Alvor-Silves

domingo, 29 de novembro de 2015

Climas do Atlas Miller

De entre os mapas do Atlas Miller, as duas folhas que seriam destinadas ao Oceano Pacífico (mas que são entendidas referir-se à Baía de Bengala, o que é algo ridículo por não coincidir com outro mapa que tem a Baía de Bengala), estavam decoradas de forma fantástica, com um grifo de um lado, um dragão do outro, várias cidades, um contorno de costa completamente irreal, uma embarcação com a cruz de Cristo, e várias outras com o crescente islâmico.

Um dos mapas no Atlas Miller (1519), de Pedro Reinel, Jorge Reinel, ou Lopo Homem.
Às inscrições de cidades cujas letras se podem entender como Maniole, Candiu, Ardua, Xiaz Regio, Meceazes, Cundala Regio, Macaela, Cobari, Zacata, Gala Regio, Corinta, Molor Regio, Bei Regio, referindo-se certamente a locais de mapas ptolomaicos, que não interessa aqui recuperar exactamente, juntam-se outras igualmente estranhas de rios. Uns desapareceram de menção, outros ganharam forma posterior aproveitando a nomenclatura antiga. Aproximadamente esses nomes são Soba, Catabeda, Tocosanus, Sadus, Temala, Phasius, Arabs, In, Palanda, Chriso, Saenus, Vindius, Chaberus, Soana, Tynu, CanaPor exemplo, o rio Chaberus era associado ao Ganges, e outras associações podem ser vistas em bibliografia adequada, como o Dicionário de Geografia Grega e Romana, de William Smith

Notavam-se ainda possessões com a bandeira portuguesa, numas ilhas ou arquipélagos de nomes perdidos Parloco, Mocalor e Batuca (há uma referência a este assunto num texto de L. F. Thomaz de 1995 - The Image of the Archipelago...) Uma outra bandeira estava ligada aos "Chiis" (chineses, à época denominados "chins" - talvez se devendo ler "quins").

Bom, não é bem o tema do Atlas Miller, que foi da atenção cuidada de Alfredo Pinheiro Marques, conforme mencionei antes, que me traz directamente a este texto.

Na altura (há seis anos) achei curiosa a forma da escrita, separando de forma algo exótica as palavras, e num caso pode ler-se apenas LIMA PR  IM  V. Rapidamente percebi que se tratava de CLIMA PRIMUM, o primeiro clima, acima do Equador... mas o "C" estava ausente, a menos que fosse entendido como o "C" do crescente azul. E isto era curioso, porque me pareceu que o nome da cidade Lima no Perú pudesse resultar duma confusão num mapa enigmático deste género, suprimindo o "C" em "CLIMA". A história toponímica contada para Lima é completamente diferente, mas também esquece que os mapas portugueses de João de Lisboa atestam uma história muito distinta para a colonização. 

Claro que esta mudança de Clima para Lima é quase tão especulativa quanto as mudanças de clima que se inventam nos dias que correm, mas não tão mal fundamentada.

Agora, o que interessa mesmo é que há uns minutos fiz uma pesquisa para um dos rios que se encontrava no Atlas Miller. Procurei "Palanda" e ao fim de algumas tentativas fui-me deparar com esta proeza geológica nos Andes, resultante certamente de muitas alterações de clima.

O sagrado monte Mandango - "the sleeping Inca guards over Vilcabamba" (Equador).

Portanto, existe mesmo um rio Palanda no Perú-Equador, cujo nome passa a rio Maya-Chinchipe, saindo das vizinhanças de Lima vai parar a um dos afluentes do Amazonas, o rio Marañon.

A formação geológica, o Mandango, com ângulos bem cortados, coloca em dúvida sobre se será completamente natural, apresentando ainda cumes algo piramidais. Parece pouco conhecido, quando comparado com outras atracções locais (há uma outra Vilcabamba no Perú que foi uma das cidades perdidas de Manco Tupac, mas muito menos conhecida que Machu-Pichu).

sábado, 21 de novembro de 2015

Seguindo os pés de Barros (4)

Finalizando a transcrição das origens toponímicas segundo João de Barros:
continuamos de S, terminando em Z.

