Alvor-Silves

domingo, 24 de maio de 2015

Princípio Antrópico

Entre as diversas coisas que podem ser encontradas neste blog, e que contemplam uma História mais antiga, primordial, está a consideração básica de que o Universo evoluiu para formar a inteligência, porque sem a existência de seres inteligentes, um universo de escória e calhaus nunca ganharia consciência de si (ver Arquitecturas (3)).
Acabei, entretanto, por encontrar a mesma reflexão com o nome de
e que parece ter sido debatida desde os anos 1950, 60 e 70 (J. A. Wheeler, R. Dicke, J. Barrow, F. Tipler, B. Carter, entre reconhecidos físicos e matemáticos).
Isto é para mim pouco relevante, mesmo. Não procurei, nem me interessa saber, se o assunto teve, tem ou terá mais ou menos adeptos, e por que razão. No entanto, terá interesse para o leitor saber onde poderá encontrar outros autores com trabalhos publicados, e com ideias semelhantes.

Este "princípio antrópico" ao colocar a inteligência como objectivo da evolução universal, tem o inconveniente de ir contra a religião darwinista implantada, e sofre críticas primárias (p. ex.  dererummundi.blogspot.pt), mais próprias de quem não faz a mais pálida ideia do que está a falar.

Assim, é escusado fechar os olhos a que estas coisas suscitam paixões contrárias, com dedicadas legiões de fundamentalistas religiosos ateístas, promotores do niilismo total, até porque vêem este princípio antrópico ligado a uma ideia de desenho inteligente, ou seja, a uma certa perspectiva criacionista.
Como as minhas considerações não tiveram nada a ver com o "criacionismo divino", este chamado "princípio antrópico" só coloca o homem no centro, se admitirmos que a única inteligência possível é a humana.
Ora apesar de ter já tornado claro (p.ex. de-natura-deorum.html) que a inteligência artificial é uma impossibilidade, pelo simples absurdo de que uma máquina finita não pode conceptualizar o infinito (ou outras noções abstractas), isto não invalida que uma inteligência semelhante à nossa não se possa desenvolver noutros contextos, biológicos, ou mesmo cibernéticos.

Equivalências
A cegueira fundamentalista religiosa do ateísmo moderno, não conseguindo negar este princípio antrópico, onde o Homem aparece como objectivo da evolução, acusa-o de ser uma "verdade de La Palisse", como se a afirmação darwiniana da "sobrevivência dos mais aptos", não fosse também ela uma verdade de La Palisse, mas esta já aceite sem pruridos.
Depois, indo a truques baixos, vai chamar da tumba o positivismo de Karl Popper, para poder negar as verdades "auto-evidentes", que não são consideradas científicas, porque não são susceptíveis de falsificação. Esta "ciência da falsificação" convém a qualquer corja falsária, que recusa à aritmética a dignidade falsária da ciência, mas não prescinde dela para as continhas que dão jeito. 

O leitor racional deve tanto quanto possível afastar-se dos feiticeiros e seus aprendizes, e procurar entender que há até razões críticas de ambos os lados.
De facto, perante a constatação de que o Homem é o resultado improvável de uma evolução universal, é igualmente objectivo dizer que foi causa, ou que foi consequência, dessa evolução.
Porquê?
Foi causa, porque sem inteligência, este universo nunca teria nenhum observador inteligente, o que seria equivalente à sua inexistência. Pensar na existência de um universo sem seres inteligentes, é simplesmente esquecer que não há observado sem haver observador. No entanto, o nosso Universo é suficientemente abrangente para admitir o raciocínio de tolos dispostos a negar tudo. Se nenhum universo tivesse admitido inteligência, simplesmente não teria existido nenhum universo, por falta de observador. Os que negam isto, pensam nos seus universos inconsistentes perdidos, mas só o podem fazer porque foram salvos num universo consistente que os acolheu, para sequer poderem pensar nisso.
Assim, por mais absurdas e irracionais que sejam teorias, com os seus big-bangs e relatividades da moda, encontram espaço no imaginário de hoje para falar de um passado sem pés nem cabeça. O nosso passado só fez sentido tendo em vista uma consistência que nos trouxe a este presente. E é nesse sentido que também podemos nos encarar como consequência do passado, e não apenas como causa. O caminho que traçamos do presente para o passado tem que ter consistência, independente de uma nossa existência pré-assumida. 
Numa limitada perspectiva determinista, que vê o futuro condicionado pelo passado, é precisa essa consistência racional mínima para o caminho saído do "nada". Numa alargada perspectiva quântica, as possibilidades do passado só fizeram sentido pelo próprio resultado futuro. Ou seja, se o caos fosse meramente uma probabilidade acéfala, o único futuro que permitira perceber e assegurar a existência do passado, seria o que lhe pudesse ver o traço, invertendo o caminho. O que isto significa é que um passado indetectável, a partir do presente, seria igualmente equivalente a um passado inexistente. 
Para um niilista, onde o caos não tem ordem, a história é qualquer... é uma história da carochinha, e é definida pela liberdade de pensamento da moda dos mandantes inspirados, nunca interessando perceber de onde vêm as ideias do pensamento, que isso só atrapalha as certezas cegas da ciência moderna.

