Alvor-Silves

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Estado da Arte (5)

Um dos blogs que disponibiliza ao público informação sobre investigação arqueológica é Portuguese Enclosures (com relevo para as escavações em Perdigões), e que me foi indicado há uns tempos pela Amélia Saavedra. Daí trago um mapa interessante sobre a localização desses acercamentos em Portugal, como sejam fossos circulares ou cercas muradas: 
 A.C. Valera (2015), "Map of walled and ditched enclosures"
(muradas - quadrados vermelhos, fossos - círculos laranja)
É interessante, porque o mapa escolhido apresenta a cinzento a orografia, e facilmente se nota que, à excepção de um caso (perto de Aveiro), todos os outros pontos foram encontrados em altitude. Ou seja, estão sobre a mancha cinzenta, que julgo corresponder a 100 metros de altitude (ou mais). 
Especialmente significativo é o caso a sul do Tejo, já que dessas dezenas de acercamentos, nenhum foi encontrado na parte abaixo dos 100 metros, e vários situam-se na linha fronteira dessa altitude.

Por outro lado, encontrei no ano passado um mapa que tinha uma localização extensiva das cavernas com registos pré-históricos, a que adiciono também um mapa de altitude:


Cavernas com inscrições rupestres (em cima), e mapa com o relevo do terreno (em baixo).

Observação: O blog que tinha a imagem de cima desapareceu entretanto... de forma que o link não funciona, mas deixo-o conforme o encontrei. A imagem de baixo tem link operacional, mas não é o mapa orográfico que aqui usava habitualmente. Esse era shaded-relief.com, que subitamente também deixou de funcionar... Aliás é curioso que o Google Maps também incorporou uma faceta de relevo do terreno, mas foi simplesmente desactivada na nova versão. É bom que nos habituemos a que as "novas versões" podem ganhar tendência sistemática em serem piores que as anteriores, com o pretexto de "facilitarem a compreensão".  

Ou seja, o que notei então é que o mapa das cavernas com inscrições apontava também para uma localização em altitude, especialmente por falhar a zona mais baixa da Aquitânia francesa. Não consigo saber se o registo aponta sempre para valores acima de 100 metros, mas é natural que sim.

Por outro lado, também sabemos que já mencionámos Cosquer, uma caverna cuja entrada estava 37 metros abaixo do nível do mar... Parece portanto informação contraditória. Por um lado, temos um registo frequente de cavernas acima dos 100 metros, e por outro lado há excepções, abaixo até do nível actual do mar. Como conjugar a informação?

Bom, o caso das cavernas ainda que fosse uma dica, era isolado. Trago este assunto porque há muito que reparei que os registos arqueológicos são normalmente encontrados em altitude, afastados de zonas baixas. São encontrados próximo da costa quando essa costa é alta. Este novo caso de investigação dos acercamentos parece indiciar o mesmo fenómeno - a sua localização é em altitude.
Se ainda podemos argumentar que os vestígios humanos em cavernas estão mais ligados a altitude pela presença de formações montanhosas calcárias, já é mais estranho que isso ocorra também com acercamentos, que poderiam ser construídos em qualquer lugar.

Assim, após as Idades do Gelo, o degelo fazia naturalmente aumentar o nível do mar, e estas variações não são nada insignificantes... é admitido que a linha de costa na época glaciar se estendia bastante e até deixei nos comentários um possível mapa, com um contorno obtido por análise do Google Maps, baixando o nível do mar:
Possível contorno da costa com o nível do mar reduzido, em época Glaciar
(a linha branca corresponderia a uma eventual localização dos gelos permanentes).
Se repararmos no mapa, haveria nessa época glacial várias ilhas ao largo da costa portuguesa, e que hoje estão submersas, sendo denominadas "bancos", e poderá ser grande a sua riqueza arqueológica.
Ora o problema é que quando havia uma ligação à "terra firme" (designação antiga, interessante, para o continente), a fuga das populações com a subida da água, poderia ser feita... mas também poderia ocorrer que o refúgio não fosse suficientemente alto. Nesse caso, ainda que as populações se tivessem refugiado nuns montes com algumas centenas de metros, a invasão das águas começaria por tornar esse monte numa ilha, e com a subida progressiva, essa ilha seria submersa. 