Optei por não fazer comentários, sob pena de não terminar esta transcrição... onde procurei minimizar erros de interpretação do texto, sendo também para mim claro que Barros comete vários erros, mas não se parece incomodar demasiado com isso. Há sempre duas posturas - as dos que nada fazem, e por isso limitam-se a criticar o que é feito, e os que procuram fazer alguma coisa, sabendo-se sujeitos às falhas de ignorância própria e sobretudo alheia.

Deixo apenas o exemplo de Vila Real, supostamente associada ao santuário de Panóias, algo que João de Barros esclarece, por ter tido acesso ao foral de D. Dinis, que fundará a cidade.

É suposto encontrarem-se inscrições em latim em Panóias, num sítio antes chamado Valnogeiros... porém Barros é claro sobre o assunto:
« (...) aí estão em pedra letras antiquíssimas, antes dos Romanos, que se não podem ler.»

Ora, conforme se pode ver há em Panóias muitas letras latinas que se identificam bem, e até remetem a um certo Calpurnius Rufinus como autor do texto em latim. Segundo a Wikipedia terá havido um pequeno problema com as inscrições no Séc. XIX (e Barros, não podia prever que passariam a ser legíveis passados 3 séculos). Por isso, houve quem tivesse esculpido o restauro... diz-se que apenas numa das inscrições, mas os novos escultores não contariam com este manuscrito, não publicado, de João de Barros. 

Ou seja, o que se poderá ler hoje em Panóias será provavelmente uma falsificação do Séc. XIX, esculpida por cima do que estava escrito antes (e que "não se conseguia ler" - segundo Barros), simulando assim um texto conveniente em latim. Dessa maneira poderia-se remeter a inscrição para tempos romanos, e não anteriores. Calpurnius há muitos, Rufinus menos, talvez o mais conhecido seja o tradutor Tirano Rufino.

Portanto, João de Barros neste, e noutros pequenos apontamentos, mostra como se tem caminhado com pés de barro na propositada negação ou destruição do património nacional.
Haverá desculpas?... Há sempre! A retórica serve a confusão, e quando não há escapatória, passa a afirmar-se um propósito secreto ou místico, para iludir como controlo superior o que foi afinal um simples e mero descuido. 

___________________

S
Sancta Maria del Puerto - vila do Reino de Galliza chamava-se Iria Flavia como diz Volaterrano e Siculo.

Silves - cidade do Reyno do Algarve, parece que lhe chama Ptolomeo Ossonoba.

Salamanca - cidade conhecida, alguns querem dizer que se chamava Sentica, mas Ptolomeo chama-lhe Salmantica e Sentica é Ledesma.

Segovia - cidade no Reyno de Lião, chamavam.lhe Serguntia, ou Secobriga como diz Volaterrano. Antonino a chama Secovia.

Serra Morena - chamava-se Mons Marianus, e Saltus Castalonencis [Castulonencis]

Simancas - chamava-lhe o Itinerário Septimanca.

Sevilha - chamava-se Hispalis do nome do Rey Hispalo que afundou [a fundou]. E os mouros lhe puseram o nome Sevilha, os quais a tiveram por muito tempo, até que lha tomou El Rey D. Fernando, chamado o Sancto.

Soria - cidade na província Terraconense se chamava Numantia como diz Fr. Antonio Venero [Alonso Venero] no Enchiridion fol.42 

Segura - vila na mesma parte chamava-se Guadamor como diz Annio.

Santiago de Galliza - cidade muito conhecida chamava-se antes Compostela quasi te??res Composita, porque despois ali achou o corpo do glorioso apóstolo Sanctiago se fez aquela povoação, que então era piquena e lhe chamaram assi, mas Volaterrano diz que está onde se chamava Flavium Brigentium, e tudo pode ser.

Segre - rio. Chamava-se Sicoris.

Setubel [Setúbal] - vila da Lusitania, diz Anio de temporibus cap. 4º, que foi edificada por Tubal neto de Noé, primeiro Rey de Espanha e dele tem o nome.

