Alvor-Silves

domingo, 17 de julho de 2011

A Merica e a longitude

Longitude
Acerca da longitude já tínhamos aqui citado António Carvalho da Costa que, em 1682, e com breves palavras, mostrava como era possível saber a correcta longitude de lugares através da observação de eclipses. 
Sendo a latitude um problema mais fácil, ficava aí claro que eram conhecidos métodos eficazes para determinar a posição recorrendo apenas a observações astronómicas. O interesse pelos eclipses lunares seria especialmente um interesse geográfico, com vista a uma correcta cartografia. Assim, a tabela de eclipses de 1534, de Jerónimo Chaves, indiciaria isso mesmo.

Encontrámos agora outro texto, de Manuel de Figueiredo, de 1603, que coloca as coisas de forma mais clara, confirmando as nossas suspeitas de que essa técnica seria bem mais antiga. 
O texto de Figueiredo é mencionado na literatura (veja-se por exemplo aqui) especialmente porque detalha a construção da balestilha, instrumento prático para a determinação de ângulos, e apropriado para a latitude. 
Aqui interessa-nos a questão da longitude, mais complicada.
"Como se acharam as longitudes das terras.
- é este o título do Capítulo XIII da "Chronographia e Repertório dos Tempos", publicada em 1603 por Manuel de Figueiredo. Começa dizendo:
Grande foi o trabalho que os geógrafos tiveram em achar as longitudes das terras, as quais observaram pelos eclipses da Lua e do Sol, & não haviam de ter tão pouco em a todas elas buscarem a longitude, porque nem todos os meses há eclipses para as poderem mostrar (...)
Não especifica quem foram os geógrafos, nem quando... apenas explica como se processou: 
Punham-se dois geógrafos em duas terras (...) esperavam o dia e hora a que havia de acontecer (...) observavam a que hora começava & cotejada uma observação com a outra, a diferença que entre elas havia essa era a longitude(...).
... algo que já tínhamos suspeitado como sendo o método usando "enviados do reino".
Duas páginas à frente faz referência às vantagens da "pedra de sevar" (magneto) que teriam marcado a diferença face aos "antigos"... e somos levados a concluir que implicitamente considerava que o processo de eclipses para a longitude era já conhecido desses "antigos". Figueiredo sugere que teria sido o magneto a marcar a diferença, pois esses antigos se restringiam ao hemisfério norte com medo de perder a Estrela Polar... que é outra maneira de dizer que tinham medo de "perder o norte", de ficarem desnorteados!


Merica
Talvez mais interessante é o detalhe de Figueiredo designar a América como "A Merica". Isso poderia passar por erro tipográfico, mas é demasiado propositado para ser qualquer erro acidental:


Menção a "a Merica" e "America", por Manuel Figueiredo

Se já havia algumas suspeitas do nome América não estar necessariamente ligado a Amerigo Vespúcio, creio que esta obra de Figueiredo vai exactamente nesse sentido... 
A Merica e não América

Fomos encontrar uma canção dos emigrantes italianos que povoaram o Rio Grande do Sul:
Dalla Italia noi siamo partiti; Siamo partiti col nostro onore;  
Trentasei giorni di macchina e vapore, e nella Merica noi siamo arriva'. 
Merica, Merica, Merica, cossa saràlo 'sta Merica? 
Merica, Merica, Merica, un bel mazzolino di fior. 
Trata-se do dialecto do Veneto (Veneza), que tira o A a America, e aparece como uma clara desfaçatez veneziana ao compatriota, mas rival florentino, Amerigo...

Haverá outro sentido para a simples palavra Merica?
O google e a wikipedia têm destas coisas, e fomos parar imediatamente a 
- merica: palavra indonésia com raiz no sânscrito que significa a especiaria pimenta.

Afinal, como chamam os ingleses a um tipo de pimenta? 
- Chili pepper... chegando mesmo a escrever Chile pepper.
A pimenta ou malagueta sempre esteve associada à comida mexicana, azteca e também inca. É claro que também é parte da cozinha indiana, e isso pode reportar perfeitamente uma rota de especiarias que se prestava a unir as índias orientais e ocidentais sob a conveniente confusão!

Ou seja... quando os nossos descobrimentos seguiam na rota da Pimenta, é mais natural que estivessem a seguir a rota da Merica. Como dizia Figueiredo: "a cobiça de reinar abriu o caminho para descobrir tantas riquezas quantas neste novo mundo há"...


Se o nome é anterior a Américo Vespúcio, esta semelhança entre "a Merica" e "Americo" pode ser um caso que já abordei num comentário que aqui fiz - a importância de se chamar Ernesto, neste caso Américo!

1 comentário:

  1. A Pimenta-Malagueta, a Pimenta-tabasco e a Pimenta- caiena, são nativas da MÉRICA!!!

    Esse discurso ridículo da Indía das Especiarias, onde se comprava pimenta ao preço da chuva para vender na Europa, só serve para quem desconhece de onde são nativas as PLANTAS.

    A Pimenta, vinha da América, e era comercializada muito antes de Colombo...pelos Portugueses, claro!

    Mas como o Vaticano e Templários tinham que se meter em tudo, deu no que deu.

    E ainda tiveram a desfaçatez de inventar aquela terrível farsa: "Da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia...das Especiarias".

    Só se for a India das Bactérias, Virús e Intermédios, do GANGES!!!

    Cretinos!!!

    Maria da Fonte

    É como a SARÇA, uma Espécie de ACÁCIA, que é NATIVA DA MATA ATLÂNTICA, E não do DESERTO do MÉDIO ORIENTE!

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