGIÃO,
César (nos seus Comentários) diz que a religião druidica teve origem em Inglaterra; porém Tácito (nos seus Anais) diz que os gauleses aportando a esta ilha aí tinham levado as suas crenças.
Parece que Tácito tem razão, mas os druidas ingleses (ou do Norte) conservaram com mais pureza a sua religião e tradições.
A religião dos gauleses foi sempre mais esclarecida que a dos outros povos de então. Suas ideias sobre a divindade eram muito mais justas e mais espirituais do que as dos gregos e as dos romanos.
Tácito, Máximo de Tyro e outros historiadores nos dizem que os druidas estavam convencidos de que se deve honrar o Ser Supremo, pelo respeito e o silêncio tanto como pelos sacrifícios; mas esta simplicidade primitiva se foi perdendo pouco a pouco e já não existia ao tempo das conquistas dos romanos.
Os druidas, esquecendo as suas primeiras tradições, se deram à adivinhação e à magia e toleravam os horrorosos sacrifícios de vítimas humanas, em honra de Esus e Teutatés. Tácito Lactancio e Lucano aos testificam esta degradação.
As conquistas de Júlio César introduziram novos deuses nas Gaulas, fundando-se então os primeiros templos, enquanto que os druidas da Inglaterra continuaram o exercício da sua religião no centro das florestas, que para eles eram sagradas.
Os gauleses tinham no interior dos bosques espaços consagrados ao culto e às ceremónias religiosas. Era ali que eles enterravam os tesouros tomados aos inimigos, e que imolavam os prisioneiros. Fechavam-nos em grandes gaiolas feitas de vimes, cercados de matérias combustíveis e lhes lançavam fogo.
Diferentes classes de druidas — Sua maneira de viver — Seus vestidos e funções.
A palavra druida vem incontestavelmente do substantivo céltico deru, que quer dizer - carvalho.
Estes ministros se dividiam em diferentes classes.
Os druidas formavam a primeira, e eram os supremos chefes, tão respeitados que os demais deviam arredar-se quando eles apareciam e não podiam chegar à sua presença sem terem obtido licença para isso.
Os ministros inferiores eram:
- os bardos,
- os saronides,
- e os eubages ou vacerres.
Os bardos, cujo nome céltico quer dizer cantor, celebravam em verso as acções dos heróis, cantando ao som das suas harpas.
Ligava-se tanto valor aos seus versos que eles bastavam para imortalizar. Ainda que menos poderosos que os druidas, gozavam tamanha consideração que, apresentando-se no momento em que dois exércitos estavam a ponto de combater, ou já tinham mesmo principiado a batalha, depunham as armas para ouvirem as suas propostas.
Não se limitavam a cantar as acções dos heróis, tinham também o direito de censurar as acções dos particulares que se apartavam do cumprimento dos seus deveres. Os saronides instruíam a mocidade, inspirando-lhe sentimentos virtuosos.
Os eubages tinham o cuidado dos sacrifícios e se aplicavam à contemplação da natureza.
A origem dos druidas se perde na mais remota antiguidade. Aristóteles, Phocion e muitos outros escritores que os precederam, os descrevem como os homens mais esclarecidos em matérias de religião. Tinha-se tão grande crença no seu saber, que Cícero diz que eles foram os inventores da mitologia.
Os druidas, ocultos em suas florestas, viviam na maior austeridade. Era ali que as nações os iam consultar. Eles formavam diferentes colégios nas Gaulas; o mais célebre de todos era o do país de Chartrain; o chefe deste colégio era o soberano pontífice das Gaulas.
Seus vestidos diferiam alguma coisa segundo as províncias em que viviam ou os graus que exerciam.
A cerimónia da profissão se fazia recebendo o abraço ("accolade") dos velhos druidas. O candidato, depois disto, deixava o vestido ordinário para vestir o dos druidas, que era uma túnica, chegando apenas ao joelho. As mulheres não podiam ultimamente ser admitidas ao sacerdócio.
Era muito grande a autoridade dos druidas. Presidiam aos estados, decidiam da paz ou da guerra; castigavam os culpados, depunham os magistrados e mesmo os reis, se eles não observavam as leis do país. Sua gerarchia era superior à dos nobres. Nomeavam anualmente os magistrados que deviam governar as cidades, podendo elevar qualquer deles à dignidade de vergobret, que igualava à dos reis; mas este vergobret nada podia fazer sem consentimento dos druidas, que, decidiam também, sem apelo nem agravo, as contendas e demandas dos particulares, cujo vencido se devia submeter às suas decisões, sob pena de ser ferido de anátema, e desde então todo o sacrifício lhe era interdito, toda a nação o considerava ímpio e ninguém ousava comunicar com ele.
