Alvor-Silves

quinta-feira, 17 de março de 2016

Âncoras suiças (4)

Na sequência do texto antigo Basiliscos de Basileia e Medos de Medusa, e de outros dois sobre âncoras suiças (1) e (2), onde se relatava a descoberta numa mina suiça de restos de um barco antigo afundado, acrescentamos alguns elementos.
Antes de prosseguir, notamos que a Suiça tem Marinha, porque apesar de não ser evidente o contacto com o mar, os suiços são precavidos.

A descoberta dos restos do navio foi tornada pública em 1460, e a mina foi descrita como sendo próxima de Basileia. 
Precisamente nesse ano será fundada a Universidade de Basileia, e curiosamente, num postal de Ano Novo de 1460 (também de Basileia), é apresentada esta figura:
(imagem)
Até aqui nada de especial, ainda que seja estranho o destaque dado à âncora, e a forma da proa do navio ser em forma de "pato, ganso ou cisne"... iremos optar por pensar que é um cisne galináceo, e já explicaremos porquê. É claro, maior coincidência é ser no exacto ano em que saem as notícias do achado do navio, na mina de Basileia... adiante!

Não há muitas imagens de navios fenícios, tirando as várias representações em moedas, normalmente vemos duas mais habituais, uma será de um vaso de guerra (num alto-relevo que está partido), e outra é uma representação num sarcófago, identificada como "navio fenício":
(imagem)
Ora, foi esta que nos despertou a atenção, tendo considerado que poderia ser um "cisne" a encabeçar a proa do navio... e só depois encontrámos o postal de ano novo de 1460 em Basileia. Para além da cabeça do pato, ou cisne, as imagens são muito semelhantes, até na forma como caem as cordas do mastro principal que segura a vela.

A partir de certa altura, a forma mais comum que se encontra a encabeçar a proa, nas moedas fenícias, não é nenhum cisne, mas sim um hipocampo (ou seja, um grande cavalo marinho... nome que é usado também para a sede da memória no cérebro). No entanto, restou-nos ainda uma lenda germânica, de Lohengrin, filho de Parseval, um dos cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur. 
A estranha embarcação onde segue Lohengrin é justamente encabeçada por um cisne... 
Lohengrin é conduzido num barco com um cisne.
Como já vimos anteriormente, o símbolo de Basileia, não é nenhum cisne, mas sim um galináceo com grande pescoço, temível pela sua capacidade de petrificar pessoas, como Medusa. Esse galináceo, chamado Basilisco, está representado numa moeda comemorativa dos 500 anos da Universidade de Basileia (a mais antiga na Suiça):
O basilisco de Basileia, numa moeda, e no seu verso uma possível
alusão a uma passagem bíblica - talvez do dilúvio, ou da criação
do mundo (devido aos símbolos binários usados) - (imagem)
Ora, sobre essa capacidade de petrificar pessoas, trazemos um texto que ilustra bem o problema:
"Organic Remains of a Former World"  - James Parkinson
(June 1805, Monthly Review)
Conforme se poderá ler, dá-se conta do relato de vários autores sobre a descoberta de 1460, mas explicitando mais. 
Foi encontrado o navio inteiro, com as suas âncoras, mastros partidos, e 40 marinheiros, bem como a sua mercadoria. O barco estava a cerca de 100 metros de profundidade (50 fathom - 300 pés), e aqui é referida a proximidade a Berna e não a Basileia (mas a distância entre ambas é só 100 Km).
O relato prossegue com outros casos de "petrificação", falando em cidades inteiras - poderia ser referente a Pompeia e Herculano (primeiras escavações em 1738-48, pelo espanhol Alcubierre), mas as outras não encontrei traço. O registo de cavaleiros hispânicos petrificados, por exemplo, parece-me desconhecido hoje. 

Porém, o registo que vi originalmente refere um comentário de Sabinus às "Metamorfoses" do escritor romano Ovídio, que aqui deixo sublinhada a referência a "âncoras encontradas em montanhas"... ou seja, sugeria Sabinus que já seria do conhecimento dos romanos este tipo de achados, que surpreenderam alguns em 1460, mas que não seriam surpresa para o Bispo de Basileia que ostentava o báculo com o formato condicente ao achado.

(link)

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