Alvor-Silves

sábado, 18 de setembro de 2010

Teogonias (1)

A Teogonia de Hesíodo (séc. VIII a.C) é talvez um dos relatos mais interessantes da criação do mundo. 
Do Caos, surge a Terra (Geia) e o Céu (Úrano/Celus), mas também alguns deuses primevos mais estranhos, como o Amor (Erébo) que dá origem ao Dia e à Noite... ainda antes da criação do Sol. O relato judaico bíblico da origem da luz, também separa o dia da noite (1º dia), antes da criação do Sol e estrelas (4º dia).
Não havendo registo único e claro da Teogonia grega, nesse tempo inicial Hesíodo considera ainda Pontos (mar primevo) e Tártaro (mundo inferior).
Durante muito tempo ficou a designação de Ponto Euxino para o Mar Negro, ambas as designações sugerindo que o mar primevo seria aquele espaço. A essa visão circunscrita à região, juntamos a designação de Tártaros aos habitantes da região que seria também depois dos Medos. É ainda aí, na Cólquida (vizinha da Ibéria caucasiana), que se situam muitos dos mitos gregos... e também é comum associar aí o mito diluviano (resultante duma eventual abertura do estreito do Dardanelos).

O mapa de Heródoto - reconstrução na Biblioteca do Congresso (Washington DC)
põe em evidência a importância do Mar Negro (Pontus Euxinus), do Mar Cáspio (Kaspion Pelagus/Caspium Mare), e do Mar de Azov (Maiotis Limne/Palus Maeotis), estes últimos considerados mares verdes. 
Notamos que o mar Vermelho (Eritreu) é associado ao Índico e o outro é denominado golfo Arábico; outro facto que se evidencia é a notação Celta, para uma larga região hispânica após as colunas de Hércules.
Talvez o mais importante é notar uma tripla divisão continental: Europa, Ásia e Líbia... o nome África é muito posterior - e nunca foi claro que designasse apenas a África actual (... poderia incluir a América).

Neste primeiro apontamento sobre Teogonias, o que importa deixar claro é que estas efabulações parecem ser ridículas face ao nosso entendimento científico, mas não o são necessariamente.
Porquê? Porque envolvem uma formação progressiva, e não simultânea.

Não há nenhuma razão para dissociar o dia/noite do aparecimento do Sol... isso seria óbvio para qualquer entendimento, por mais primitivo que fosse. Essa separação vai contra o nosso bom senso!
Qual a razão de uma Teogonia que vai contra o mais elementar bom senso? 
- A única razão plausível parece ser reportar-se a uma realidade diferente.
Ou seja, os relatos antigos parecem levar-nos a uma realidade temporal onde poderia haver Luz sem Sol.
Isso não faz nenhum sentido...
- pois, mas também não faz nenhum sentido Deus criar o homem à sua imagem (na versão bíblica), ou falar-se em deuses gregos antropomórficos. 

Tratam-se de mitos claramente antropocêntricos, e colocam necessariamente a Terra na origem da criação. 
Ou seja, a concepção planetária, com a inclusão do Sol, só poderá ser uma versão posterior de uma construção universal, que se inicia na Terra. 
Digamos que a construção divina não teria ficado completa numa única fase...
- talvez numa fase inicial, tivesse havido uma Terra plana, com um mar circundante, e um céu delimitador;
- talvez só numa fase posterior, tivesse sido criado um Sol como fonte de luz;
- só ainda em fase posterior, aparece a presença humana, distinta da presença divina, num mundo essencialmente diferente daquele que conhecemos hoje!
- só numa fase mais recente a Terra foi definida como esférica, e só depois a rotação solar passou a heliocêntrica... e da mesma forma, só posteriormente foram definidas estrelas semelhantes e galáxias.

Em suma, descreve-se aquilo que é normalmente entendido como a evolução da compreensão humana, por deficiência de conhecimento... Mas por força da relatividade do conhecimento, tanto podemos aceitar que isso foi deficiência humana, como poderá ter sido constatação humana, sem deficiência especial. Tudo depende se a crença é científica nos moldes actuais, ou se credita alguns fundamentos míticos.

O outro ponto especial, onde os relatos míticos concordam, sem razão histórica aparente, é na existência de uma "idade de ouro", associado a um tempo de felicidade e imortalidade humana, antes do estabelecimento da Idade do Cobre.
É o tempo de supremacia de Cronos/Saturno, filho de Úrano e Gaia, ceifador da genitália paterna que ao cair no Oceano produz Afrodite. Cronos é implacável para os seus filhos deuses, mas é tido como exemplar para os humanos... os romanos dedicavam a Saturno/Cronos, as Saturnálias - que podem ter motivado a celebração posterior do Carnaval... onde os papéis escravo/senhor eram invertidos.
Prometeu levando o fogo aos humanos.