Santarem - vila na Lusitania conhecida, tem este nome pouco há desde que a tomámos aos Mouros haverá 400 anos. E dizem que se lhe pôs de Sancta Eiria que aí jaz. E os Mouros lhe chamaram Quibir Castro, que quis dizer Castelo Grande onde eles muito tempo moraram. Os Romanos lhe chamavam Scalabis segundo diz o Itinerário Imo [Ilustríssimo ?]. E antes que fosse tomada aos Mouros se chamava Sanctarem porque Sancta Eiria foi muito antes que os Mouros tomacem [tomassem]  Espanha, dequem o lugar tomou o nome. Aly Julium Praesidium.

Sintra - vila conhecida, seis léguas de Lisboa pelo norte está onde Ptolomeu chama Monte da Lua.

Salobrenha - chamava-se Salobrina, segundo Annio.

T
Tunes - cidade de África a que os Mouros puseram este nome, chamava-se Cartago, Ptolomeo diz que antes disto se chamou Adrumetum [Hadrumetum].

Tarifa - vila na Baetica, uns dizem que se chamava Carteia, outros Barbisola, e Lucio lhe chama Belon. Ptolomeo parece que lhe chama [...] .

Tejo - rio de Lusitania, chamou-se Tagus do nome de um rei muito antigo de Espanha, mas segundo Barroso se chamava Orma, Tagorma.

Tui - cidade de Galliza, junto do Minho, chamavam-lhe Tude e os moradores Tudenses, Imo Tyde [Ilustríssimo Tyde ?] a Tydeo Diomedes e assim se escreve nos livros antigos.

Talaveira  [Talavera ?]- chamava-se Talabrica, assim como Lacobriga, Mirobriga  [ ... ??? ]

Torrijos - vila na Lusitania, diz Siculo que se chamava Turris Julia.

Tortosa - chamava-se Dertosa.

Tangere [Tanger] - cidade em África no Reino de Marrocos, diz Antonio de Nebrija, que se chamava Tigis, e outros dizem Tagosta, mas esta é Targa, pátria Augustini, porem o mais certo é que se chama Hippona do que S. Agostinho se chamou Bispo Hipponen.

Tarragona - diz Annio que Tubal neto de Noé que foi o primeiro rei de Espanha lhe pôs este nome, por ser província de muito gado e que os    chamam ao ajuntamento de gado Tarracona.

Toledo - cidade chamava-se Toletum, e tão bem Carpetana, et Carpetani Populi assim o diz Antonio de Nebrija.

Traslos montes [Trás os Montes] - comarca, não sei qula foi o primeiro que lhe pôs este nome, parece moderno porque está na parte de Galliza, e chama-se assim porque está acima dos Montes do Marão, e Gires [Gerês] que partem esta comarca dantre Douro e Minho.

Trusilho [Trujillo] - vila de Castella, Turris Julia.

Tordesilhas - vila chama-lhe o Siculo Turris Silana.

Touro [Toro]- cidade chamava-se Sarabis como diz Antonio Venero [Alonso Venero ?].

Tamega - rio dantre Douro e Minho, chamavam-lhe antigamente Tamaca, aos do redores Tamacanos.

Tentuguil [Tentugal] - segundo quer o Itinerário chamava-se Eminio porque está dez mil passos de Cuimbra, como ele diz, e por ali caminhavam de Cuimbra para o Porto.

Torres Vedras - vila na Lusitania, quer dizer velhas a diferença de novas, porque os godos chamavam por velho vetro, assim como Ponte Vedra, Monvedro, alguns querem dizer que se chamava Turduli veteres, porque a província aonde está assim se chamava, como diz Ptolomeo, e Plinio, e Strabo, o selo que esta vila tem diz Sigilum oppidi de Turribus Veteribus["Selo da cidade de Torres Velhas"]

U (V)
Ubeda - vila na Espanha Tarraconense. Antonio de Nebrija cuida ser Almeria, o que não parece porque Volaterrano lhe chama Abdera e Siculo diz que parece aquilo a que César nos Comentários chama Ulla.

Verga - chamava-se Brigetium

Urgel - em Aragão, diz Volaterrano que se chamava Urecsa, mas Siculo lhe chama Ilergetum.