Eram dispensados de ir à guerra, e de pagar tributos. Já se vê que o numero dos aspirantes a druidas era imenso, jamais porque admitia todos os estados e profissões; mas tinha os inconvenientes de um diuturno noviciado e da indispensável necessidade de decorar mui prodigioso número de versos, que continham as máximas sobre a religião e a politica.
As mulheres gaulesas podiam antigamente ser admitidas na gerarchia dos druidas (ser druidesses) e gozavam então todas as prerrogativas da ordem; porém exerciam as suas funções separadas dos homens. Suas adivinhações as tinham tornado mais célebres do que aos próprios druidas.
Quando Aníbal passou às Gaulas, ainda elas exerciam o direito supremo, e tanto que se estipulou em um tratado que ele fez com os gauleses, que «se algum cartaginês prejudicar por qualquer modo a um gaulês, a causa será levada ao tribunal das mulheres gaulesas».
Com o andar do tempo, os druidas despojaram as mulheres desta autoridade, mas ignora-se a época desta usurpação.
Doutrina dos druidas — Suas superstições
Ceremonia do gui [agarico, cogumelo parasita] do carvalho.
Toda a doutrina druidica tendia a tornar os homens sábios, justos, bravos e religiosos.
Os pontos fundamentais desta doutrina se reduziam a três:
- adorar os deuses,
- não prejudicar o próximo,
- e ser valoroso.
Pompónio Mela diz que a ciência dos druidas consistia em conhecer a forma e grandeza do Ser Supremo, o curso dos astros e das revoluções do globo.
Criam firmemente na imortalidade da alma e consideravam a morte como um seguro meio de irem gozar uma existência mais venturosa.
Os que morriam em paz, no centro das suas famílias eram enterrados sem pompa e sem elogios e sem as canções compostas em honra dos mortos; porém os que perdiam a vida em serviço da pátria tinham tudo isto; porque acreditavam que eles sobreviviam a si mesmos e transmitiam seus nomes às gerações futuras, acreditando-se que eles iam gozar a felicidade eterna no seio da divindade. Só eles tinham túmulos e epitáfios.
Os que não tinham ilustrado a sua vida com alguma acção guerreira, brilhante ou útil ao bem geral, eram condenados a um completo e eterno esquecimento.
O génio belicoso dos gauleses e dos outros celtas dava razão a estas crenças, pois que eles nada prezavam tanto como a profissão das armas.
Os druidas ensinavam que um dia a agua e o fogo destruiriam todas as coisas.
Criam na metempsychose
(Todos sabem que a metempsychose é a transmigração das almas de uns para outros corpos),
e não a adoptaram da doutrina de Pitágoras, pois quando este sábio grego viajou nas Gaulas, já esta máxima era ali adoptada havia muito tempo.
De tempo imemorial tinham o costume de sepultar os mortos ou de guardar suas cinzas em urnas funerárias. Nos seus túmulos se guardavam suas armas, seus moveis preciosos e as cédulas do dinheiro que haviam emprestado. Os vivos lançavam nas sepulturas cartas dirigidas aos seus amigos falecidos, na certeza de que elas iam ao seu destino.
Nunca escreviam as suas máximas ou ciências. Era em versos que eles conservavam os seus conhecimentos e era necessário aprende-los de cor.
Estes versos eram em tão grande número, que levavam de 15 a 20 anos a decorar.
Segundo Júlio César, a doutrina dos druidas era misteriosa e só deles conhecida. Também cultivavam a medicina, no que eram considerados peritíssimos.
Estes sábios tão respeitados e respeitáveis durante muitos séculos, principiaram depois a degenerar, dedicando-se à astrologia, à magia e à arte de adivinhar, na esperança de aumentarem o seu crédito e o seu poder.
Tinham bastantes conhecimentos sobre botânica, porém misturavam-lhe muitas práticas misteriosas, sobretudo na colheita das plantas medicinais.
