Alvor-Silves

sábado, 13 de abril de 2013

Macavencos

Já aqui falámos brevemente sobre a implantação da República Portuguesa, no texto sob o titulo
em que referimos a influência da Maçonaria e da Carbonária na preparação do 5 de Outubro.

Encontrámos uma notícia interessante no jornal Expresso (5/Fev/2010) sobre uma sociedade peculiar com um nome macavenco... os "Makavenkos".
Conforme descreve a autora da notícia:
Entravam bem trajados pela Rua dos Condes, como se fossem para o teatro. Empresários, políticos, artistas, médicos, jornalistas, aristocratas e plebeus, monárquicos e republicanos, maçons, ultraconservadores e revolucionários passavam as bilheteiras sem parar, desciam dois lanços de escada e tocavam à porta da sociedade 'secreta' dos makavenkos... um clube privado lisboeta para polígamos "de todas as qualidades, excepto os vadios", que gostavam de petiscar na mesa e na cama. Ali, cozinhava quem sabia e desfrutava quem podia, sempre em agradável companhia feminina, também aceite sem descriminação de classe, da nobreza à rua, conforme as paixões dos convivas.
À entrada, vestiam o modo de ser makavenkal: o prazer da boa mesa, da "alegre rapioqueira", e a compensação dos 'pecados' com actos de benemerência. Mas, ao fim de 26 anos, quebraram uma das regras. Ou nunca cumpriram essa de não falar de política e religião. No ano de 1910, na Casa dos Makavenkos, onde a prioridade era dar "largas à alegria e elasticidade à tripa", preparou-se a revolução.
Este Clube Makavenko era presidido por Francisco Grandella, um personagem de conto de fadas. De empregado numa retrosaria na Rua dos Fanqueiros, ao fim de alguns anos montara negócio próprio, e alguns anos depois, com os Armazéns Grandella tornava-se num dos homens mais ricos e influentes de Portugal. 
Tal como Grandella, o Clube Makavenko tinha afiliação directa no Partido Republicano e na Maçonaria lisboeta. Porém, estas coisas são o que são... e Grandella punha a nú os mais básicos instintos do Homem - a boa comida e as mulheres boas. O clube terá sido um sucesso, se as ideias republicanas não eram tão apelativas, seriam apelativos os programas dessas noites.
Todos eram iguais perante a sopa, o copo e as makavenkas e nenhum podia namoriscar com a mesma por mais de 15 dias. Findo este período ela seria declarada "praça aberta" e ele, se insistisse, levava o título de "lamechas" e a intimação para pôr fim ao relacionamento em 24 horas.
Em conversas casuais, já me descreveram situações algo semelhantes nas actuais máquinas partidárias... ou seja, na sua vertente de clubes de prestações de serviços, teriam necessidade de recorrer aos préstimos dos mais valiosos colaboradores da noite, entre outros, porteiros de bares, discotecas, ou simples proxenetas. Ao fim de alguns anos, ficavam influentes na concelhia do partido, depois na distrital, e com alguma discrição poderiam até passar a figuras públicas. Objectivamente, são precisos operacionais para este tipo de assuntos mais mundanos, que fazem parte do arregimentar de vontades que movem as organizações. Se o Clube Makavenko já não existe, as vontades não desaparecem, e acabam por levar à existência de clubes similares, festas "bunga-bunga", talvez com protagonistas mais envergonhados que Berlusconi ou Grandella.

Interessante é o símbolo da organização. Diz-se no artigo do Expresso que Grandella usara o moto de Edward III, que ornamenta a Ordem da Jarreteira: "Honi soit qui mal y pense"... pois, maldito quem pensasse mal da liga que caíra à dama que entrara na dança de Edward III, transportava-se no final do Séc. XIX, princípio do Séc. XX, para as ligas das makavenkas.