Vouga - rio da Lusitania, chamava-lhe Ptolomeo Vaccus, ou Vagus

Vilebe - em Catalunia chamava-se Vicus Aquarius.

Vaena [Baena]  - cidade na Baetica chamava-se Julia Regia, como dizem Siculo, e Volaterrano. e o que viram aí em pedras antigas escritas.

Valhedollid [Valhadolide] - todos concordam que se chamava Pincia. Vallis oletana a Junioribus dici solet.

Vila Nova de Cerveira - junto ao Minho ao sul, chamavam-lhe Cervaria.

Viseu - chamava-se Visontium na Lusitania. Volaterrano.

Viscaia [Biscaia] - (olim) Celtiberia, Viscainha: Celtiber.

Viana - vila de Portugal na foz do Lima, parece que lhe chama o Itinerário Salaniana, mas Florião do Campo não lhe muda o nome em estoutra história verisimil [verosímil], dizendo que a edificaram os Franceses de Viana de França.

Villa Real - em Portugal é nome moderno que lhe pôs El Rei D. Dinis que a fundou entre dois rios e por isso dizem alguns que se há-de chamar Rial, mas eu vi o foral de sua fundação que lhe chama Villa Real, sabia-se. Chamar aquela terra Panoias de umas antigualhas que estão dali uma légua onde chamam Valnogeiros, e aí estão em pedra letras antiquíssimas, antes dos Romanos, que se não podem ler. 

Valensa [Valença] - retém o seu nome antigo, e é edifício dos Gallos que a edificaram â imitação de Valença de França, como Diana e Baiona.

X
Xires dilla fronteira [Xerez de la Frontera]  - se chamou Munda. Siculo.

Xativa - no Reino de Aragão, se chamava Setabis, como diz Annio.

Z
Zamor - cidade de África, chamava-se Assamor como diz Florião do Campo,.

domingo, 8 de novembro de 2015

Seguindo os pés de Barros (3)

Continuamos a sequência de origens toponímicas feita por João de Barros:

agora segue da letra M até R (apenas com uma entrada nessa letra).
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M
Minho - rio mui conhecido que parte agora o Reino da Galliza do de Portugal, chamão-lhe todos Minius.

Mértola - vila de Lusitania, chamou-se Julia Mirtilis.

Mondego - rio que passa por Cuimbra, todos lhe chamam Munda, mete-se no mar em Buarcos. Junto deste rio havia uma cidade chamada Munda, que não sabemos hoje onde é. Strabo [Estrabão] no livro 3 de Situ Orbis lhe chama Muliades, donde parece que vem Mondego e não de Munda. Mondego inter montes dego id est curvo, porque donde nasce, que é na Serra da Estrella, sempre corre antre montes e serras muito altas até cerca de Cuimbra, e eu o vi com olhos indo para a cidade da Guarda.

Malegoa [Málaga] - dizia Aretro que se chamava Salduba, mas Ptolomeo lhe chama Malica

Murcia - na Baetica diz Aretro que se chamava Murgis.

Marquena [??] - vila na Boetica, diz o Siculo que se chamava Ategua, da qual fala César nos Comentários.

Mantagis [?? montargil] - castelo na Lusitania chamava-se Magna Calabria segundo o diz Siculo.

Montayo  [? Moncayo] - em Galiza chamou-se Mons Caci, porque nela morou Caco, que Hércules matou.

Moura - vila na Lusitania, Morum.

Monviedro [Murviedro] - diz Antonio de Guevarra por longos argumentos que se chamava Saguntum, onde Annibal teve cercada a gente daquela vila, e lhe resistiram animosamente, sem nunca se lhe quererem dar, e estiveram muito tempo cercados donde saiu o adágio da fome saguntina, e agora lhe chamam Monvedro que significa monte velho ou muro velho, alguns tiveram que Saguntum fosse Çamora [Zamora] mas esta é a verdade que todos têm.