Plínio, o naturalista, diz o meio de que se serviam para colher o selage (planta medicinal, espécie de aipo silvestre). Devia ser arrancado sem instrumento cortante e com a mão direita inteiramente coberta com uma parte da roupa. Passavam depois a planta para a mão esquerda, com muita rapidez, como se fosse um roubo que se pretendesse esconder. Deviam os apanhadores estar vestidos de branco, ter os pés nus e oferecer um sacrifício com pão e vinho.
A verbena colhia-se antes de nascer o sol, no primeiro dia da Canícula, depois de se ter oferecido à Terra um sacrifício de expiação, no qual se empregavam frutos e mel.;
Atribuíam a esta planta as maiores virtudes, e bastava esfregar-se com ela para se obter o que se desejava. Curava todas as doenças e tinha o poder de reconciliar os corações que a inimizade havia separado. Quem tocasse esta planta milagrosa sentia instantaneamente a paz e a alegria nascer nos seus corações.
Criam que a morte dos homens notáveis suscitava tempestades. O trovão, os terramotos, os meteoros, os eclipses, etc. anunciavam a morte de um personagem importante.
Os druidas deixaram acreditar ao povo que eles podiam mudar de forma, ou viajar pelos ares, segundo a sua vontade; mas a mais bárbara das suas superstições era imolarem vítimas humanas, uso que só terminou com a extinção do druidismo. Os numerosos éditos dos imperadores romanos contra este crime, mostra quanto ele estava em uso nas Gaulas e quanto custou a exterminar.
A mais solene das suas cerimónias era a colheita do Gui du Chêne (agarico do carvalho). Esta planta parasita nasce sobre algumas árvores; mas os druidas criam que Deus tinha principalmente escolhido o carvalho para lhe confiar esta preciosa planta.
Percorriam as florestas com o maior cuidado e se felicitavam entre si quando, depois de longos e peníveis trabalhos e buscas, descobriam uma certa quantidade de agarico.
Não se podia colher esta planta senão no mês de Dezembro, no 6º dia da Lua.
Este mês e o nº6 eram sagrados para os druidas. Era sempre no 6º dia da Lua que eles faziam seus principais actos religiosos.
Chegados ao pé do carvalho que o agarico envolvia, o chefe dos druidas subia à árvore e cortava a planta com uma foicinha de ouro e os druidas a recebiam com um grande respeito no sagum (espécie de saia branca.) Depois imolavam-se dois touros brancos e um festim se seguia, findo o qual se invocava a divindade para que ligasse à planta recém-colhida uma felicidade experimentada por todos os circunstantes, a quem se distribuía uma pequena parte do agarico. Era no 1.° dia do ano que se sagrava o gui, que se distribuía ao povo.
Principais máximas dos druidas
(Estas máximas só as relatamos pela tradição que delas chegou aos nossos dias, visto que os druidas nunca as escreviam)
- 1. É indispensável ser instruído nos bosques sagrados, pelos sacerdotes.
- 2. O agarico deve ser colhido com um grande respeito, sempre que seja possível, no 6º dia do ano, e só com uma foicinha de ouro se pôde cortar.
- 3. O céu dá origem a tudo que é criado.
- 4. Não se deve confiar o segredo das ciências á escritura, mas sim à memoria.
- 5. É indispensável ter grande cuidado com a educação dos meninos.
- 6. Os desobedientes não podem assistir aos sacrifícios.
- 7. As almas são imortais.
- 8. As almas passam a outros corpos depois da morte dos que elas animaram.
- 9. Se o mundo vier a destruir-se, será pela agua ou pelo fogo.
- 10. Em ocasiões extraordinárias é preciso imolar um homem : poder-se-á predizer o futuro, regulando-se pelo modo de sair do corpo do sacrificado, pelo correr do seu sangue, ou pela ferida que o ferro lhe abrir.
- 11. Os prisioneiros de guerra devem ser imolados sobre os altares, ou serem fechados em cestos de vime para se queimarem vivos em honra dos deuses.
- 12. Não se deve permitir o comércio com os estrangeiros.
- 13. O último que chegar à assembleia dos Estados deve ser punido com a morte.
- 14. Os meninos devem ser criados até à idade de 14 anos fora da presença de seus pais e mães.
- 15. O dinheiro emprestado nesta vida, será restituído aos credores, no outro mundo.
- 16. Há um outro mundo, e os amigos que se matam para acompanhar os seus amigos mortos, viverão com eles eternamente no outro mundo.
- 17. Todas as cartas entregues ao cadáver, ou lançadas nas suas fogueiras, serão fielmente entregues a quem pertencera, no outro mundo.