Dimensão 3
No referido artigo da wikipedia, fazem-se algumas considerações sobre a ordem do nosso universo, indo ao ponto de Barrow e Tipler sugerirem que "com grande probabilidade, a nossa espécie é a única inteligente na Via Láctea": An entire chapter argues that Homo Sapiens is, with high probability, the only intelligent species in the Milky Way.
Presumo que essa consideração é meramente estatística, tendo em atenção a necessidade de estar suficientemente afastada do centro galáctico, e dentro dessa hipótese considerar condições ideais para o desenvolvimento de vida com atmosfera, etc... acabam por ser tão reduzidas ou tão alargadas, quanto a vontade de distorcer estatísticas.

Porém, o mais interessante é a consideração sobre as 3 dimensões.
Num pequeno gráfico são analisadas as possibilidades de existirem mais dimensões, não apenas espaciais, mas até temporais. Foi concluído que universos com dimensões superiores a 3 seriam instáveis, não permitindo nem estabilidade atómica, nem mesmo ao nível das órbitas planetárias. A única possibilidade para evitar essa instabilidade seria aumentar também as dimensões temporais!

Aumentar as dimensões temporais é algo que não imaginamos facilmente, mas seria equivalente a admitir a possibilidade de varrer universos 3D simultaneamente. Ou seja, em vez de vermos apenas o futuro de uma maneira, veríamos todas as suas variações. Porque se o tempo não implicar apenas um desfecho, ficamos com um rasto de possíveis desfechos. O tempo ser único é que determina a noção de verdade e falsidade. Por isso, aumentar as dimensões temporais corresponderia a universos onde a verdade não se impõe contra um absurdo.  De certa forma, convivemos com duas dimensões temporais quando somos levados pela imaginação, pelo sonho, para um outro tempo e outra realidade, mas mantemos o regresso a um único tempo, o tempo em que estamos no "acordo", em que acordamos com os outros.

Abaixo de 3 dimensões aparece "demasiado simples", ou seja seriam universos onde não se manifestaria nenhum caos, e tudo seria demasiado previsível, não podendo levar a nenhuma inteligência. 
Por exemplo, se pensarmos num ser a 2 dimensões, simplesmente não poderia alimentar-se... já que o canal do estômago separaria o animal em duas partes (basta fazer um desenho de um boneco com o canal da boca ao ânus, para perceber que ficaria dividido em duas partes)!

O caso sem tempo corresponderia a um universo estático, congelado, e tal coisa pode ser encarada num agregado 3D+1T = 4D concluído. A simetria de possibilidades deveria ser mais evidente, e desconheço a razão de invocar os hipotéticos taquiões no caso 1D+3T... mas também não há grande interesse nesse assunto.
O único interesse adicional é a informação de que a luz, e todas as ondas de rádio funcionariam apenas em dimensão 3, e de certa maneira a ideia que a estabilização das constantes físicas sugere a convergência para um universo físico que não será de índole caótica. Isto é uma das ideias que reforça a adequação do universo à nossa compreensão facilitada dele.

Sinais do Tempo
Por razões que não interessam, fui "forçado" a pensar em várias dimensões espaciais, temporais, e não apenas finitas, como as consideradas acima. Nesse deambular interrogativo, é fácil perceber os caminhos onde o caos irá imperar... como por exemplo, quando assumimos "pretensos paraísos" onde somos levados para situações sem referencial de verdade. Pretensos paraísos, porque sugerem libertações de restrições temporais, podendo fixar ou revisitar momentos bons, mas todas essas ofertas têm um contraponto pouco evidente, mas claro... desacordo, isolamento, por afastamento de uma verdade.