Medina - é vocábulo arávico [arábico], e quer dizer vila ou cidade, e tem o acento na última syllaba, e por este nome ser comum o puseram os Mouros a muitos lugares assim como a Medina del Campo de Rio Seco, Sidonia, Celi, e deste modo os Gregos põem este vocábulo polis, que quer dizer cidade, com adição de outro nome, assim como Constantinopolis, Heliopolis, Andinopolis, e assim os Alemãis põem o vocábulo Burg, que quer dizer cidade, vila ou castelo, tirado do Grego Pyrgos [torre], assim como Lucemburg, Friburg, Braudeburg. De maneira que Medina é nome comum que se conhece pelo adjunto, e estas medinas de Castela tinham outros nomes antigos, e estes lhe puseram os Mouros e ainda em este Reyno há lugares chamados Almedina, assim como em Cuimbra a porta dalMedina que quer dizer porta daVila, do que chamam os Mouros a uma enfermidade dos pés como bichos, como nascem no Brazil, uma meden que quer dizer vea servil, a qual os Gregos chamam crasanculum que quer dizer serpentina.

Mancha de Aragão - se chamava Espartaria.

Munhecar [Almuñecar] - na Bética, chamava-se Munda, segundo Annio.

Moos [Mós] - vila detrás dos montes [de Trás os Montes] entre Freixo e Atune, tem um muro muito forte e antigo, e na porta da vila uma pedra com duas mós, e por isto se chama assim.

Monção - vila antiga de Portugal junto do Minho, tão bem parece que de Caco lhe ficou aquele nome, posto que o não vi escrito.

Malega [Málaga- vila na Andaluzia, do muito melg'o [melgaço] nela, um se chamava melaria, outros lhe chamavam Meraria, mas Antonio chama-lhe Malica, e parece que Meraria deve ser outra, Anio chama-lhe Salduba.

Madrid - chamava-se Mantua Carpentanea segundo Siculo.

Marialva - alguns dizem que se chamava Mary arua que é "Campos de Mário", vila é na Lusitania conhecida, e tem ali pedras antigas onde vi letreiros que dizem Marius. E uma era muito grande, a par de uma casa feita de pedras, todas que tomam toda a largura da parede.

N

Nóbrega - vila em Portugal, ou Castelo duas léguas de Bragua [Braga]  chamava-se Juliobriga, como diz Antonio e é dos edifícios de Brigo Rey.

Nemon [??? - vila na Lusitania sobre o Douro, vinte léguas do mar, parece que lhe chama Ptolomeu Nemobriga e é povoação alta, forte, e antiga segundo dos edifícios parece.

Neva [Neiva]  - Castelo. O rio chamava-se Nebis.

Navara [Navarra - Reino, chamava-se Celtiberia, e os povos Celtiberos, ou Celtas.

Oviedo - cidade na parte de Terracona chamava-se Teva segundo Volaterrano e Siculo.

Oria - cidade, Orium.

Oropisa - era Orospeda : Annio.

Osuna - chamava-lhe Ursaona.

Osma - diz Ptolomeu que se chamava Villuca, mas Siculo lhe chama Uxunia e diz que assim o sente Plinio.

Orense - cidade em Galliza junto do Rio Minho, chamava-se Auriense na Chancelaria de Roma, e diz Siculo que se chamava Olvea, outros dizem que se chamava Ansiloquia de um grego que a fundou, e os Romanos lhe chamaram Aqua Calida, por as caldas que tem, e agora Orense, do ouro que nela se cava, os Godos lhe chamaram Ounes.

P

Pombal - vila na Lusitania sete léguas de Coimbra, para o poente tem Castelo em monte alto, e pela conta do Itinerário parece que se chamava Celium, porque por ali faz o caminho para Braga e não por o Rabaçal.

Pamplona - cidade de Navarra chamou-se Pompeleia quasi cidade de Pompeio, porque ele a edificou, segundo Volaterrano.

Palencia - chamava-se Palancia.

Ponte de Lima - vila de antre Douro & Minho, chamava-lhe Ptolomeu Forum Limicum, e os moradores dali chamavam-se Limici. Mas o Itinerário parece que lhe chamava Limia, este nome parece que se lhe pôs por ela estar junto daquella ponte no Rio Lima que é mui grande, e sumptuosa das maiores de Espanha.