Claro que alguns poderiam escapar, se usassem barcos, mas o problema colocar-se-ia quando o número de embarcações fosse ausente ou insuficiente, e a subida das águas fosse suficientemente rápida, a ponto de não permitir viagens suficientes para resgatar toda a população cercada. Ou seja, os que escapassem, saberiam que teriam afogado muita mágoa, em má água. Especialmente se isso tivesse ainda envolvido uma escolha entre "homens" e "animais", não exactamente como o pintado na Arca de Noé.

Há uma tradição sobre uma grande seca na Península Ibérica, em tempos "recentes". Bernardo Brito fala do assunto no Cap. 24 da sua Monarchia Lusitana -  De certa esterilidade que os autores contam, que aconteceu em Espanha neste tempo, e da verdadeira e menos duvidosa opinião que há nesta matéria. Essa seca teria levado a um enorme despovoamento da península, e isso poderá estar relacionado com um aumento de temperatura que teria não só causado uma grande seca, mas também ocasionado uma razoável subida das águas. Não é de excluir que os acercamentos (datados os mais antigos por volta de 3000-4000 a.C.) possam reflectir um tempo em que a temperatura aumentou, e com isso houve uma subida de águas muito significativa, uma escassez de recursos alimentares, e um aumento da conflitualidade entre as populações.

Como curiosidade, mencionamos ainda que uma subida da ordem de 100 metros seria suficiente para isolar a Península Ibérica, como ilha face ao restante continente europeu, ou seja, a figura da "jangada de pedra", se foi apenas figuração de Saramago, poderá ter tido um correspondente efectivo em tempos remotos.


Noutra Atlantis
O continente americano foi entendido durante vários séculos como a verdadeira Atlântida, para onde a navegação era condicionada ou proibida, até que se impôs a necessidade de manter o mito de uma Atlântida a meio do Oceano Atlântico.
Ora, no continente americano têm-se encontrado inúmeros registos de pinturas rupestres, especialmente no sudoeste dos EUA, e como há muitos fotógrafos que disponibilizam imagens, encontrei esta, com alguma semelhança com a da Lapa dos Gaviões, ou se quisermos, com o registo da Kanaga e Wolu, dos Dogon, que mostrámos no Estado da Arte (4):
 
Pintura rupestre americana (foto W. Harrell) e Lapa dos Gaviões (Portugal)

Mas não são apenas estas que são semelhantes. Há várias outras. Ficam aqui um link de fotos tiradas no White River Narrows - Archeological District ou aqui (sem menção do local). E também uma outra que mostra que há "talibãs" em várias partes do mundo, apostados em destruir registos passados:
Vandalismo presente sobre o rupestre antigo (foto de W. Harrell)
... e o problema será maior quando algumas das letras modernas disfarçarem traços ou letras antigas.  
Apenas como curiosidade, W. Harrell foi até descobrir o símbolo da Triple Marfel ... ou muito semelhante;
ou ainda o símbolo nuclear num possível escudo guerreiro!!

Acresce que o símbolo Kanaga dos Dogon aparece também na Colômbia, em conjunto com o símbolo do Indalo, da Almeria espanhola (de que falámos antes):
Indalo e Kanaga numa inscrição na Colômbia
(http://indalocodex.com/codigo-indalo/)
Estes são apenas alguns exemplos, há vários outros casos. No exemplo do Indalo já foi também sugerida uma semelhança com esta representação egípcia, da época de Ramsés:
Possível interpretação do Indalo em inscrições egípcias de Ramsés.
(http://leyendasyfabulas.com/el-indalo-simbolo-de-almeria/)
O que interessa notar é que mesmo que estejamos dispostos a aceitar um certo número de coincidências, e mostrámos algumas, haverá uma sistemática repetição de símbolos em paragens tão distintas como as europeias e americanas, e em que só os muito crentes pensarão apenas em coincidência, sem se interrogarem minimamente. Tendo vistas muito mais imagens do que as apresentadas aqui, o caso do Indalo e Kanaga parecem-me fazer parte dessa "lista de coincidências". Tratar isto como coincidência, está ao nível de considerar que é uma coincidência o sol nascer e se pôr todos os dias... e só um certo tipo de "cientistas" consegue tal redução absoluta.

1 comentário:

  1. Este tópico tinha-o mencionado neste comentário:
    http://alvor-silves.blogspot.pt/2015/07/estado-da-arte.html#c1169888115307257039
    E tenho pontaria, porque da única outra vez que deixei um comentário num blog da arqueologia também entrou de férias no dia seguinte.
    Dessa vez não foi só por mês e meio, mas por um ano. Bom, mas ao menos nesse caso o comentário foi publicado, já que com o spam activo, nunca se sabe, e neste caso não foi.

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