Apesar da imaginação nestes assuntos poder parecer grande, não vi neste caso a consideração do sinal do tempo. E até ao momento em que tive que pensar nisso, de facto não me lembrara do problema. 
As ideias de futuro, as concepções futuristas, dificilmente podem ser explicadas do passado. Não é por razão do pequeno-almoço, ou de um bom almoço, que nos surgem ideias futuristas. É mais fácil que surjam de forma "inexplicável", por inspiração num sonho, ou por reflexão num simples detalhe. Seja como for, são ideias que, inexistentes num passado, só surgem no presente tendo em vista um certo futuro. Nesse sentido podemos vê-las como vislumbre de um certo futuro, como uma qualquer outra visão, mais ou menos racional. 
Se sobre o nosso passado, dificilmente podemos pensar em mudar as coisas, as pressões para seguir um ou outro caminho futuro, podem ter uma razão bem simples. Porque, apenas escolhendo um futuro, haverá múltiplos futuros que serão omitidos, obliterados. 
Ora, admitindo o princípio antrópico mais forte, não estamos apenas em um dos possíveis universos, estamos no Universo consistente que permite conceber os restantes, mas não com a mesma validade. Por razão de verdade, há o tempo único da realidade, e o resto é imaginário. O imaginário é a componente que escapa à realidade construída e definida pelas restrições consistentes do passado. E assim é nesse campo que se joga o futuro... porque uma certa imaginação leva a um futuro e outra ignora-o ou suprime-o. O que para nós será futuro, não significa que não seja em certa medida, um dos múltiplos resultados fundados e definidos pelo passado.
Ora o casamento entre o passado e o futuro faz-se a cada presente, mas sem poligamia... e por isso os futuros que se mostram na imaginação são convites à construção de uma realidade, tendo em vista esse futuro, normalmente apelativo ou assustador para o visitado, pela ideia de futuro que se lhe apresenta. Quanto mais claro se apresentar esse futuro, mais essa ideia o condena um determinado desenrolar previsto, e fará sentido se se conjugar com o passado que conhece, mas será uma completa ilusão infernal, se ao puxar a cabeça as tentações fizerem esquecer os pés assentes na Terra, pela ordem do passado. 
Por razões de desvios, de mentiras cimentadas, o próprio passado consistente só está completamente definido em consistências físicas, e não em escritos ancestrais. Há o que tem a flexibilidade de ser encaixado e modificado - e aí cai praticamente toda a história da carochinha mal contada, e o que dificilmente pode ser modificado, pelos registos de verdadeira ciência. 

Quando chegamos a momentos cruciais, podemos ou não ter a ideia da colisão entre mundos que vão ficar condenados à parte imaginária, ignorados pelo mundo que será realidade. Nessa colisão, que define sempre o presente, o maior conhecimento da ordem científica, estreitará cada vez mais o passado, e com isso limitará cada vez mais o futuro. Assim, do futuro surge o habitual caos pronto a reformular tudo, a arrasar o passado, para um vislumbre de futuro risonho, mas limitado. Nesse caso, a agitação das cabeças faz levantar a temperatura a valores escaldantes. Enquanto pela imposição restritiva de um passado, as possibilidades futuras procuram ser condicionadas exclusivamente por essa ordem conhecida, que tenta manter tudo previsível, congelando as cabeças, e estreitando as possibilidades futuras. 
Escusado será dizer que é inevitável um compromisso entre o caos e ordem, mas isso nem sequer será preciso definir... o piloto automático já foi ligado (pois), e resta assistir e procurar compreender.

sábado, 2 de maio de 2015

Uma ilha chamada Brasil

Deixei este blog durante mais de dois meses sem qualquer publicação.
Não foi a primeira vez... por exemplo, entre Outubro de 2011 e Março de 2012, não publiquei aqui nada.
Para além de afazeres pessoais, que não interessam ao caso, só me motiva escrever se tiver algo de novo para dizer, que não seja um simples repetir do que já foi dito, e acima de tudo quando considero que estou nalgum caminho com interesse, que me interesse.

