Prossigo a sequência do Estado da Arte com a observação de José Manuel acerca de um detalhe no vídeo de El Castillo, referente a losangos
Losangos na Caverna de El Castillo |
... que, conforme notou, os losangos são também as formas encontradas na Caverna de Lena Hara, em Timor Leste. Basta para esse efeito lembrar a imagem que divulgou em 2011 no blog Portugalliae
Losangos na Caverna de Lena Hara, em Timor Leste |
Conforme o José Manuel fez questão de notar, o nome colonial de Tutuala, onde foram encontradas estas inscrições datadas entre 6 e 20 mil anos, era um sonante "Nova Sagres". Talvez o nome se devesse apenas à localização extrema, na ponta de Timor, oposta à outra Sagres... ou talvez não!
Melanésia... o outro lado da arte
Procurando um pouco mais acerca de pinturas rupestres em Timor, e para além dos petróglifos com caras humanas (com óculos?!) assinalados no Portugalliae, num blog
há uma interessante colecção de imagens de um local adjacente a Lena Hara, chamado Ile Kere-Kere.
Para além de serem vistos barcos (recentes?) e mãos (antigas?) - que sou forçado a deixar "sem comentários", por não ter informação sobre possíveis datações...
... há uma estranha representação, que faria o gosto dos "teóricos dos deuses-astronautas":
Mas sobre esta estranha representação, cito directamente o autor do blog, que descreve o assunto com uma piada monumental:
I disgraced myself with this one by asking why a picture of a TV antenna has been included among the rock art. Maleve (one of the TImorese people with us) groaned and stared at me incredulously. “It’s a head-dress!” he said emphatically.Lá está... uma ilustrativa questão de contexto!
Enquanto o "homem branco" conjectura, pensa em ovnis, em antenas de TV, (ou fazendo auto-crítica ao meu texto anterior... pensa em mapas), o habitante inserido na cultura local vê ali um ornamento decorativo, uma espécie de chapéu.
Chapéus...
No entanto, focarei uma outra imagem que encontrei, que aparece apenas associada a Timor-Leste
"Pintura rupestre em Timor-Leste" imagem do blog "asfolhasardem.wordpress.com" |
Porque, não se tratando de Bugs Bunny, estas imagens evidenciam duplas protuberâncias na cabeça - talvez a imitar chifres, e mais uma vez damos o salto - agora de Timor para Portugal e Espanha.
Uma das raras inscrições rupestres conhecidas em território português é a Lapa dos Gaviões, onde são representadas três figuras... eu diria semelhantes, na ornamentação da cabeça:
Lapa dos Gaviões - Portugal (daqui) |
E como umas coisas vão dar a outras, há uma colecção impressionante de imagens rupestres, feita por um punhado de fotógrafos amadores, num repositório do flickr:https://www.flickr.com/groups/pinturasrupestres/pool/... e que por si daria para uma série de "estados de arte" interminável. Um outro igualmente interessante é este:https://www.flickr.com/groups/bestofruins/pool/
Mas, continuando, se a legenda fala numa existente interpretação como "bovídeo, rinoceronte e javali", nunca me tinha ocorrido pensar em ver as figuras como projecção horizontal... tudo bem, mas mesmo assim dificilmente conseguiria ali vislumbrar tais bichos.
Por isso, socorro-me da mais abundante expressão existente em Espanha, que parece não ter grandes dúvidas sobre a orientação das suas pinturas. Ou seja, mais concretamente falo do "Brujo", na Cueva de Los Letreros, que teve direito a uma escultura significativa para promoção turística:
Cueva de Los Letreros - "O Bruxo" - (ver aqui) |
Esta imagem icónica está degradada (ver original), mas é possível ver claras representações noutras cenas, onde aparece com os característicos chifres, ou com o "chapéu correspondente":
Cueva de Los Letreros (de comarca de los velez) |
Portanto, parece-me mais natural ver representações antropomórficas que evidenciam talvez bruxos, conforme sugerido pelos espanhóis, atendendo ainda por cima à proximidade geográfica... com Timor a questão é mais complicada.