De dois filhos de Eduardo III, John de Gaunt e Edmund Langley, aparecem duas rosas. A vermelha da Casa de Lancaster e a branca da Casa de York, que vão levar à famosa Guerra das Rosas. Apesar de York ter inspirado a substituição de Nova Amsterdão em Nova York, e Langley ser hoje a sede da CIA, não é pelo lado branco do "rosário" que seguiremos.
O símbolo da rosa vermelha era da Casa de Lancaster, e foi adoptado por muitos Partidos Socialistas, no final do Séc. XX. Em Portugal também, tendo acabado por substituir o símbolo de "punho cerrado" que caracterizou o PS. 
O que é curioso é que vamos encontrar esse "punho-cerrado" no símbolo dos Makavenkos, de forma tão similar como podemos vislumbrar na figura seguinte: 
O PS sempre afirmou o seu legado republicano, e é conhecida a grande identificação ao Grande Oriente Lusitano, a mais antiga organização maçónica portuguesa. Nesses pontos estava em comunhão com o Clube fundado por Grandella, seguia-se a rosa vermelha que remete à Casa de Lancaster, e à Ordem da Jarrateira, coincidindo no moto escolhido por Grandella.
Tudo coincidências? Possivelmente, alguém quererá dizer... porém fica um bocadito mais difícil de aceitar tal coincidência, quando temos um punho-cerrado que se insere bem no círculo de fundo escuro dos makavenkos

Mas isto acontece só com o PS? 
Aqui o leitor vai compreender que apenas posso trabalhar com o material que encontro, a maioria das vezes acidentalmente. Não se trata de opção política, trata-se de opção informativa. Esta associação do símbolo do PS ao clube de luxúria dos Makavenkos é puramente acidental, a filiação política que ambos partilharam, pois isso acrescenta algo mais que um simples acidente no logotipo.
Há antigos símbolos na heráldica que usam um braço (Guerreiro, Horta, Macedo, ...), mas não apenas uma mão fechada... uma espécie de "bate-punho"!
Poderíamos dissertar sobre as setas do PSD, lembrando-nos do selo dos EUA, em que a águia segura 13 setas (eram 13 as colónias-estados originais), mas não há comparação em termos de associação.

Agora, como é óbvio, os partidos reflectem uma forma de poder, mesmo aqueles que aparentemente estão no contra-poder. Sobre o arco-governativo temos experiência ao longo destas décadas, sabemos dos seus compromissos e vícios. Se há um lado mais ligado a esta faceta da maçonaria explícita, há outro lado que se evidencia por ligações mais antigas, aristocráticas. No entanto, convém notar que a face visível remete para uma aristocracia estabelecida essencialmente no final do Séc. XIX. Não se trata das velhas casas aristocráticas... essas submergiram de visibilidade, especialmente após o liberalismo de D. Pedro IV, e da derrota de D. Miguel. Curiosamente, dessa aristocracia antiga, só a Casa Real de Bragança não conseguia evitar o protagonismo que lhe era imposto constitucionalmente... os novos barões, viscondes, esses emergiam politicamente, promovidos pelo regime de burguesia a pequena aristocracia.
No final do Séc. XIX, princípio do Séc. XX, a oligarquia lisboeta que dominava a vida pública aumentava de número e de vícios... o que obviamente levaram a gastos de compromisso, em subsídios, comendas, que arruinaram as finanças públicas e levaram o país à bancarrota de 1896.

Como diria Almeida Garrett: "foge cão que te fazem barão... para onde, se me fazem visconde?" 
Até às migrações provincianas, saloias, que trouxeram uma nova plebe para a região lisboeta, dificilmente já se encontraria alguém na capital que não soubesse traçar convenientemente a sua origem a algum resquício de nobreza, com o intuito de que o nome de família lhe trouxesse vantagem, pelo velho expediente da "cunha".