- 18. O desobediente seja expulso, que ele não receba nenhuma justiça, nem seja admitido em nenhum emprego.
- 19. Todos os pais ou chefes de família são reis em suas casas : têm o poder de vida e morte sobre suas mulheres, filhos e escravos.
Das druidessas
Já disse que toda a moral dos druidas se reduzia a três pontos principais: honrar os deuses, não prejudicar o próximo e ser corajoso. Como conciliar com estas máximas sublimes, a que dá aos pais o direito de vida e morte sobre a sua família?
O abade Banier porém, diz que esta ilimitada autoridade paterna não era fundada em lei alguma positiva, mas somente no amor e respeito,
Júlio César e Tácito descrevem com prazer o respeito que os gauleses e os germanos tinham a suas mulheres: as dos druidas partilhavam a autoridade com seus maridos: eram consultadas nos negócios políticos e religiosos. Havia mesmo nas Gaulas templos erectos depois da conquista dos romanos, nos quais as druidessas exclusivamente ordenavam e regulavam tudo o que dizia respeito à religião, e dos quais a entrada era interdita aos homens,
Mr. Mallet, na sua excelente Introdução à Historia da Dinamarca, diz que os celtas e gauleses se mostravam superiores aos orientais, que passam da adoração ao desprezo e dos sentimentos de um amor idolatra aos de um ciúme desumano ou aos de uma indiferença, mais insultante ainda que o ciúme. Os celtas consideravam suas mulheres como iguais e companheiras, cuja estima e ternura não podiam ser gloriosamente adquiridas senão por esforços de amor e coragem.
As poesias de Ossian provam que os habitantes das Ilhas Britânicas sempre levaram estes respeitos e estas atenções além de outra qualquer nação do mundo. Fieis à beleza que seu coração tinha escolhido, nunca tiveram simultaneamente várias mulheres, e muitas vezes suas esposas seguiam, vestidas de homem, seus maridos à guerra.
Existiam três classes de druidessas:
- as primeiras, viviam no celibato ;
- as segundas, ainda que casadas, residiam nos templos que elas serviam, e não viam seus maridos senão um só dia em cada ano;
- as terceiras não deixavam seus esposos e tinham o cuidado do interior de suas casas.
Apesar destas diferenças, as druidessas não formavam verdadeiramente senão duas classes. A primeira era composta de sacerdotisas, e as mulheres de segunda classe eram apenas ministras das sacerdotisas, de quem cumpriam as ordens.
A habitação mais ordinária das druidessas era nas ilhas que bordam as costas das Gaulas e da Grã-Bretanha. Os druidas também habitavam algumas destas ilhas; mas nas que eram residência dos druidas de um sexo, não havia de outro.
Eram os druidas, de ambos os sexos, que habitavam estas ilhas, que mais se davam à magia, e os povos das Gaulas e da Inglaterra criam geralmente que eles podiam excitar ou aplacar os furacões e tempestades.
Os druidas por fim abandonaram às druidessas a arte de adivinhar, segundo a influência dos astros, na convicção de que elas teriam, mais do que eles, o dom de fazer persuadir os povos da verdade das suas predições; por isso as encarregavam de todas as perguntas sobre o futuro. Elas davam respostas tão habilmente combinadas, que a sua reputação sobre oráculos se espalhou por todo o mundo, vindo-as consultar de todas as partes e as suas decisões inspiravam infinitamente mais confiança que os célebres oráculos da Grécia e da Itália.
Os próprios imperadores romanos as mandavam muitas vezes consultar, enquanto dominaram as Gaulas. A história, todavia tem conservado muitas das respostas das sybillas, e não faz menção especial de nenhuma das druidessas.
Suetónio, Aurélio-Victor e Séneca sustentam que a religião druidica foi abolida sob o império de Cláudio; mas, como os druidas subsistiram muito mais tempo, parece que estes autores não quiseram falar senão nos sacrifícios humanos, que este imperador proibiu expressa e severamente. O que é certo, é existirem ainda no país chartrense até ao meiado do século quinto. Parece certo que a ordem druidica só deixou de existir quando o cristianismo triunfou inteiramente das superstições dos gauleses e este triunfo só se conseguiu mais tarde em algumas províncias, e a religião druidica custou muitíssimo a desarreigar nas Gaulas e na Grã-Bretanha.
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09/04/2016