E, por outro lado, pode complicar-se mais ainda se atendermos a que há semelhanças nestas cenas com as inscrições na Serra da Capivara, no Brasil, sendo que o bruxo parecia acompanhar-se de uma bolsa, e isso já foi abordado como uma questão de moda das Bolsas da Capivara, bolsas que podem ter antecedido as mais modernas, em que as flutuações do mercado nas Bolsas nos vai ao Bolso.
Em contraponto, o bruxo apresenta ainda uma ou duas foices, algo mais comunista e menos capitalista, mas que devemos entender no contexto saturniano mais lato - ou seja, como a foice adamantina de Cronos, castradora de Urano.
Universalidade
Mais icónico ainda do que o bruxo, na zona da Cueva de Los Letreros, em Almeria (Andaluzia), o símbolo da região é o Indalo (entendido como Mensageiro dos Deuses, ou seja um Hermes... mas não das bolsas, ou ainda que sim, Hermes-Mercúrio era associado ao comércio).
Este Indalo é uma representação que se diria logotipo moderno, próprio de uma qualquer empresa com ambições globais:
Indalo - Cueva de Los Letreros, Almeria (Espanha) |
Em Almeria vendem-se porta-chaves com este ícone, mas há alguma imprecisão na cabeça, porque se repararmos bem, o disco não se une ao corpo, sugerindo ao mesmo tempo uma forma de olho, e não apenas um homem num certo abraço universal (ou talvez, simplesmente, a saltar à corda...).
Porém há um o ponto de universalidade, que se observa nas pinturas, que vai desde Timor, de toda a Melanésia, até à Europa, e não só... prolonga-se ao continente americano, não apenas no Brasil, mas a sítios tão remotos quanto a Cueva de Las Manos, na Patagónia Argentina, conforme já aqui tinhamos salientado... ou ainda mais, a ilhas chilenas do Estreito de Magalhães, como a Ilha de Madre Dios:
Ilha da Madre Dios - região do Estreito de Magalhães. (imagens)
Primeiro, a enorme caverna (vejam-se os homens na seta vermelha) onde foram encontradas.
Segundo, as pinturas nessa caverna, com o mesmo tipo de ilustrações e tinta.
A caverna, onde foram encontradas as inscrições rupestres da Ilha de Madre Dios, é gigantesca, a ponto de terem mesmo sido encontrados ossos de baleia numa plataforma a 30 metros de altura, acima do mar. Nessa caverna vemos as inscrições com o aspecto característico de quase todas as pinturas rupestres.
A questão é que quando temos estes símbolos enigmáticos, ou mãos pintadas na rocha, não estamos a falar de culturas sem qualquer ligação entre si. Há pontos comuns de uma parte à outra do globo, e são tão distantes no tempo quanto a competição para as mais antigas se coloca nos 40 mil anos, quer nas ilhas Celebes na Indonésia, quer na Espanha.
Por muito que os actuais bruxos tentem menosprezar ou desligar umas e outras manifestações, considerá-las casualidades naturais, não há muito de natural na presença global de uma cultura antiga de bruxos ou xamãs, dos quais os actuais são herdeiros.
Seria natural a diferentes culturas aspergirem as suas mãos para as deixarem impressas na rocha?
Então e por que não deixar também os braços, os pés, ou outra parte do corpo?
A técnica e a representação era invariante, mas não havia nenhum traço unificador, passado de geração em geração? Percebemos que seja conveniente evitar esta "teoria global", porque ela sugere uma herança global, e este tipo de "conspiração" é facilmente metido na caixa de "teorias da conspiração"... mas o traço comum está aí, e só não o vê quem não quer que seja visto.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOra boas... Como já deve ter reparado, têm saído diversas notícias interessantes sobre achados arqueológicos.. Deve ser da "silly season"... ;-)
ResponderEliminarA primeira escrita da Península Ibérica
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4598434
Olá Amélia.