Quando parei em 2011 foi pelas mesmas razões. Tinha chegado ao fim de um caminho, e de certa forma estava algo confortável com as respostas encontradas. Mantive o "canal aberto", porque não gosto de encerrar portas, e sabia intimamente que ainda havia coisas a esclarecer.
Simplesmente, não estava a ver como fazê-lo, e evito ao máximo estar a "escrever por escrever"... aliás, nunca tive nenhum propósito de cativar ou fixar leitores, tanto quanto procurei não afastar nenhum comentador.

Convém entender que nos alimentamos do desconhecido.
Manter o desconhecido é tão importante para a sanidade do espírito, quanto a água é para a sanidade do corpo.
A situação parece contraditória, mas o problema é evidente.
O indivíduo pode colocar um objectivo acima dos outros, mas esse objectivo só se mantém importante até ser atingido. Atingido esse objectivo, a pessoa precisa de colocar imediatamente nova fasquia, e não concebe que pode chegar a um ponto onde não há mais fasquias.
Ninguém quer ter as respostas a todas as questões.
Só quem não pensou no assunto é que pode imaginar que tal coisa é positiva.

Quando acabamos de ler um qualquer texto, por mais revelador que seja, ninguém quer pensar que tudo o que havia para saber acaba ali. Muito pelo contrário, o que pensa é no que fazer de seguida... mas a questão é simples - uma vez esgotados todos os objectivos, qual o objectivo seguinte? Quando a gula tudo esgota, nada resta.
Por isso, a última situação que alguém deseja é o conhecimento ou o poder total. Se tem essa ambição é porque simplesmente está demasiado longe de o conseguir, e por isso tem muito desengano que trilhar. Pode trilhar à vontade por esse beco sem saída, porque quando chegar próximo de o perceber, o pânico será tal que colocará todos os travões a fundo, e procurá a última gota de água de imprevisibilidade num enorme deserto onde se quis meter, esquecendo que areia sem mar não é nenhuma praia.

Evitei escrever sobre os bastidores destes escritos, porque sempre considerei que o principal problema da mensagem era o mensageiro. As pessoas focam-se demasiado umas nas outras, e não entendem que o problema fundamental está em encarnarem ideias, e as ideias não são de ninguém.
A principal fonte de medo que temos não resulta da nossa impotência, resulta da nossa potência.
Quando nos convencemos da nossa impotência, por exemplo, por motivo de doença, aceitaremos tratamentos a que de outra forma fugiríamos a sete pés, e até veríamos como tortura.
O medo não incide apenas sobre o que vai acontecer, incide essencialmente sobre a ideia de impotência em evitá-lo. As pessoas armam-se, confiando que uma arma lhes dará uma potência que não têm. Porém contra qualquer potência, levanta-se uma potência maior, e por isso é uma ilusão circunstancial e aparente. Procurar uma potência total é um caminho para um deserto, em que só tarde o indivíduo percebe que se perdeu sozinho no labirinto dos seus intermináveis medos.

Assim, as coisas são suficientemente intrincadas, porque nem podia ser doutra forma.
Os que caem na ideia obtusa do self-made man, imaginam-se por momentos deuses, que esqueceram a massa que os pariu do nada. E essa massa cobra caro quaisquer ilusões. Essa massa, não é palpável, mas tem um nome - caos.
Assim, o mesmo caos que faz acreditar a uns serem o alfa-e-ómega universal, se acidentalmente os ergue ao topo, também acidentalmente os pode fazer estatelarem-se no chão, esmagados pela sua insignificância objectiva que, afinal de contas, igual à dos demais.

Ora, se inicialmente comecei a escrever aqui por constatar uma monumental farsa histórica, que me surpreendeu, o problema principal seguinte era perceber de que forma arranjava um sentido para tudo isto. E "tudo isto" não era só a questão histórica, algo lateral, era essencialmente cair nas velhas questões filosóficas. Por isso este blog acabou por se transformar, em parte, numa manifestação desse desconforto filosófico. Com uma diferença principal... se as minhas deambulações anteriores eram privadas, aqui passariam a públicas. Assim, acho que acabei por beneficiar dessa decisão pessoal, já que ao tornar as coisas públicas, fui forçado a manter uma objectividade, e esquecer por completo outros factores subjectivos.