Nada disso desapareceu, a prole aumentou, teve novos protagonistas. Os expedientes de subsídios, de oportunidades de negócio fabricados por legislação conveniente, de comendas, de pensões, subvenções, etc... de tudo isso passou o Estado a ser devedor, para manter silenciada e satisfeita a enorme prole, resultante de um alargamento da pseudo-aristocracia lisboeta. 
Todos os tostões que se gastam na subsídio-dependência social do Rendimento Mínimo Garantido fazem falta aos outros protagonistas, não apenas a uma oligarquia que procura Rendimento Máximo Garantido, através de negócios privilegiados, mas toda uma plebe de servidores que inveja o mesmo estatuto.

Damos apenas um exemplo ilustrativo... Francisco Joaquim Ferreira do Amaral foi um dos últimos primeiro-ministros monárquicos, e passou do serviço a D. Manuel II para o clube republicano dos Makavenkos, sendo mesmo conhecido como "o Makavenko". Certamente por mera coincidência viemos a ter um político com nome similar, Joaquim Ferreira do Amaral que, após ser Ministro das Obras Públicas (PSD) teve a "sorte" de ser nomeado como administrador da Lusoponte, afinal a empresa que quem foi dado o monopólio das ligações viárias sobre o Tejo. É sabido que os rendimentos de tal negociata são astronómicos.

Há muito que o tecido produtivo foi minado pela verborreia legislativa que entope tribunais.
Por um lado, as leis servem a classe instalada, que procura proteger monopólios e manter impunidades. Por outro lado, as novas ideias, sendo mesmo novas, não podem ser executadas, por ausência de legislação. Tudo precisa de regulamentos, para regular os lamentos instalados, que evitam produção de nova riqueza, o aparecimento de novos ricos, sem a devida autorização e benção das antigas famílias.
As oportunidades de negócio são decretadas por leis feitas nos tradicionais escritórios de advocacia, com as devidas vírgulas que permitem assegurar que a oligarquia se mantém fechada à novidade. A isto acrescem anos de contactos privilegiados entre famílias, que podendo ser rivais, sabem unir-se para sobreviver, e evitar novas ameaças à negociata instalada. 
Quem quiser entra curvado para servir o sistema, quem não quiser fica fora do negócio... e neste tipo de sociedade, tudo não passa de um negócio, porque sempre se habituaram a vergar tudo e todos a essa lógica de ganhos e perdas. 
Há quem não alinhe... claro, há sempre, mas o número é residual, e podem ser ignorados. Aliás, até interessa que existam, e que se mostrem, para apimentar o tédio da corte instalada. Nesta perspectiva, tal como cristãos lançados aos leões, a sua impotência serve para mostrar aos espectadores a inutilidade da resistência perante o poder do império.

Quanto ao nome "Macavencos" é curiosa a explicação dada no artigo do Expresso:
É, aliás, da autoria do despenseiro, por vezes cozinheiro, a explicação 'científica' do nome da sociedade... inventado por Grandella: um povo de origem asiática, das ilhas Curilas, que já habitara na península ibérica, no que é hoje Portugal e no País Basco, muito antes dos gregos, "antes do desaparecimento da Atlântida e tinham uma seita que professava uma espécie de culto pela mulher esbelta, mundana, com quem conviviam e protegiam aproveitando-a mesmo para fins de utilidade geral".
... sim, porque é sempre conveniente dar um toque mítico a este tipo de sociedades, para que haja um qualquer refúgio espiritual num mundo construído por oposição à espiritualidade. Mas, dada a natureza dos intervenientes, é de considerar que o nome fosse apenas uma chalaça silábica de conotação sexual. Acabou por entrar no léxico - macavenco é sinónimo de excentricidade.

2 comentários:

  1. Ora , ora Bora Bora... Os prazeres da Vida apenas para quem pode pagar... Que religião tão óbvia e real. O pagode do poveco nas mãos da religião e da politica...
    Vale tudo claro, porque estar vivo é só uma vez.

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    1. Já nem me lembrava que tinha escrito isto... devia estar aborrecido com algum detalhe, e que são sempre piores do que se sabe antes.
      Normalmente a gentalha que orbita o poder e os vícios não me merece menção, o que é conhecido é mais que suficiente para causar náuseas.

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