EliminarObrigado pela informação.
De facto, parece um repisar em coisas já conhecidas, e a hipótese de haver uma língua comum na parte ocidental do continente europeu, ligando a parte celta à ibérica, também não parece que seja nada de novo... até porque é admitido que a península ibérica esteve sob influência celta - ou terá sido ao contrário?
Não tinha reparado na notícia, e depois também fui ver uma reportagem quase igual no Público:
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/escreveramnos-da-serra-ha-2500-anos-mas-ainda-nao-sabemos-o-que-nos-queriam-dizer-1704706?page=-1
Os jornais funcionam como colunas de som de uma aparelhagem. Define a "play-list" com a lista das canções que quer ouvir, e depois aparece a mesma notícia em vários jornais, em estéreo, porque apesar da música ser a mesma, há sons numa coluna jornalística diferentes do da outra.
Como vários jornais fazem o mesmo ao mesmo tempo, dá a ideia de que é uma informação objectiva, a que várias fontes dão o mesmo relevo.
Não é assim.
Por exemplo, chega a ser verdadeiramente caricato e ridículo, o esforço que as universidades fazem nesta altura para apanhar alunos.
Chega o Verão, e aparece a universidade XPTO a dizer que tem uma investigação de ponta, a outra diz que um pacóvio qualquer recebeu um prémio de que ninguém ouviu falar, etc. Subitamente no Verão, as universidades portuguesas enchem-se de génios, e os jornais dão relevo a isso.
Porquê?
Porque há agências de comunicação, com melgas de serviço, a pedirem insistentemente aos jornalistas seus conhecidos para fazerem as notícias.
Em contrapartida, os jornais enchem-se de publicidade paga por essas universidades, o que lhes rende uma maquia considerável.
São raríssimos (ou inexistentes) os casos em que a bota bate com a perdigota (desconheço a origem desta expressão), em termos de verdadeiro relevo internacional... mas como isto é um mundo do faz-de-conta, onde uns gostam de "enganar" e outros não se importam de ser "enganados", estamos bem uns para os outros.
Sobre a matéria de facto nessas estelas... no meio de uma conversa já aqui escrevi nuns comentários sobre outras inscrições na rocha:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2011/02/afonso-henriques-e-ourique.html#c6602655175015714126
Se reparar bem, nessa imagem do DN está lá escrito ANNO (ao contrário, quase no centro), agora se isso significa "ANO" não faço ideia... há outros símbolos que não têm correspondente no alfabeto - poderiam ser números?
Portanto, isto só para estar de acordo consigo... é uma espécie de notícia de "silly season", e a NASA também andou a publicar várias. Acho que devem planear as "missões" para serem noticiadas nesta altura... eh eh.
Abraço.
Ergativa versus Acusativa
EliminarDuas facções distintas que se digladiam há muito, Ergativa versus Acusativa
Olá,
já aqui se discutiu sobre essas estelas, onde disse :
Discordo plenamente da existência de uma invasão da índia feita à Europa, seja de qual quer tipo que for, pois as origens da língua portuguesa já foram bem identificadas pelo estudo das inscrições das lápides,
“Do Konii ao Indo-Europeu, por Carlos Alberto Castelo. O Ocidente, Berço do Alfabeto e das Línguas Europeias. Todas as provas linguísticas são baseadas em inscrições existentes em lápides proto-históricas do sudoeste peninsular Ibérico. Sendo comum os eruditos (nacionais e estrangeiros), atribuírem designações diversas às estelas epigrafadas do sudoeste peninsular, como: Inscrições Turdetanas ou Tartéssicas, entre outras, assim se omite a identidade do povo que escreveu tais inscrições, os Konii. Povo que, nas estelas encontradas em Espanha, era identificado por Konti (ou Koniti, diminutivo de Konii). O estudo da sequência evolutiva da epigrafia destas estelas dará a conhecer que a escrita (e a língua) peninsular possui raiz nativa, e não provêm de outras línguas. E esta nova acepção da paternidade da escrita conduz-nos directamente à desmontagem desse mito que atribui ao indo-europeu a procedência sobre a nossa língua. A suspeita, agora, é a de que a língua ancestral da Ibéria poderá ter estado na formação da(s) primeira(s) línguas indo-europeias”
[artigo de Carlos Alberto Castelo].