No entanto, como os factores subjectivos pesaram no que aqui foi escrito, para melhor compreensão do blog, seguem alguns apontamentos que omiti ao longo destes anos.

Não voltei ao Algarve desde que passei uma semana de férias em Lagos em 2009... e entretanto já andei por quatro continentes.
Assim, chamar a este blog "Alvor-Silves" acaba por ser algo caricato, porque creio que nunca passei por Alvor, nem por Silves, das várias vezes que fui ao Algarve.
Algum tempo depois, no início de Outubro de 2009, ao olhar para um antigo mapa de Reinel, disponível na internet com uma grande resolução, reparei numa pequena marca circular... com o nome "Brasil". 
A questão era simples... o que fazia uma ilha Brasil perto da Irlanda?
Sobre esse assunto - As Ilhas Míticas do Atlântico - um trabalho de Rui P. Martins (Quintus), foi do pouco que encontrei escrito sobre o assunto, à época, e não mudou muito.

Foi essa ilha chamada Brasil que me puxou para o desconforto de recusar o engano histórico.
Desconforto, porque o mundo é bem mais simples quando acreditamos no que os outros nos dizem.
Durante os meses seguintes, até Dezembro de 2009, procurei fazer um conserto das informações históricas contraditórias, com uma teoria que finalmente fizesse algum sentido, pelo menos para mim.
Quis perceber absurdos gritantes, como o de chegar a Timor, Malucas, e ilhas circundantes antes de 1514, sem admitir a existência da Austrália... até que os holandeses a avistassem por volta de 1600, e serem precisos mais 150 anos para Cook cozinhar com Sandwich o "descobrimento" da parte restante da Austrália, renomeando a Nova Holanda.
Por isso, são certamente os australianos mais atentos, como Peter Trickett, os que mais se intrigaram com este desprezo mirabolante do sem-número de navegadores que passaram ao lado da sua ilha-continente, por simples decreto histórico político-académico.

Apesar de ainda ter feito um contacto para divulgação jornalística das conclusões, rapidamente percebi o óbvio - se o assunto estava submerso, não era porque não fosse conhecido... havia informação que deixava suficientemente claro que o assunto estava propositadamente enterrado há séculos. Por isso, deixei completamente de lado o caminho académico, ou por editoras, bem vigiadas, e optei por usar a internet como abordagem de divulgação.

A minha ideia era simples. Havendo um razoável número de pessoas para quem as histórias dos descobrimentos não colassem bem, o que tinha para apresentar haveria de suscitar algum impacto. Procurei perceber qual seria a eventual reacção nas redes sociais - à época ainda mais centradas nos blogs do que no facebook. Bom, e como é óbvio, não havia propriamente muita gente interessada em discutir história, e ainda menos gente receptiva a teorias que não fossem as suas.
Acabei por escolher um blog envolvido numa polémica de ocasião, sobre Afonso de Albuquerque

A esse propósito, cumprem-se em Dezembro de 2015, quinhentos anos sobre a morte de um mítico símbolo da expansão portuguesa no Oceano Índico, demitido do cargo de vice-rei em 1515, quando conquistara o Suez, e pedira autorização real para invadir a sagrada Meca, com a finalidade de a trocar pela sagrada Jerusalém.
O excesso de sucesso militar do César do Oriente terá sido o seu principal problema em Lisboa, e pude saber que ainda hoje ecoam nos bastidores rivalidades familiares com cinco ou mais séculos.
Se em 1998 houve vontade de celebrar Gama, a partir daí, tirando alguma comemoração de Cabral em 2000, mais entusiasta festa brasileira que portuguesa, mergulhou-se num longo esquecimento.

Bom, entre 13 e 31 de Dezembro de 2009 publiquei 6 textos com alguns factos e conclusões, mas como o tema "história" foi imediatamente considerado inconveniente no tal blog (levando até à demissão de quem escrevia sobre o assunto), não pensei fazer mais nada de especial. O tema parecia cercado de todos os lados, e limitar-me-ia a este blog como espaço aberto a outras discussões.
Sobre o eventual impacto da divulgação que fiz, conheço pouco de objectivo, relatável a terceiros.