Portugal - é nome moderno que se não escreve pelos antigos como já disse, e tomou novo nome do Porto e de Gaia, de quem este nome pôs primeiro há muitas opiniões como direi.

Ponte Vedra - vila de Galiza chamava-lhe o Itinerário Ponte Venis.

Povoa de Vazi [Póvoa de Varzim- vila do termo de Barcellos parece que lhe chama Ptolomeu Volubriga, posto que ele errou o sítio de Galliza e dos rios dela. Parece edifício de Barcino, capitão de Cartago.

Pinhel - vila na Lusitania, parece que lhe chama Ptolomeu Pinetum.

R

Rosis - vila de Aragão, chamava-se Roda.


domingo, 1 de novembro de 2015

O Carmo e a Trindade (3)

Passam hoje 260 anos sobre o Abalo do Marquês...
A poucas centenas de metros do Carmo ou da Trindade, em pleno Bairro Alto, podemos ler
NESTA CASA NASCEU AOS 13 DE MAIO DE 1699
SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO
MARQUEZ DE POMBAL
A QUEM A CIDADE DE LISBOA DEVEU A SUA
REEDIFICAÇÃO DEPOIS DO TERREMOTO DE 1755
CONSAGRANDO POR ESTE FACTO A SUA MEMÓRIA
* A VEREAÇÃO DE 1923 * 

O que se diria aos senhores vereadores de 1923 ?

PARA UMA CASA ANTERIOR A 1699, 
RESISTIU MUITO BEM AO DEVASTADOR TERRAMOTO !!!

Não é fácil perceber se foi só ingenuidade, fidelidade canina, ou mera incompetência, que levou os vereadores lisboetas de 1923 a apontar intacto o berço do herói maçon e republicano. 

O leitor pode apressar-se aqui a procurar uma justificação, esquecendo-se que não lhe compete dar nenhuma justificação. Isto acontece demasiadas vezes. O próprio em vez de interrogar, procura ser ele a justificar.
Ora, deixemos as coisas nos seus devidos lugares. 
É ou não é estranho ter uma casa intacta de 1699 apresentada como berço do leãozinho, se em 1755 é suposto ocorrer um terramoto que deita tudo abaixo?
Se é estranho, quem deveria ter reparado deveria ser Afonso Costa e os seus vereadores lisboetas de 1923. 
Se os vereadores não acharam necessidade de qualquer referência a não se tratar da casa original, é porque muito naturalmente tinham indicações de ser mesmo a casa original... que foi pouco ou nada atingida pelo terramoto e incêndios.
Porquê? Porque era a casa berço do Marquês? 
Não, porque simplesmente pouco ou nada aconteceu à grande maioria das casas do Bairro Alto.


Investigação de Pinho Leal
Consultando a obra de Portugal Antigo e Moderno, de Augusto Pinho Leal, a paróquia de Santa Catarina tinha 1800 fogos antes do abalo, e 1778 depois dele... de onde se deduz que só dois edifícios desapareceram nessa paróquia. Não devemos assim estranhar que a casa do Marquês não tivesse caído.

Pinho Leal apresenta números muito precisos, provavelmente resultantes dos registos das paróquias a que teve acesso. Assim, dá-nos um retrato muito claro do antes e depois de 1755, sendo perfeitamente claro que a cidade foi afectada de forma muito desigual, e que isso nunca seria consequência do terramoto, e só se pode ter ficado a dever aos incêndios.

Antes do Terramoto de 1755 tinha Lisboa:
 39 609 fogos
158 400 habitantes

e por consequência do sismo ou abalo ficou com
 30 694 fogos
122 700 habitantes

ou seja, perdeu 8 915 habitações e 35 700 habitantes, por consequência do Abalo do Marquês.
É uma proporção de perda de 22% em casas e habitantes.

Mas vejamos o registo pelas 41 freguesias/paróquias, que Lisboa tinha antes do abalo.

