Alvor-Silves

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Uma Cepta em África

Os jornais lembraram-se hoje que se comemoram 600 anos do desembarque em Ceuta, e alguns fazem notar que também se comemora este ano, 500 anos sobre a morte de Afonso de Albuquerque.
Em 18 de Junho também lembravam dos 200 anos da Batalha de Waterloo.
Faz parte do noticiário não descurar em demasia estes dados históricos.

Há uma pequena diferença, no entanto!
Os ingleses não tiveram problemas em assumir várias comemorações oficiais, e se os franceses não gostaram do resultado de Waterloo, que terminou com as aspirações napoleónicas, pois têm que ir lidando com isso.

Quanto a Portugal, dificilmente poderia ser mais ruidoso o silêncio manifestado nesta passagem dos 600 anos. Ou, citando o blog do Comandante Costa Correia: 
Hoje, 600 anos decorridos sobre a conquista de Ceuta, apenas conheço uma comemoração oficial no nosso país (sessão evocativa com o apoio da Câmara Municipal de  Oeiras), e uma manifestação de natureza gastronómica, em Ceuta - ambas sem estar prevista a presença do venerando Chefe do Estado...
Creio não serem necessários mais comentários.
(... blog onde cheguei através desta crónica.)

De facto, dispensam-se comentários, mas parece-me que o barulho de tanto silêncio, só não se ouve mais, porque os jornais do regime cantaram a canção ensinada, e fizeram gala de ser unânimes em disfarçar o silêncio oficial. 
É mais um Páf!... e este "Portugal à Frente" vai tão à frente, que enterrou a Retaguarda histórica.

Não sei se já aqui falei disto... mas o episódio foi denominado "Uma Lança em África", quando na prática foi uma "Seta" em África, já que Ceuta era antes denominada "Cepta". A "crónica" de Zurara intitula-se
"Tomada da mui nobre cidade de Cepta per El Rei D. João 
o primeiro do nome rei de Portugal e do Algarve 
aos 21 dias do mês d' Agosto de 1415."

Explica-nos assim João de Barros nas suas "Antiguidades" (1549):
Ceita - cidade de África, chamava-se Septa, quasi coisa cercada porque o mar "a tinge" de toda a parte, mas Volterrano diz que tomou aquele nome de dois nomes iguais, o Itinerário lhe chama "Septe Irmãos" porque tem "derredor" sete montes. Justiniano lhe chama Septa, os Mouros como quer que quebram a sua fala nos dentes lhe chamaram Ceuta, e nós agora Ceita. E na tomada desta Cepta diz o cronista que acham em escrito por Mouros mui sábios que Ceta em Arábico quer dizer começo de formosura, e que foi fundada por um neto de Noé.

- Seja Lança, porque foi o lançar da expansão portuguesa.
- Seja Septa ou Ceta, porque foi uma seta, uma lança.
- Seja Sete Irmãos, não apenas pelos sete montes, ou colinas, mas depois mais pelo número de famosos irmãos (filhos de D. João I) - Duarte, Pedro, Henrique, João, Isabel, Fernando, e o bastardo Afonso. Dos quais os primeiros foram em Ceuta armados cavaleiros.
- Seja Ceita, pelas seitas que depois se formaram apoiadas em cada um dos irmãos.

Seja por quaisquer destas razões, os nomes ajustam-se bem.

Hoje em dia, se Ceuta não merece comemoração oficial, é questão a perguntar à Ceita antiga.

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