Nesse período, alguém fez a gentileza de me fazer saber de uma reunião de bastidores, que informara esses presentes sobre a "revolução dos cravos" antes de ocorrer... e de que a mesma campainha tocara naqueles dias. Era um tempo complicado, em que Sócrates alegava que "o mundo mudava a cada 15 dias", e Cavaco alarmara o país com um discurso de ano novo em que falara de "situação explosiva". Mas enfim, a crise financeira começava a instalar-se e um grande descontentamento estava naturalmente associado. Uma coisa é a percepção pessoal, outra coisa são dados objectivos, mesmo que implicitamente sugeridos por terceiros.
Lembro-me de um evento curioso na "minha televisão". Na tarde de 4 de Janeiro de 2010, vejo na SIC duas senhoras, uma escritora de cordel, e outra mais conhecida por ser mãe de políticos. Qual o objecto da sua conversa trivial? - Um "personagem mistério com revelações inéditas sobre a história nacional, mas que recusava aparecer"! Para além de sugerirem títulos e condecorações ao sujeito, viam como solução o seu aparecimento na sombra de outro escritor. A situação era tão ridícula que chegaram a apresentar esboços ilustrativos. Ao mesmo tempo, na RTP estava um comentador socialista que sugeria um local de encontro com o "ceguinho"... curiosamente, há coincidências, tinha o meu nome. Acabei por me cruzar com esse comentador, ex-ministro, uns dias depois.
Quanto ao tal "personagem mistério", não se falou mais disso, e será mistério até hoje. Quando fui procurar o tal programa, uns meses depois, no arquivo online, não encontrei nada.
Foi um tempo estranho, e estas foram só algumas das muitas "estranhezas".

Aquilo, que vemos, e interpretamos, dificilmente é objectivo num mundo em que a televisão, a internet, e tudo mais, nos chega por canais que nos podem ser difundidos individualmente, com conteúdo diferente, ainda que pensemos que a difusão é geral. Sem outra confirmação, o que vemos ou ouvimos nunca é objectivo, é sempre susceptível de dúvida alheia, mesmo que seja uma certeza para o próprio, que não duvida da sua visão e audição... mas que pode ficar numa situação complicada se insistir na sua fé contra proveitos de uma farsa alheia.
Assim, fica-se sozinho, ou quase, e espera-se que o tempo resolva o assunto. 

O tempo passa, mas as coisas podem tornar-se mais complicadas.
Uma coisa é passar a noite, como por exemplo, a escrever um texto com o Abraçadabra, e no final pensar... "hmmm -alguma coisa terá que mudar". Acordar depois com uma inédita resignação papal, tem o grau objectivo de relação semelhante à do bater de asas da borboleta australiana com o furacão americano. Problema nunca é uma meia-dúzia de incidências separadas, que só intrigam quem as quiser alimentar. Problema são dezenas ou centenas de coincidências diárias, pelo simples facto de se ter entrado numa certa sintonia relacional com o ambiente circundante. Isso já é mais difícil de explicar. Quando pensamos que já vimos tudo, e já pensámos em todos os cenários, acaba por aparecer novo motivo de reflexão. E isso não é mau, pode ser até bom, mas em certos assuntos deve ter um limite.

Assim, em 2011, acabei por abandonar estes escritos durante um tempo, porque até achei que não adiantaria mais no assunto, apesar dele não estar findo. Enganei-me, e em Maio e Julho de 2012 acabei por conseguir tirar novas conclusões relevantes. Pela minha parte estava de novo satisfeito, mas em Março de 2013 fui forçado a perceber que eu estar satisfeito com as conclusões, pouco interessava ao assunto global. É daquelas situações em que se percebe o outro significado da expressão "se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé". Bom, mas o assunto não ficou resolvido em Março, e no final desse ano, creio que a montanha quis saber se tinha parido um rato, ou tinha sido parida por ele.
Nem uma coisa, nem outra, e estamos nisto, sem mais incómodos desde aí, no que me diz respeito.

Dito isto, que dificilmente fará sentido para a generalidade dos leitores, interessa que este espaço serviu um propósito, e que ultimamente não tem havido notícias que me tenham motivado outra escrita.
Poderá mudar ou não, mas mantenho-me numa posição estóica, que não é egoísta por potência, mas sim por manifesta impotência. A potência constrói-se da ordem, pelo racional do passado e tem um garantido fim futuro, já a impotência é um simples acreditar no racional do caos que é um presente a garantir um interminável futuro.