Alvor-Silves

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Colcha

Perto de Segóvia (Espanha), há uma povoação chamada Coca, que exibe o Castelo de Coca (Séc. XV)

há indicações actuais que dizem que esta Coca seria a romana Cauca, terra calaica onde teria nascido Teodósio I, Flavius Theodosius Augustus, o último imperador a reinar sobre todo o Império Romano, após derrotar Flavius Magnus Maximus

A este propósito disse Annete Meakin, falando sobre a Galiza:
Furthermore, we learn from the chronicle of Idatius, written in the fifth century, that the Roman Emperor Theodosius was born in the town of Cauca, in the province of Galicia. No one can say with certainty where the town of Cauca was situated, but it is thought to have been somewhere between Braga and the river Minho. Now the word cauca in the language of the ancient Scythians meant "white", and the name of the mountains of Georgia which divide Europe from Asia is "Caucasus", said to have been given to them on account of their peaks being eternally "white" with snow. So here we have at least one Asiatic Iberian name given to a town of Galicia, and we should in all probability find others were we to begin to search for them.
Portanto, ou a indicação de Idatius sobre o nascimento de Teodósio na Gallaecia era errónea, a ponto de cair em zona castelhana, ou temos uma passagem de Cauca a Coca.
Aqui ficamos à coca... e tal coisa surpreendeu menos, se atendermos ao nome do rio Cauca... um rio colombiano, onde não serão estranhas a plantações de coca. E como os espanhóis não foram muito imaginativos na sua colónia de Nova Granada, podemos ver que este rio colombiano atravessa os municípios de Cartago, Filadélfia e Palestina em Caldas, Santa Fé e Caucasia em Antioquia.

Bom, mas se passarmos à versão galaica, descrita por Meakin, encontramos a Gens Flavia.
Salientámos os nomes "Flavius" de Teodósio e Maximus, porque foi esta família de gente Flavia que dominou a sucessão imperial romana após Constantino (Flavius Valerius Aurelius Constantinus Augustus). Mas cedo houve Flávios (sabinos Titus Flavius) na sucessão imperial, começando com Vespasiano. Esta primeira dinastia Flávia terminou com a ascenção de Trajano (ou Traiano), de família hispânica, e o primeiro imperador não-romano.
Ora esta Gens Flavia tinha uma cidade bem nomeada na Gallaecia - Aquae Flaviae - Chaves.
Ponte de Trajano em Chaves

 Chaves fechadas e Chaves abertas, com o escudo sobre a ponte.

Assim, parece algo natural que o galaico Teodósio fosse minhoto ou transmontano, de perto de Chaves.
Afinal, se flama é chama, também flaviae daria chávie... de Chave e talvez Xavier em opção a Flávio.

Teodósio une o império romano após uma série de guerras civis, não apenas contra outro flávio, Maximus, conhecido em Gales como Macsen Wledig (que provavelmente devia ser lido Maxen Flevis). 
Esta ligação destes Flávios à Britannia fica mais clara quando Constantino é declarado imperador em York (Eburacum) em 306 após a morte do pai, Flávio Constâncio, imperador ocidental na tetrarquia imperial.

Após a morte de Teodósio, o império é de novo dividido, e ambos os imperadores são menores.
Pelo lado ocidental, Honório vê o império desfazer-se com a entrada das tribos godas, mas surpreende a aliança com os Suevos, que são autorizados a instalar-se, justamente na província Galaica em 409.
Assim, o exército imperial romano vai em máxima força socorrer Hemerico, rei suevo, contra o ataque conjunto de Alanos e Vandalos, na Batalha dos Montes Nervasos

Nos seus comentários sobre a Gália, Júlio César tinha definido os Suevos como a tribo germânica mais temível, invocando a descrição de outras tribos na fronteira do Reno que os temiam mais que aos romanos.
É nesse sentido que César decide investir numa notável jogada psicológica - decide construir uma ponte sobre o Reno, num espaço de poucos dias... porque considerou que seria pouco impressionante o exército romano atravessar por barcaças.
Esta incursão apanhou os Suevos que abandonaram povoações, que seriam depois incendiadas pelas tropas romanas. Feita a incursão sem oposição, César retirou-se e destruiu a ponte sobre o Reno. Mais tarde, voltou a construir e destruir outra, com o mesmo resultado. Um ponto claro que marcou a diferença romana foi a sua engenharia militar, capaz de produzir em poucas semanas, ou até dias, navios ou pontes, surpreendendo os opositores. César tentou conquistar a parte galaica por invasão naval de Brigantium (La Coruña) com navios rapidamente construídos em Gades (Cadiz)... mas mais uma vez houve uma retirada dos galegos, neste caso para as montanhas.

