Alvor-Silves

sábado, 21 de maio de 2011

O Panorama

"O Panorama" foi uma revista do Século XIX que teve como primeiro editor Alexandre Herculano, em 1837, e como último Miguel Soares Monteiro, em 1867, bem menos conhecido que o primeiro.
O carácter generalista e a missão educativa que a revista teve, está estudado numa recente tese de doutoramento de 2008, de J. Bartolomeu Rodrigues, disponível online na UTAD.
A revista é interessante, com notáveis ilustrações, e ajuda a perceber que o contexto educativo pretendido acabou por se perder rapidamente nas revistas de actualidade.
Será difícil de pensar que se pode sustentar uma publicação frequente com temas antigos... mas depende muito da maneira como se olha para os mesmos temas. Não há repetição quando se retoma um velho tema com um novo olhar... aliás, o problema aí é que há uma imensidão de assuntos a recolocar, e o excesso de informação aparece agora como ruído de onde é difícil tirar algum som audível.

Um tema que nos prendeu a atenção no volume do 2º ano da 5ª série, em 1867, dizia respeito aos Rothschild, família que rapidamente ascendeu a um estatuto de domínio económico mundial.
Concordia, Integritas, Industria - Armas dos Rothschild

Não vamos falar das cumulativas teorias da conspiração, que sempre terão existido, mas que foram ganhando expressão significativa nestes últimos anos, em particular muito recentemente, desde o colapso económico de 2009. Este colapso apenas tornou mais visível um domínio efectivo subjacente, que escapa aos poderes pretensamente eleitos. Aparecem assim o Grupo Bilderberg, os Illuminati, etc...  procurando nas sombras eventuais culpados, esquecendo que essas sombras são agora iluminadas para que as possamos ver e culpar.

O artigo de 1867, publicado na revista Panorama, já sem a direcção de Herculano, começava dizendo o seguinte:
Rothschild é um mito, é um símbolo, é matéria endeusada pelo paganismo actual (...) invocando os escrevedores desses vindouros tempos o deus Rothschild para presidir às lucias da agiotagem, que simbolizam este nosso afortunado século, cuja mitologia é menos poética, mas bem mais opulenta do que a da velha Grécia. E Rothschild é isto! Encarnação materializada do dinheiro, que a sociedade proclamou rei do mundo, não está em Londres ou em Paris, em Viena ou Francfort. Está sobre toda a superfície da terra onde a civilização fez compreender o valor de um milhão de francos, de libras, de florins, de dollars, de thalers, de reales, de rixdalers, de liras ou de cruzados. Como a companhia de Inácio de Loyola tem por pátria o mundo inteiro, que domina no mistério das suas transacções comerciais. Se não fala às consciências, fala às bolsas, órgão vital muito mais sensível nos seres da actual humanidade (...)
O artigo foi escrito há quase 150 anos, e muitas gerações passaram, mas o mundo não terá mudado muito. Já em 1867 se procurava a causa, e ligava-se à fortuna acumulada durante as guerras napoleónicas, quando o negócio do metal bruto se tornou importante para financiar os exércitos de Wellington. A wikipedia relata que Nathan Mayer Rothschild terá financiado sozinho esse esforço inglês 9.8 milhões de libras, que seriam pagas depois pelos aliados da Inglaterra... escusado será dizer que começaram, ou melhor continuaram, aqui os nossos problemas de financiamento e a tormenta da dívida em contínuo.

O metal precioso bruto, que Rothschild negociava, é denominado Bullion em inglês, e a própria wikipedia faz uma nota curiosa para não ser confundido com Bouillon, ou seja com o condado de Bulhão, de aqui temos falado!
Dito doutra forma, os cruzados em dinheiro, não devem ser confundidos com os cruzados das Cruzadas. É demasiado fácil fazer ligações por esse lado, e já falámos aqui dos contos de reis, pelo que não me vou alongar...

Hoje, 21 de Maio de 2011, seria uma data propagandeada para eventos apocalípticos, tal como se anuncia a mais estranha ligação ao fim do calendário Maia, em 21 de Dezembro de 2012... mas é bem mais certo que há um ano ouvimos a nossa governação revelar que o mundo "tinha mudado em 15 dias", ou seja, as datas para futuro podem ter sido antecipadas, lembrando que a Terra Hispaniola tremeu em 10 de Janeiro de 2010.

Aquilo que se pretende tornar claro é que o controlo é efectivo, existe desde sempre, teve demasiados protagonistas conhecidos, e outros principais protagonistas desconhecidos. 
O artigo de "O Panorama" vem apenas mostrar que esse poder já estava claramente nas mãos de uma elite financeira do Século XIX, que terá sido responsável pelos desenvolvimentos subsequentes.
A esse propósito, convém registar a confluência de acontecimentos no ano de 1917, de que já falámos.
A maior curiosidade é a sua persistência num protagonismo de 2ª ordem, que pelo semi-anonimato público da elite financeira foi garantindo a sua permanência nos dois séculos seguintes, séculos esses responsáveis pelo aparente maior desenvolvimento da Humanidade. Não que ele não pudesse ter sido efectuado anteriormente, apenas porque ele foi outorgado pelo levantamento de restrições que amarravam as civilizações a um estado primevo.

Se os deuses puniram Prometeu por levar o fogo aos homens, é natural que a "ordem divina" temesse o "caos popular"... e o exemplo da Revolução Francesa estava presente para o lembrar. A revolução seria cultural, através de uma educação condicionada a exemplos seleccionados. 
As mentalidades seriam formatadas para uma ilusória ideia de liberdade, que se completava pela própria crença educacional... e o controlo menos libertário, mais autoritário, seria apenas sentido nos degraus superiores, onde apenas chegariam alguns - condicionados pelo seu percurso errante.
Moralmente, não haveria pejo em condicionar quem se teria movido pela soberba do poder, já seria muito mais complicado restringir quem não tivesse essas falhas morais... esses teriam que ser limitados a acidentes casuais, poupados cedo pela injustiça do sistema, evitando-lhes um posterior condicionamento da sua efectiva liberdade. 
Goethe terá ilustrado o problema com o seu Fausto...

Fica aqui o registo do artigo de "O Panorama", sobre os Rothschild ("escudo vermelho"):


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