Associar-se-à o tempo feliz de Cronos a um eventual tempo do Jardim do Paraíso... antes dos mitos da tentação do conhecimento de Eva e de Pandora-Prometeu. Altura em que alguns homens procuraram imitar os deuses, e definindo escravos passaram a assumir o destino destes, quais deuses. 
É nessa terceira fase que aparece o mundo de Zeus, o filho de Cronos, que depõe o pai (Saturno é visto no seu exílio divino como um rei humano do Lácio), e que se inicia a construção do mundo como o conhecemos... um mundo pós-diluviano! 
Os mitos/relatos antigos mantêm-se, mas deixam de fazer sentido na nova construção universal... a Terra deixou de ser plana e rodeada por água! 
Os humanos passam a estar sujeitos aos caprichos do Dodekatheon (o Conselho dos 12 deuses do Olimpo, comandados por Zeus)... as lembranças de Cronos, do Paraíso Perdido, passaram a fazer parte do passado!

Como apontamento final, ligando ao post anterior sobre a Moeda, notamos que não há propriamente nenhum Deus ligado ao dinheiro... o que demonstra de alguma forma que esse aspecto civilizacional, ligado ao aspecto social do comércio, embebeu a sua importância no tempo muito mais recente (após Alexandre).
Mesmo Hermes/Mercúrio, era um deus mais ligado à comunicação, mensagem, conexão que só parcialmente se aplicava no comércio.

3 comentários:

  1. … (Os mitos/relatos antigos mantêm-se, mas deixam de fazer sentido na nova construção universal... a Terra deixou de ser plana e rodeada por água![AlvorSilves]):

    Sim sim a Terra é plana e rodeada de água, para quem tenha uma cultura e visão cosmológica viaje ou observe do exterior as galáxias (Deuses mitológicos) depois de perder a perspectiva dos seus herdeiros os homens refizeram a sua cosmologia, mas guardaram o “mar oceano” como referência ao “mar galáctico” donde vieram.

    Cratès de Mallos em 150 a.C. já mostrava a Antártida num Globo Terrestre com as quatro partes do Mundo de que anteriormente Cyrus II fundador do Império Achéménide se dizia Rei (protegido de Jeová, no Livro de Isaías da Bíblia) quiçá restos de culturas dos Deuses da época da Gondwana.

    Outras ilhas primordiais como a Pangeia ficaram provavelmente confundidas nas mitologias, se virmos que não estamos sós no Universo e que a Terra foi colonizada tudo isto faz sentido.

    Afinal os Deuses tinham asas e vinham do Caos das constelações.

    Cumprimentos,
    José Manuel CH-GE

    “Perspectivas”:
    http://www.youtube.com/watch?v=3_CkZWF0U4Q&feature=related

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  2. Caro José Manuel,

    começando pelo fim, pelo elucidativo vídeo que teve a gentileza de apontar, a questão dimensional é importante... mas não podemos esquecer o tempo.
    Encarar o tempo como a 4ª dimensão é a contribuição fundamental de Minkowsky a Einstein. A questão é saber se o Universo é fechado nessas 4 dimensões perceptíveis... se não for fechado, está aberto a dimensões humanamente incontroláveis - ao Caos. Lá está... poderíamos ter coisas a aparecer e a desaparecer por critério de um ser de dimensão superior, e seríamos impotentes perante tal imprevisibilidade. Até agora tudo indica que não, que há leis e alguma previsibilidade. Uma abertura da estrutura da matéria a essa intrusão estranha seria o princípio do caos. Poderá ser uma tentação fazê-lo, na sugestão do vídeo - talvez como a maçã foi outra tentação... o revelador pode ser uma serpente ou não!

    A relação que fez com o "mar galáctico" é muito interessante. Apesar de aumentarmos o conhecimento sobre a Terra, ficamos sempre condenados a uma outra limitação espacial - a um mar cosmológico. Suponha que era possível viajar na galáxia, sem perigos, ficaria o desejo de viagens intergalácticas... e se isso tivesse fim no intergaláctico - ficaria a tentação de outros universos - ou o tédio da conquista total?
    Afinal, toda a Terra é já imensa e inexplorada individualmente por cada um de nós... por isso o desejo coloca-se sempre em patamares superiores, até à redenção!