O rio Reno marcaria a fronteira germânica, que será violada com a entrada das tribos Visigodas de Alarico. É neste contexto que também Suevos, Vandalos e Alanos atravessaram o Reno, em direcção à Hispania.
A chegada dos, antes temidos, Suevos de Hemerico parecia ser nesta fase bem aceite pelos romanos, por comparação com Vândalos ou Alanos. Dá-se ainda o caso de uma migração britânica para o reino Suevo perante a chegada dos Anglos e Saxões, onde se forma uma Britonia na Galiza (que seria, de certa forma, um regressar às origens).

De que forma adicional podemos ver esta ligação hispânica e britânica?
Bom, o nome romano para a Escócia era Caledonia e para a Irlanda Hibernia.
O H foi acrescentado, tal como o chegou a ser acrescentado para Hiberia, em vez do grego Iberia.
Portanto, no que diz respeito à parte irlandesa, vemos que apenas um "n" fez a diferença entre Ibernia e Iberia. No que diz respeito à parte escocesa, se Calaico remete a Cale (o porto Cale), certamente que também Caledonia pode remeter ao mesmo porto Cale. Portanto, para além da declaração escocesa de Arbroath e dos foles nas suas gaitas, o nome Caledonia remete ao mesmo Porto.

Acresce um outro detalhe que retorna agora à Cauca, derive isso em cacau ou coca... 
Os três reinos metidos no Cáucaso - na zona da Georgia - eram a Cólquida, a Ibéria, e a Albânia.
Ora, estes nomes vão aparecer noutras paragens, como se de colónias se tratassem.
A Ibéria na península hispânica e a Albânia na península Ilírica, notando a já referida importância de Alba Longa em Roma, na península itálica.
Por outro lado na dualidade entre Irlanda e Grã-Bretanha, uma aparece como Ibernia e outra como Albion ou Albany, em registos posteriores, mas remetidos a tempos romanos.
Falta sempre a Colquida, Colchis... uma colcha para compor esta tríade - provavelmente porque a sua paragem era posicionada, na ordem, mais a ocidente - e mais a ocidente está apenas a América.

Na mitologia diluviana de Noé, que termina nas montanhas caucasianas, a primeira cidade é Saga Albina.
Esta saga albina poderá muito bem reportar a diferenciação albina, os alvos que foram alvos de racismo, e que depois acabaram por definir a tonalidade dominante.
A marginalização albina é um fenómeno que ainda hoje se verifica, e que poderá estar na origem da saga para ocidente, no rendilhado de uma colcha complicada.

Terminamos, citando Meakin de novo:
The Iberians of the Caucasus are believed to have established themselves on the banks of the Caucasian rivers as far back as 3000 B.C. They multiplied so fast, we are told, that four hundred years after their arrival numbers of them wandered forth to seek a new home. They hurried along the northern coast of Africa and entered Spain by what was then the Isthmus of Hercules.
acrescendo:
I have not had an opportunity of following the more recent anthropological studies of Señor Anton Ferrandez in connection with the subject of the first inhabitants of Spain, but in some of his lectures in the Athenaeum of Madrid he has propounded a theory that the two primitive races of Spain were that of the Cro-Magnon and that of the Celto-Slav. His conviction had been supported, moreover, by the recent discovery of prehistoric antiquities in Egypt analogous to those that have been found in Spain such as stone instruments, ornamental vases, and pictorial engravings upon rocks, representations of men and animals. In certain cases the signs discovered on Egyptian rocks have been found to be identical with those found in central Spain (Fuencaliente, Cueva di los Letreros, etc.) ; even the red colour with which some of them were engraved appeared to be the same. 
... acrescendo às referidas antiqualhas espanholas semelhantes às egípcias, acresce recentemente a indicação de ADN ibérico em faraós egípcios.

2 comentários:

  1. Obrigado, José Manuel.
    É interessante ver o que Annete Meakin diz em 1904.
    À época as descobertas de inscrições rupestres eram ainda escassas, começaram por serem divulgadas as mais espectaculares de Altamira e Lascaux, e só se começava a dar importância a outras.
    Imediatamente faz a observação de que a cor vermelha das inscrições encontradas no deserto egípcio era a mesma cor vermelha encontrada nas inscrições espanholas. Essa observação hoje não é feita... porquê? Porque a mesma cor vermelha passou a ser característica em quase todas as inscrições rupestres, do Brasil à Índia e Austrália, como se fosse a cor natural para se escrever.
    Na verdade, olhando para as diferentes inscrições rupestres, tal como Meakin, podemos ver padrões comuns, que vão da América à Oceania, passando pela Europa, África e Ásia.
    Esse parece ser o traço de uma cultura comum que se espalhou pelo mundo, acompanhando a migração do Homo Sapiens... não de um macacóide, como ainda se pretende fazer crer, mas sim de um homem que já transportava consigo uma cultura.

    Abraços.

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  2. “advindos da Ibéria e de porções ao Leste”... pois R1b, da Ibéria e o R1a da India.
    Trata-se da substituição campaniforme... conforme sabemos, vinda da Estremadura portuguesa.

    Abraços.

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