Alvor-Silves

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Theatrum Mundi Sinico

Pelo lado chinês, encontramos uma versão sínica de um mapa muito semelhante ao Theatrum Mundi de Lavanha, ou de Ortélio, denominada Wanguo Quantu, e datada c. 1620:
Wanguo Quantu, mapa do jesuíta Giulio Aleni (c. 1620)

É justificado o mapa pela colocação central do Império do Meio, evitando assim a tradicional colocação europeia nessa posição central. Podemos ver que os chineses não pareciam ter problemas em aceitar um mapa que evidenciasse o Estreito de Anian (dito de Bering), ao contrário do que foi depois referido por Carvalho da Costa (ver texto sobre Nova Zimla). Aliás o contorno americano, ou da costa russa, parece reflectir o conhecimento geral dessa zona, tal como já tinha sido verificado nos outros "theatrum mundi".

Antes, teria aparecido no tratado Sancai Tuhui um outro mapa, o Shanhai Yudi Quantu (1606, com base em Matteo Ricci), que mostrava uma concepção mais próxima dos primeiros mapas europeus do Séc. XVI (como o de Waldseemuller):
Mapa Shanhai Yudi Quantu (1606), aqui com tradução de Roderich Ptak.

Na tradução deste mapa é possível ver algumas legendas curiosas:
  • Um Mar Vermelho "oriental" na península californiana, conforme mencionado aqui nos Sinais Vermelhos e anteriormente. Aparece também o habitual Mar Vermelho "ocidental" na África.
  • Yawaima - no noroeste americano, que corresponderia à zona de Fusang (o nome Yawai pode sugerir alguma conexão a Hawai).
  • Mar de Keluotuo - que poderá ser a Baía de Hudson.
  • Na Europa apenas a França é nomeada... enquanto que na zona ibérica é escrito "mais de 30 reinos", podendo referir-se a toda a Europa! Parece ainda haver uma confusão entre o Mar Negro e o Cáspio (o que não nos surpreende).
  • A Líbia é a África, e na zona do Atlas é colocada a legenda "montanhas mais altas da Terra"
  • A sul, a Magellania refere já a confusão de concatenação da Austrália com a a Antártida - de um lado fala-se em "terra de papagaios", e do outro na Terra do Fogo e "picos brancos". A legenda dirá ainda que "poucos teriam chegado a essas paragens a sul".
Se o outro mapa tem a clara marca do cartógrafo ocidental (Giulio Aleni), neste mapa reflectem-se mais as influências na concepção e nomenclatura, especialmente pela referência a Magalhães. Não se parece notar nenhuma cartografia própria dos chineses, mantendo as mesmas restrições/mitos ocidentais, especialmente sobre a parte sul na "Magellania". O "mar gelado" aparece apenas mencionado a norte do Canadá...

Sendo expectável que os chineses tivessem conhecimento, pelas grandes navegações que teriam feito, de outras paragens, como por exemplo a Austrália, estes mapas mostram uma grande sintonia no que era transmitido a Ocidente e a Oriente(*)... sugerindo a existência de uma única ordem global dominante!

Nota:
(*) Esta concepção restritiva é ainda visível em mapas coreanos, mesmo do séc. XIX.

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