    Acerca disto, procurei outra informação...
    A reconstrução da informação antiga está minada por contra-informação... dou como exemplos, os hieróglifos australianos de Gosford:
    http://www.donsmaps.com/hoax.html
    ou ainda os achados de ossadas gigantes:
    http://kedarsoman.wordpress.com/2007/05/16/hoax-giant-skeleton-found-in-india/

    No caso das ossadas gigantes, isso circula pela internet, e o Knight Templar enviou-me um email... depois dei com o site denunciando as falsificações.
    No entanto, se algo foi mesmo encontrado, a melhor maneira de o esconder está feita! Mesmo perante um original, vai-se pensar se não é uma falsificação.
    A pouca fiabilidade da informação na internet, não permite saber uma coisa tão simples quanto isto - foram ou não encontradas ossadas de Gigantes? Muitos textos antigos falam de gigantes/titãs... de épocas ainda anteriores.
    Sabemos de relatos do Séc.XVI de gigantes ainda habitantes da Patagónia... porém nem desses habitantes gigantes, patagões, restou uma única ossada!... Estranho, não será?

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  3. “A reconstrução da informação antiga está minada por contra-informação... dou como exemplos, os hieróglifos australianos de Gosford” [Alvor Silves]

    Há que saber separar o trigo do joio, eu faço consultas em francês inglês castelhano e algumas vezes em italiano e alemão sobre um determinado assunto, comparo as versões e concluo, os russos são muito fortes nestes enigmas também, não dou crédito nem ao hieróglifos da Austrália nem as ossadas gigantes, algumas são fotomontagens com crânios, só uma dos USA dum fémur me pareceu convincente mas até alguém analisar o ADN, se não estiver fossilizado, até aí não acredito em nada, só dou créditos quando catedráticos dissidentes do Establishment apoiam algo e têm publicações, e há muitos a creditarem que o homem sapiens existe desde e no tempo dos dinossauros, por exemplo.

    “Afinal os Deuses tinham asas e vinham do Caos das constelações”. [José Manuel CH-GE]

    Estava a pensar na origem dos Deuses gregos o pai Caos e não no caos caótico propriamente, por raciocínio não penso que “o Universo é fechado nessas 4 dimensões perceptíveis.. . [Alvor Silves]”.

    Seria um cubo dentro de outro cubo mas não fechado onde existem 100 mil milhões de galáxias, eu limito-me a observar as galáxias em espiral planas que de deslocam, não vou mais longe pois não há dados para tal, eu não perco tempo com raciocínios especulativos, deixo isso para os teóricos da especialidade.

    Quando digo que “Afinal os Deuses tinham asas e vinham do Caos das constelações” estava a equiparar à “astro história” pseudocientífica dos livros de Erich von Daniken “Eram os Deuses Astronautas? (best-seller) e “O ouro dos Deuses” em que acredito, afinal é disso que fala a mitologia grega igualmente, se eram tão grandes que só cabiam sentados na montanha do Olimpo pode ser poético, tudo era escrito em versos com muito vinho à mistura, mas a Bíblia forneceu indicações precisas para importantes descobertas da arqueologia contemporânea, só ainda não descobriram os tais gigantes, a www têm muito lixo, já tinha visto esses gigantes e é-me indiferente pois tenho outras provas mais importantes da existência desses “Deuses extraterrestres ou terrestres avançados” e de outras civilizações mais avançadas que a nossa que desapareceram antes da nossa sair das cavernas.

    Eu não sei o que é que o Alvor Silves anda à procura, se é que procura algo, com este seu blogue e leituras, quanto ao facto de os romanos não permitirem carros puxados por animais nas vilas, se bem percebi o que escreveu, não tenho teorias de ET’s para explicar e pensei que uma civilização que vivia nas piscinas não deveria gostar de pisar excrementos nas vilas… agora quanto a darem um carro com rodas para toda a gente isso demorou alguns séculos e a tendência actual é parra os tirarem outra vez.

    As muralhas das fortificações em Espanha do século XIV estão feitas com ossos, é só um exemplo do que pode ter acontecido aos gigantes da Bíblia, se existem ossadas desses gigantes vai aparecer, actualmente a arqueologia utiliza scâneres e todos os países a praticam, muita coisa vai aparecer, como a descoberta de os mulatos da Núbia há 2000 anos que já usavam a tetraciclina…bom mas tinham um alfabeto de 23 letras… eram os vizinhos dos egípcios e também construíam pirâmides (1).

    Cumprimentos,
    José Manuel CH-GE

    Ancient Brew Masters Tapped Antibiotic Secrets ScienceDaily (Sep. 2, 2010) - A chemical analysis of the bones of ancient Nubians shows that they were regularly consuming tetracycline, most likely in their beer.

    The finding is the strongest evidence yet that the art of making antibiotics, which officially dates to the discovery of penicillin in 1928, was common practice nearly 2,000 years ago.

    Journal Reference: Mark L. Nelson, Andrew Dinardo, Jeffery Hochberg, George J. Armelagos.

    Brief communication: Mass spectroscopic characterization of tetracycline in the skeletal remains of an ancient population from Sudanese Nubia 350-550 CE.
    American Journal of Physical Anthropology, 2010; DOI: 10.1002/ajpa.21340

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