DIGO EU MAIS AGORA:
A "simplicidade" das antigas formas de escritura não são sinónimo de pouco evoluída sociedade que as produziu, mesmo com toda a tecnologia actual a tendência é para se simplificar as regras e símbolos de expressão escrita exemplo ver émoticônes, o que não me espantou ao ler o artigo sobre os estudos do cérebro feitos a 600 idiomas
(1), somos (os da acusativa) biologicamente levados a escolher formas simples de regras, ou quiçá como dizem outros cientistas o ser humano está em regressão a nível cerebral e civilizacional.
A esta burrice generalizada talvez sobrevivam uns pontos vermelhos do mapa deste estudo, os originários do povo Basco, os Ergativos (2)
Cpts.
José Manuel CH-GE
(1) Le cerveau à la recherche d'une grammaire simple
La grammaire des langues se modifie avec le temps de manière à ce qu'elle soit le plus simple possible pour le cerveau, selon une équipe internationale de chercheurs avec participation suisse.
http://www.20min.ch/ro/news/science/story/Le-cerveau-a-la-recherche-d-une-grammaire-simple-12931903
The Neurophysiology of Language Processing Shapes the Evolution of Grammar: Evidence from Case Marking
http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0132819
(2) Fig 1. Ergative case marking.
Some languages identify agents of transitive (multi-argument) verbs (e.g. Ram in Ram sold a book) by a special ‘ergative’ marker. The map shows the proportion of such markers per language (N = 617): 100% (red) means that the ergative occurs in all grammatical subsystems (e.g. all tenses, all persons), 50% (white) in half of all subsystems, 0% (blue) in none. Shades of blue represent ergative presence between 0% and 50%. Salient proportions of ergative markers are limited to the Pacific (New Guinea/Australia/Oceania) and South America regions.
[Duas facções distintas que se digladiam há muito, Ergativa versus Acusativa]
Ergativas :
Línguas esquimó-aleútes (Canadá, Alasca, Groenlândia)
Línguas maias (México)
Línguas tsimshiânicas (Amé. norte)
Línguas chibchanas (Amé. norte)
Línguas chinnokanas (Amé. norte)
Línguas panoanas (Brasil, Peru, Bolívia)
Língua murriana (de Mitanni)
Língua curda
Língua suméria
Línguas iranianas ocidentais
Línguas caucasianas do nordeste
Línguas caucasianas do noroeste
Dyirbal
Línguas indígenas da Austrália
Basco
Tibetano
Hindi
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_ergativa-absolutiva
Caro José Manuel,
Eliminarnão conheço o suficiente da relevância da terminologia linguística, mas o que conheço sempre me pareceu confuso e com muita falta de pés e cabeça, procurando relacionar coisas muito distintas... e sim, é estranho estar eu a dizer isto, mas não vejo fio condutor, e abunda muita coisa avulsa.
O melhor testemunho que nos vem de tempos imemoriais é a nossa língua, especialmente a portuguesa, que como tenho vindo a salientar ao longo destes tempos, tem demasiadas coincidências para serem apenas coincidências. Algumas serão, outras não me parece.
O especial valor da nossa língua, que tenho reparado, é o seu valor silábico... ou seja, como se conseguissemos abrir as palavras e ver o que fez cada uma.
Dou um exemplo - usamos frequentemente "também", mas isso é uma evidente concatenação de "tão bem". Ao fim de algum tempo, aprende-se a palavra e esquecemos que ela resultou de junção de duas sílabas.
Essa dualidade entre ergativa e acusativa parece interessante, e procurarei ver se encontro mais sobre o tema.
Muito obrigado.