01. St. Basílica Patriarcal - De 500 passou a 400 fogos.
02. Santissimo Sacramento - De 613 passou a 180 fogos.
03. São Bartolomeu - De 140 passou a 50 fogos.
04. Santa Engrácia - De 1400 passou a 1262 fogos.
05. Nª Srª Mártires - De 1600 passou a 6 fogos.
06. Santa Isabel - De 2600 passou a 2415 fogos.
07. Santa Maria Maior - De 896 passou a 150 fogos.
08. Santa Marinha - De 300 passou a 165 fogos.
09. Santa Justa - De 1940 passou a 361 fogos.
10. O Salvador - De 266 passou a 300 fogos.
11. Nª Srª das Mercês - De 900 passou a 807 fogos.
12. Stª Cruz do Castelo - De 322 passou a 315 fogos.
13. Santos o Velho - De 1787 passou a 1835 fogos.
14. S. Vicente de Fora - De 600 passou a 552 fogos.
15. S. Thiago - De 120 passou a 60 fogos.
16. Nª Srª da Ajuda - De 600 passou a 2123 fogos.
17. Stº André - De 140 passou a 260 fogos.
18. S. Jorge - De 58 passou a 72 fogos.
19. S. Pedro de Alfama - De 248 passou a 1500 fogos.
20. S. Christovão - De 420 passou a 236 fogos.
21. S. José - De 5000 passou a 6000 fogos.
22. S. Mamede - De 207 passou a 25 fogos.
23. S. Paulo - De 1000 passou a 980 fogos.
24. Stº Estevão - De 1000 passou a 960 fogos.
25. S. Martinho - De 30 passou a 50 fogos.
26. S. Sebastião da Pedreira - De 900 passou a 862 fogos.
27. Nª Srª Conceição - De 900 passou a 84 fogos.
28. Nª Srª Pena - De 1400 passou a 1300 fogos.
29. Stª Catarina - De 1800 passou a 1778 fogos.
30. Nª Srª Socorro - De 900 passou a 830 fogos.
31. S. Thomé - De 300 passou a 250 fogos.
32. S. Nicolau - De 2308 passou a 575 fogos.
33. Stª. Maria Magdalena - De 800 passou a 4 fogos.
34. S. Lourenço - De 150 passou a 143 fogos.
35. S. Miguel - De 870 passou a 666 fogos.
36. S. João da Praça - De 500 passou a 10 fogos.
37. S. Julião - De 1960 passou a 30 fogos.
38. Anjos - De 2140 passou a 2117 fogos.
39. Nª Srª da Encarnação - De 2000 passou a 972 fogos.
40. Nª Srª do Loreto - freguesia de todos os italianos.
41. Chagas de Jesus - freguesia dos navegantes da carreira de Índia e Brasil.

Diz Pinho Leal sobre as freguesias que aumentaram de população (a verde, por oposição às mais afectadas, a vermelho):
Note-se que as freguezias que augmentaram de população depois do terramoto, é porque, dos bairros que mais sofreram, ficando ruas inteiras completamente destruídas e desertas, se mudaram os seus habitantes para os outros, a que o terramoto tinha causado menos destruições.
Como podemos ver houve bairros arrasados enquanto os vizinhos passavam incólumes. A palavra fogos é aqui apropriada, porque o problema terão sido apenas os incêndios.
Nomeadamente, vemos como Alfama se aguentou e recebeu população migrante de outros bairros destruídos (não foi apenas a Ajuda que serviu como zona de refúgio).
Vemos ainda como o bairro de S. Paulo, que teria sido mais afectado pela subida de águas do Tejo, como referia Joaquim José Mendonça, teria afinal perdido apenas 20 habitações.

Um relato completamente inconsistente com toda a enfabulação pseudo-científica que se foi construindo em torno de um acontecimento falsificado em quase todos os detalhes.

Para corolário glorioso da pseudo-ciência dos terramotos e maremotos inventados, fica-nos a sólida casa de berço do Marquês, e a sua simbólica data de nascimento - o 13 de Maio, que já aqui tínhamos referido a propósito da dificuldade em erguer a sua estátua em 1917 na grande rotunda lisboeta:
A 1ª pedra foi colocada por duas vezes, em 15 de Agosto de 1917 e novamente a 13 de Maio de 1926. Só oito anos depois a estátua era colocada sobre o fuste (12 de Dezembro de 1933) e inaugurada em 1934.