Alvor-Silves

terça-feira, 31 de maio de 2011

Elefantes pelos Mamutes

Recorremos de novo a Buffon, que nos seus 44 livros parecerá ser uma fonte inesgotável, nos seus Elementos da Terra (vol. 3, pag. 183), diz o seguinte
Quoi! dira-t-on, les éléphans et les autres animaux du midi ont autrefois habité les terres du nord? Ce fait, quelque singulier, quelqu'extraordinaire qu'il puisse paroitre n'en est pas moins certain. On a trouvé et on trouve encore tous les jours en Sibérie, en Russie, et dans les autres contrées septentrionales de l'Europe et de l'Asie, de l'ivoire en grande quantité; ces défenses d'éléphant se tirent à quelques pieds sous terre (...) mais aussi dans les terres du Canada et des autres parties de l'Amerique septentrionale.
Até aqui, do ponto de vista do que restou para os dias de hoje, dir-se-ia que Buffon estava a chamar elefantes a mamutes, e a história acabava na confusão "depois esclarecida" de que aos ossos de elefante da Sibéria e Canada se deveria adicionar pêlo.
Mamute de Beresovka, um elefante com pêlo 

Pelos vistos, vistos os pêlos, os elefantes passam a mamutes... 
Porém temos que observar que não era bem isso que Buffon dizia. 
Reparemos na quantidade de ossos encontrados:
(...) on a peut-être déjà tiré du nord plus d'ivoire que tous les éléphans des Indes actuellement vivans n'en pourroient fournir;
Ou seja, aparentemente no Séc. XVIII encontravam-se ossos de "mamute" a pontapé, ao ponto de Buffon dizer que havia mais marfim retirado da Sibéria do que nos elefantes existentes na Índia (diz isto para afastar a hipótese que teriam sido levados por humanos, domesticadamente).
Depois, e a propósito das dimensões das defesas dos elefantes encontrados, Buffon diz:
Les os et les défenses de ces anciens éléphans sont au moins aussi grands et aussi gros que ceux des éléphans actuels, aux-quels nous les avons comparés;
Repare-se que Buffon não diz que as defesas desses elefantes seriam muito maiores do que as dos elefantes actuais - seria isso que estaríamos à espera, se ele se estivesse a referir aos "mamutes". Porém ele é claro a estabelecer uma certa semelhança de dimensões... como enquadrar aí a noção do mamute com as grandes presas? Restará o pêlo... mas sobre esse pêlo, Buffon não faz observações, e lembramos como é caso raro encontrar-se uma pele associada a ossos.

Buffon dá bastante ênfase aos achados de elefantes, mas não só, adiciona hipopótamos e rinocerontes:
On trouve en Sibérie et dans les autres contrées septentrionales de l'Europe et de l'Asie, des squelettes, des défenses, des ossemens d'éléphans, d'hippopotames et de rhinocéros, en assez quantité (...) et l'on a observé que ces dépouilles d'éléphans et d'autres animaux terrestres se présentent à une assez petite profondeur; au lieu de coquilles et les autres débris(...)
Estes ossos estavam a pouca profundidade, quando comparado com as conchas, o que levava à hipótese de mudança equatorial, que Buffon discute. No entanto, discute de forma simplificada, baseado nas observações astronómicas de então que davam uma mudança da eclíptica de 45'' por século, concluindo que precisaria de 360 mil anos para uma mudança de 45º, o que levaria a zona tropical para as partes siberianas. É engraçado ver que estas conclusões e a maneira simplificada de lá chegar já se encontravam ao Séc. XVIII.
É depois com Cuvier que surge a hipótese de mudanças mais drásticas, catastróficas... é também Cuvier que define antigos mamutes como diferentes dos elefantes. De Cuvier aproveitaram-se os mamutes, de Buffon uma hipótese de idade antiga da Terra... Aqui somos levados ao contrário, a aproveitar os elefantes de Buffon, e um catastrofismo de Cuvier para explicar as mudanças bruscas e rápidas.
Messerschmidt, é o nome a quem se atribui em 1728 a descoberta dos elefantes/mamutes na Sibéria, e este Daniel poderá ser confundido com Franz, escultor seu contemporâneo... e em nenhum caso se devem ambos confundir com os famosos aviões Messerschmitt.
notável escultura de Franz Messerschmidt

Sem comentários:

Enviar um comentário